Parasha Behar

Mário Moreno/ maio 8, 2018/ Parasha da semana

Behar

No monte

Lv 25:1–26:2 / Jr 32:6-27 / Lc 4:16-21

        Na Parashá desta semana estaremos estudando sobre as palavras que foram dadas a Moshe pelo Eterno no Monte Sinai sobre o ano do jubileu e suas implicações proféticas.

No princípio do capítulo está dito assim: “Falou mais o IHVH a Moshe no monte Sinai, dizendo: fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: Quando tiverdes entrado na terra, que eu vos dou, então a terra descansará um sábado ao IHVH” (Lv 25:1-2). Aqui a palavra que define o Eterno em hebraico é o tetragrama (IHVH) e isso significa que o Eterno se apresenta como aquele que se torna aquilo que seus filhos precisem que Ele se torne. Algo interessante é que o Eterno não falou com Moshe em qualquer lugar, mas no monte. Aqui a palavra “monte” em hebraico é har e significa “colina, outeiro, região montanhosa, monte, montanha”. Na Síria e Palestina as montanhas eram adoradas e serviam de cultos pagãos. Veja que o Eterno se apresenta como IHVH e também numa montanha, mostrando aos seus filhos que ele é sempre a solução para qualquer que seja o problema apresentado mas é preciso que também os seus filhos entendam que Ele é o D-us das alturas e é justamente ali que Ele lhes dará a vitória! Enquanto os outros achavam que a montanha era um D-us, para os israelitas D-us aparecia na montanha!

Um outro aspecto é que o Eterno dá instruções para seus filhos para quando entrarem na terra. Lembremo-nos de que os israelitas estão no deserto caminhando rumo a Canaã! Eles ainda não herdaram nada e nada tem a não ser as promessas feitas pelo Senhor para eles! Quando o Eterno lhes fala sobre a terra, a palavra usada em hebraico é ´erets e significa “terra, cidade, estado”; também mundo (inferior). O Senhor diz aos israelitas que quando eles a conquistarem devem dar a ela um sábado, pois Ele é IHVH! Devemos compreender a extensão desta declaração, pois quando fala sobre entrar na terra – através de conquistas – Ele fala também sobre dar à terra descanso! Mas, seria necessário fazer isso realmente? Sob o ponto de vista da terra enquanto supridora de víveres, temos a resposta nas técnicas agrícolas que ensinam o plantio durante um certo tempo e o “descanso” da terra por um ano para que a mesma possa “revigorar-se” e novamente possa vir a produzir como antes! O princípio ensinado pelo Eterno para seu povoe hoje comprovado pelos agrônomos em todo o mundo! Conduzindo ainda mais nosso raciocínio percebemos que também as cidades (e também estados) precisam de um ano de “descanso” em todas as suas áreas. O árduo e contínuo trabalho no campo e na cidade trazem fadiga não somente aos seus moradores como também ao meio ambiente e também às estruturas que o compõem! É muito sábio percebermos que a conquista deve dar lugar ao descanso de tempos em tempos (sete em sete anos).

Quando os princípios dados pelo Senhor são obedecidos temos então a recompensa: recebemos a plenitude de sua bênção sobre nós, sobre nossos negócios e também sobre nossa cidade!

Estes princípios são bem simples e nos mostram como devemos tratar nossa “terra” (terra aqui é tudo aquilo que traz o sustento à família). Vejamos o exemplo dado pelo Senhor aqui: “Seis anos semearás a tua terra, e seis anos podarás a tua vinha, e colherás os seus frutos; porém ao sétimo ano haverá sábado de descanso para a terra, um sábado ao IHVH; não semearás o teu campo nem podarás a tua vinha. O que nascer de si mesmo da tua sega, não colherás, e as uvas da tua separação não vindimarás; ano de descanso será para a terra” (Lv 25:3-5). Através desta orientação certamente entenderemos melhor o por que nossas vidas não estão sendo tão “produtivas” como deveriam! O Eterno nos ensina a semearmos a terra por seis anos! A palavra “semear” em hebraico é zara´ e significa “espalhar semente, semear”. Isso equivale a dizer que durante seis anos – o tempo humano do trabalho – devemos então atuar e fazer todo o possível para que, através de nosso trabalho possamos trazer o sustento para as nossas famílias! Aqui a palavra “terra” em hebraico é sadeh e significa “campo, campina, chão, terras”. Este substantivo designa genericamente campo aberto ou então um pedaço de terra, ou seja, um lote. Perceba que aqui este termo é muito mais limitado do que o termo ´erets! Enquanto um designa uma grande porção de terra, este nos fala sobre um pedaço de terra que nos pertence e deve ser trabalhado com carinho! O texto nos fala sobre a poda da vinha, e isso indica que esta pessoa – apesar de seu pouco espaço – faz dele o seu “ganha-pão”. Ele investe naquilo que sabe lhe dará retorno para sustentar os seus familiares. Um outro detalhe é que a vinha representa o próprio D-us! Ieshua disse: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto” (Jo 15:1-2). O fato do israelita plantar uma vide em seu terreno certamente era algo que o instigava sobre a presença de Eterno e também sobre a alegria em serví-lo! A videira era também uma figura da nação de Israel! Ou seja, ao plantar a vide o judeu trazia em sua memória os vários aspectos proféticos que “pesavam” sobre esta árvore!

Quando as orientações são seguidas o Eterno se torna aquilo que precisamos que Ele se torne para nós! Vejamos o que nos diz aqui o Senhor: “e as uvas da tua separação não vindimarás”. Dois termos aqui precisam ser considerados. O primeiro é a palavra “separação” que em hebraico é nazir e significa “nazireu, alguém separado, alguém consagrado, príncipe”. Esta palavra nos fala sobre uma pessoa que não se mistura e não profana os mandamentos do Eterno; inclusive lembramo-nos de um homem – Sansão – que nem cortava os cabelos em sinal de sua separação! Há aqui um paralelo com a vinha – que não deveria ser podada – para que fosse considerada como “separada” no sétimo ano. E o termo “vindimar” em hebraico é batsar e significa “reunir, restringir, tirar, cercar, fortificar”. Este termo vem da raiz batsir que significa “vindimar”. Três raízes são possíveis aqui com os seguintes sentidos:

“reunir”
“reduzir; humilhar” (Sl 76.12)
“inacessível; impossível”.

Aqui temos a dimensão daquilo que está sendo dito, pois o Eterno nos fala de algo que não deve ser feito na época da colheita! Aos judeus era ensinado que eles não deveriam “vindimar” a sua vinha! O termo vindimar significa que não se deveria colher tudo o que a vinha havia dado! Era necessário deixar algo para os pobres! Quando colhemos “tudo” nos esquecemos daqueles que são “menos favorecidos” e então não amamos ao nosso próximo! Esta instrução dada aqui pelo Eterno nos ensina que o amor ao próximo é expresso também em atitudes cotidianas e que trazem frutos permanentes para as vidas que deles necessitam! Nós não devemos “reunir” todos os nossos frutos a fim de “humilhar” quem vem à nossa vinha, tornando assim “inacessível” nosso produto (fruto) aos pobres.

No sétimo ano de produção os israelitas deveriam comer daquilo que a vide lhes oferecesse, sem que houvesse necessidade de semeadura ou de qualquer trabalho que pudesse “auxiliar” a natureza no processo de produção!

Shemitá – O descanso da terra a cada sete anos

Como se sabe, D’us ordenou ao povo judeu: “O sétimo dia da semana é Shabat. Neste dia, vocês devem abster-se de fazer quaisquer tarefas cotidianas.”

D’us também nos ordenou que guardássemos outro tipo de Shabat: “A cada sete anos, a terra de Israel terá um ‘Shabat’. Neste ano de descanso, não podereis trabalhar a terra.”

O Shabat da terra chama-se Shemitá, que significa “deixar livre” ou “retirar-se”. Durante o ano de Shemitá os agricultores de Israel abstêm-se de lavrar a terra.

Por que D’us ordenou ao povo judeu a mitsvá de guardar os anos de Shemitá?

Façamos uma analogia com o cumprimento do Shabat.

Cumprimos o Shabat para recordar que “D’us criou o mundo em seis dias e no sétimo dia Ele descansou.”

Mais que isso, porém: um judeu, quando cumpre Shabat, demonstra que confia em D’us e compreende que D’us cuida dele. Como ele deixa de ganhar seu sustento uma vez por semana? Não teme que sua família não tenha o suficiente para viver? A resposta é que ele confia verdadeiramente em D’us, que ordenou descansar no Shabat, e que proverá tudo de que necessita.

D’us deseja que Seu povo, em qualquer o lugar onde esteja, deposite sua confiança Nele, e somente Nele. Ele temia que os judeus estabelecidos em Israel, que possuíam terras férteis e fecundas, começassem a depositar sua confiança na terra.

Por isso, D’us ordenou ao povo judeu uma mitsvá para guardarem em Israel: a mitsvá de Shemitá. Sempre que um agricultor judeu guarda a mitsvá de Shemitá, ele lembra que “D’us é o Criador do mundo, é Quem me alimenta, e à minha família.”

As três promessas de D’us ao povo judeu

D’us fez três promessas ao povo judeu, se observassem a mitsvá de Shemitá:

  1. D’us prometeu que a colheita do ano anterior ao ano de Shemitá duraria três anos: “Não se preocupem. Abençoarei a terra, de modo que a colheita do sexto ano seja suficiente para o sexto, sétimo e oitavo anos.”
  2. D’us prometeu que “Durante o ano de Shemitá ficam satisfeitos, apesar de comerem pequenas quantidades de alimento. Assim, sua produção agrícola durará.”
  3. E a terceira promessa: “Se guardarem tanto os anos de Shemitá como os de Iovel (vide explicação mais adiante), estarão seguros em Israel. Porém se não observarem nem Shemitá, nem Iovel, seus inimigos os forçarão ao exílio.”

Há leis especiais referentes ao ano de Shemitá; e estão divididas nas três categorias a seguir:

  1. No ano de Shemitá um judeu não pode trabalhar a terra em Israel

O ano de Shemitá começa em Rosh Hashaná e termina antes de Rosh Hashaná do ano seguinte. Neste período, um lavrador judeu, em Israel, não pode semear, arar, plantar ou colher; tampouco pode arar ou realizar qualquer tarefa que implemente o solo. É um ano de descanso do trabalho agropecuário. Apenas os cuidados mínimos necessários especificados pela halachá (lei judaica) são permitidos, a fim de evitar que as plantas pereçam.

  1. Os frutos do ano de Shemitá são sagrados e não pertencem ao agricultor

Durante o ano de Shemitá, um agricultor não pode colher todos os frutos para si, mesmo que veja suas árvores frutíferas florescerem e darem frutos. Os frutos que crescem durante o ano de Shemitá não pertencem ao seu dono. Pertencem a D’us, Que ordenou que fossem compartilhados igualmente entre todos. Qualquer judeu que queira pode colher alguns frutos para si. O proprietário não pode trancar o portão e impedir que outros judeus entrem. Estes podem colher tudo o que necessitam para aquele dia; não podem, todavia, pegar mais que isto. O proprietário pode comer da produção de seus campos como qualquer estranho, e levar para casa o suficiente para as refeições de um dia, porém não pode colher toda a produção, pois isto seria como se estivesse reivindicando sua propriedade.

Se alguém, durante a Shemitá, colher produtos do seu campo para comer em casa, não é permitido que os estoque indefinidamente. Deve removê-los de suas posses num determinado prazo, e deixar que outros, ou os pobres, os tenham.

O prazo para remoção é diferente para cada tipo de produto, coincidindo com o momento em que as produções agrícolas particulares não estejam mais à disposição nos campos.

Todos os frutos que crescem no ano de Shemitá são santos e devem ser tratados com o devido respeito, de maneira diferente dos outros frutos. As frutas não podem ser vendidas. As cascas e outras partes não comestíveis não podem ser jogadas no lixo, mas deixadas no campo, ou que se estraguem sozinhas.

As verduras têm uma lei diferente:

Nossos Sábios decretaram que não se pode comer nenhuma verdura que cresce no ano de Shemitá. Temiam que se não existisse esta lei, alguém desonesto poderia plantar verduras na Shemitá e dizer que cresceram sozinhas.

  1. O perdão dos empréstimos no ano de Shemitá.

Um judeu que emprestou dinheiro a outro não pode exigir sua devolução daquele que o tomou emprestado, ao término do ano de Shemitá. Esta mitsvá se aplica tanto em Israel como na diáspora.

Já na época do Talmud, devido a esta lei, muitas pessoas deixavam de fazer empréstimos quando a Shemitá se aproximava. Para evitar este comportamento, o ilustre erudito e líder, Hilel, instituiu uma fórmula que permite reclamar o pagamento mesmo depois do sétimo ano, denominada peruzbul. Consiste no credor transferir suas dívidas a uma corte rabínica antes do ano sabático, quando então a dívida deixa de ser individual, tornando-se passível de cobrança (conforme a própria lei da Torah estipula) durante ou após a Shemitá.

Mais detalhes sobre o significado de Shemitá

As leis de Shemitá expressam conceitos fundamentais da Torah:

  1. Observando-as reconhecemos que não possuímos a Terra.

D’us ordenou: “Descanse no sétimo ano para que saiba que Minha é a Terra.”

  1. Durante a Shemitá, o fazendeiro é forçado a virar-se diretamente ao Todo-Poderoso e implorar-Lhe que provenha seu sustento, pois está proibido de trabalhar para prover a si mesmo de alimentos. Desta feita, chega a compreender que mesmo nos outros seis anos nos quais é permitido trabalhar, ele ceifa apenas por causa da Providência do Todo-Poderoso, e não como resultado de sua própria labuta.

O judeu não deve tornar-se auto-confiante e pensar que sua prosperidade é resultado do trabalho de suas próprias mãos. Ele deve estar cônscio de dois pontos:

  • A fertilidade da terra e prosperidade da colheita são determinadas por fatores além de seu controle como as chuvas, calor ou geada, e assim por diante. D’us pode enviar animais selvagens, insetos, ou outros agentes prejudiciais para destruir a produção inteira, se Ele assim o desejar.
  • Não só isso, como o próprio crescimento da planta não é resultado automático de ter sido semeada. Nada consegue crescer, brotar, desenvolver-se, ou sequer existir sem a Vontade do Todo-Poderoso. Se Ele retirar Sua Vontade de Conceder Vida de algo no universo, nem que seja por um instante, cessaria de existir.

O tipo de profissão escolhido pela pessoa não lhe garante uma vida de prosperidade ou pobreza. D’us despeja riquezas sobre cada indivíduo conforme Ele julga adequado. Portanto, cada um deve implorar-Lhe, a Quem é o Mestre de todas as riquezas que lhe conceda sustento.

A lição de Shemitá aplica-se não somente ao fazendeiro judeu, mas igualmente ao lojista, industrial, vendedor, profissional liberal e operário.

Em qualquer estágio de sua carreira ele pode sucumbir ao equívoco de que é seu trabalho ou esforços que asseguram-lhe o sustento. Tampouco seu negócio, nem sua indústria ou empregador são seus “fornecedores de sustento.” Há apenas Um Que é o encarregado, e somente Ele determina se alguém terá sucesso em seus esforços ou não. Não importa quão desesperadamente um homem luta para ser bem-sucedido em seus negócios, seus planos serão sabotados e darão em nada, se assim for decretado no Céu. Por outro lado, se o decreto Celestial for que deva prosperar, um esforço mínimo garantirá o mesmo resultado.

  1. O Todo-Poderoso pretende que o ano seja de inatividade do trabalho, a fim de que os agricultores possam dedicar-se ao estudo da Torah. Da mesma forma que Ele proibiu que trabalhássemos em Shabat a fim de dedicarmos este dia, assim Ele destinou cada sétimo ano a ser uma época de incremento nos estudos da Torah.

A Torah nos conta as consequências acarretadas por um judeu que falha em observar Shemitá:

  • D’us disse: “Eu te ordeno a trabalhar seis anos e permitir à Terra descansar no sétimo, porém tu a privas de seu devido descanso. Portanto, serás exilado, e ela então será recompensada de todos os anos de descanso dos quais a privaste.” (Vayicrá 26:43).

Agora temos outro aspecto interessante: o ano do jubileu! Esta festa está assim descrita: “Então no mês sétimo, aos dez do mês, farás passar a trombeta do jubileu; no dia da expiação fareis passar a trombeta por toda a vossa terra, e santificareis o ano qüinquagésimo, e apregoareis liberdade na terra a todos os seus moradores; ano de jubileu vos será, e tornareis, cada um à sua possessão, e cada um à sua família” (Lv 25:9-10). A primeira coisa que percebemos é que esta festa começa com o toque da trombeta! A palavra “trombeta” aqui é shofar e ela significa “chifre de carneiro, trombeta”. Este termo descreve não somente um instrumento, mas a voz do próprio D-us! Todas as vezes que soava o shofar, algo sobrenatural acontecia! E aqui não é diferente, pois ao toque do shofar – quando os israelitas ouvissem “a voz de D-us” – para eles estaria começando um ano especial, um período no qual grandes coisas haveriam de ocorrer e também milagres seriam presenciados pelos israelitas que fossem obedientes à voz do Eterno! Uma outra curiosidade é que o primeiro termo traduzido por “jubileu” em hebraico é teru´â e significa “alarme, sinal, som da trombeta”. Esta palavra nos demonstra que este toque em particular deve ser encarado como um alarme, um sinal. Este sinal determinaria que um ano novo – especial – estava nascendo! E o mais interessante é que este ano tem início no dia da expiação! Este termo em hebraico é “iom kippur”. Literalmente, a tradução seria “dia da cobertura”. Este dia é hoje conhecido em Israel como o “Dia do Perdão”! Isso nos mostra que todo o jubileu começa com perdão! Não há possibilidade de entrar-se no ano do jubileu sem antes perdoar e ser perdoado!

Está escrito que este ano deveria ser santificado. A palavra “santificado” em hebraico é qadash e significa “ser consagrado, ser santo, ser santificado, consagrar, santificar, preparar, dedicar”. Há também uma particularidade na palavra “ano”, que em hebraico é shanâ com o mesmo significado; também “mudar”. Percebemos que este tempo – ano – em especial deveria ser consagrado ao Eterno; nele deveria haver dedicação total por parte do homem em cumprir os desejos do Senhor. Este ano seria um ano de profundas “mudanças” em toda a vida dos israelenses! Neste ano deveria ser apregoada a liberdade aos israelitas. A palavra “liberdade” em hebraico é dirôr e significa “libertação, liberdade”. Há também em sua raiz os termos derôr, que significa “andorinha” e darôm que significa “sul”. Não nos parece interessante que no ano do jubileu – que começa com o perdão – seja um ano de dedicação ao Eterno e que justamente neste ano haja a libertação do povo para que, como as andorinhas, eles possam “voar” para onde desejarem?

O ano do jubileu caracteriza-se por ser um tempo em que os israelitas tinham o direito de retornarem ao que lhes fora “tirado” e recuperarem aquilo que perderam durante os quarenta e nove anos anteriores! “Porque jubileu é, santo será para vós; a novidade do campo comereis. Neste ano do jubileu tornareis cada um à sua possessão” (Lv 25:12-13). Este “retorno” dos israelitas demonstra que jubileu é também um ano de restituição! A palavra “possessão” em hebraico é ahuzzâ e significa “possessão, propriedade”. Esta palavra indica que a restituição seria feita em nível material – ou seja, de bens e coisas que são “palpáveis” – pois certamente este era o padrão do Eterno a fim de que não houvessem grandes “lacunas” sociais entre seu povo. É pela falta de cumprimento deste mandamento que hoje existem alguns homens muito ricos e muitos homens pobres! O jubileu funcionava como uma “balança” que regulava as relações sociais nesta área!

A mitsvá de Iovel após sete Shemitot

Para um agricultor judeu, é muito difícil não trabalhar os campos e pomares durante um ano inteiro, não podendo dispensar-lhes os cuidados adequados. Que dirá então o quão difícil é para ele não trabalhar a terra por dois anos seguidos!

Na época do Templo Sagrado isto era exatamente o que acontecia a cada cinquenta anos. A Torah nos ordena a guardar um ano de Iovel (Jubileu) a cada 50 anos. Em Iovel, tal como em Shemitá, é proibido trabalhar a terra. Atualmente, não se guarda o Iovel.

O Iovel caracterizava-se por três obrigações, que recaíam sobre a nação inteira:

  1. Abstenção de qualquer trabalho agrícola, exatamente como em Shemitá.
  2. Liberdade incondicional para todo escravo hebreu.
  3. A devolução de todos os campos aos seus proprietários originais.

No Iovel, os escravos judeus são libertados

A cada ano de Iovel, em Iom Kipur, o San’hedrin (Tribunal Superior) tocava o shofar. A seguir os judeus em Israel, tocavam o shofar. O som podia ser ouvido em Israel inteira, anunciando: “Chegou a hora de libertar todos os escravos judeus. Todos os que possuem escravos judeus devem libertá-los e enviá-los à suas casas.”

Não importava se o escravo recém começara a servir seu senhor, ou se já havia trabalhado seis anos, todo escravo judeu tinha de ser enviado de volta ao seu lugar de origem.

O toque do shofar era um lembrete para ouvir e observar esta mitsvá. Depois de possuir um escravo por um longo período, o amo deve achar difícil mandá-lo embora; assim como o escravo pode ficar relutante em deixar seu amo.

De Rosh Hashaná até Yom Kipur do ano de Iovel, um escravo não retorna à sua casa; nem seu amo pode empregá-lo. Em vez disso, senta-se à mesa de seu amo, come, bebe, e relaxa. Quando o shofar é tocado em Iom kipur, ele finalmente parte.

Este período de dez dias de transição ajudam-no a readaptar-se à liberdade.

D’us disse: “Quando tirei o povo judeu do Egito, tornaram-se Meus escravos. Por isto, nenhum judeu poderá servir a outro por toda a vida, somente Eu posso exigir tal submissão.”

O que nos ensina a mitsvá de tocar o shofar no Iovel?

O toque do shofar no ano de Iovel anuncia a libertação de todos os escravos judeus.

Da mesma forma, um dia escutar-se-á um magnífico toque do shofar, que anunciará a vinda de Mashiach. Este som será o início da verdadeira liberdade para o povo judeu. Mashiach virá e construirá o Terceiro Templo Sagrado. D’us libertará o mundo da morte e da má inclinação. A ressurreição dos mortos será realidade, e viveremos para sempre.

Oramos diariamente na oração da Amidá para que isto aconteça logo: Soe o grande shofar anunciando nossa liberdade!

No Iovel, todos os campos retornam aos seus antigos proprietários

No ano de Iovel, todos os campos devem ser devolvidos ao dono original (ou seus descendentes) a quem foi dada a terra quando a Terra de Israel foi dividida entre as tribos. Assim, as propriedades em Israel serão mantidas dentro das tribos às quais foram originalmente destinadas, respeitando a divisão Divina das terras.

A Torah proíbe a compra ou venda de propriedades em Israel, com a intenção de troca de mãos para sempre. Mesmo se tal condição ou cláusula tenha sido erroneamente estipulada, não é acatada, e o campo é restituído ao proprietário original no ano de Iovel.

Quem compra ou vende terras em Israel sabe, então, que a transação não é permanente, mas sim até o ano de Iovel, quando então será devolvida ao seu legítimo dono. Quanto mais perto se estiver do Iovel, tanto menos se pagará por um campo.

D’us disse: “A Terra em Israel não pode ser vendida para sempre, pois não pertence a vocês, mas a Mim. Vocês são apenas estrangeiros e colonizadores nela, e não devem se considerar seus proprietários.”

Tal como as leis de Shemitá, as de Iovel também indicam que D’us é o verdadeiro dono de todos os nossos pertences; não somos proprietários permanentes de nossos campos, nem de nossos escravos.

Não magoar a outrem verbalmente

Além da proibição de não trapacear alguém em assuntos financeiros, esta parashá também menciona a proibição de ofender um semelhante verbalmente. A Torah diz: “É proibido magoar com palavras cruéis ou equivocadas.” (25:17)

Alguns exemplos inclusos nesta proibição são:

  • Lembrar alguém do seu mau comportamento ou de seus pais, no passado.

Devemos também ter o cuidado de, ao relacionar-se com um convertido ou aquele que retornou às raízes judaicas, não lembrá-lo de seu passado. Ele poderia ficar envergonhado ou pouco à vontade.

  • Não se pode chamar alguém por algum apelido insultante.
  • Se alguém se comporta tolamente, não podemos envergonhá-lo, nem fazer qualquer comentário que lhe seja doloroso.
  • Quando alguém vê outro sofrendo, não deve dizer maliciosamente: “É sua própria culpa, seus pecados causaram-lhe isto.”
  • Se alguém não pretende comprar um artigo, não deve passar ao vendedor a impressão de que o comprará.
  • Se alguém nos faz uma pergunta, não devemos responder de maneira rude, responder errado ou fornecer informações incorretas.

Certa vez, o sábio Hilel estava andando no caminho e encontrou um grupo de mercadores que possuíam trigo para vender.

“Quanto custa uma seá (medida correspondente a cerca de 8 kg.) de trigo?” – indagou.

“Dois dinares,” responderam.

Um pouco depois, deparou com outro grupo de mercadores de trigo, e perguntou novamente: “Por quanto vocês vendem uma seá de trigo?”

“Três dinares,” responderam.

“Por que seu trigo é tão caro?” – perguntou Hilel. “Outros mercadores acabaram de me dizer que o preço é de dois dinares a seá!”

“Babilônios estúpidos!” – praguejaram. “Você não sabe que o preço depende da quantidade de trabalho investida na produção do grão?”

“Ouçam-me,” censurou-os Hilel. “Formulei uma questão adequada. Por que, então, insultam-me (violando, desta forma, a proibição da Torah)?!”

A censura de Hilel convenceu os mercadores de que agiram errado, e se arrependeram.

A Torah conclui a proibição de magoar os sentimentos alheios com a frase: “E tu deves temer a teu D’us” (25:17). Em muitas situações uma observação pode parecer inocente aos observadores, mas apenas quem está ofendendo sabe que a disse com intenções maliciosas. Portanto, é ordenado a refrear-se por temor ao Todo-Poderoso, Que sabe os pensamentos que envolvem seu coração.

Nossos Sábios debatem a questão sobre qual dos dois pecados é mais grave: ferir alguém verbalmente ou trapaceá-lo financeiramente.

De acordo com o ponto de vista da Torah, ferir os sentimentos de um semelhante é pior. Há três razões para isto:

  1. Ao trapacear, causa à vitima uma perda de propriedade que, afinal de contas, não é parte intrínseca dela. Magoando seus sentimentos, por outro lado, acerta-a em cheio no coração.
  2. Alguém pode retificar-se por ter cobrado a mais ou trapaceado alguém em assuntos financeiros, neste caso, o dinheiro pode ser restituído. O dano causado por um insulto, todavia, pode tornar-se irreparável.
  3. A Torah conclui a proibição de ofender alguém com as palavras: “E tu deves temer a teu D’us,” a fim de indicar a gravidade da proibição.

Como devemos ser cuidadosos para não insultarmos alguém, pois se esta pessoa a quem insultamos clamar por D’us, Ele reage imediatamente.

Outra coisa interessante é que o Eterno relaciona a segurança dos moradores da terra com a obediência aos seus mandamentos! “E observareis os meus estatutos, e guardareis os meus juízos, e os cumprireis; assim habitareis seguros na terra. E a terra dará o seu fruto, e comereis a fartar, e nela habitareis seguros” (Lv 25:18-19). Às vezes nós não damos o verdadeiro valor à Palavra do Eterno e às suas promessas, por isso passamos por dificuldades extremas. Aqui temos um caso típico: a obediência à Torah traria segurança aos moradores da terra – isso significa a ausência de criminalidade em geral – quando há obediência aos estatutos, leis e mandamentos do Eterno! A desobediência traz trágicas conseqüências ao homem que, para reverter este processo precisa entrar num estado de obediência contínuo para “quebrar” as reações trazidas pelo inferno quando há violações na palavra do Senhor! Além da segurança há o aspecto da prosperidade que acompanha a obediência! O texto nos mostra que deveríamos “comer e fartar” do fruto da terra, que, enquanto somos obedientes, produziria de forma plena e abundante! Já quando entramos num estágio de desobediência, teremos então que “colher” os frutos desta atitude. Aí vem então a peste, a fome e conseqüentemente a necessidade!

Parece algo estranho dizer que, quando obedecemos ao Eterno as coisas seriam diferentes, mas a Torah assim o afirma! O texto a seguir nos demonstra isso! “E se disserdes: Que comeremos no ano sétimo? eis que não havemos de semear nem fazer a nossa colheita; então eu mandarei a minha bênção sobre vós no sexto ano, para que dê fruto por três anos” (Lv 25:20-21). No ano do jubileu não era permitido plantar. Isso nos deixa um tanto preocupados, pois quando não há plantio, conseqüentemente não há colheita! Este seria o raciocínio lógico de um ser humano, mas com o Eterno é diferente! Ele nos afirma que quando obedecemos o próprio D-us providencia a sua bênção sobre nossas vidas! Está escrito que o Eterno “mandaria sua bênção”. A palavra “mandaria” em hebraico é tsawâ e significa “ordenar, incumbir”. Já a palavra “bênção” em hebraico é beraka e significa “dar poder a alguém para ser próspero, bem-sucedido e fecundo”! Ou seja, quando obedecemos ao Eterno ele ordenaria na Eternidade que recebêssemos poder para sermos prósperos, bem-sucedidos e fecundos em tudo o que fizéssemos! Esta seria a conseqüência da obediência! Não é maravilhoso saber que o próprio Criador fará isso por nós quando lhe obedecermos?

Há uma continuidade no que diz respeito às leis “sociais” e uma evidente preocupação do Eterno para com os pobres. “E, quando teu irmão empobrecer, e as suas forças decaírem, então sustentá-lo-ás, como estrangeiro e peregrino viverá contigo. Não tomarás dele juros, nem ganho; mas do teu Elohim terás temor, para que teu irmão viva contigo. Não lhe darás teu dinheiro com usura, nem darás do teu alimento por interesse. Eu sou o IHVH vosso Elohim, que vos tirei da terra do Egito, para vos dar a terra de Canaã, para ser vosso Elohim. Quando também teu irmão empobrecer, estando ele contigo, e vender-se a ti, não o farás servir como escravo. Como diarista, como peregrino estará contigo; até ao ano do jubileu te servirá” (Lv 25:35-40). Estas leis sociais são extremamente rigorosas e nos mostram o quanto o Eterno valoriza a prática do amor entre seu povo. O pobre deve ser “sustentado” pelos que tem mais condições. Desta pessoa é proibido a cobrança de juros! A palavra “juros” em hebraico é neshek e significa “juros, usura”. Temos outras palavras nesta raiz, a saber:

  • nashak – picar
  • nashak – emprestar a juros, emprestar com usura.

Quando entendemos a plenitude desta palavra, então saberemos o que é “cobrar juros” de alguém! O ato de cobrar juros é como se alguém estivesse sendo “picado” por um inseto e sendo “comido” lentamente, parte por parte de sua vida! Quando ajudamos ao irmão não devem haver outros interesses por trás de nossas atitudes! Nossa ajuda deve ser dada com o coração e com temor, sabendo que, a qualquer momento nossa situação poderá mudar! A palavra “interesse” no verso 37 nos fala sobre isso. Esta palavra em hebraico é marbeh e significa “abundância, aumento”. Ou seja, quando emprestamos algo ou quando alimentamos alguém não devemos esperar que este ato produza aumento ou abundância em nossas vidas, mas devemos faze-lo destituídos de qualquer sentimento de recompensa! Um outro detalhe está no verso 39 quando fala sobre “servir como escravo”. A palavra “servir” em hebraico é abad e significa “trabalhar, servir”. Em sua raiz há o termo abodâ que significa “trabalho braçal, serviço”. Já o termo “escravo” vem da palavra ebed e significa “escravo, servo”. Em nossas relações com nossos irmãos não devemos nos aproveitar de sua situação para os “escravizarmos” tratando-os de forma indigna e desigual! O irmão não deve fazer o trabalho pesado dum escravo! O trabalho tem a finalidade de glorificar ao Criador e não de produzir um estado de tensão e dor no trabalhador!

É-nos dito como exercer autoridade sobre nossos irmãos que trabalham conosco: “Não te assenhorearás dele com rigor, mas do teu Elohim terás temor” (Lv 25:43). Aqui nos é dito para não nos assenhorearmos deles com rigor! A palavra “assenhorar-se” em hebraico é radah e significa “governar”. Já o termo “rigor” em hebraico é perek e significa “dureza, severidade”. Perceba o que isso quer dizer: o Eterno não permite que governemos nossos irmãos com dureza, sendo demasiadamente severos para com eles! Devemos exercer nossa autoridade sempre com equilíbrio e com um alto senso de justiça; tudo sempre embasado na Torah do Eterno! Isso deve ser assim porque devemos temer ao Senhor! A palavra “temer” em hebraico é yare´ e significa “temer, ter medo, reverenciar”. Também nas nossas relações sociais devemos reverenciar ao Eterno em nossas atitudes diárias! Isso demonstrará o quando somos equilibrados e o quanto conhecemos ao Senhor!

A Torah continua nos instruindo sobre o trabalho e nos é dito que os povos que seriam conquistados pelos israelitas é que deveriam fornecer-lhes a mão de obra necessária para todo o trabalho pesado! Os israelitas seriam conquistadores e a terra – assim como também os povos – que eles conquistassem deveriam ser-lhes como uma herança! “E possuí-los-eis por herança para vossos filhos depois de vós, para herdarem a possessão; perpetuamente os fareis servir; mas sobre vossos irmãos, os filhos de Israel, não vos assenhoreareis com rigor, uns sobre os outros” (Lv 25:46). A palavra “herança” em hebraico é yarash e significa “tomar posse de, desalojar, ocupar, apoderar-se de, ser herdeiro”. Esta palavra nos fala sobre uma herança física – material – que deveria ser literalmente conquistada pelos israelitas. Isso nos mostra que este tipo de herança vem através do trabalho diário e da nossa persistência em perseguirmos os alvos e sonhos que nos foram dados pelo Eterno!

Finalmente temos aqui mais alguns preceitos: “Não fareis para vós ídolos, nem vos levantareis imagem de escultura, nem estátua, nem poreis pedra figurada na vossa terra, para inclinar-vos a ela; porque eu sou o IHVH vosso Elohim. Guardareis os meus sábados, e reverenciareis o meu santuário. Eu sou o IHVH” (Lv 26:1-2). Aqui temos a real dimensão da idolatria! A palavra “ídolos” em hebraico é elil e significa “algo sem valor, particularmente enquanto objeto de adoração; deuses, ídolos”. Vem de uma raiz que significa “ser fraco, deficiente”. Ora, o que são os ídolos? Segundo a Torah eles não são nada! Ninguém pode se igualar ao Eterno e nada poderá sequer aproximar-se do Criador! É justamente por isso que esta palavra tão bem define os ídolos como algo sem valor; eles são fracos e deficientes por não poderem fazer absolutamente nada pelos homens! E o que são os ídolos? É tudo aquilo que é colocado no lugar do Eterno em nossas vidas! Há uma ordem explícita para não nos inclinarmos diante deles! A palavra “inclinar-se” em hebraico é shahah com o mesmo significado, porém da raiz shah que significa “inclinado, baixo”. Quem se inclina diante de um ídolo fica cada vez mais baixo, sua situação piora a cada momento! Em contrapartida, somos ensinados que devemos guardar os sábados do Senhor! A palavra “guardar” em hebraico é shamar e significa “cuidar, guardar, observar, prestar atenção”. Mas, perguntaríamos, qual a relação entre a guarda do sábado e a idolatria? A obediência aos preceitos do Eterno nos protege da idolatria em todos os sentidos! Enquanto obedecermos àquilo que o Eterno nos ordenou estaremos protegidos e seguros em sua Palavra! A reverencia ao santuário é acrescentada aqui também como uma condição para fugir-se da idolatria, pois esta atitude nos fala tanto da reverência do lugar físico quanto também da habitação espiritual do Eterno que somos nós! Quando fizermos isso então o Eterno se mostrará a nós como IHVH – eu me torno aquilo que vocês precisam que eu me torne – e então novamente estaremos seguros e recebendo aquilo que já foi determinado pelo Eterno para nossas vidas!

Que o Eterno nos ajude a sermos obedientes e assim cumpridores de seus mandamentos!

Baruch Há Shem!

Mário Moreno.

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