Mário Moreno/ junho 4, 2018/ Parasha da semana

Behaalot’cha

Quando subires

Nm 8:1–12:16 / Zc 2:14 – 4:7 / Ap 11:1-19

 

Na Parashá desta semana estaremos abordando os fatos concernentes ao restante das obrigações sacerdotais e também a consagração dos levitas, assim como a revolta de Mirian e Aharon contra Moshe.

Temos no início a seguinte palavra: “E falou o IHVH a Moshe, dizendo: fala a Aharon, e dize-lhe: Quando acenderes as lâmpadas, as sete lâmpadas iluminarão o espaço em frente do candelabro. E Aharon fez assim: Acendeu as lâmpadas do candelabro para iluminar o espaço em frente, como o IHVH ordenara a Moshe. E era esta a obra do candelabro, obra de ouro batido; desde o seu pé até às suas flores era ele de ouro batido; conforme ao modelo que o IHVH mostrara a Moshe, assim ele fez o candelabro. E falou o IHVH a Moshe, dizendo: toma os levitas do meio dos filhos de Israel e purifica-os” (Nm 8:1-6). Temos no início da narrativa a forma como o Eterno se apresenta para seu povo: IHVH – Aquele que se torna aquilo que eles precisam que Ele se torne! É com esta perspectiva que o Senhor está se comunicando com seus filhos! No verso 2 o Eterno fala sobre o acendimento das lâmpadas do candelabro. A palavra “lâmpadas” em hebraico é nîr com o mesmo significado. Esta palavra refere-se aos pequenos objetos em forma de tigela que tinham óleo e o pavio aceso a fim de proporcionarem luz. Já a palavra “candelabro” vem do termo hebraico menorah. Este substantivo com mem prefixal indica o suporte em que se colocava a lâmpada. Ou seja, a menorah é o conjunto da haste mais os sete “copinhos” ou pequenas tigelas onde era depositado o óleo a fim de proporcionar luz no Tabernáculo e depois no Templo! Estas sete lâmpadas tinham uma conotação de algo completo, pleno! Quando a menorah era acendida certamente os israelitas estavam recebendo a plenitude de luz que tinha o objetivo de ilumina-los até chegarem à presença do Eterno!

Aharon acende a menorah conforme o Senhor – IHVH – lhe ordenara! Aqui percebemos que um conjunto que proporciona luz está sendo aceso conforme a ordem daquele que se torna aquilo que seu povo precisa que Ele se torne! Também a palavra “ordenar” em hebraico é tsawâ e significa “ordenar, incumbir”; A raiz designa a instrução de um pai para seu filho, de um fazendeiro a seus lavradores, de um rei a seus servos. O acendimento da menorah era uma incumbência que fora dada pelo Eterno aos levitas, pois a eles seria dado o privilégio de trazerem a luz ao Tabernáculo, iluminando assim a Palavra do Eterno!

A mitsvá do acendimento da menorá será eterna. Seus descendentes, os cohanim conhecidos como Chashmonaim (Macabeus), instituirão a mitsvá permanente de acender as velas de Chanucá. Assim, seu ‘chanucá’ (inauguração, em hebraico) continuará para sempre; enquanto que a inauguração dos líderes das tribos é apenas temporária.”

D’us usou um termo nada usual para ‘acender’ a menorá, dizendo: “Behaalotechá / quando você fizer subir” em vez de “behadlicchá / ao acender”. Dentre outras implicações, este termo denota: “Você será elevado.” Cumprindo a mitsvá, os judeus tornam-se espiritualmente elevados.

Similarmente, Moshê não conseguia compreender porque D’us desejava que uma menorá fosse acesa no Santuário. Sempre que entrava, encontrava o Tabernáculo brilhando com o esplendor da Shechiná (Divindade). Como poderiam as luzes da pobre menorá terrestre serem comparadas ao esplendor que a Shechiná irradiava?

Portanto, D’us disse a Moshê: “Behaalotechá: Você se tornará espiritualmente elevado acendendo a menorá. Eis porque Eu lhe dei a mitsvá.”

Além disso, esse termo significa também:

  • A menorá deve ser colocada sobre uma plataforma com degraus que conduzem até ela. O cohen precisa ascender a plataforma para o acendimento. “Behaalotechá” significa, assim, “quando você subir.”
  • A mitsvá é cumprida acendendo-se cada chama até que esta suba por si. Assim, Behaalotechá significa “quando você a fizer subir.”

A fim de demonstrar que o Todo Poderoso não necessita de nossa luz, Ele ordenou que os três braços de cada lado do centro da menorá estejam inclinados em direção ao centro, e não para fora.

Apesar de Aharon poder enviar um de seus filhos para acender a menorá, cumpriu a pessoalmente a mitsvá com o maior zelo e exatidão e durante toda sua vida.

Esta mitsvá é tão querida aos olhos de D’us, que é mencionada diversas vezes na Torah. A cada vez novos detalhes são acrescentados.

D’us advertiu Aharon a não subestimar a grandeza da mitsvá de preparar a menorá.

Por causa de sua importância, não era realizada toda de uma vez. Ao limpar a menorá pela manhã, o cohen limpava cinco lâmpadas, partia para outro serviço e só então limpava as duas lâmpadas remanescentes. Desta forma, o ato se estendia, e atraía a atenção das pessoas que visitavam o pátio do Templo.

A menorah não foi uma “invenção” dos israelitas, mas foi concebida conforme ao modelo dado a Moshe no deserto! A palavra “mostrara” vem do termo hebraico ra´a e significa “ver, olhar, inspecionar”. Isso nos mostra que Moshe teve uma visão da menorah com todos os seus detalhes e o Eterno – IHVH – detalhe por detalhe; assim sendo o material utilizado para a sua confecção teria de seu o ouro, pois este material não se corrompe e nas Escrituras representa a divindade! Novamente percebemos o cuidado de D-us, pois a menorah – de onde viria a luz e a revelação – seria de ouro (ou seja, tudo isso viria do próprio D-us para seu povo) e nada ficaria oculto ou obscuro, mas quando a luz do Eterno se acendesse, tudo ficaria plenamente às claras!

Havia uma condição para que esse “serviço” pudesse ser feito: Moshe deveria tomar os levitas – não poderiam ser outros – dentre os filhos de Israel e deveria purifica-los! A palavra “purificar” vem do termo hebraico taher e significa “ser (estar) puro, limpo”. Em sua raiz estão as palavras tohar, que significa “claridade” e também tehar que significa “limpeza”. Os levitas precisavam ser e estar puros pra levar luz e revelação ao povo de Israel e esse ato dissiparia todas as trevas, trazendo então claridade ao povo, justamente pelo fato de eles terem feito uma “limpeza” em suas vidas!

Este tipo de “limpeza” deveria obedecer ao padrão dado pelo Eterno: “E assim lhes farás, para os purificar: Esparge sobre eles a água da expiação; e sobre toda a sua carne farão passar a navalha, e lavarão as suas vestes, e se purificarão. Então tomarão um novilho, com a sua oferta de alimentos de flor de farinha amassada com azeite; e tomarás tu outro novilho, para expiação do pecado” (Nm 8:7-8). A limpeza seria feita através não de água, mas sim de águas, pois a palavra mayim está no plural; também a palavra expiação não tem este significado, pois a palavra hata´ ali significa “errar, sair do caminho, pecar, tornar-se culpado, perder”. A intenção aqui é que as águas purificariam o pecado que porventura eles pudessem ter cometido! A água aqui já apontava para o futuro e é descrita na Brit Hadasha como: “Para a santificar, purificando-a com a lavagem das águas, pela palavra” (Ef 5:26). A água é a Palavra do Eterno que traz limpeza e pureza à nossa vida (corpo, alma e espírito)! O que fora feito com os levitas não era nada mais que um ato profético que seria executado no futuro através da Palavra!

Quando os levitas estivessem prontos, então aconteceria assim: “E farás chegar os levitas perante a tenda da congregação e ajuntarás toda a congregação dos filhos de Israel” (Nm 8:9). Os levitas se achegariam – se apresentariam – diante da tenda da congregação. A palavra “tenda” em hebraico é ohel e significa “tenda, habitação”. Já o termo “congregação” vem da palavra mo´ed e significa “sinal combinado, tempo determinado, estação determinada, local para assembléia, festa designada”. Os levitas deveriam apresentar-se diante da habitação do Eterno, o lugar onde eles tinham um encontro marcado, num tempo determinado. Tudo era – e ainda é – feito na Eternidade de forma muito criteriosa e exata; nada acontece sem que haja algum propósito bem definido da parte do Eterno para com os seus! Um outro detalhe é que Moshe nesta ocasião deveria “ajuntar a congregação” dos filhos de Israel. Esta frase no hebraico nos dá bem a medida do que estaria ocorrendo: a palavra “ajuntar” foi traduzida do termo qahal que significa “assembléia, grupo, congregação”. Já o termo “congregação” vem da palavra edâ, que significa “assembléia, congregação, povo, enxame”. Parece um contra-senso, mas ali estavam reunidos os representantes do povo e também a sua totalidade; ou seja, este acontecimento deveria ser presenciado por toda a nação, iniciando por seus líderes e terminando no mais novo!

Quando fosse oferecido o sacrifício pelos levitas, este seria “movido” diante do Eterno. “E Aharon oferecerá os levitas por oferta movida, perante o IHVH, pelos filhos de Israel; e serão para servirem no ministério do IHVH” (Nm 8:11). Duas coisas merecem destaque aqui: a frase “servirem no ministério” é composta das palavras “abad abodah”. A palavra abad significa “trabalhar, servir”. Tem o sentido de adorar, obedecer à D-us. Certamente que o trabalho dos sacerdotes e levitas deveria ter esta conotação – de um serviço que adora à D-us – porém, isso deveria ficar claro, explícito inclusive na forma como isso seria feito! Isso também nos fala sobre um outro detalhe: o ministério deve ser desempenhado de tal forma que isso venha a glorificar o nome do Eterno na vida daqueles que o servem! Aqui também temos o nome do Eterno como IHVH – Aquele que se torna aquilo que precisamos que Ele se torne para nós! Isso significa que quando aqueles que trabalham no ministério o fazem com as motivações corretas o Eterno se torna para eles aquilo que eles precisam que Ele se torne! O ministro nunca terá falta alguma ou qualquer necessidade, pois seu “patrão” cuidará para que todas as coisas estejam em ordem a fim de que eles – os ministros – possam desempenhar um bom trabalho na obra do Eterno!

Os levitas e sacerdotes somente poderiam oficiar diante do Eterno após ter sido oferecido um sacrifício por suas vidas; então eles estariam plenamente aptos para o exercício de suas funções. “E depois os levitas entrarão para fazerem o serviço da tenda da congregação; e tu os purificarás, e por oferta movida os oferecerás” (Nm 8:15). Quando os ministros estão aptos, então eles entram e fazem o serviço na tenda da congregação. Novamente aqui a palavra “serviço” em hebraico é abad significa “trabalhar, servir”. Tem o sentido de adorar, obedecer à D-us. Já o termo “tenda da congregação” em hebraico é ohel e significa “tenda, habitação”. Já o termo “congregação” vem da palavra mo´ed e significa “sinal combinado, tempo determinado, estação determinada, local para assembléia, festa designada”. Ou seja, o trabalho dos levitas deveria ser ao mesmo tempo uma forma de cultuarem ao eterno através de cada ato prestado na habitação onde o Eterno marcou um encontro para ali com eles se reunir! O louvor e a adoração dos próprios levitas se confunde, se entrelaça com o seu “trabalho” diário na habitação do Eterno! Assim deveria ser também para conosco, pois nosso viver diário deveria juntar-se com nossa adoração ao Eterno de tal forma que não pudéssemos separar entre aquilo que é “trabalho” e aquilo que é “adoração” ou “louvor” ao Senhor!

A Grandeza da Geração do Deserto

A Torah explica que durante suas andanças no deserto, os filhos de Israel eram dirigidos pelas Nuvens de Glória, e descreve o caminho pelo qual viajaram.

Há diversas razões pelas quais a Torah se estende acerca da maneira como os judeus viajavam, dentre elas:

  1. Algumas nações gentias alegavam que o povo judeu andava sem rumo porque Moshê não sabia o caminho. Por isso, a Torah enfatiza que todas as jornadas eram ditadas por D’us.
  2. A Torah revela a grandeza da geração do deserto. Seus membros não foram perguntados se queriam ou não viajar, nem se queriam ou não permanecer em alguma parada. Não, eles seguiram obedientemente as Nuvens de Glória. Sempre que essa se instalava sobre o Tabernáculo, acampavam; sempre que partia, eles também partiam. Às vezes, D’us escolhia um local desagradável para acampar. Por exemplo, em Mará as águas eram amargas e não potáveis. Contudo, a Nuvem permaneceu em tal lugar. Às vezes, chegava num local com boas fontes de água e árvores, como Elam, contudo, as Nuvens de Glória partiam logo após a chegada. Nunca sabiam o quanto demorariam em cada parada ou jornada. Poderiam ter acabado de desempacotar e instalarem-se, quando as Nuvens se levantavam, convocando-os a continuar viagem.

O período de andanças no deserto ensinou o judeu a seguir a liderança de D’us com fé absoluta. Adquire, assim, fé e confiança em D’us para os longos anos de exílio, enquanto perambula através do “deserto das nações,” como o exílio foi denomidado. Até hoje, os judeus não perderam sua fé na vinda de Mashiach, pois foram treinados a ter esperança e aguardá-lo. “Mesmo que (a Redenção Final) demore, espere-a, pois certamente chegará.” (Chavacuc 2:3)

Parece quase sobre-humano que milhões de pessoas, inclusive crianças pequenas e bebês, viajassem de boa vontade por esse sistema por um período de quarenta anos. Os judeus demonstravam desta maneira sua total prontidão a submeterem-se completamente à Vontade Divina.

Contudo, como veremos futuramente (na parashá de Mass’ê), D’us foi bondoso com os judeus e permitiu-lhes por muitos anos viverem num local permanente no deserto.

Esta maravilhosa geração foi louvada por D’us: “Assim disse D’us, ‘Eu Me lembrei da bondade de sua juventude, seu amor como noiva, ter Me seguido no deserto, numa terra não semeada.'” (Irmiyahu 2:2)

Um outro detalhe muito importante é que essa atividade dos sacerdotes e levitas tinham também uma outra finalidade: evitar que houvesse uma praga em meio ao povo de Israel. “E os levitas, dados a Aharon e a seus filhos, dentre os filhos de Israel, tenho dado para ministrarem o ministério dos filhos de Israel na tenda da congregação e para fazer expiação pelos filhos de Israel, para que não haja praga entre eles, chegando-se os filhos de Israel ao santuário. E assim fizeram Moshe e Aharon, e toda a congregação dos filhos de Israel, com os levitas; conforme a tudo o que o IHVH ordenara a Moshe acerca dos levitas, assim os filhos de Israel lhes fizeram. E os levitas se purificaram, e lavaram as suas vestes, e Aharon os ofereceu por oferta movida perante o IHVH, e Aharon fez expiação por eles, para purificá-los” (Nm 8:19-21). Aqui neste texto a palavra “praga” vem do termo hebraico negep e significa “golpe, praga, pancada”. Refere-se a um golpe mortal infringido como castigo divino. Certamente que um ato de desobediência coletiva por parte dos sacerdotes e levitas faria com que houvesse entre o povo de Israel algo que os ferisse mortalmente! Isso porque há um princípio de autoridade delegada que foi dada pelo Eterno aos sacerdotes e levitas para que tivessem o encargo espiritual do povo de Israel. Quando essa determinação não era obedecida, certamente que haveriam conseqüências espirituais e também físicas não somente entre os sacerdotes e levitas mas também entre o povo!

Um outro detalhe é que quando eles obedeciam, eles atraíam bênçãos sobre si – no caso dos sacerdotes e levitas – e também sobre todo o povo de Israel. O texto nos fala sobre os sacerdotes e levitas oferecendo os sacrifícios juntamente com a congregação. A palavra “congregação” em hebraico é edâ e significa “assembléia, congregação, povo, enxame”. Aqui temos algo que abrange a totalidade do povo de Israel! Esta palavra congregação nos fala sobre a totalidade do povo, e não somente sobre partes representativas deste mesmo povo! Somos também informados que os levitas “lavaram suas vestes”. A palavra “lavaram” em hebraico é kabas e significa “lavar, ser lavado”. Isso nos mostra que havia uma preocupação entre os levitas de que eles estivessem sempre puros para se apresentarem diante do Eterno! Novamente isso nos fala sobre algo que chamamos de “ato profético”, pois quando os levitas se “lavavam” exteriormente eles certamente queriam dizer também que o seu interior já estava puro, lavado, e pronto para adorar ao Eterno! Isso aponta para a pureza em nosso viver diário e principalmente na pureza quando estamos – ou vamos nos apresentar – diante do Eterno!

Além deste evento tivemos também a celebração da festa de Pessach no deserto! “E falou o IHVH a Moshe no deserto de Sinai, no ano segundo da sua saída da terra do Egito, no primeiro mês, dizendo: celebrem os filhos de Israel a páscoa a seu tempo determinado” (Nm 9:1-2). A festa de Pessach deveria ser celebrada pelos israelitas em seu tempo determinado. A palavra “Pessach” em hebraico significa “passar por cima; saltar por cima de”. Já a palavra “tempo determinado” vem do termo hebraico mo´ed e significa “sinal combinado, tempo determinado, estação determinada, local para assembléia, festa designada”! Esta mesma palavra já fora traduzida anteriormente por congregação! Duas coisas são importantes aqui: a primeira é que as festas do Senhor devem ser celebradas em seu tempo determinado! Nós não temos autoridade para mudarmos quer seja a forma ou estrutura da festa, quer seja a sua data! Um outro detalhe é que as festas devem ser celebradas pela “congregação” dos filhos de Israel! Caso haja entre eles algum estrangeiro, é permitido a essa pessoa participar das festas e assim reconhecer que só o Eterno é D-us!

Hoje temos uma situação que é totalmente adversa ao que diz a Torah, pois a igreja de Ieshua – os crentes – celebra outras festividades que não aquelas instituídas pelo Eterno, além de também estar “modificando” as datas corretas das festividades bíblicas julgando poder celebra-las quando for de seu agrado ou conveniência!

Novamente somos informados que esta festa deveria ser obrigatoriamente celebrada pelo povo de Israel! A igreja gentílica então precisa ser alcançada por esta revelação e também precisa conscientizar-se de que este mandamento é algo para a igreja nos dias de hoje! Podemos afirmar isso com base naquilo que está dito por Paulo em Romanos 11, onde eles textualmente afirma que Israel e a Igreja são parte de um mesmo corpo e formam um só povo! “Porque convosco falo, gentios, que, enquanto for apóstolo dos gentios, exalto o meu ministério; para ver se de alguma maneira posso incitar à emulação os da minha carne e salvar alguns deles. Porque, se a sua rejeição é a reconciliação do mundo, qual será a sua admissão, senão a vida dentre os mortos? E, se as primícias são santas, também a massa o é; se a raiz é santa, também os ramos o são. E se alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles, e feito participante da raiz e da seiva da oliveira, não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti. Dirás, pois: Os ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado” (Rm 11:13-19). Aqui fica muito claro o que dissemos acima, pois Paulo liga os dois povos, fazendo deles uma só nação! Quando conhecemos a história nós certamente entendemos que isso não só é possível como é uma realidade! O Eterno juntou Israel e a Igreja por serem, na verdade, o mesmo povo que havia se separado por algumas contingências históricas!

A obediência do povo de Israel trouxe para o meio deles a glória do D-us Eterno! Está escrito assim: “E no dia em que foi levantado o tabernáculo, a nuvem cobriu o tabernáculo sobre a tenda do testemunho; e à tarde estava sobre o tabernáculo com uma aparência de fogo até à manhã” (Nm 9:15). Temos aqui um breve relato de uma manifestação clara da presença do Eterno entre os israelitas. A palavra “nuvem” em hebraico é anan e significa “formação de nuvens”. O interessante é que estas nuvens formaram-se ao nível do solo – o que somente acontece quando há neblina – e esta mesma formação de nuvem cobriu o tabernáculo! Aqui a palavra “tabernáculo” é mishkan e significa “tabernáculo, tenda móvel”.  Mas, esta nuvem estava sobre um lugar em especial: a tenda do testemunho! A palavra “testemunho” em hebraico é edut e significa “testemunho, lembrete, sinal de advertência”! O tabernáculo era composto pelo pátio, o lugar santo e o santo dos santos. O pátio era um local aberto e exposto às intempéries do tempo. Já o lugar santo e o santo dos santos era um local fechado e também conhecido como “tenda do testemunho”, pois era exatamente ali que começava o relacionamento do homem com a divindade. Nestes cômodos todos os objetos eram de ouro e representavam um aspecto da comunhão do homem com o Eterno! Foi justamente por isso que os israelitas presenciaram aquele lugar coberto pela nuvem! O Eterno se “cobriu” justamente o local onde Ele se manifestava!

Um outro detalhe é que eles ainda viram uma aparência como de fogo naquele local. A palavra “aparência” vem do termo hebraico mar´eh e significa “vista, visão, aparência, semblante, beleza”. Já a palavra “fogo” vem do termo hebraico esh com o mesmo significado. O que nos deixa perplexos aqui é a forma como o Eterno se manifestou aos seus e eles viram a aparência, o semblante e a beleza do Eterno naquela nuvem que ali estaria. E durante a noite essa mesma forma se parecia com o fogo! Imaginemos que belos atos milagrosos foram perpetuados na presença dos israelitas! Isso acontecia para que não houvesse nenhuma dúvida sobre quem era Aquele que os acompanhava!

Um outro detalhe muito importante é que esta presença determinava quando os israelitas partiam ou acampavam em suas jornadas. “Segundo a ordem do IHVH, os filhos de Israel partiam, e segundo a ordem do IHVH se acampavam; todos os dias em que a nuvem parava sobre o tabernáculo, ficavam acampados” (Nm 9:18). Novamente queremos destacar que a obediência dos israelitas gerou muitas bênçãos que os alcançaram enquanto caminhavam pelo deserto! Eles partiam – ou não – “segundo a ordem do IHVH”! Isso nos fala sobre a necessidade de estarmos bem conectados ao Eterno para que, quando Ele nos der uma ordem, nós prontamente possamos obedecê-la! A caminhada pelo deserto somente seria possível se houvesse um guia experiente que conhecesse todos os caminhos – e também os perigos – que o deserto apresenta para os seus caminhantes! É justamente por isso que o Eterno está aqui como o “guia” do povo de Israel em pleno deserto!

Foi ordenado também ao povo que fossem feitas duas trombetas de prata! “Falou mais o IHVH a Moshe, dizendo: faze-te duas trombetas de prata; de obra batida as farás, e elas te servirão para a convocação da congregação, e para a partida dos arraiais” (Nm 10:1-2). Aqui a palavra “trombetas” em hebraico é hatsotsrâ e significa “trombeta”. Sua raiz pode também significa “ser estreito”. Estas trombetas são aquelas que foram posteriormente feitas também pelos romanos para a saudação aos exércitos romanos quando voltavam da batalha. Elas são compridas e finas, produzindo assim um som alto e agudo! Estas trombetas anunciavam ao povo o momento de partirem daqueles local de acampamento e também anunciavam algum tipo de convocação ao povo. As aplicações para esta trombeta se dividiriam assim, conforme nos informa o texto bíblico: “E, quando as tocarem, então toda a congregação se reunirá a ti à porta da tenda da congregação. Mas, quando tocar uma só, então a ti se congregarão os príncipes, os cabeças dos milhares de Israel. Quando, retinindo, as tocardes, então partirão os arraiais que estão acampados do lado do oriente. Mas, quando a segunda vez retinindo, as tocardes, então partirão os arraiais que estão acampados do lado do sul; retinindo, as tocarão para as suas partidas. Porém, ajuntando a congregação, as tocareis; mas sem retinir. E os filhos de Aharon, sacerdotes, tocarão as trombetas; e a vós serão por estatuto perpétuo nas vossas gerações” (Nm 10:3-8).

Uma outra aplicação do uso desta trombeta seria num momento de guerra! Está escrito assim: “E, quando na vossa terra sairdes a pelejar contra o inimigo, que vos oprime, também tocareis as trombetas retinindo, e perante o IHVH vosso Elohim haverá lembrança de vós, e sereis salvos de vossos inimigos” (Nm 10:9). Este texto nos informa algumas coisas interessantes. Temos aqui a menção de que as trombetas de prata deveriam ser tocas quando estivessem pelejando contra os seus opressores! Então, algo aconteceria: o Senhor D-us se lembraria do povo e os salvaria! A palavra que define o Eterno é IHVH e a outra palavra é Elohim! Já a palavra “salvos” vem do termo yasha, que significa “ser salvo, ser liberto”. Em sua raiz estão também os termos yesha, que significa “salvação, livramento” e também o termo Ieshua que significa “salvação” e é o nome do Salvador e Redentor da humanidade! Agora, quando juntamos tudo isso temos a promessa de que, ao toque da trombeta de prata, o Eterno, o D-us Criador, se tornaria para o seu povo aquilo que eles precisassem que Ele se tornasse (beste caso, a vitória e a libertação dos seus opressores) e isso traria sobre eles a salvação (Ieshua) que lhes acrescentaria uma nova dimensão de vida a partir daquele momento! E foi justamente isso que aconteceu, não somente à Israel mas também aos gentios, pois quando o Eterno se mostrou à eles como o seu Criador e tornou-se a solução de seus problemas isso lhes foi feito através de Ieshua que acrescentou uma nova dimensão à vida de todos aqueles que nele confiaram!

As Duas Trombetas de Prata de Moshê

Aquele que teme D’us é promovido a uma posição de autoridade.

Moshê temia D’us, por isso foi transformado num líder cuja autoridade sobre o povo equivalia a de um rei.

D’us lhe disse: “Moshê, és um rei. Por isso, faça trombetas que soem para ti, exatamente como os reis fazem soar trombetas antes de sair em batalha. Tenha duas trombetas confeccionadas para sua posse particular. Não poderão ser tocadas para qualquer outro líder.”

A santidade das trombetas de Moshê era tão grande que foram ocultadas antes de seu falecimento, para que nenhum líder ou rei que viesse depois pudesse usá-las. Nem mesmo seu sucessor, Iehoshua, podia possuí-las. Quando Iehoshua conquistou Ierichó (Jericó), sua primeira vitória em Israel, os cohanim soaram shofarot, mas não as trombetas de Moshê.

D’us ordenou que as duas trombetas de Moshê fossem exatamente idênticas e feitas de prata. Trombetas de ouro lembrariam o pecado do bezerro de ouro.

A cada partida do povo judeu no deserto era anunciada através de três sinais:

  1. Primeiro, as Nuvens de Glória, que habitualmente pairavam sobre o Tabernáculo, enrolavam-se e transformavam-se numa coluna ereta, significando que a partida era eminente.
  2. Moshê então proclamava: “Levanta-Te!” obrigando a Nuvem a começar a viajar.
  3. Os cohanim soavam a chamada especial de partida em ambas as trombetas de prata. Ao ouvir isso, o povo iniciava sua jornada.

Além de sinalizar a partida, as trombetas também eram usadas para anunciar assembleias da congregação inteira, assim como assembleias dos líderes das tribos. Sons diferentes anunciavam cada evento.

D’us instituiu, para todas as gerações, a mitsvá de soar as trombetas nas seguintes ocasiões:

  • Em épocas de calamidade, por exemplo: quando um inimigo ataca, em secas, pragas, e assim por diante.

Ao ouvir o som da trombeta D’us promete lembrar-Se do povo judeu favoravelmente, e resgatá-los do perigo.

Alarmados pelo soar da trombeta, os judeus seriam despertados de sua letargia mental e fariam teshuvá. Mereceriam então a assistência Celestial.

  • No Templo Sagrado, os cohanim soavam as trombetas diariamente, enquanto os sacrifícios comunitários de tamid eram oferecidos.
  • Havia, ao todo, pelo menos vinte e um sons de trombeta soados no Templo Sagrado todo dia:

– Três pela manhã, para sinalizar que os portões foram abertos.

– Nove, durante a oferenda matinal diária de tamid.

– Nove, durante a oferenda vespertina diária de tamid.

– Outras nove, se houvesse sacrifício de mussaf (em Shabat, Rosh Chôdesh e festividades).

– A cada véspera de Shabat, três sons eram soprados à tarde, para lembrar ao povo que era hora de parar de trabalhar. Quando o Shabat estava prestes a começar, mais três sons eram soprados.

Mas, nem todos os atos salvadores e redentores do Eterno para com seu povo livraram a Israel – e nem a nós – de uma mal terrível: a murmuração! “E aconteceu que, queixou-se o povo falando o que era mal aos ouvidos do IHVH; e ouvindo o IHVH a sua ira se acendeu; e o fogo do IHVH ardeu entre eles e consumiu os que estavam na última parte do arraial. Então o povo clamou a Moshe, e Moshe orou ao IHVH, e o fogo se apagou. Pelo que chamou aquele lugar Taberá, porquanto o fogo do IHVH se acendera entre eles. E o vulgo, que estava no meio deles, veio a ter grande desejo; pelo que os filhos de Israel tornaram a chorar, e disseram: Quem nos dará carne a comer? Lembramo-nos dos peixes que no Egito comíamos de graça; e dos pepinos, e dos melões, e dos porros, e das cebolas, e dos alhos. Mas agora a nossa alma se seca; coisa nenhuma há senão este maná diante dos nossos olhos” (Nm 11:1-6). Nesta narrativa percebemos o mal que fizeram alguns dentre o povo por incitarem o restante deles à murmuração! A primeira coisa é que a palavra “povo” em hebraico vem do termo ´am que significa “povo, nação”, mas este termo em particular refere-se à nação de Israel! Já a palavra “murmuração” vem do termo ´anan  que significa “queixar-se, murmurar”. O termo que define o Eterno é o tetragrama – IHVH – e a palavra “ouvir” vem do termo shama´ que significa “ouvir, escutar, prestar atenção”. Ou seja, quem desta vez deu início à este processo de queixa coletiva foram os próprios israelitas! Eles queixaram-se contra aquele que até então tinha se tornado aquilo que eles precisavam a cada instante de suas vidas! E quando eles fizeram isso o Eterno escutou, prestando bastante atenção naquilo que eles diziam!

O resultado disso foi que acendeu-se a ira do Eterno e o fogo do Senhor ardeu, consumindo aqueles que estavam na última parte de acampamento! Quando ocorreu a queixa, então o Eterno tornou-se aquilo que eles precisavam naquele momento: o juízo – que lhes sobreveio através de uma manifestação de fogo, causando-lhes várias mortes!

Como se isso não bastasse, a Palavra nos informa que uma outra coisa aconteceu: “o vulgo, que estava no meio deles, veio a ter grande desejo; pelo que os filhos de Israel tornaram a chorar, e disseram: Quem nos dará carne a comer?” Novamente temos a manifestação dos desejos físicos dos homens que desencadeiam uma série de acontecimentos desagradáveis no acampamento dos israelitas. Neste caso, o episódio citado teve início por causa do “vulgo”. Esta palavra em hebraico é asâpsup e significa “ajuntamento popular”. Já o termo “desejo” vem da palavra hebraica ta´awâ e significa “desejo, concupiscência, vontade, avidez, saboroso”. Ou seja, entre o povo – que certamente não deve ter presenciado a morte daqueles que murmuraram anteriormente – haviam pessoas que se ajuntavam para certamente lembrarem-se do Egito e das coisas que eles ali faziam. Esse tipo de conversa fez com que sentissem desejo pelas coisas do Egito que não estavam disponíveis à eles naquele lugar e naquele momento! Estava aflorando em seu ser a concupiscência, a avidez por algo saboroso, uma vontade quase que incontrolável por carne! João nos informa sobre algo semelhante quando diz: “Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Elohim permanece para sempre” (I Jo 2:16-17). Os israelitas estavam trazendo de volta um padrão antigo, algo que agora pertencia ao seu passado de escravo! Esta é a chamada “concupiscência da carne” que é o desejo manifesto da carne para que suas necessidades sejam satisfeitas de acordo com os pensamentos de nossa mente carnal; eles são destituídos de qualquer sentimento que evoque os desejos do Eterno para conosco e com o nosso corpo e viver diário!

Isso trouxe imediatamente um reflexo naquelas pessoas, pois eles reclamavam por não terem nada mais além do mana! “Mas agora a nossa alma se seca; coisa nenhuma há senão este maná diante dos nossos olhos” (Nm 11:6). Por esta declaração notamos claramente que os israelitas precisavam ver algo diferente! Sua declaração é muito forte: “Mas agora a nossa alma se seca”. A palavra “alma” em hebraico é nepesh e significa “vida, alma, criatura, pessoa, mente”. Já a palavra “seca” vem do termo hebraico yabesh que significa “ser ou ficar seco, estar totalmente seco, secar, ressecar”. Os israelitas já não agüentavam mais ver que a sua comida se limitava ao maná! Eles sentiram um desejo carnal de ter algo mais, e por isso reclamavam que suas mentes estavam totalmente secas! Eles tinham uma imagem mental daquilo que desejavam (a lembrança) mas não tinham acesso à realidade da lembrança no deserto! Novamente temos um paralelo deste acontecido com um conselho que nos é dado por Pedro: “Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais que combatem contra a alma” (I Pe 2:11). Certamente Kefa lembrou-se deste acontecido no deserto quando nos escreveu essas palavras… O desejo pelas coisas que o mundo pode nos oferecer é certamente um grande combate que travamos em nosso dia-a-dia e que poderá nos impelir cada vez mais próximos do Eterno – caso vençamos – ou então seremos levados para mais e mais perto do mundo – caso não consigamos vencer! Os israelitas parecem ter se cansado tanto do maná que se esqueceram o que era o maná! Esta comida era também conhecida como “o pão dos anjos”! E isso certamente era um grande privilégio para eles que podiam, dia após dia, saborearem a comida que fora dada aos anjos comerem, mas que eles, neste momento de sua peregrinação, tinham agora acesso à isso como um “presente” do Eterno para eles. Isso nos parece ser algo como que uma “antecipação” de um dia na história quando estaremos para sempre juntos do eterno e então teremos novamente o privilégio de comermos o maná que nossos pais experimentaram naquele deserto!

Moshe ouve a reclamação do povo e sente que seu encargo para com o povo está muito “pesado”. Ele então diz estas palavras: “Então Moshe ouviu chorar o povo pelas suas famílias, cada qual à porta da sua tenda; e a ira do Senhor grandemente se acendeu, e pareceu mal aos olhos de Moshe. E disse Moshe ao IHVH: Por que fizeste mal a teu servo, e por que não achei graça aos teus olhos, visto que puseste sobre mim o cargo de todo este povo? Concebi eu porventura todo este povo? Dei-o eu à luz? para que me dissesses: leva-o ao teu colo, como a ama leva a criança que mama, à terra que juraste a seus pais? De onde teria eu carne para dar a todo este povo? Porquanto contra mim choram, dizendo: Dá-nos carne a comer; eu só não posso levar a todo este povo, porque muito pesado é para mim. E se assim fazes comigo, mata-me, peço-te, se tenho achado graça aos teus olhos, e não me deixes ver o meu mal” (Nm 11:10-15). Estas palavras fizeram com que o Eterno então tomasse a seguinte atitude para com Moshe e consequentemente para com o povo: “E disse o IHVH a Moshe: Ajunta-me setenta homens dos anciãos de Israel, que sabes serem anciãos do povo e seus oficiais; e os trarás perante a tenda da congregação, e ali estejam contigo. Então eu descerei e ali falarei contigo, e tirarei do espírito que está sobre ti, e o porei sobre eles; e contigo levarão a carga do povo, para que tu não a leves sozinho, e dirás ao povo: Santificai-vos para amanhã, e comereis carne; porquanto chorastes aos ouvidos do IHVH, dizendo: Quem nos dará carne a comer? Pois íamos bem no Egito; por isso o IHVH vos dará carne, e comereis” (Nm 11:16-18). Uma coisa que é notável neste texto é que o Senhor disse que “desceria” e ali falaria com Moshe aos olhos de todo o povo! A palavra “descer” em hebraico é yarad e significa “descer, ir para baixo, baixar, marchar abaixo”. Em sua raiz está a palavra Iardem (Jordão) que significa “aquele que desce”! Isso nos dá a dimensão que de o Eterno literalmente desceria em meio ao acampamento dos israelitas e neste momento falaria com Moshe aos olhos do povo retirando dele parte da unção que havia e dando-a aos anciãos escolhidos para ajudarem na condução do povo! A palavra “espírito” em hebraico é ruach e significa “vento, sopro, espírito”! Moshe havia recebido uma unção e o Eterno simplesmente dividiria esta unção – que sairia de Moshe para eles! Então podemos dizer que a unção de uma pessoa é transferível para outra! E isso pode depender de vários aspectos, mas um deles é o auxílio no mesmo ministério – serviço – que o outro presta no Corpo do Messias!

Agora O Eterno ordena a Moshe que chame o povo e diga-lhes que se consagrem para verem mais uma vez os milagres do Eterno! “E dirás ao povo: Santificai-vos para amanhã, e comereis carne; porquanto chorastes aos ouvidos do IHVH, dizendo: Quem nos dará carne a comer? Pois íamos bem no Egito; por isso o Senhor vos dará carne, e comereis; não comereis um dia, nem dois dias, nem cinco dias, nem dez dias, nem vinte dias; mas um mês inteiro, até vos sair pelas narinas, até que vos enfastieis dela; porquanto rejeitastes ao IHVH, que está no meio de vós, e chorastes diante dele, dizendo: Por que saímos do Egito?” (Nm 11:18-20). Esse “chamado à santificação” seria específico para os israelitas, pois a palavra “povo” usada aqui é o termo ´am que significa “povo, nação”, mas este termo em particular refere-se à nação de Israel. Já o termo “santificai-vos” vem da palavra qadash que significa “ser consagrado, ser santo, ser santificado, consagrar, santificar, preparar, dedicar”. Ou seja, o povo haveria de ver os milagres acontecerem se estivessem numa condição de limpeza, santidade, dedicação total ao Eterno; eles então receberiam carne para comerem por trinta dias! Mas eles também saberiam que essa atitude foi um ato de rejeição ao Senhor! A palavra “rejeitar” em hebraico é ma´as e significa “rejeitar, desprezar”. Já o termo que define p Eterno é o tetragrama – IHVH! Quando o povo sentiu o forte desejo pelas coisas do Egito e deu vazão à este desejo ardente querendo carne para comerem eles certamente não pensaram nas conseqüências que viriam! Eles haviam se “esquecido” que o Eterno havia lhes dado uma palavra que lhes garantiria um futuro diferente em Canaã! Mas parece que eles desprezaram a Palavra do Eterno e desprezaram Aquele que se tornara tudo aquilo que eles vinham precisando até então!

A pergunta de Moshe é típica de um momento que precede ao milagre: “E disse Moshe: seiscentos mil homens de pé é este povo, no meio do qual estou; e tu tens dito: Dar-lhes-ei carne, e comerão um mês inteiro. Degolar-se-ão para eles ovelhas e vacas que lhes bastem? Ou ajuntar-se-ão para eles todos os peixes do mar, que lhes bastem?” (Nm 11:21-22). Moshe olha esta questão pela perspectiva humana e vê que isso certamente seria impossível! Não haveria como fornecer à tão grande povo carne para comerem durante um mês em meio à um deserto! Mas, apesar de Moshe não compartilhar do ponto de vista do Eterno, o Senhor mesmo assim lhe diz: “Porém, o IHVH disse a Moshe: Teria sido encurtada a mão do IHVH? Agora verás se a minha palavra se há de cumprir ou não” (Nm 11:23). Novamente o Eterno se identifica para Moshe como IHVH – Aquele que se torna aquilo que seu povo precisa que Ele se torne! Já o termo “encurtada” vem do hebraico qatsar e significa “ser breve, ser curto, estar impaciente, estar aborrecido, estar desgostoso”. Moshe parece não ter percebido o que o Eterno quer lhe dizer: que seu poder é ilimitado e Ele não é “curto” ao agir, mas suas ações e atos são certamente muito abrangentes em cada milagre ou manifestação!

Um outro detalhe aqui é que o próprio Moshe veria os resultados: “Agora verás se a minha palavra se há de cumprir ou não”. A palavra “ver” em hebraico é o termo ra´a e significa “ver, olhar, inspecionar”. O termo “palavra” vem do hebraico dabar que significa “falar, declarar, conversar, ordenar, prometer, advertir”. E o termo “cumprir” vem do hebraico qarâ e significa “enfrentar, encontrar, suceder, acontecer, construir com vigas”. Moshe seria testemunha ocular pois veria, podendo até mesmo inspecionar cuidadosamente o fato para comprovar sua veracidade, que a declaração, a ordem que o Eterno daria quanto à carne aconteceria! Isso seria assim porque a palavra do Eterno é algo tão precioso que Ele a usa para construir e edificar o seu próprio povo! A idéia do cumprimento desta palavra nos fala sobre algo que é construído e edificado sobre uma base sólida! E o cumprimento de cada palavra dita pelo Eterno atesta a sua veracidade e o seu grau de comprometimento com sua própria palavra!

O resultado desta palavra foi o seguinte: “Então soprou um vento do IHVH e trouxe codornizes do mar, e as espalhou pelo arraial quase caminho de um dia, de um lado e de outro lado, ao redor do arraial; quase dois côvados sobre a terra. Então o povo se levantou todo aquele dia e toda aquela noite, e todo o dia seguinte, e colheram as codornizes; o que menos tinha, colhera dez ômeres; e as estenderam para si ao redor do arraial. Quando a carne estava entre os seus dentes, antes que fosse mastigada, se acendeu a ira do Senhor contra o povo, e feriu o Senhor o povo com uma praga mui grande. Por isso o nome daquele lugar se chamou Quibrote-Ataavá, porquanto ali enterraram o povo que teve o desejo” (Nm 11:31-34).

Logo após este trágico evento houve também o problema da revolta de Mirian e Aharon contra Moshe! “E falaram Mirian e Aharon contra Moshe, por causa da mulher cusita, com quem casara; porquanto tinha casado com uma mulher cusita. E disseram: Porventura falou o IHVH somente por Moshe? Não falou também por nós? E o IHVH o ouviu. E era o homem Moshe mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra” (Nm 12:1-3). O motivo aparente de problema com Moshe era a sua nova mulher. A Torah diz que sua mulher era cusita. Esta palavra vem do termo kushi que significa “etíope, cusita”. Parece que havia uma resistência contra Moshe por causa desta mulher e essa resistência gerou uma situação constrangedora entre Moshe e seus irmãos. A Torah ainda declara que o Eterno ouviu as reclamações de Mirian e Aharon! A palavra que define o Eterno é IHVH e a palavra “ouviu” é a palavra shama´ que significa “ouvir, escutar, prestar atenção”. É certo que o Eterno tem o controle sobre todas as coisas, mas neste caso específico Ele prestou atenção às palavras que foram ditas pelos irmãos de Moshe! Embora eles houvessem dito isso contra Moshe, a Torah declara que Moshe era um homem “mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra”. A palavra “manso” em hebraico é anav e significa “humilde, manso”. Este adjetivo ressalta que o alvo da aflição é a condição moral e espiritual dos piedosos, deixando-se implícito que essa condição é alcançada mediante uma vida de sofrimento e não de fartura e alegria mundanas. Moshe era então um homem muito humilde, apesar de ter sobre si a responsabilidade de chefiar cerca de dois milhões de pessoas, de ser o “contato” entre o povo de Israel e o Eterno; apesar de ter sobre ele uma unção que já realizara grandes milagres, etc… Nada disso fazia com que Moshe se sentisse mais importante que algum outro israelita! Sua posição era de um servo em meio aos demais servos!

Quão distante estamos nós hoje deste padrão, quando o “normal” é a ostentação, a busca pelo poder e pela prosperidade como sinais da “presença e da bênção de D-us” em nossas vidas! Temos nos preocupado muito com aquilo que é visível e passageiro e deixamos de nos preocupar com o invisível e o eterno! A atitude de Moshe é característica de um líder ou homem que anda com D-us: a sua causa seria julgada pelo próprio D-us! Moshe nada faria e nem tomaria partido de um lado ou de outro; ele não se defenderia das acusações nem as “retrucaria”, mas como todo homem de D-us ele as apresenta diante do Justo Juiz para que Ele as julgue!

O relato bíblico termina dizendo: “E logo o IHVH disse a Moshe, a Aharon e a Mirian: Vós três saí à tenda da congregação. E saíram eles três. Então o IHVH desceu na coluna de nuvem, e se pôs à porta da tenda; depois chamou a Aharon e a Mirian e ambos saíram. E disse: Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu, o IHVH, em visão a ele me farei conhecer, ou em sonhos falarei com ele. Não é assim com o meu servo Moshe que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a semelhança do IHVH; por que, pois, não tivestes temor de falar contra o meu servo, contra Moshe? Assim a ira do IHVH contra eles se acendeu; e retirou-se. E a nuvem se retirou de sobre a tenda; e eis que Mirian ficou leprosa como a neve; e olhou Aharon para Mirian, e eis que estava leprosa. Por isso Aharon disse a Moshe: Ai, senhor meu, não ponhas sobre nós este pecado, pois agimos loucamente, e temos pecado. Ora, não seja ela como um morto, que saindo do ventre de sua mãe, a metade da sua carne já esteja consumida. Clamou, pois, Moshe ao IHVH, dizendo: Ó Elohim, rogo-te que a cures. E disse o IHVH a Moshe: Se seu pai cuspira em seu rosto, não seria envergonhada sete dias? Esteja fechada sete dias fora do arraial, e depois a recolham. Assim Mirian esteve fechada fora do arraial sete dias, e o povo não partiu, até que recolheram a Mirian. Porém, depois o povo partiu de Hazerote; e acampou-se no deserto de Parã” (Nm 12:4-16). Neste relato vemos que o próprio D-us faz a defesa de Moshe e toma a sua causa. Também é o próprio D-us que determina qual deverá ser a sentença aos culpados e depois de haver o arrependimento esse mesmo D-us ordena que os pecadores – porém seus servos de confiança – sejam recolhidos e levados de volta à sua posição de liderança! Aqui o Eterno nos ensina que apesar do pecado cometido por Mirian e Aharon eles não perderam suas posições de liderança e o respeito do povo!

Que o Eterno nos ajude a trocarmos nossos padrões a fim de estarmos nos adequando à sua Torah!

Baruch Há Shem!

Mário Moreno.