Mário Moreno/ junho 25, 2018/ Parasha da semana

Balaq

Nm 22.2–25.9 / Mq 5:6 – 6:8 / Rm 11:25-32

        Na Parasha desta semana estaremos estudando sobre Bil´am e Balaq e sobre a impossibilidade de se amaldiçoar a Israel quando o Eterno assim não o deseja!

Nosso texto tem início com as seguintes palavras: “Vendo, pois, Balaq, filho de Zipor, tudo o que Israel fizera aos amorreus, Moabe temeu muito diante deste povo, porque era numeroso; e Moabe andava angustiado por causa dos filhos de Israel. Por isso Moabe disse aos anciãos dos midianitas: Agora lamberá esta congregação tudo quanto houver ao redor de nós, como o boi lambe a erva do campo. Naquele tempo Balaq, filho de Zipor, era rei dos moabitas” (Nm 22:2-4). Neste trecho percebemos a notável preocupação de um rei moabita quando à congregação do povo de Israel que estava em peregrinação pelo deserto e conseqüentemente deveriam também vence-los, assim como já haviam feito com outros povos em outras oportunidades! Os moabitas são descendentes de Moabe, palavra que significa “família de um pai”. Eles são o resultado de um ato pecaminoso, pois eles procedem de uma das filhas de Lot, que, com a morte de sua mãe quiseram perpetuar o nome de sua família e coabitaram com seu próprio pai e como conseqüência nasceram dois filhos, sendo um deles Moabe. Sua preocupação era tão grande – e vemos isso no comentário que Balaq faz sobre Israel – que ele imediatamente procura uma solução contra o mal que dele se aproxima. Balaq chama Israel de congregação. A palavra usada por ele em hebraico foi o termo qahal que significa “assembléia, grupo, congregação”. Este termo define de forma específica o povo de Israel; não nos fala sobre todo o povo, mas sim sobre um determinado grupo – ainda que seja grande – dentro do total do povo (nação). Ele diz que esta “congregação” haveria de “lamber” tudo o que houvesse ao seu redor e isso lhe preocupava muito! A palavra “lamber” em hebraico é laqaq e significa “lamber líquidos (como o fazem os animais)”. Balaq sabia que se Israel se aproximasse muito deles, o resultado disso seria o mesmo que um animal quando chega a uma poça d´água sedento: ele acaba com a poça, saciando assim sua sede! Israel passaria por eles e os exterminaria e então continuaria seu percurso rumo a Canaã!

Qual foi a solução encontrada por Balaq a fim de tentar resolver o problema? Ele manda chamar um homem – profeta – a fim de amaldiçoar Israel! Está registrado assim: “Este enviou mensageiros a Bil´am, filho de Beor, a Petor, que está junto ao rio, na terra dos filhos do seu povo, a chamá-lo, dizendo: Eis que um povo saiu do Egito; eis que cobre a face da terra, e está parado defronte de mim. Vem, pois, agora, rogo-te, amaldiçoa-me este povo, pois mais poderoso é do que eu; talvez o poderei ferir e lançar fora da terra; porque eu sei que, a quem tu abençoares será abençoado, e a quem tu amaldiçoares será amaldiçoado” (Nm 22:5-6). Balaq recruta Bil´am, que é profeta, a fim de tentar amaldiçoar ao povo de Israel e assim resolver na esfera espiritual o grande problema que está bem próximo dele. Balaq sabia que se houvesse uma interferência no mundo espiritual, no mundo físico a sua vitória se manifestaria e não haveria como ser então derrotado por eles!

Os poderes mágicos de Bilam

A fama de Bilam como profundo filósofo e intérprete profissional de sonhos era internacional. Mais tarde, também se tornaria conhecido como mágico de poderosos efeitos. Reis de perto e de longe pagavam-lhe somas fabulosas para pronunciar maldições sobre seus adversários, ou outorgar-lhes bênçãos de sucesso.

Balac estava pessoalmente convencido do poder de Bilam, por que há anos Bilam profetizara que Balac tornar-se-ia rei, e agora, as palavras de Bilam tornaram-se realidade. Além disso, desde que o rei Balac era melhor mágico que todos os habitantes de Moav (que eram todos proficientes nesta arte), ele, mais que qualquer outro, apreciava o domínio de Bilam sobre as forças da impureza.

Balac escolhera convidar Bilam para amaldiçoar os judeus, pois acreditava que estes estavam sujeitos às forças naturais (mazal), como todas as outras nações. (Não se dava conta de que os judeus estão sob a Providência direta de D’us.)

Se o próprio Balac era feiticeiro, por que precisava de Bilam?

De fato, a perícia de um completava a do outro. Balac era instruído em assuntos práticos; por exemplo, podia determinar exatamente onde alguém deveria postar-se para amaldiçoar efetivamente. Bilam possuía as chaves interiores, as palavras apropriadas com as quais amaldiçoar.

A quem os dois podem ser relacionados?

Um (Bilam) era como um cirurgião que podia manejar o bisturi, mas não estava familiarizado com as partes do corpo. O outro (Balac) era como um anatomista que consegue identificar o órgão doente, porém não pode realizar a cirurgia. Juntos, poderiam empreender uma operação.

Similarmente, Bilam sabia a hora exata em que uma maldição pode ser efetiva, e Balac sabia o local de onde deveria ser pronunciada.

O Talmud relata que, todos os dias, há um momento em que D’us fica irado. Isto significa que é justamente nesta hora que Ele julga os pecadores. Evidentemente, aquele que é culpado de transgressão, fica mais vulnerável nesta hora. Bilam tinha o dom de saber exatamente quando ocorriam estes momentos. Uma maldição proferida nestes instantes poderia expor sua vítima ao julgamento Divino.

Balac concluiu: “Que eu convoque Bilam! Juntos, sobrepujaremos o povo judeu.”

A magia pode prejudicar um judeu? O Talmud nos conta a seguinte história:

Certa vez, uma bruxa queria matar Rabi Chaniná com magia. Para que a magia surtisse efeito, ela precisava pegar o pó de sob os pés de Rabi Chaniná.

Sem medo algum, Rabi Chaniná disse: “Pegue o pó e comprove! A magia não fará efeito. Sei que “Não há outro, só D’us!” Uma vez que Rabi Chaniná tinha plena certeza de que a magia não podia mudar o que D’us ordena, a feiticeira foi incapaz de prejudicá-lo.

Aqui temos o encontro de duas pessoas: Balaq a Bil´am. A palavra Balaq vem do termo hebraico Balaq e significa “desperdiçar, lançar fora”. Já o nome Bil´am vem do termo hebraico Bil´am e significa “ato de engolir, devorar”. Em sua raiz está o termo bala´ que significa “confundir”. Aqui teremos uma fusão do desperdício – Balaq – com o devorador (que quer trazer confusão) – Bil´am! A mensagem de Balaq para Balão é muito clara, pois ele pede que ele amaldiçoe a Israel, pois sabe ser Israel mais forte do que ele! A palavra amaldiçoar em hebraico é arar e significa “amaldiçoar”. Isso significa “prender por encantamento, cercar com obstáculos, deixar sem forças para resistir”. Esta palavra deveria ser dirigida ao “um povo que saiu do Egito”. Ele usa o vocábulo hebraico am, que foi traduzido por “povo, nação”, mas que é usado especificamente para Israel a fim de identificar aqueles que estavam lhe causando tanto temor. Ele ainda diz que este povo é mais poderoso do que eles. A palavra “poderoso” em hebraico é atsûm e significa “poderoso, forte, numeroso”. Balaq sabia que o povo de Israel era mais poderoso – belicamente falando – e também seu número era certamente maior do que o dos moabitas, e isso estava lhe causando temor, pois ele sabia que não poderia resistir ao povo de Israel caso fosse atacado por ele!

O pedido de Balaq é direto, pois ele diz que quem fosse abençoado por Bil´am seria abençoado, já quem fosse amaldiçoado, certamente carregaria sobre si as conseqüências de tal palavra! Aqui nós temos dois opostos: bênção e maldição. A palavra “bênção” vem do termo hebraico barak, que significa “dar poder a alguém para ser próspero, bem sucedido e fecundo em tudo o que fizer”. Em contrapartida, temos a palavra amaldiçoar, que provém do termo hebraico arar, já comentado acima.

A mensagem para Bil´am tinha portadores que levavam consigo também o preço para tal “trabalho” que seria realizado. “Então foram-se os anciãos dos moabitas e os anciãos dos midianitas com o preço dos encantamentos nas suas mãos; e chegaram a Bil´am, e disseram-lhe as palavras de Balaq” (Nm 22:7). Pelo texto percebemos que Bil´am era famoso em sua época e por isso deveria ser muito requisitado a fim de poder “abençoar” ou “amaldiçoar” alguém; porém isso certamente teria um custo, e os mensageiros de Balaq já o conheciam e levaram para Bil´am o pagamento adiantado do serviço que ele prestaria ao rei e ao seu povo.

O encontro entre a comitiva de Balaq e Bil´am produziu o seguinte diálogo: “E ele lhes disse: Passai aqui esta noite, e vos trarei a resposta, como o IHVH me falar; então os príncipes dos moabitas ficaram com Bil´am. E veio Elohim a Bil´am, e disse: Quem são estes homens que estão contigo? E Bil´am disse a Elohim: Balaq, filho de Zipor, rei dos moabitas, os enviou, dizendo: Eis que o povo que saiu do Egito cobre a face da terra; vem agora, amaldiçoa-o; porventura poderei pelejar contra ele e expulsá-lo. Então disse D-us a Bil´am: Não irás com eles, nem amaldiçoarás a este povo, porquanto é bendito. Então Bil´am levantou-se pela manhã, e disse aos príncipes de Balaq: Ide à vossa terra, porque o IHVH recusa deixar-me ir convosco” (Nm 22:8-13). A primeira atitude de Bil´am é ouvir e depois consultar ao Senhor para saber o que deveria ser feito por ele! Isso demonstra que, no princípio desse relacionamento, houve uma prudência muito grande da parte de Bil´am quanto ao que seria feito no que diz respeito à Israel. Bil´am quando fala do Senhor usa o tetragrama e isso significa que ele sabe o seu significado: IHVH – “Eu me torno aquilo que me torno”. Bil´am sabe que o Eterno se tornaria aquilo que seu povo precisasse que Ele se tornasse para eles, e ele diz que esperaria e aquilo que lhe fosse dito, ele lhes falaria. A palavra “falar” no texto vem do termo hebraico dabar e significa “falar, declarar, conversar”. Este termo demonstra-nos que haveria um diálogo entre Bil´am e o Eterno e o resultado desse diálogo seria então informado aos visitantes e logo após as devidas providências seriam tomadas.

O resultado disso é que naquela mesma noite D-us fala com Bil´am! A palavra “veio” vem do termo hebraico , que significa “entrar, vir”. No cotidiano significa “ir, chegar, entrar numa casa”. Já a palavra D-us em hebraico é o termo Elohim que significa “O D-us Criador”. Quando o Eterno se comunica com Bil´am é como um encontro entre duas pessoas que já se conhecem que estão ali travando um diálogo amigável e depois despedem-se e o visitante vai embora! Foi assim que isso aconteceu! Isso também nos demonstra que esse homem chamado Bil´am já tinha um conhecimento – um nível de revelação – sobre a pessoa do Eterno e mantinha também com Ele um alto nível de relacionamento, pois neste diálogo o Eterno lhe dá várias instruções que são por ele seguidas à risca! O resultado final desse diálogo é que o Eterno – Elohim – diz a Bil´am (aqui usa-se o termo hebraico amar, que significa “ordenar, falar, determinar”, e isso traduz a palavra “disse”) que ele não poderia amaldiçoar (arar) ao povo de Israel, pois esse povo já carregava consigo um “unção” e já era bendito (barak)!

Na manhã seguinte vem a notícia: “Então Bil´am levantou-se pela manhã, e disse aos príncipes de Balaq: Ide à vossa terra, porque o IHVH recusa deixar-me ir convosco”. Aqui é usado o termo hebraico IHVH para traduzir o termo que define o Eterno. Isso significa que “Aquele que se torna aquilo que seu povo precisa” está agindo neste momento a fim de não permitir que seu povo seja amaldiçoado!

Quando os mensageiros de Balaq retornam com a notícia do acontecido, ele insiste na mesma tática, enviando então outros mensageiros a fim de seduzirem Bil´am para cumprir seus desejos! “Porém Balaq tornou a enviar mais príncipes, mais honrados do que aqueles. Os quais foram a Bil´am, e lhe disseram: Assim diz Balaq, filho de Zipor: Rogo-te que não te demores em vir a mim. Porque grandemente te honrarei, e farei tudo o que me disseres; vem pois, rogo-te, amaldiçoa-me este povo. Então Bil´am respondeu, e disse aos servos de Balaq: Ainda que Balaq me desse a sua casa cheia de prata e de ouro, eu não poderia ir além da ordem do IHVH meu Elohim, para fazer coisa pequena ou grande; agora, pois, rogo-vos que também aqui fiqueis esta noite, para que eu saiba o que mais o IHVH me dirá. Veio, pois, D-us a Bil´am, de noite, e disse-lhe: Se aqueles homens te vieram chamar, levanta-te, vai com eles; todavia, farás o que eu te disser. Então Bil´am levantou-se pela manhã, e albardou a sua jumenta, e foi com os príncipes de Moabe” (Nm 22:15-21).

Balaq sabia que se ele enviasse outros mensageiros com uma proposta ainda melhor, Bil´am não resistiria e viria! Novamente percebemos que a postura inicial de Bil´am é de muito cuidado e prudência; ele não se define imediatamente e diz que ainda que a “recompensa” fosse muito boa ele nada poderia fazer. Aqui Bil´am chama ao Senhor de “meu D-us”. As palavras usadas aqui demonstram mais uma vez que havia uma relação de conhecimento e de respeito entre Bil´am e o Eterno. A palavra que define o Eterno é o tetragrama (IHVH) e a palavra D-us é Elohim! Ele então diz que novamente consultaria ao Senhor para saber o que Ele diria a esse respeito! Parece que com essa atitude Bil´am esperaria para saber se algo mudara, pois na primeira consulta o Eterno fora taxativo dizendo a ele que não fosse com os mensageiros de Balaq. Porém, agora há uma mudança naquilo que é dito pelo Eterno: “Veio, pois, D-us a Bil´am, de noite, e disse-lhe: Se aqueles homens te vieram chamar, levanta-te, vai com eles; todavia, farás o que eu te disser”. Essa palavra certamente demonstra que Bil´am deveria esperar o sinal: os homens de Balaq deveriam insistir com ele para que fosse à sua terra. Então ele saberia que, acontecendo isso ele poderia atende-los a fim de ali dizer as coisas que o Senhor lhe ordenasse!

Entre este verso e o seguinte, alguma coisa aconteceu, pois vemos que após ter dormido, quando Bil´am levanta-se ele imediatamente dá início aos preparativos para seguir viagem com os mensageiros de Balaq! Não há relato de algum diálogo entre eles, ou mesmo que alguma outra determinação dada pelo Senhor para que isso fosse feito desta forma! O que teria acontecido a Bil´am? Qual teria sido a sua motivação para partir imediatamente com aqueles homens? Temos a resposta na Brit Hadasha que traz dois versos que nos informam o seguinte: “Os quais, deixando o caminho direito, erraram seguindo o caminho de Bil´am, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça” (II Pe 2:15); “Ai deles! porque entraram pelo caminho de Caim, e foram levados pelo engano do prêmio de Bil´am, e pereceram na contradição de Core” (Jd 1:11). Estes dois textos nos mostram que a motivação final de Bil´am para ir com os mensageiros de Balaq foi a recompensa financeira! O interesse maior de Bil´am foi o de receber um alto valor pelos “serviços” que prestaria a Balaq amaldiçoando a Israel! Esta disposição de coração foi certamente conhecida pelo Eterno que permitiu que Bil´am fosse com os mensageiros de Balaq para trazer também sobre ele juízo! Infelizmente temos também esse fato ocorrendo entre muitos líderes, pois tem visto a igreja apenas como uma fonte de renda e como uma boa oportunidade para que tenham um aporte financeiro muito bom. E isso tem feito com que surjam vários escândalos de corrupção na igreja em todo o mundo!

A motivação errada traz consigo consequências desastrosas para a vida do líder e também de seus liderados! Foi justamente por causa desse tipo de motivação errada que Bil´am perdeu a oportunidade de entrar para a história como um homem que obedeceu ao Eterno de forma a abençoar – e assim influenciar positivamente no futuro – da nação de Israel!

Essa atitude de Bil´am provocou uma reação imediata do Eterno para com ele: “E a ira de Elohim acendeu-se, porque ele se ia; e o anjo do IHVH pôs-se-lhe no caminho por adversário; e ele ia caminhando, montado na sua jumenta, e dois de seus servos com ele” (Nm 22:22). O texto nos informa que “a ira de Elohim se acendeu”. A palavra “ira” em hebraico é ´ap e significa “narina, face, ira”. Por meio das alterações da respiração as emoções podem ser exprimidas. Talvez tenha sido observado que o nariz se dilata quando também se está irado! Já a palavra que define o Eterno vem do termo hebraico Elohim! Mas o que significa isso? Isso quer dizer que quando Bil´am tomou uma atitude por si só ele desencadeou um processo de mudança a atitude do Criador que agora envia um mensageiro seu – o anjo do IHVH – a fim de atuar como um “obstáculo” nesta caminhada de Bil´am! Este ser – o anjo do Senhoré chamado em hebraico de malak IHVH! A palavra malak significa “mensageiro” e o tetragrama significa “Aquele que se torna aquilo que precisamos que Ele se torne para nós”. Este texto demonstra então que esse ser estaria ali para se tornar como um “adversário” de Bil´am! A palavra “adversário” em hebraico é satan e significa “ser adversário, resistir, acusar”!

Agora veremos que as atitudes deste ser – o anjo do Senhoratuará em todo o tempo como um adversário de Bil´am resistindo-lhe, tornando assim sua caminhada mais difícil!

        O texto nos diz que foi assim que aconteceu: “Viu, pois, a jumenta o anjo do IHVH, que estava no caminho, com a sua espada desembainhada na mão; pelo que desviou-se a jumenta do caminho, indo pelo campo; então Bil´am espancou a jumenta para fazê-la tornar ao caminho. Mas o anjo do IHVH pôs-se numa vereda entre as vinhas, havendo uma parede de um e de outro lado. Vendo, pois, a jumenta, o anjo do IHVH, encostou-se contra a parede, e apertou contra a parede o pé de Bil´am; por isso tornou a espancá-la. Então o anjo do IHVH passou mais adiante, e pôs-se num lugar estreito, onde não havia caminho para se desviar nem para a direita nem para a esquerda. E, vendo a jumenta o anjo do IHVH, deitou-se debaixo de Bil´am; e a ira de Bil´am acendeu-se, e espancou a jumenta com o bordão. Então o IHVH abriu a boca da jumenta, a qual disse a Bil´am: Que te fiz eu, que me espancaste estas três vezes?  Bil´am disse à jumenta: Por que zombaste de mim; quem dera tivesse eu uma espada na mão, porque agora te mataria. E a jumenta disse a Bil´am: Porventura não sou a tua jumenta, em que cavalgaste desde o tempo em que me tornei tua até hoje? Acaso tem sido o meu costume fazer assim contigo? E ele respondeu: Não” (Nm 22:23-30). Vejamos aqui alguns aspectos interessantes. O primeiro diz respeito à cegueira de Bil´am quanto ao mundo espiritual, enquanto sua jumenta tinha seus olhos abertos às realidades espirituais; segundo que essa mesma jumenta evitou a morte de Bil´am duas vezes antes de parar totalmente, mas este mesmo homem maltratou-a por não saber discernir o que estava ocorrendo naquele momento no reino espiritual; e finalmente o incrível diálogo entre Bil´am e sua jumenta – que certamente foi presenciado por seus servos – e que resultou de sua compreensão de que certamente havia algo errado com ele!

Bil´am aqui é uma figura daquelas pessoas que tem um relacionamento com o Eterno, mas que mesmo assim ainda não tem discernimento e agem através de seus próprios impulsos, seguindo seus sentimentos e não deixando-se guiar pelos desejos de D-us em sua vida diária! Vale salientar que a expressão destes desejos está escrita na Palavra do Senhor, que nos foi deixada como um padrão a ser seguido em todo o nosso viver!

Quando Bil´am vê a realidade do mundo espiritual sua reação é de espanto! “Então o IHVH abriu os olhos a Bil´am, e ele viu o anjo do IHVH, que estava no caminho e a sua espada desembainhada na mão; pelo que inclinou a cabeça, e prostrou-se sobre a sua face” (Nm 22:31). O que ocorre com Bil´am é que ele agora vê Aquele que esteve dificultando sua caminhada até esse momento! Este ser – o anjo do Senhor – está com sua espada desembainhada e isso é um sinal de que ele está preparado para a batalha que se travaria entre ele e Bil´am e sua posição é de absoluta prontidão para cumprir o mandato do Eterno quanto a ele!

Agora temos um diálogo entre o anjo do Senhor e Bil´am: “Então o anjo do IHVH lhe disse: Por que já três vezes espancaste a tua jumenta? Eis que eu saí para ser teu adversário, porquanto o teu caminho é perverso diante de mim: porém a jumenta me viu, e já três vezes se desviou de diante de mim; se ela não se desviasse de diante de mim, na verdade que eu agora te haveria matado, e a ela deixaria com vida” (Nm 22:32-33). Agora Bil´am descobre através das palavras do anjo que sua vida fora salva por sua jumenta! O anjo também informa-lhe que seu caminho é perverso diante dele! Aqui novamente fica claro que havia algo de errado com a motivação de Bil´am e na forma como ele saiu para acompanhar os mensageiros de Balaq! Agora pensemos em duas hipóteses nos dois casos – da jumenta falante e da aparição angelical. Se os servos de Bil´am que o acompanhavam nos dois casos nada puderam discernir – não ouvindo a voz da jumenta e também não vendo o anjo – eles certamente deveriam pensar que Bil´am já estava enlouquecendo! Eles poderiam ter comentado que Bil´am estava envelhecendo e a idade já lhe estava pesando e isso estaria trazendo-lhe problemas mentais! Por outro lado, se eles ouviram a jumenta falando e viram o anjo, certamente houve um grande temor que veio sobre suas vidas e entenderam que essa “missão” de Bil´am não era como as outras, haveria algo de muito especial neste caso em particular e isso certamente seria manifesto quando ali chegassem!

A atitude de Bil´am certamente foi determinante aqui: ele arrepende-se e se propõe a retornar para sua casa, caso o anjo assim lhe diga. Mas as ordens do anjo são para que ele continue seu caminho, mas que fale somente aquilo que o Eterno puser em sua boca!

Quando Balaq e Bil´am finalmente se encontram, o diálogo é no mínimo surpreendente: “Ouvindo, pois, Balaq que Bil´am vinha, saiu-lhe ao encontro até à cidade de Moabe, que está no termo de Arnom, na extremidade do termo dele. E Balaq disse a Bil´am: Porventura não enviei diligentemente a chamar-te? Por que não vieste a mim? Não posso eu na verdade honrar-te? Então Bil´am disse a Balaq: Eis que eu tenho vindo a ti; porventura poderei eu agora de alguma forma falar alguma coisa? A palavra que Elohim puser na minha boca essa falarei” (Nm 22:-3638). Balaq reafirma sua condição em honrar Bil´am com muitos presentes; já Bil´am novamente reafirma que somente poderá falar aquilo que D-us colocar em seus lábios. Novamente aqui a palavra que define o Eterno em hebraico é Elohim, e isso faz com que Balaq entenda que a boca de Bil´am será somente um instrumento do Criador a fim de realizar seus desejos!

No dia seguinte à chegada de Bil´am tem início a tarefa de Balaq em tentar amaldiçoar a Israel. “E sucedeu que, pela manhã Balaq tomou a Bil´am, e o fez subir aos altos de Baal, e viu ele dali a última parte do povo” (Nm 22:41). Balaq leva Bil´am a um monte onde o D-us Baal era cultuado. A palavra “altos” vem do termo hebraico bamâ e significa “cume, local elevado, lugar alto”. Este termo é um nome técnico para um local cúltico. Já o nome Baal vem do termo verbo hebraico ba´al e significa “possuir, ter, governar- casar-se, dominar”. O substantivo ba´al significa “dono, marido, Baal”. O mais interessante aqui é que as divindades pagãs precisam ser postas em lugares altos para darem a idéia de que governam sobre aquele lugar ou região! É justamente por isso que estas divindades ficavam sobre montanhas! Já que eles não criaram as montanhas, eles então usariam as montanhas como um referencial de “poder” ou domínio! Baal – o “dono, possuidor ou governador” daqueles que o serviam, além de ser um deus morto – era uma estátua – precisava de um lugar elevado a fim de poder afirmar-se como tal!

Agora teremos a “atuação” de Bil´am para tentar amaldiçoar a Israel. O primeiro encontro entre Bil´am e o povo ocorre assim: “Então Bil´am disse a Balaq: Edifica-me aqui sete altares, e prepara-me aqui sete novilhos e sete carneiros. Fez, pois, Balaq como Bil´am dissera: e Balaq e Bil´am ofereceram um novilho e um carneiro sobre cada altar. Então Bil´am disse a Balaq: Fica-te junto do teu holocausto, e eu irei; porventura o IHVH me sairá ao encontro, e o que me mostrar te notificarei. Então foi a um lugar alto. E encontrando-se D-us com Bil´am, este lhe disse: Preparei sete altares, e ofereci um novilho e um carneiro sobre cada altar. Então o IHVH pôs a palavra na boca de Bil´am, e disse: Torna-te para Balaq, e assim falarás. E tornando para ele, eis que estava junto do seu holocausto, ele e todos os príncipes dos moabitas. Então proferiu a sua parábola, e disse: De Arã, me mandou trazer Balaq, rei dos moabitas, das montanhas do oriente, dizendo: Vem, amaldiçoa-me a Ia´aqov; e vem, denuncia a Israel. Como amaldiçoarei o que El não amaldiçoa? E como denunciarei, quando o IHVH não denuncia? Porque do cume das penhas o vejo, e dos outeiros o contemplo; eis que este povo habitará só, e entre as nações não será contado. Quem contará o pó de Ia´aqov e o número da quarta parte de Israel? Que a minha alma morra da morte dos justos, e seja o meu fim como o seu” (Nm 23:1-10). Após os sacrifícios terem sido oferecidos, Bil´am sai dentre as pessoas a fim de saber se o Senhor lhe falaria algo. Ele encontra-se com D-us. No texto a palavra que define o Eterno em hebraico é Elohim, e isso significa que o Eterno se apresenta como o Criador, aquele que, no ato da criação determinou normas, leis e padrões que não mudarão e que também servirão para reger os caminhos do homem durante a sua existência!

Após este encontro, agora o Senhor (IHVH) põe as palavras na boca de Bil´am para que ele faça manifesta a sua vontade! Bil´am tem duas experiências diferentes: ele conhece – encontra-se e se relaciona – com o Criador, e fala com as palavras e a autoridade daquele que se torna aquilo que o homem precisa que Ele se torne! Suas palavras ecoam como o barulho dos mares, quando ele diz: “Como amaldiçoarei o que El não amaldiçoa? E como denunciarei, quando o IHVH não denuncia? Porque do cume das penhas o vejo, e dos outeiros o contemplo; eis que este povo habitará só, e entre as nações não será contado. Quem contará o pó de Ia´aqov e o número da quarta parte de Israel? Que a minha alma morra da morte dos justos, e seja o meu fim como o seu”. A primeira coisa é que Bil´am apresenta D-us como El. Esta pequena palavra significa “D-us, o Eterno”. Balaq conhecia Baal e também as outras “divindades” que estavam limitadas completamente, tanto pelo espaço quanto pelo tempo. Agora ele é apresentado a El, o Eterno, Aquele cujo princípio não existe e a fim nunca chegará! Bil´am pergunta: “como amaldiçoarei o que El não amaldiçoa?” Aqui é usada a palavra qabab que significa “amaldiçoar”. Ela nos fala sobre um ato de pronunciar uma fórmula cujo objetivo é prejudicar seu objeto. Em outras palavras Bil´am disse: “como pronunciarei palavras que venham a prejudicar Israel quando El não faz isso?” Ele ainda continua, e a palavra “detestar” em hebraico é za´am e significa “estar indignado, mostrar indignação, denunciar”. Esta palavra nos fala sobre um sentimento de desgosto ante uma atitude negativa que leva alguém a pronunciar palavras fortes contra ele. No final do verso ele diz: “E como denunciarei, quando o Senhor não denuncia”. Aqui a palavra que define o Eterno é o tetragrama! Ou seja, Bil´am não poderia proferir qualquer palavra negativa contra esse povo quando o Eterno estava se tornando para eles em outra coisa que não era aquilo que ele falaria! A palavra que o Eterno põe na boca de Bil´am para proferir para Israel é justamente o cumprimento da promessa feita a Abraão sobre a multiplicação deste povo! Eles já eram grandes, porém pela palavra dele seriam maiores ainda!

A primeira bênção de Bilam: A origem e destino do povo judeu são únicas

Quando as bênçãos começaram a sair de sua boca, Bilam elevou sua voz o mais alto que pôde. Esperava evocar a inveja e hostilidade das nações gentias ao escutarem louvores ao povo judeu.

As bênçãos de Bilam estavam encobertas como parábolas poéticas. Proclamou:

“Balac, o rei de Moav trouxe-me de Aram, das antigas montanhas, dizendo, ‘Venhamos, e amaldiçoe (para) mim Ia´aqov e venha, desperte a ira [de D’us] contra Israel.'”

O profundo significado das palavras de Bilam era: Você, Balac, e eu, somos os mais ingratos dos homens. Ambos devemos nossas vidas aos judeus. Como, então, você pôde trazer-me de Aram para amaldiçoá-los? Foi neste exato local que seu patriarca, Ia´aqov, ficou com meu patriarca, Lavan. Antes da chegada de Ia´aqov, Lavan não tinha filhos. Nasci apenas por causa dos méritos de Ia´aqov.

Você, Balac, sobreviveu por causa das “antigas montanhas,” os patriarcas desta nação (chamados de “montanhas”). Você é um moabita, um descendente de Lot. Se não fosse por seu patriarca Avraham, Lot não teria sido resgatado da destruição de Sodoma, e você não estaria vivo hoje.

Mais que isso, não percebe que D’us protege esse povo? Ele prometeu a seu patriarca Avraham: “Os que te amaldiçoarem, Eu os amaldiçoarei.” Portanto, alguém que os amaldiçoa está se amaldiçoando. Quando enviou-me a mensagem: “Venha, amaldiçoe (para mim) Ia´aqov”, você na verdade indicava: “Venha, amaldiçoe-me (amaldiçoando Ia´aqov).”

“Como posso amaldiçoar, enquanto D’us não amaldiçoa [mas ao contrário, Ele os abençoa]?! E como posso despertar a ira [Divina] contra eles, se D’us não está irado?!”

Parece que D’us abençoa os judeus mesmo quando merecem uma maldição. Assim, de que vale minha tentativa de amaldiçoar os judeus, se D’us não deseja que eles sejam amaldiçoados?

Das afirmações acima, de Bilam, podemos discernir seus pensamentos. Em seu coração, implorava a D’us que o deixasse pronunciar uma maldição. D’us, no entanto, frustrou suas intenções, e assim ele proclamou que ninguém poderia amaldiçoar esta nação.

Bilam decidiu então encontrar culpa e defeito nos patriarcas, para que o mal recaia sobre os judeus por causa deles. Por quê foi esta sua primeira maldição?

Duas pessoas entraram na floresta para derrubarem uma árvore. O mais tolo começou a podar um galho após o outro, um trabalho bastante tedioso. O mais esperto raciocinou: “Se pudermos encontrar as raízes desta árvore e fizermos um esforço supremo para cortá-la, conseguiremos também podar todos os seus galhos.”

Assim, Bilam, o perverso, pensou: “Em vez de amaldiçoar cada tribo separadamente, erradicarei as raízes. Se encontrar alguma impureza na origem deste povo, eu a amaldiçoarei, e desta forma, prejudicarei o povo inteiro.”

Em seguida Bilam concentrou seus pensamentos em nossos patriarcas, com o a intenção de encontrar neles alguma jaça. Mas ao contrário, uma bênção brotou de seus lábios, pois a origem dos judeus era pura:

“Do topo das rochas eu o vejo e das colinas eu o contemplo.”

Vejo os judeus descenderem de patriarcas sagrados, chamados de “rochas”, e das sagradas matriarcas, chamadas de “colinas”. (Como as rochas no mundo físico, os patriarcas são a fundação espiritual do mundo.)

Desde a origem este povo é santo, suas almas anseiam por santidade. Por isso, nunca se assimilarão totalmente como os não-judeus (mesmo se ficarem associados temporariamente.)

Eles guardam e cuidam cuidadosamente de sua origem:

“Eis que o povo viverá na solidão e não será contado entre as nações.”

O povo judeu não se casará com não-judeus, tampouco adotarão as crenças e culturas dos não judeus à sua volta. Recusam-se a profanar o Shabat, a abolir o berit milá (circuncisão), ou a adorar as divindades dos não-judeus.

“Quem pode contar o pó de Ia´aqov?”

Quem pode contar o número de mitsvot que um judeu realiza desde a hora em que nasce até a hora em que retorna ao pó?! Já está circunciso na tenra idade de oito dias. Se for um primogênito, é redimido por um cohen quando atinge a idade de trinta dias. Aos três anos, seus pais começam a educá-lo em Torah e mitsvot; aos treze, toma sobre si a responsabilidade de todas as mitsvot. Um judeu nunca se senta para uma refeição sem a bênção de “hamotsi”; e após a refeição, novamente recita bênçãos.

Quem pode amaldiçoar uma nação cujos membros dedicam suas vidas a cumprir os mandamentos de D’us?

Quem pode contar o número de mitsvot que um judeu realiza, mesmo com materiais inferiores, como terra e pó?

Quando o judeu ara, observa a proibição de “Não ararás com um boi e um burro juntos,” e quando semeia, “Não semearás teu campo com duas espécies de sementes.” Ele utiliza cinzas para a mitsvá da vaca vermelha, e pó para as águas de Sotá.

Quem pode amaldiçoar uma nação que cumpre até mesmo a mais pequena das mitsvot de D’us?

Quem pode contar as pequenas crianças judias que, como D’us predisse, “multiplicar-se-ão como o pó da terra”? (Todas as contagens no deserto excluíam os varões com menos de vinte anos de idade.)

Através da bênção de Bilam podemos discernir a maldição que elaborara em seu coração; ele desejava diminuir o número de judeus.

“E o número da quarta parte de Israel.”

Quem pode contar a população de mesmo uma das quatro divisões de estandartes dos judeus?

De acordo com outra interpretação, Bilam disse: “D’us conta a semente dos judeus, esperando que nasça um tsadic.”

Quando Bilam pronunciou estas palavras proféticas, comentou intempestivamente: “Como pode D’us, Que é santo, e seus anjos, que são santos, mesmo olhar para tais assuntos?”

Como punição, Bilam ficou cego de um olho.

“Que eu morra a morte dos justos e que meu fim seja como o deles!”

Ao perceber que em vez de amaldiçoar os judeus estava involuntariamente abençoando-os repetidamente, Bilam decidiu que seria melhor morrer a continuar sofrendo tal agonia!

Entretanto, o espírito de profecia que falava através de seus lábios também elevou esses pensamentos, e ele encontrou-se pedindo a morte dos judeus justos e virtuosos, que entrassem no Paraíso depois de partir deste mundo.

Este é um dos versículos nos quais a Torah Escrita expressa a crença fundamental de que a alma continua a existir depois da morte física, e que os tsadikim experimentam a plenitude e felicidade eternas do Paraíso. Por isso, Bilam teria desejado a morte dos judeus justos.

Balac ficou escutando as palavras de Bilam com cada vez mais assombro e consternação.

“O que você fez comigo?” – censurou-o. “Eu lhe convoquei para amaldiçoar meus inimigos, e você os abençoa!”

“Não posso fazer nada a esse respeito,” replicou Bilam, “pois sou forçado a falar o que D’us coloca em minha boca.”

Quando os príncipes de Moav ouviram essas palavras, perceberam que Bilam não conseguiria amaldiçoar os judeus. A maioria partiu, apenas alguns permaneceram com Balac, na vã esperança de que Bilam ainda obtivesse êxito.

Balac disse então a Bilam: “Deixe-me levá-lo a outra colina, onde estou tendo a visão, através de meus poderes mágicos, que os judeus, um dia, sofrerão uma trágica perda. Talvez essa calamidade seja resultado de minha maldição!”

Balac levou Bilam à montanha sobre a qual Moshe estava destinado a falecer.

“Medite sobre os perversos do povo,” aconselhou Balac a Bilam, “e não sobre os tsadikim. Talvez você consiga prejudicá-los.”

Bilam instruiu Balac a erguer novamente sete altares, e a sacrificar um touro e um carneiro sobre cada um.

“Permaneça aqui para oferecer os sacrifícios,” disse Bilam a Balac. “Eu ficarei mais adiante, para que D’us se dirija a mim.”

Ao ser instruído por D’us para conceder mais bênçãos sobre os judeus, não quis voltar a Balac. “Por que devo voltar e deixá-lo irado?” – disse.

Contudo, D’us forçou Bilam a voltar e pronunciar a próxima bênção.

Ao ver Bilam se aproximando, Balac perguntou-lhe cinicamente: “O que D’us, a Quem você é obviamente subserviente, lhe disse para profetizar?”

Por conseguinte, Bilam começou seu discurso censurando Balac por essas palavras desrespeitosas.

Na segunda tentativa de amaldiçoar Israel o resultado é o seguinte: “Então proferiu a sua parábola, e disse: Levanta-te, Balaq, e ouve; inclina os teus ouvidos a mim, filho de Zipor. El não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa; porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria, e não o confirmaria? Eis que recebi mandado de abençoar; pois ele tem abençoado, e eu não o posso revogar. Não viu iniqüidade em Israel, nem contemplou maldade em Ia´aqov; o IHVH seu Elohim é com ele, e no meio dele se ouve a aclamação de um rei. Elohim os tirou do Egito; as suas forças são como as do boi selvagem. Pois contra Ia´aqov não vale encantamento, nem adivinhação contra Israel; neste tempo se dirá de Ia´aqov e de Israel: Que coisas Elohim tem realizado! Eis que o povo se levantará como leoa, e se erguerá como leão; não se deitará até que coma a presa, e beba o sangue dos mortos” (Nm 23:18-24). Esta palavra tem início com o nome de D-us: El! Bil´am diz que El, o Eterno, não é homem para que minta. A palavra “mentir” vem do termo hebraico kazab e significa “mentir, ser achado mentiroso, ser em vão, fracassar”. Ela expressa uma postura de quem disse algo, porém isso não pode ser comprovado, houve um fracasso na tentativa daquela pessoa em se firmar através de uma palavra não verdadeira! Ele também diz que El não se arrepende. A palavra “arrepender-se” vem do termo hebraico naham e significa “ter pena, arrepender-se, lamentar, ser consolado”. O sentido deste termo é que alguém fez algo e então teve um sentimento de pena, dó, pois sua decisão mostrou-se não muito correta ao fim daquela situação. Bil´am nos informa que não é assim com El. Quando Ele decide fazer algo, essa decisão perdura e é levada até o fim, principalmente se for uma promessa feita a um de seus servos! Ele continua dizendo: “porventura diria ele, e não o faria?” Aqui a palavra “diria” vem do termo hebraico amar que significa uma palavra de ordem proferida por alguém! Quando El dá uma ordem, ela tem de ser cumprida à risca! Este é o sentido da palavra.

Bil´am diz ter recebido ordem para abençoar. A palavra usada aqui para “abençoar” é barak. Ele então quer dizer que recebeu uma ordem para dar poder a Israel para ser próspero, bem sucedido e fecundo em tudo o que ele fizesse. Mas, por que isso deveria ser assim? O texto nos responde: “Não viu iniqüidade em Israel, nem contemplou maldade em Ia´aqov; o IHVH seu Elohim é com ele, e no meio dele se ouve a aclamação de um rei. Elohim os tirou do Egito; as suas forças são como as do boi selvagem. Pois contra Ia´aqov não vale encantamento, nem adivinhação contra Israel; neste tempo se dirá de Ia´aqov e de Israel: Que coisas Elohim tem realizado! Eis que o povo se levantará como leoa, e se erguerá como leão; não se deitará até que coma a presa, e beba o sangue dos mortos”. O Eterno não vê maldade em Ia´aqov neste momento! A palavra “maldade” vem do termo hebraico aven que significa “sofrimento, tristeza, idolatria, maldade, iniqüidade, mal, vazio”. Ele continua dizendo não ver iniqüidade em Israel! A palavra “iniqüidade” vem do termo hebraico ´amal e significa “labuta, trabalho árduo, aflição, dano, tristeza, trabalho de parto, dor, injustiça, iniqüidade, infortúnio, desgraça, perversidade, impiedade”. A palavra diz respeito aos aspectos desagradáveis do trabalho e da labuta. Naquele momento o povo de Israel não deveria sofrer quaisquer interferências que viessem a fazer com que sua caminhada fosse detida ou sequer atrapalhada! É por isso que Bil´am usa esta palavra, pois ela tem o sentido de dizer que o trabalho de Israel – que é conquistar as nações em seu caminho para Canaã – não deve sofrer dano ou qualquer tipo de dificuldade! Isso porque o Senhor seu D-us é com ele! Aqui é usada uma terminologia interessante: IHVH Elohim! Traduzindo seria: Aquele que se tornou o Criador de Israel o acompanha, por isso, não mexam com eles!

A profecia afirma ainda: “Pois contra Ia´aqov não vale encantamento, nem adivinhação contra Israel”. A palavra “encantamento” vem do termo hebraico nahash e significa “adivinhação, encantamento, presságio, feitiçaria, agouro”. Já a palavra “encantamento” vem do termo hebraico qesem e significa “adivinhação, feitiçaria, bruxaria, leitura de sorte, “agouro” ou oráculo”. Estas duas palavras demonstram que nem o proferir palavras nem o ato de fazer qualquer tipo de trabalho ou bruxaria contra Israel, invocando espíritos das trevas para os prejudicarem teria qualquer influência sobre eles, pois eles tem uma grande proteção: “IHVH Elohim!” O Eterno atua como um “escudo protetor” a fim de não permitir que os inimigos triunfem sobre seu povo caso não haja qualquer razão para que isso aconteça!

A segunda profecia de Bilam: a grandeza do povo judeu os protege contra maldições

“Levante-se, Balac, e ouça, escute-me, Oh filho de Tsipor.”

Não trate levianamente minha profecia, Balac. Você não deve permanecer sentado enquanto ouve as palavras de D’us. Levante-se e fique de pé!

“D’us não é um homem, para que Ele seja falso, nem um ser humano que Se arrependa.”

Um homem às vezes faz uma promessa, e mais tarde recusa-se a cumpri-la, ou arrepende-se de tê-la feito. D’us, contudo, mantém Sua palavra. Ele prometeu aos patriarcas que Ele levaria os judeus a Terra de Israel e lhes daria sua posse. Você acha que Ele quebraria Sua promessa e deixaria você destrui-los no deserto?

Da bênção de Bilam podemos apreender a maldição que desejava pronunciar: que D’us deveria quebrar a aliança que selou com os patriarcas, e não levar o povo para a Terra Santa.

“Acaso Ele falou e não o fará, ou Ele disse e Ele não o cumprirá?”

Essas ideias são formuladas como questões retóricas (em vez de afirmações, “Se Ele disse, Ele certamente o fará…”) para sugerir que, de fato, há épocas em que D’us não cumpre Sua palavra: Se Ele decreta algo de mal sobre o povo, e este se arrepende depois, Ele anula Seu decreto. Porém, quando se trata de uma bênção do Todo Poderoso, esta é irrevogável.

“Vejam, eu recebi as bênção, Ele abençoou, e eu não posso retirar.”

Em seu íntimo, Bilam implorava a D’us para não compeli-lo a pronunciar mais bênçãos, porém sua verdadeira fala admitia que estava em poder de D’us.

“Ele não viu iniquidade em Ia´aqov, e nem viu Ele algo errado em Israel.”

Bilam tentava desesperadamente encontrar defeitos nos judeus. Todavia, a geração que chegou a Israel era uma geração de tsadikim, e desta forma foi forçado a admitir que não conseguiria encontrar pecadores entre eles.

“D’us, seu D’us, está com eles, e a Shechiná do Rei está com eles.”

Você, Balac, disse-me para amaldiçoar os judeus com meus poderes de impureza. Como posso amaldiçoar um povo cujo D’us está constantemente em seu meio, e os guarda e protege? Um ladrão pode conseguir entrar num vinhedo e arrancá-lo enquanto o proprietário está dormindo; mas “O Guardião de Israel não dorme nem dormita. ” (Tehilim 121:4). Como, então, posso prejudicar os judeus?

Ao ouvir as palavras de Bilam, Balac perguntou: “Será possível que suas maldições são ineficazes por causa do poder de seu atual líder, Moshe? Talvez você deva atrasar os efeitos da maldição para a época depois da morte de Moshe, quando os judeus serão guiados por outro líder?”

“Impossível,” replicou Bilam. “O sucessor de Moshe, Iehoshua, batalhará contra os inimigos tão vigorosamente quanto Moshe. Quando tocar trombetas perante D’us, os muros de Jericó esfacelar-se-ão e desmoronarão!”

“D’us tirou-os do Egito com o poder da Sua elevação.”

Você, Balac, disse-me: ‘Veja, um povo saiu do Egito.” Estas palavras não eram acuradas. O povo não poderia ter deixado o Egito sozinho, mas deve ter sido tirado de lá por D’us de maneira sobrenatural. Eu, Bilam, enfeiticei todas as fronteiras do Egito com meus poderes mágicos, a fim de impedir a fuga dos escravos hebreus. Não obstante, minha feitiçaria foi ineficaz, pois D’us, Ele próprio tirou-os de lá.

“Pois não há adivinhações em Ia´aqov, tampouco há qualquer feitiçaria em Israel.”

Este versículo pode ser compreendido de duas maneiras:

  1. Nenhuma adivinhação é efetiva contra Israel (uma vez que D’us está em seu meio); portanto, as ferramentas de magia que os sábios de Midyan trouxeram a mim são completamente inúteis. Pois, diferente das nações, este povo não é regido por anjos encarregados, mas estão sob Supervisão direta de D’us.

Quando meu avô Lavan estava sequioso por destruir seu patriarca Ia´aqov com sua artes mágicas, D’us não deixou que tivesse êxito. Similarmente, não posso derrotar os descendentes de Ia´aqov.

  1. Não poderão ser encontrados adivinhos e feiticeiros entre os judeus. Não praticam magia como as outras nações, porém consultam D’us diretamente, através de seus profetas, e através da placa peitoral do Sumo-sacerdote. Portanto, este grande povo certamente merece ser abençoado.

“Chegará uma época na qual dirão a Ia´aqov e a Israel: ‘O que D’us operou?'”

  1. Na época de Mashiach, D’us realizará milagres para os judeus, que ultrapassarão todos os que foram feitos no passado. As nações gentias então virão e indagarão aos judeus sobre os grandes feitos de D’us.
  2. Na era que se seguirá à ressurreição dos mortos, o amor de D’us pelo povo judeu se tornará evidente a todos. D’us, pessoalmente, será seu professor de Torah. Os tsadikim sentar-se-ão na frente de D’us como estudantes ante seu mestre, e Ele lhes revelará os profundos significados da Torah.
  3. Não será permitido aos anjos entrarem, porém precisarão perguntar aos judeus: “O que D’us te ensinou?”

“Vejam, o povo levantar-se-á como um filhote de leão, e se levantará como um leão.”

  1. Este povo ergue-se tão forte quanto um leão, e não descansará até ter destruído seus inimigos e tomado os espólio de Canaã.
  2. Não há nação na terra que serve o Criador com tanta energia quanto o povo judeu. Quando um judeu se levanta de manhã, ele se fortalece como um leão para agarrar as mitsvot, para vestir tsitsit e tefilin, e para recitar o Shemá na hora certa.

“Não se deitará até que tenha comido de sua presa, e beba o sangue da caça.”

  1. Bilam predisse que Moshe não faleceria antes de vingar-se dele e dos cinco reis midyanitas.
  2. Um judeu não se deita à noite até ter recitado o Shemá. Ao pronunciar as palavras: “D’us é Um,” reconhecendo assim que não há outro poder que o Todo Poderoso. D’us destrói agentes prejudiciais.

Depois de aprender da segunda profecia de Bilam que os judeus conquistariam Canaã e matariam os reis das nações, Balac aconselhou Bilam: “Melhor ir para casa em silêncio! Não preciso nem de suas maldições, nem de suas bênçãos!”

Bilam replicou: “Já não lhe disse que preciso seguir as instruções de D’us?”

Balac decidiu fazer mais uma tentativa. “Afinal de contas,” pensou, “Sei que esta nação não é invencível. Foram atacados, no passado, pelos amalequitas e canaanitas. Mesmo que eu não consiga destrui-los totalmente, ou impedi-los de entrar em Canaã, deve haver algum modo de prejudicá-los.”

Balac levou Bilam a um local diferente, onde, no futuro, os judeus adorariam o ídolo Báal Peor. Balac previu que os judeus seriam punidos lá, mas era incapaz de adivinhar detalhes. Pensou: “Talvez sua punição será o resultado da maldição de Bilam.”

Balac e Bilam ergueram novamente sete altares e ofereceram um touro e um carneiro sobre cada um.

Desta vez, Bilam não tentou utilizar seus poderes de impureza, uma vez que admitira em sua última profecia que os judeus eram imunes à mágica. Em vez disso, concentrou seus poderes em seus pecados. Virou sua face em direção ao deserto, para lembrar D’us do pecado do bezerro de ouro. Não obstante, ao erguer os olhos, percebeu que a Shechiná pairava sobre as tendas dos israelitas. Soube então que D’us perdoara seu pecado.

Em honra ao povo judeu, o espírito de profecia penetrou Bilam. D’us forçou-o a pronunciar novas bênçãos.

        Na terceira e última tentativa de amaldiçoar a Israel, o texto nos descreve assim: “E, levantando Bil´am os seus olhos, e vendo a Israel, que estava acampado segundo as suas tribos, veio sobre ele o Espírito de Elohim. E proferiu a sua parábola, e disse: Fala, Bil´am, filho de Beor, e fala o homem de olhos abertos; fala aquele que ouviu as palavras de Elohim, o que vê a visão do Todo-Poderoso; que cai, e se lhe abrem os olhos: quão formosas são as tuas tendas, ó Ia´aqov, as tuas moradas, ó Israel! Como ribeiros se estendem, como jardins à beira dos rios; como árvores de sândalo o Senhor os plantou, como cedros junto às águas; de seus baldes manarão águas, e a sua semente estará em muitas águas; e o seu rei se erguerá mais do que Agague, e o seu reino será exaltado. Elohim o tirou do Egito; as suas forças são como as do boi selvagem; consumirá as nações, seus inimigos, e quebrará seus ossos, e com as suas setas os atravessará. Encurvou-se, deitou-se como leão, e como leoa; quem o despertará? benditos os que te abençoarem, e malditos os que te amaldiçoarem” (Nm 24:2-9). Novamente, pela terceira vez Bil´am profere palavras que abençoam a Israel! Bil´am não consegue resistir e diz aquilo que está no coração do Eterno, pois está escrito que sobre ele veio o Espírito de D-us! A palavra aqui empregada é ruach Elohim! O Espírito do Criador viera sobre ele e então ele disse aquilo que Ruach Elohim lhe transmite direto do coração do Criador! Ele finaliza esta palavra enfatizando que a forma como as pessoas e nações se relacionam com Israel determinará também seu futuro! Ele diz: “benditos os que te abençoarem, e malditos os que te amaldiçoarem”. A palavra “abençoar” vem do termo hebraico barak, que significa “dar poder a alguém para ser próspero, bem sucedido e fecundo em tudo o que fizer”. Já a palavra “amaldiçoar” em hebraico é arar e significa “amaldiçoar”. Isso significa “prender por encantamento, cercar com obstáculos, deixar sem forças para resistir”. Quem se relacionar com Israel e com os judeus falando e agindo de forma a abençoá-los receberá na mesma medida o que disser; já quem fizer o contrário, receberá da mesma forma o que disser e fizer! Isso foi dito também por Ieshua na Brit Hadasha quando disse estas palavras: “Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós” (Mt 7:1-2).

Este fato faz com que a ira de Balaq se acenda contra Bil´am! E o diálogo que se segue determina ainda que Bil´am entregue uma última profecia sobre Israel: “Então a ira de Balaq se acendeu contra Bil´am, e bateu ele as suas palmas; e Balaq disse a Bil´am: Para amaldiçoar os meus inimigos te tenho chamado; porém agora já três vezes os abençoaste inteiramente. Agora, pois, foge para o teu lugar; eu tinha dito que te honraria grandemente; mas eis que o IHVH te privou desta honra. Então Bil´am disse a Balaq: Não falei eu também aos teus mensageiros, que me enviaste, dizendo: Ainda que Balaq me desse a sua casa cheia de prata e ouro, não poderia ir além da ordem do IHVH, fazendo bem ou mal de meu próprio coração; o que o IHVH falar, isso falarei eu? Agora, pois, eis que me vou ao meu povo; vem, avisar-te-ei do que este povo fará ao teu povo nos últimos dias. Então proferiu a sua parábola, e disse: Fala Bil´am, filho de Beor, e fala o homem de olhos abertos; fala aquele que ouviu as palavras de Elohim, e o que sabe a ciência do Altíssimo; o que viu a visão do Todo-Poderoso, que cai, e se lhe abrem os olhos. Vê-lo-ei, mas não agora, contemplá-lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Ia´aqov e um cetro subirá de Israel, que ferirá os termos dos moabitas, e destruirá todos os filhos de Sete. E Edom será uma possessão, e Seir, seus inimigos, também será uma possessão; pois Israel fará proezas” (Nm 24:10-18). Balaq reconhece que Israel fora inteiramente abençoado – três vezes – por Bil´am! E isso o irrita de tal forma que ele ordena a Bil´am que fuja e ainda lhe diz que nada lhe será dado pelo “serviço” prestado, pois na opinião de Balaq nada daquilo que ele pedira fora feito!

A terceira profecia de Bilam: os judeus habitarão em segurança em Israel, governados por seu rei

“A irrevogável proclamação de Bilam, filho de Beor, e a irrevogável proclamação do homem com boa visão (shetum haayin).”

Bilam estava, profeticamente, louvando a si mesmo, dizendo que era maior profeta que seu pai Beor, e que sabia segredos ocultos a todos os outros profetas.

De acordo com esta explicação, shetum haayin significa que Bilam tinha uma visão profética superior.

Contudo, as palavras shetum haayin comportam ainda outras interpretações:

  1. Shetum haayin significa “aquele cujo um olho foi tirado.” D’us puniu Bilam cegando-o de um olho, pois a sarcástica observação que fez ao pronunciar a profecia: “Ele conta a semente de Israel.”
  2. Além disso, Bilam chamou a si mesmo “o homem com mau olho.” Bilam podia lançar as forças do mal sobre uma pessoa concentrando seu olhar sobre essa. Ergueu os olhos com o intuito de prejudicar os judeus, mas ficou impotente para prejudicá-los.

Bilam descreveu a si mesmo como “um homem forte” (guever, derivado do radical guevurá – força).

“Irrevogável declaração daquele que ouve os ditos de D’us, que vê as visões do Todo Poderoso, caindo enquanto lhe está sendo revelado.”

Bilam continuava a descrever suas habilidades proféticas, declarando que eram comparáveis às de Moshe.

O perverso Bilam, que cometera toda espécie de pecado, tentava impressionar o mundo descrevendo sua superioridade sobre todos os outros profetas. Com sua auto-glorificação, tentava enganar as pessoas a respeito de seu verdadeiro caráter.

De que maneira a profecia de Bilam se compara a de Moshe?

“Não houve ninguém como Moshe no povo judeu” (Devarim 24:10). Este versículo implica que entre os gentios houve um profeta do calibre de Moshe, a saber, Bilam. D’us concedeu às nações do mundo uma profecia superior, para que não reivindicassem: “Se apenas tivéssemos um profeta tão grande quanto Moshe, nós também teríamos servido o Todo Poderoso, como o povo judeu.”

Apesar disso, Bilam era inferior a Moshe.

Moshe ouvia as mensagens de D’us de pé. Bilam não conseguia suportá-las de pé, por isso prostrava-se. Todos os profetas idólatras prostravam-se durante suas profecias, pois não eram circuncidados.

A rainha de Shevá ouvira a respeito da rara sabedoria do rei Salomão, e quis testá-lo. Viajou à corte de Salomão em Jerusalém, onde propôs-lhe diversas charadas e questões engenhosas.

Dentre outras coisas, trouxe um grupo de meninos perante Salomão e disse: “Alguns desses jovens são circuncidados, outros não. Você pode dizer quais são os meninos circuncidados?”

Salomão pediu ao Sumo-sacerdote que abrisse a Arca e mostrasse-a às crianças. Os circuncidados curvaram a cabeça, e suas faces iluminaram-se com o esplendor da Shechiná. Todos os não circuncidados não puderam suportar a santidade da Arca e caíram sobre suas faces.

Quando Salomão forneceu a resposta correta, a rainha indagou: “Como você pensou neste método para distinguir entre eles?”

“Aprendi da Torah,” retrucou Salomão. “Está escrito que Bilam não conseguiu suportar a glória de D’us, porque não era circuncidado, e portanto sempre se prostrava quando a Shechiná revelava-Se a ele.”

Bilam continuou falando:

“Quão boas são tuas tendas, Ia´aqov, tuas habitações, Israel.”

Bilam desejava lançar um mau olhado sobre os judeus, porém foi forçado a afirmar que esta nação era tão sagrada que seu mau olhado não tinha poder contra eles.

Os judeus arrumaram suas tendas de forma que nenhuma entrada ou janela ficasse de frente uma para a outra. Isto possibilitava que cada família conduzisse todos os seus assuntos em particular. Mais que isso, ninguém ficaria tentado a olhar ou cobiçar a mulher ou os pertences do vizinho. Percebendo isso, Bilam exclamou: “Quão boas são tuas tendas, Oh, Ia´aqov!”

Este versículo implica:

Quão boas são as tendas da Shechiná, os Santuários e os dois Templos” todos vistos profeticamente por Bilam.

Quão boas são as Casas de Orações e Estudos de Torah, as miniaturas do Templo no exílio!

Da bênção de Bilam fica evidente que maldição queria falar; que os judeus no exílio não terão mais Casas de Orações e Estudos, intensificando sua conexão com o Todo Poderoso. Contudo, D’us fez com que Bilam concedesse uma bênção de que nossas Sinagogas e Casa de Estudos permaneceriam conosco para sempre.

Essas bênçãos são tão significativas que os sábios incorporaram-nas às orações diárias. D’us queria que estas bênçãos sublimes viessem ao povo judeu através do perverso e imoral Bilam. Assim, o mundo saberia que ninguém tem poder de prejudicar os judeus contra a vontade de D’us.

“[Os judeus são] como os riachos que fluem, como jardins às margens do rio, tão fragrantes quanto os aloés que D’us plantou, como as árvores de cedro à beira da água.”

Bilam descreveu poeticamente a grandeza dos judeus, um povo que estuda Torah e cumpre as mitsvot. Os judeus que entram nas Casas de Estudos são comparados aos riachos dos quais a água (Torah) flui, e às plantas nas margens do rio, uma vez que o estudo da Torah purifica como a água. São comparados às belas e fragrantes plantas que produzem frutos, como as que D’us plantou originalmente no Paraíso.

Seu estudo eleva-os, do mesmo modo que as árvores de cedro são muito mais altas que outras árvores.

“A água fluirá de suas nascentes, e sua semente estará em muitas águas.”

Este versículo inclui grande número de significados, dentre eles:

  1. Bilam exclamou: “A Torah fluirá dos pobres.”

Nossos sábios declararam: “Ensine Torah aos filhos dos pobres, pois o versículo afirma que serão estudantes de Torah.”

Por quê o estudo da Torah é mais comumente disseminado entre os judeus pobres que entre os ricos?

  • Os ricos estão preocupados com seus negócios, e por isso perdem tempo do estudo da Torah.
  • Os pobres são mais humildes que os abastados, por isso sentem necessidade de estudar.
  • Pessoas pobres não possuem os meios de passar seu tempo de lazer da maneira que os ricos (viajando nas férias, fazendo compras, dando festas, e assim por diante). Em vez disso, preenchem seu tempo livre com o estudo da Torah.
  1. Bilam profetizou que o povo judeu terá seus próprios reis poderosos, dizendo: “Um grande rei, Shaul, surgirá dos judeus; mais tarde, David e Salomão governarão muitas nações.”

Por que a realeza é descrita como “água que flui de uma nascente”?

Os reis judeus eram ungidos com água da nascente, como símbolo de que sua monarquia perdurará, assim como a nascente emana continuamente.

“E seu rei será mais forte que Agag, e seu reinado será elevado.”

Bilam profetizou que o primeiro rei judeu, Shaul, batalhará contra Amalec e derrotará seu rei, Agag. Mais tarde, David e Salomão derrotarão poderosos monarcas, e seu reinado, assim, se elevará.

As palavras de Bilam indicam claramente as maldições que queria pronunciar – que sua monarquia não será forte, e que não perdurará.

“D’us, que tirou-os do Egito, protege-os com Sua força e elevação.”

Quem conquista todas essas vitórias para o povo judeu? Certamente é D’us, Que com Sua força e grandeza luta em seu lugar.

“Ele [D’us] consumirá as nações, suas adversárias, e quebrarão seus ossos e Ele dividirá sua terra [entre os judeus].”

Não pense que pode impedir os judeus de conquistar Canaã. O mesmo D’us Que tem a força para redimi-los do Egito também matará os reis canaanitas e dará suas posses aos judeus.

“Ele [este povo] se agachará e descansará como o leão e um filhote de leão: quem ousa levantá-lo [quando está descansando]?”

Os judeus se instalarão firme e seguramente na terra, nenhuma nação conseguirá expulsá-los.

“Os que te abençoam são abençoados, e os que te amaldiçoam são amaldiçoados.”

Contra si mesmo, Bilam foi forçado a repetir a antiga promessa de D’us a Avraham, que continha a ameaça de que se Bilam amaldiçoar os judeus, ele trará maldição apenas sobre si mesmo.

Agora, a ira de Balac contra Bilam fora acesa. Rangia os dentes e esfregava as mãos em desespero e lamento pelo desencadear dos eventos.

“Você já abençoou meus inimigos três vezes,” vituperou. “Eu lhe avisei para correr para casa antes de mandar meus servos lhe executarem. Vejo que D’us não quer que você seja honrado.”

Bilam respondeu: “Mesmo se me der todo seu dinheiro, devo abençoar os judeus, pois D’us colocou essas bênçãos na minha boca.”

“Contudo, arquitetei outro plano para destruir os judeus. Deixe-me lhe dar um bom conselho. O D’us dos judeus odeia imoralidade. Se você conseguir seduzi-los a pecar, Ele Mesmo os dizimará. Deixe-me descrever como enganar os homens judeus!”

O perverso Bilam arquitetou um plano para capturar os judeus na armadilha da imoralidade, (como será descrito no final desta parashá).

“Antes de eu partir,” anunciou Bilam, “Sou compelido a lhe desvelar ainda outra profecia. Esta revelará o que os judeus farão na época de Mashiach. Contudo, no presente você não tem motivos para temê-los, pois D’us proibiu-os de atacarem Moav.”

Bil´am profetiza ainda sobre a vinda do Mashiach, quando diz: “uma estrela procederá de Ia´aqov e um cetro subirá de Israel, que ferirá os termos dos moabitas, e destruirá todos os filhos de Sete. E Edom será uma possessão, e Seir, seus inimigos, também será uma possessão; pois Israel fará proezas”.

A quarta e última profecia: eventos que acontecerão na época de David e Mashiach

“A irrevogável declaração de Bilam, filho de Beor, e a irrevogável declaração do homem com boa visão. Irrevogável declaração daquele que ouve as falas de D’us, e conhece a mente do mais Elevado. O que vê a visão do Todo Poderoso, prostrando-se enquanto lhe está sendo revelada.”

Bilam revela aqui um novo aspecto de sua grandeza profética, de que sua habilidade de amaldiçoar deriva de seu “conhecimento da mente do mais Elevado” – ou seja, ele podia discernir o momento exato da ira Divina.

Além disso, Bilam louvava a si mesmo de que conhecia a “mente do mais Elevado”, pois estava prestes a fazer revelações referentes a assuntos ocultos que transpirariam desde a época do Rei David até o fim dos dias.

“Eu o vejo, porém não agora; percebo-o, mas não perto.”

Vejo o Rei David erguendo-se, mas não agora (pois ainda se passarão mais quatrocentos anos até o nascimento de David), e eu percebo o Rei Mashiach nesse futuro longínquo.

“Uma estrela partiu de Ia´aqov, e um cetro [governante] ergueu-se de Israel.”

Bilam descreveu Mashiach como uma estrela que traça sua órbita de um extremo do universo a outro, para simbolizar que Mashiach reunirá os exilados de todos os cantos da terra.

As palavras “e um governante ergueu-se de Israel” podem referir-se ao Rei David ou a Mashiach.

“E perfurará os cantos de Moav, e solapa todas as nações, descendentes de Shet.”

David perfurará todos os cantos de Moav, ele subjugará a terra de Moav. Mashiach solapará as nações, inclusive Moav, e essas serão subservientes ao povo judeu.

“E Edom será uma posse e Seir também se tornará propriedade do seu inimigo, e Israel a herdará.”

Bilam profetizou que o exílio edomita (nosso exílio atual) será finalmente terminado por Mashiach.

“Outro governará de Ia´aqov e ele destruirá quaisquer vestígios da cidade [de Roma].”

Mashiach destruirá todos os remanescentes da casa de Essav.

“E ele previu [a punição] de Amalec, e ele declamou sua parábola e disse: O primeiro a lutar contra os judeus [após o Êxodo] foi Amalec, e seu fim será a destruição eterna.”

Bilam descreveu profeticamente o destino de duas nações – uma, Amalec, que escolheu ser inimiga do Todo Poderoso e do povo judeu; e a outra, a família de Itrô, sogro de Moshe, (descrita no próximo versículo), que escolheu unir-se a D’us. Amalec recusou-se a se arrepender, mesmo depois de ter perdido a guerra contra os judeus, e foi condenado à destruição eterna. A família de Itrô, os Kenim, mereceram bênçãos eternas.

“E ele previu [o destino] dos Kenim [descendentes de Itrô], e declamou sua parábola e disse: Quão firme é seu local de habitação desde que você colocou seu ninho sobre a rocha.”

Bilam exclamou: Vejo que você escapou das artimanhas do yêtser hará (má inclinação) tal um pássaro escapa de uma armadilha. Você fez teshuvá, converteu-se e uniu-se firmemente a Rocha, o D’us do povo judeu.

Prevejo que colherá bênçãos por isso, pois seus descendentes sentarão no San’hedrin (Corte Suprema) junto com a elite dos judeus.

“Mesmo se os Kenim se desencaminharem, quão longe a Assíria te carregará cativo?”

Bilam continuou a dirigir-se aos Kenim, afirmando: Vocês fizeram bem em unirem-se firmemente ao povo judeu. Mesmo se forem exilados por Sancheriv, rei de Assíria, junto com as Dez Tribos, não ficarão perdidos eternamente. Voltarão do Exílio, para Israel junto com os judeus.

“E declamou sua parábola e disse: Oh!, quem viverá quando D’us concederá redenção a Seu povo, recompensando os tsadikim e punindo os perversos.”

A profecia de Bilam refere-se ao grande e temível Dia do Julgamento na época de Mashiach, quando D’us imporá justiça à humanidade.

“E uma flecha das mãos dos Kitim [romanos] afligirá Assíria e afligirá Ever [os judeus], porém eles [os romanos] também serão destruídos para sempre.”

Bilam profetizou que os assírios seriam atacados pelos romanos, que afligi-los-ão, e a seus judeus cativos. Finalmente, no fim dos dias, Roma cairá nas mãos de Mashiach, e nosso exílio chegará a um fim.

Quando Bilam terminou essas profundas declarações proféticas, levantou-se, pois estava deitado, prostrado, enquanto D’us comunicava-se com ele. O espírito de D’us que imbuiu-Se nele em honra aos judeus partia dele para sempre. Passou o resto de sua vida como um mágico comum.

Bilam partiu para retornar a sua terra, Aram Naharayim. Antes de partir, supervisionou a construção de grande número de tendas e barracas, nas quais postou as filhas de Midyan, com o propósito de seduzir os homens judeus.

Esta seção termina com Bil´am “ensinando” aos inimigos de Israel a fórmula para que eles pudessem vencê-los: a prostituição cultual! Isso aconteceu e trouxe um grande problema sobre Israel. O texto final nos diz: “E Israel deteve-se em Sitim e o povo começou a prostituir-se com as filhas dos moabitas. Elas convidaram o povo aos sacrifícios dos seus deuses; e o povo comeu, e inclinou-se aos seus deuses. Juntando-se, pois, Israel a Baal-Peor, a ira do IHVH se acendeu contra Israel. Disse o IHVH a Moshe: Toma todos os cabeças do povo, e enforca-os ao IHVH diante do sol, e o ardor da ira do IHVH se retirará de Israel. Então Moshe disse aos juízes de Israel: Cada um mate os seus homens que se juntaram a Baal-Peor. E eis que veio um homem dos filhos de Israel, e trouxe a seus irmãos uma midianita, à vista de Moshe, e à vista de toda a congregação dos filhos de Israel, chorando eles diante da tenda da congregação. Vendo isso Finéias, filho de Eleazar, o filho de Aharon, sacerdote, se levantou do meio da congregação, e tomou uma lança na sua mão; e foi após o homem israelita até à tenda, e os atravessou a ambos, ao homem israelita e à mulher, pelo ventre; então a praga cessou de sobre os filhos de Israel. E os que morreram daquela praga foram vinte e quatro mil” (Nm 25:1-9). Como podemos afirmar que foi Bil´am que ensinou aos inimigos de Israel a forma como eles seriam derrotados? O texto de Apocalipse nos diz: “Mas algumas poucas coisas tenho contra ti, porque tens lá os que seguem a doutrina de Bil´am, o qual ensinava Balaq a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, para que comessem dos sacrifícios da idolatria, e se prostituíssem” (Ap 2:14).

Assim pois Israel foi novamente abençoado e continuou em sua trajetória rumo à terra prometida. Fica porém o alerta: não podemos afrouxar a nossa vigilância, pois o nosso inimigo busca sem descanso meios para vencer-nos e impedir que a bênção do Eterno nos alcance!

Que assim seja e se cumpra!

Baruch Há Shem!

Mário Moreno.