Parasha Bo
Bo
Vai
Ex 10.1–13.16 / Jr 46.13-28 / Rm 9:14-29
Na Parasha desta semana estaremos aprendendo sobre o restante das dez pragas e veremos como o Eterno usa de meios naturais para fazer com que seus propósitos sejam atingidos. Veremos também que o povo de Israel contempla, pela primeira vez, uma libertação extraordinária e que lhes é dada de forma surpreendente! O povo é liberto e sai do Egito levando também suas riquezas!
O Eterno dá início à sua conversa com Moshe informando-o sobre o que será feito para que seus juízos continuem a assolar o Egito. “Depois disse o IHVH a Moshe: Vai a Faraó, porque tenho endurecido o seu coração, e o coração de seus servos, para fazer estes meus sinais no meio deles, e para que contes aos ouvidos de teus filhos, e dos filhos de teus filhos, as coisas que fiz no Egito, e os meus sinais, que tenho feito entre eles; para que saibais que eu sou o IHVH” (Êx 10:1-2). A palavra “endurecer” aqui em hebraico é kabed e significa “ser (estar) pesado, pesaroso, duro“. Esta palavra é usada com uma conotação negativa e quando é empregada para designar qualquer parte do corpo expressa lerdeza, desajeito ou implacabilidade. O motivo do “endurecimento” era porque o Eterno estaria fazendo “sinais” no Egito. A palavra sinal em hebraico é ´ot e significa “sinal, marca, indício, milagre, prova, advertência“. Isso demonstra-nos que a cada praga – que é considerada como um sinal – o Eterno diz para os egípcios que Ele os está advertindo, trazendo milagres e provas de sua existência a fim de que lhe obedeçam! O objetivo disso era que eles soubessem que o Eterno era IHVH!
Agora tem início a oitava praga. A oitava praga é a dos gafanhotos. No Egito havia um deus chamado Ísis e Serapis, os quais tinham por missão proteger o Egito contra pragas de gafanhotos! Novamente a praga é anunciada, quem sabe se para que os deuses egípcios se preparem a fim de tentarem evitar o mal que viria, e agora o Eterno dá uma ordem diferente à Moshe: “Então estendeu Moshe sua vara sobre a terra do Egito, e o Senhor trouxe sobre a terra um vento oriental todo aquele dia e toda aquela noite; e, quando amanheceu, o vento oriental trouxe os gafanhotos” (Ex 10.13). Neste versículo a palavra “vara” em hebraico é matteh e significa “vara, bordão, haste, tribo“. A palavra designa o bastão que era o símbolo de cada tribo e que traduzia a autoridade e a liderança de seu proprietário. O termo aqui traduzido por Senhor é a palavra IHVH. Já a palavra “vento” é traduzida do hebraico ruach, que significa “Espírito, sopro, vento“. Você sabe o que aconteceu? O Eterno disse ao Seu Espírito: “Traga para a terra do Egito milhões de gafanhotos para devorarem tudo o que encontrarem pelo seu caminho”. E Ruach Elohim atendeu ao pedido do Eterno e os gafanhotos obedeceram e vieram em uma grande multidão! Já está programado o “banquete” que seria servido: “Pois cobriram a face de toda a terra, de modo que a terra se escureceu; e comeram toda a erva da terra e todo o fruto das árvores, que deixara a saraiva; nada verde ficou, nem de árvore nem de erva do campo, por toda a terra do Egito” (Ex 10.15). Ísis e Serapis, como todos os outros, nada puderam fazer para evitar que a erva do Egito não fosse consumida pelos gafanhotos! Eles foram julgados (homens e deuses) e novamente humilhados pelo Criador do Universo!
A nona praga foi a das trevas. Mas o que seria isso? Novamente o Eterno aqui se apresenta como IHVH! No verso 21 Ele dá uma ordem a Moshe para que venha sobre a terra trevas. Veja do que se trata esta praga: “Estendeu, pois, Moshe a mão para os céus, e houve trevas espessas em toda a terra do Egito por três dias” (Ex 10.22). A palavra traduzida por “trevas espessas” em hebraico é ´apelâ. Esta palavra significa “trevas, densas trevas, calamidade, escuridão“. Agora e julgamento recai sobre o deus Rá, que era conhecido como D-us-sol! Agora o Eterno está dizendo aos egípcios: o seu D-us-sol parece estar meio indefeso e apagado! Rá não pode deter as trevas espessas que cobriram o Egito! Seu poder mostrou-se insuficiente para tentar evitar que a escuridão (em pleno dia) viesse sobre o Egito! Rá também foi vencido e humilhado pelo Eterno! E isso aconteceu durante três dias inteiros!
Agora Faraó diz o seguinte a Moshe: “Disse, pois, Faraó a Moshe: Retira-te de mim, guarda-te que não mais vejas o meu rosto; porque no dia em que me vires o rosto morrerás” (Ex 10.28). O soberano do Egito está quase esgotado pelas pragas! Quando Moshe se apresenta a ele, ainda houve uma ameaça da boca de Faraó. A sua resposta? “Respondeu Moshe: Disseste bem; eu nunca mais verei o teu rosto” (Ex 10.29).
Definitivamente virá sobre o Egito o chamado “golpe de misericórdia”. Esta será a décima praga e também a definitiva para que Faraó e os egípcios possam crer que o D-us de Israel está no comando de todas as coisas.
D’us ordena o comprimento de duas mitsvot antes do Êxodo do Egito
D’us ordenou aos judeus que cumprissem duas mitsvot antes de sair do Egito. Somente assim seriam os judeus merecedores dos grandes milagres com que Ele os libertaria: Cada família judia deveria oferecer um corban Pêssach, um sacrifício de Pêssach; Todos os judeus que não tivessem brit milá (circuncisão) deveriam fazê-la antes de comer o corban Pêssach.
D’us disse a Moshê que ordenara a Bnei Israel: “Quatro dias antes de Pêssach cada família judia comprará um cordeiro ou cabra jovem. Deverá guardá-los em casa por quatro dias. Na tarde do quarto dia, deverá sacrificá-lo como corban Pêssach, uma oferenda de Pêssach.”
Por que, diante de todos os animais, justamente o cordeiro foi o escolhido? Os habitantes do Egito consideravam os animais sagrados, especialmente os cordeiros. Era para eles que oravam. Para mostrar aos egípcios que estavam equivocados, D’us ordenou aos judeus que sacrificassem cordeiros, que eram os deuses egípcios. Ao cumprir esta mitsvá, os judeus demonstraram que confiavam em D’us e que não acreditavam nos ídolos egípcios.
Por que D’us ordenou que o Povo de Israel preparasse os cordeiros antecipadamente, exatamente quatro dias antes de Pêssach?
Duas razões:
- Um animal é casher para corban apenas se está perfeito, se não tem defeito sobre o corpo. Durante estes quatro dias, cada família amarrou o cordeiro à cabeceira da cama e examinou o animal minuciosamente para assegurar-se de que era casher para um corban.
- D’us ordenou aos judeus que começassem a mitsvá alguns dias antes, para ganharem o mérito de serem tirados do Egito. Imagine que coragem tiveram as famílias judias para pegar um cordeiro – o deus dos egípcios – e prepará-lo para o sacrifício como Corban! Os judeus estavam temerosos, pensando como os egípcios ficariam furiosos quando se inteirassem do que haviam feito. Sem dúvida, matariam todos os judeus! Porém, todos escutaram as palavras de Moshê e obedeceram a ordem Divina. Cada família preparou um cordeiro quatro dias antes de Pêssach. D’us estava orgulhoso dos judeus. Ao cumprirem esta mitsvá, mostraram que já não acreditavam nos deuses egípcios. Demonstraram também que obedeciam a D’us, apesar de todo riso que corriam diante dos egípcios. Agora tinham um zechut (mérito) pelo qual mereciam ser redimidos.
D’us indica aos judeus o que devem fazer com o Corban Pêssach
D’us disse a Moshê que ordenara aos judeus: “Na tarde de 14 de Nissan, cada família deverá sacrificar seu cordeiro. Logo deverão pôr o sangue do cordeiro sobre os batentes em ambos os lados da porta principal, bem como sobre o umbral que se encontra sobre a porta.” D’us passará sobre todas as casas do Egito no meio da noite de Pêssach, e matará todos os primogênitos egípcios. O sangue nas casas dos judeus será a prova para D’us que os judeus O obedecem e cumprem Suas mitsvot. Por isso, terá piedade das casas judias e nada matará ali.
“Cada família judia deverá assar seu cordeiro sobre um fogo aberto e comê-lo durante a noite de Pêssach, junto com matsot e maror (ervas amargas). O maror irá lembrá-los da dura e amarga escravidão no Egito.
“Todos deverão comer o corban Pêssach totalmente vestidos e segurando um cajado na mão, prontos para sair do Egito. D’us os tirará do Egito nesta mesma noite. Assim, devem estar prontos!Todos os anos, na noite de Pêssach, comerão um Corban Pêssach, em recordação da saída do Egito.”
O Corban Pêssach na época do Beit Hamicdash
O livro Shevet Yehudá nos conta como se apresentava o Corban Pêssach na época do Segundo Beit Hamicdash.
Em rosh chôdesh Nissan, o rei do povo judeu enviava mensageiros a todos que moravam nos arredores de Jerusalém. Os mensageiros anunciavam: “Tragam todos os cordeiros que tenham para vender, de modo que todo judeu possa comprar um animal para seu Corban Pêssach.”
Todo judeu que tivesse um animal para vender o levava às colinas próximas a Jerusalém. Os cordeiros à venda eram conduzidos até um riacho para que fossem lavados cuidadosamente. Tamanha era a quantidade de cordeiros que as colinas não eram mais verdes, mas tornavam-se brancas!
No dia 10 de Nissan, quatro dias antes de Pêssach, todos os judeus que precisavam de um animal compravam um. Os quatro dias que faltavam para Pêssach eram dedicados a intensos preparativos que culminariam com a emocionante chegada do Iom Tov.
Quando chegava Erev (véspera) de Pêssach, soavam trombetas e os mensageiros anunciavam: “Escute, Povo de D’us! Chegou o momento de oferecer o corban Pêssach.” Cientes da santidade da mitsvá, os judeus se vestiam com roupas festivas. Ao meio-dia todo o trabalho cessava e a única atividade era a preparação do cordeiro. Todos os judeus dirigiam-se à azará (pátio do Beit Hamicdash) com seus cordeiros.
Fora do pátio havia doze leviim que advertiam as pessoas para não empurrarem-se ao entrar. Dentro, havia outros doze, cuidando para que as pessoas não se empurrassem ao sair da azará. As pessoas entravam em três turnos. Assim que o pátio ficava lotado, os leviim cerravam as portas. Aqueles que ficavam de fora deviam aguardar até o turno seguinte. Todos os cordeiros eram sacrificados na azará. Um cohen recebia parte do sangue da ovelha num recipiente em forma de cone, feito de ouro e prata. Este recipiente cheio de sangue do corban Pêssach devia ser vertido sobre as paredes do mizbeach (altar). Centenas de milhares de recipientes cheios de sangue deviam ser levados ao mizbeach em Erev Pêssach em uma só tarde.
Qual seria a forma mais rápida para que o sangue chegasse ao mizbeach?
Os cohanin formavam filas desde a entrada do pátio até o altar. Com a mão direita, o cohen que se encontrava no começo de uma fila passava o cone de sangue ao cohen que estava ao seu lado, que por sua vez o passava ao que estava junto a ele, e assim sucessivamente até o final da fila, até que o cone chegasse ao cohen que estava junto ao altar. Então, com a mão esquerda, este entregava o cone vazio ao cohen que tinha a seu lado, e assim sucessivamente até chegar novamente ao começo da fila. Cada cohen da fila passava cones cheios com a mão direita em direção ao mizbeach e devolvia cones vazios até chegar ao começo da fila, com sua mão esquerda.
Havia numerosas filas de cohanim. Uma fila usava somente cones de prata e a seguinte, somente de ouro. Era um belo espetáculo! A rapidez com que os cones se moviam em direção ao altar, e de volta dele. Os cones pareciam flechas de prata e ouro que cruzavam os ares!
Agora já sabemos com os cohanim podiam oferecer o sangue de tantos cordeiros numa só tarde. Naturalmente, este ágil manejo dos cones não teria sucesso sem certa prática. Os cohanim começavam a treinar trinta dias antes de Pêssach. Num lugar elevado da azará (pátio) havia dois cohanim com trombetas de prata. Sopravam as trombetas a cada vez que um dos turnos começava a oferecer seus corbanot (cordeiros). Este era o sinal para que os leviim começassem a recitar o Halel com o acompanhamento dos instrumentos musicais. Os judeus recitavam Halel (salmos de louvor) junto com os leviim.
Depois de matar as ovelhas, essas eram desossadas. Nas paredes havia ganchos especiais de ferro, onde prendiam os animais para serem desossados. Depois, os cohanim ofereciam algumas partes das ovelhas sobre o mizbeach, altar.
Cada judeu levava sua ovelha para casa, para assá-la. A maioria dos fornos estava junto à porta principal da casa, para dar caráter público à mitsvá. A oferenda de Pêssach era comida em Jerusalém esta noite, pela família ou pelo grupo que se havia reunido para este corban, como meio de recitar o Halel e louvores a D’us. Durante a noite de Pêssach, os portais de Jerusalém permaneciam abertos devido à quantidade de gente que ia e vinha. As vozes dos judeus louvando a D’us podiam ser ouvidas ao longe.
Que Mashiach venha em breve, para que todos possamos voltar a tomar parte na celebração de Pêssach em Jerusalém!
O capítulo 11 começa com o Eterno dando instruções ao povo de Israel para que, no momento da saída deles do Egito, peçam as riquezas dos egípcios. Fazendo isso eles estariam “saqueando” o Egito de sua riqueza, pois estariam saindo da condição de escravos para a condição de libertos!
A descrição daquilo que aconteceria é estarrecedora: “Depois disse Moshe a Faraó: Assim
diz o IHVH: À meia-noite eu sairei pelo meio do Egito; e todos os primogênitos na terra do Egito morrerão, desde o primogênito de Faraó, que se assenta sobre o seu trono, até o primogênito da serva que está detrás da mó, e todos os primogênitos dos animais. Pelo que haverá grande clamor em toda a terra do Egito, como nunca houve nem haverá jamais. Mas contra os filhos de Israel nem mesmo um cão moverá a sua língua, nem contra homem nem contra animal; para que saibais que o IHVH faz distinção entre os egípcios e os filhos de Israel” (Ex 11.4-7). Moshe relata a Faraó – que prometera matá-lo – que o Eterno (IHVH) novamente dava suas ordens! A primeira coisa que notamos nesta descrição é o alvo do juízo: os primogênitos! Além disso o D-us egípcio Ptah (D-us da vida) estaria sendo atingido pela praga. A palavra “primogênito” em hebraico é bekor, que significa “primogênito, aquele que é gerado primeiro“. O que ocorreria com os primogênitos seria que eles morreriam! A palavra “morrer” em hebraico é mut, que significa “morrer, matar, mandar executar“. A palavra pode referir-se à morte natural ou à morte violenta. No último caso esta pode ser como castigo ou outro motivo.
O Eterno já estava avisando que o juízo sobre os primogênitos seria que Ele mesmo os mandaria executar! Isso nos parece muito violento, parece algo desumano, mas devemos nos lembrar de que estamos diante do Criador. É Ele quem comanda todas as coisas, não pede conselho à ninguém e a ninguém presta contas de seus atos. Por isso Ele é D-us! A Morte destes primogênitos seria algo perpetrado pelo próprio D-us como uma forma de julgar os egípcios e seus deuses!
Durante esse acontecimento a Escritura nos informa que haveria um grande “clamor” em toda a terra do Egito! A palavra “clamor” em hebraico é tsa’aq, que significa “gritar, clamar por socorro”. Isso nos é dito para que possamos sentir a extensão daquilo que viria sobre os egípcios! Eles pediriam por socorro, e até clamariam por esse socorro que nunca chegaria…
Mas o Eterno faria ainda mais: Ele (IHVH) ainda faria distinção entre os dois povos! A palavra “distinção” no hebraico é pala, que significa “ser distinto, ser distinguido“. Isso define para mim um aspecto muito interessante: o povo que teme a ama ao Senhor é por Ele distinguido no meio da multidão! Seu povo seria poupado em meio ao juízo! A mão do Eterno guardaria o povo escolhido quando o mal atingisse o Egito!
E novamente (agora pela última vez), Faraó reage da mesma forma: o seu coração é endurecido para que ele experimente o juízo do Eterno! “E Moshe e Aharon fizeram todas estas maravilhas diante de Faraó; mas o IHVH endureceu o coração de Faraó, que não deixou ir da sua terra os filhos de Israel” (Êx 11:10).
O Eterno ensina a Moshe e Aharon que haverá para todo o povo uma mudança muito grande, inclusive em seu calendário. A partir de sua saída do Egito eles teriam um novo calendário a ser seguido, pois o evento da saída do povo se tornaria algo tão importante que funcionaria como um divisor de águas. A partir deste evento teria início um novo ano! “Este mês será para vós o princípio dos meses; este vos será o primeiro dos meses do ano” (Êx 12:2). Após o início do ano, aos dez dias, seria comemorada uma festividade, e para isso eles teriam de tomar algumas providências: “Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Ao décimo dia deste mês tomará cada um para si um cordeiro, segundo as casas dos pais, um cordeiro para cada família. Mas se a família for pequena demais para um cordeiro, tomá-lo-á juntamente com o vizinho mais próximo de sua casa, conforme o número de almas; conforme ao comer de cada um, fareis a conta para o cordeiro. O cordeiro, ou cabrito, será sem defeito, macho de um ano, o qual tomareis das ovelhas ou das cabras, e o guardareis até o décimo quarto dia deste mês; e toda a assembléia da congregação de Israel o matará à tardinha. Tomarão do sangue, e pô-lo-ão em ambos os umbrais e na verga da porta, nas casas em que o comerem. E naquela noite comerão a carne assada ao fogo, com pães ázimos; com ervas amargosas a comerão. Não comereis dele cru, nem cozido em água, mas sim assado ao fogo; a sua cabeça com as suas pernas e com a sua fressura. Nada dele deixareis até pela manhã; mas o que dele ficar até pela manhã, queimá-lo-eis no fogo. Assim pois o comereis: Os vossos lombos cingidos, os vossos sapatos nos pés, e o vosso cajado na mão; e o comereis apressadamente; esta é a páscoa do IHVH” (Ex 12.3-11).
Mas o que comemoraria esta festa? Ela é chamada de “páscoa do Senhor” e nos fala da libertação do povo israelita da escravidão dos egípcios! Mas como isso aconteceria? “Porque naquela noite passarei pela terra do Egito, e ferirei todos os primogênitos na terra do Egito, tanto dos homens como dos animais; e sobre todos os deuses do Egito executarei juízos; eu sou o IHVH. Mas o sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; vendo eu o sangue, passarei por cima de vós, e não haverá entre vós praga para vos destruir, quando eu ferir a terra do Egito” (Êx 12:12,13). Aqui somos informados de que o Senhor “passaria” pela terra do Egito a fim de executar sobre seus moradores – e sobre seus deuses “e sobre todos os deuses do Egito executarei juízos” – seus juízos. Novamente aqui o Eterno se apresenta como IHVH! Mas durante essa “passagem” Ele veria o “sangue“, que em hebraico é dam, e significa “sangue”, porém aqui nos fala de derramamento de sangue com morte como sacrifício à D-us. O sangue então seria o sinal distintivo entre os egípcios e os israelitas! Quando fosse visto o sangue estaria então patente que naquela casa houve alguém que morreu no lugar do primogênito! Há o fato de D-us “passar por cima” (pesah, em hebraico), não imputando aos israelitas a “praga” da mortandade. A palavra “praga” em hebraico é negep, e significa “golpe, praga, pancada“. A raiz desta palavra indica um golpe, em geral aplicado por D-us, fatal ou calamitoso.
O fato da morte dos primogênitos no Egito foi algo tão forte (como a própria palavra “praga” indica), que seu resultado foi aquele esperado por D-us. Desta vez o Eterno golpeia o Egito naquilo que tinham de mais precioso: seus filhos! O fato e o dia foram considerados tão importantes que se transformaram em festa!
Vejamos mais algumas considerações traçadas pelo Eterno acerca disso: “E este dia vos será por memorial, e celebrá-lo-eis por festa ao IHVH; através das vossas gerações o celebrareis por estatuto perpétuo” (Êx 12:14). A palavra “memorial” em hebraico é zikkarôn, e significa “memorial, recordação, lembrança, registro“. Ela nos fala de algum objeto ou ato que relembra alguém ou alguma coisa. Há também a palavra “festa”, que em hebraico é hag, e significa “festa, festa religiosa“. Significa uma “festa de peregrinos” ou “dia santificado”, um dia ou período de alegria ligado à religião. O evento da páscoa foi tão tremendo que se tornou um dia de festa, onde já na sua terra, os judeus peregrinavam de suas cidades até Jerusalém para participarem dela e celebrarem alegremente ao Senhor! Certamente essa festa foi posta como “estatuto perpétuo” e desde esta data tem sido observada pelos judeus em todo o mundo. Afinal, é a celebração de sua libertação! Devemos também nós lembrar de que houve um dia em nossas vidas quando fomos libertos do Egito e seu jugo. Nossa libertação também ocorreu por causa do sangue de alguém que foi derramado por nós! Alguém morreu para que nós pudéssemos receber essa libertação! Isso nos faz lembrar que houve um homem judeu que morreu numa cruz a fim de que, pelo seu sangue, pudéssemos receber a libertação! Seu nome? Ieshua Há Mashiach!
D’us ordena aos judeus que celebrem Pêssach todos os anos
D’us disse a Moshê que ordenara a Bnei Yisrael: “Todos os anos, Bnei Israel guardará a festividade de Pêssach durante sete dias. O primeiro e o sétimo dias serão Iom Tov. Os cinco dias intermediários serão chol hamoed. Durante este período não poderão comer chamets (massa levedada) e suas casas deverão estar limpas de todo chamets.”
Na primeira noite de Pêssach, a mitsvá é comer matsá e relatar na Hagadá Yetsiat Mitsraim, e como D’us nos tirou do Egito. Todo pai judeu deve contá-la a seus filhos, para que os milagres do Êxodo do Egito jamais sejam esquecidos. Na verdade, desde que fomos liberados do Egito os pais têm relatado aos filhos sobre Yetsiat Mitsraim. Sentados em torno da mesa do Sêder, rodeados de filhos atentos, os pais relatam com todos os detalhes e os milagres.
Fora de Erets Israel, agregamos um dia adicional a cada Iom Tov (festividade). Observamos os dias de Iom Tov, quatro dias de chol hamoed, e outros dois dias de Iom Tov.
O que acontece na noite do seder
Durante a noite do Seder, quando a família se senta em torno da mesa e relata sobre Yetsiat Mitsraim, D’us reúne todos os anjos do céu e lhes diz: “Vamos escutar como Meus filhos contam sobre a redenção do Egito.” Todos os anjos se reúnem e escutam. Os anjos sentem-se felizes porque quando os judeus foram libertados do Egito foi como se D’us tivesse também sido redimido.
(Quando Bnei Israel sofre, é como se D’us também sofresse). Os anjos também começam a louvar D’us pelos milagres que fez durante Yetsiat Mitsraim. Exclamam: “Olha como é santo o povo que D’us tem sobre a terra!”
A Torah chama a noite do Seder de “A noite protegida”, pois D’us distinguiu essa noite como noite de milagres para os tsadikim de todas as gerações. Que milagres?
Alguns dos que ocorreram na primeira noite de Pêssach são:
- Avraham lutou contra os quatro reis que haviam feito Lot prisioneiro e ganhou a guerra.
- Durante a época do rei Chizkiyahu, o anjo de D’us matou o exército dos assírios que estavam em guerra contra os judeus. Isto aconteceu na primeira noite de Pêssach.
- Daniel foi jogado à jaula dos leões e salvo durante esta noite.
- Durante a noite de Pêssach, o rei Achashverosh não conseguia dormir. Fez com que lessem seu diário, e assim a história de Purim teve um final feliz.
- No futuro, durante esta noite D’us fará milagres por intermédio de Eliyahu e Mashiach, ao final de nosso exílio.
Um outro detalhe importante está assim descrito: “Porque o IHVH passará para ferir aos egípcios; e, ao ver o sangue na verga da porta e em ambos os umbrais, o IHVH passará aquela porta, e não deixará o destruidor entrar em vossas casas para vos ferir” (Êx 12:23). Os detalhes importantes são: o Senhor, aqui é descrito no hebraico através do tetragrama, ou seja, o mesmo nome com o qual Ele se revelou a Moshe! E isso traduzido quer dizer: “Eu me torno aquilo que me torno”, ou seja, O Eterno se tornaria a redenção de seu povo! O sangue estaria nas portas, na verga e nos umbrais. A palavra “umbrais” em hebraico é mezuzá, que atualmente descreve um objeto que é fixado no umbral da porta dos judeus para identificar aquela casa. A mezuzá atual tem gravada em seu dorso uma letra hebraica shin, que é a primeira inicial de Shaddai. A palavra Shaddai é um acróstico do Shomer daltot Israel, que significa “O Guardador das portas de Israel”. Não é isso interessante? O sangue nos umbrais das portas dos israelitas no passado tem o mesmo significado da mezuzá hoje. O sangue também anunciava: “O Guardador das portas de Israel” está aqui! Naquele lugar não seria possível a presença do “destruidor”, que em hebraico é shahat e significa “destruir, corromper“. A presença daquele ser significava que haveria entre o povo egípcio destruição, corrupção.
Todo o relato sobre a destruição dos egípcios (através da morte dos primogênitos) está agora completo. Algo ainda é dito aos israelitas: “Portanto guardai isto por estatuto para vós, e para vossos filhos para sempre. E acontecerá que, quando entrardes na terra que o Senhor vos dará, como tem dito, guardareis este culto. E acontecerá que, quando vossos filhos vos disserem: Que culto é este? Então direis: Este é o sacrifício da páscoa ao IHVH, que passou as casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu aos egípcios, e livrou as nossas casas. Então o povo inclinou-se, e adorou” (Êx 12:24-27). A festa de pesach deveria ser guardada como um estatuto perpétuo. A palavra “estatuto” em hebraico é hoq e significa “estatuto, costume, decreto“. Esta palavra provém da raiz haqaq que significa “riscar ou entalhar, daí escrever”. Era prática comum entre os antigos entalhar suas leis e colocá-las em local público.
Finalmente acontece o que o Senhor disse: os primogênitos do Egito são mortos! O destruidor passou pela terra do Egito e cumpriu seu papel: matar a todos os primogênitos em cujas casas não encontrasse a marca do sangue! Assim foi feito! “E aconteceu, à meia noite, que o IHVH feriu a todos os primogênitos na terra do Egito, desde o primogênito de Faraó, que se sentava em seu trono, até ao primogênito do cativo que estava no cárcere, e todos os primogênitos dos animais” (Êx 12:29) – grifo nosso. Vejamos então o resultado: “E Faraó levantou-se de noite, ele e todos os seus servos, e todos os egípcios; e havia grande clamor no Egito, porque não havia casa em que não houvesse um morto. Então chamou a Moshe e a Aharon de noite, e disse: Levantai-vos, saí do meio do meu povo, tanto vós como os filhos de Israel; e ide, servi ao IHVH, como tendes dito. Levai também convosco vossas ovelhas e vossas vacas, como tendes dito; e ide, e abençoai-me também a mim” (Êx 12:30-32). Há um frenesi, algo incontrolável entre os egípcios que finalmente percebem a amplitude daquilo que está acontecendo entre eles! A palavra traduzida por “clamar” em hebraico é tsa´aq e significa “gritar, clamar por socorro, chamar“. Faraó agora ordena aos filhos de Israel que vão e levem aquilo que lhes for necessário para cultuarem ao Senhor. Mesmo na hora de tamanha dor e desespero Faraó pede a Moshe que o abençoe! A palavra usada aqui é barak e significa “dar poder para alguém ser próspero, bem sucedido e fecundo“. O resultado desta praga é que há entre os egípcios um clamor (gritos desesperados) para que os israelitas agora saiam rápido dali, pois teme também por suas vidas.
O povo sai apressadamente, porém levando as riquezas do Egito! “Fizeram, pois, os filhos de Israel conforme à palavra de Moshe, e pediram aos egípcios jóias de prata, e jóias de ouro, e roupas. E o IHVH deu ao povo graça aos olhos dos egípcios, e estes lhe davam o que pediam; e despojaram aos egípcios” (Êx 12:35, 36). Agora tem início a jornada pelo deserto rumo a Canaã! Finalmente tem início a tão esperada libertação do povo de Israel.
O povo que saiu do Egito foi uma grande multidão! Em nada lembravam as setenta pessoas que vieram ao Egito com Jacó! Conforme lhes havia sido prometido, eles se tornaram uma multidão praticamente inumerável. “Assim partiram os filhos de Israel de Ramessés para Sucot, cerca de seiscentos mil a pé, somente de homens, sem contar os meninos. E subiu também com eles muita mistura de gente, e ovelhas, e bois, uma grande quantidade de gado” (Êx 12:37, 38). O cálculo feito foi de que haviam seiscentos mil homens naquele grupo. Mas é claro que o total do povo era muito maior! Se calcularmos que cada família tinha apenas dois filhos (o que é muito pouco para os orientais), teremos uma soma total de dois milhões e quatrocentas mil pessoas caminhando pelo deserto! Isso é impressionante por dois aspectos: primeiro porque podemos imaginar as dificuldades dessa massa humana caminhando pelo deserto; em segundo lugar pensaríamos também nas dificuldades para conduzir e alimentar tal povo!
Mas agora, o que realmente importa é que o povo de Israel está a caminho de casa! Eles já se consideram como um novo povo, com novas perspectivas e com um grande futuro pela frente! Um outro detalhe interessante aqui é que outros saíram com os hebreus que estavam no Egito, pois no verso 38 é dito que saiu do Egito uma “mistura de gente”. Este termo em hebraico é ´ereb e tem o mesmo significado. Este termo também significa “trama de tecido”.
Já no início da caminhada do povo, Moshe recebe mais instruções que devem ser repassadas ao povo: “Santifica-me todo o primogênito, o que abrir toda a madre entre os filhos de Israel, de homens e de animais; porque meu é. E Moshe disse ao povo: Lembrai-vos deste mesmo dia, em que saístes do Egito, da casa da servidão; pois com mão forte o IHVH vos tirou daqui; portanto não comereis pão levedado” (Êx 13:2, 3). A palavra “santificar” em hebraico é qadash, que significa “separar para uso exclusivo“. O que o Eterno quer dizer com isso? Nós vimos que os primogênitos do Egito haviam sido dizimados pela décima praga. Agora o Senhor pede que todo o primogênito em Israel seja d’Ele! Em cada família, o primeiro filho (ou a primeira cria dos animais) devem ser separados para o uso exclusivo do Senhor. O Eterno reivindica o direito de posse daquilo que é primícia (primeiro fruto) na vida dos israelitas. Também percebemos que em Pesach não podemos comer o pão com fermento, pois isso simboliza que estamos “tirando” de nossas vidas o pecado quando saímos do Egito. “Também acontecerá que, quando o IHVH te houver introduzido na terra dos cananeus, como jurou a ti e a teus pais, quando ta houver dado, separarás para o IHVH tudo o que abrir a madre e todo o primogênito dos animais que tiveres; os machos serão do IHVH” (Êx 13:11, 12).
Novamente são dadas instruções sobre a festa de páscoa e também é dito ao povo para que mantenha estas palavras bem próximas de si durante suas gerações. “E te será por sinal sobre tua mão e por lembrança entre teus olhos, para que a lei do IHVH esteja em tua boca; porquanto com mão forte o IHVH te tirou do Egito” (Êx 13:9). É por esta razão que os israelitas usam até hoje o tefilim, que são pequenas caixas enroladas por tiras sobre o dorso da mão e também sobre a testa. Isso funciona como um sinal, a fim de que eles não se esqueçam das determinações dadas pelo Eterno à eles. O Senhor é profundamente didático em tudo aquilo que fez, e seus objetivos precisam ser alcançados a fim de poder abençoar o seu povo. O uso dos símbolos é educativo, além de didático. Eles não funcionam como no paganismo, a fim de substituírem a presença de D-us, mas sim para que os judeus sejam lembrados sobre a Palavra e os feitos de D-us através de suas gerações passadas. Isso os leva a crer que estes mesmos feitos poderão ocorrer também hoje!
Assim terminamos mais este episódio da Escritura. Novamente somos levados a nos lembrarmos de quem é o Senhor e quais foram (e ainda são) os seus feitos em toda a Terra!
Somos impulsionados a crer nas palavras registradas nas Escrituras, pois elas não somente foram a verdade do Eterno para os filhos de Israel, mas ainda são a verdade e hoje tem o mesmo valor e causam o mesmo impacto sobre os homens quanto o fizeram no passado. Precisamos crer naquilo que o Eterno nos diz através de sua Palavra!
Baruch Há Shem!
Mário Moreno.