Parasha Devarim

Mário Moreno/ julho 16, 2018/ Parasha da semana

Devarim

(Palavras)

Dt 1.1–3.22 / Is 1:1-27 / At 7:51-8:4

        Na Parasha desta semana estaremos abordando o início do livro de Deuteronômio, onde Moshe fará seus últimos relatos sobre a história do povo enquanto peregrinavam no deserto. Veremos também reafirmações sobre a Torah e muitos outros detalhes que serão dados ao povo neste período.

Nosso texto começa dizendo assim: “Estas são as palavras que Moshe falou a todo o Israel além do Jordão, no deserto, na planície defronte do Mar Vermelho, entre Parã e Tôfel, e Labã, e Hazerote, e Di-Zaabe. Onze jornadas há desde Horebe, caminho do monte Seir, até Cades-Barnéia. E sucedeu que, no ano quadragésimo, no mês undécimo, no primeiro dia do mês, Moshe falou aos filhos de Israel, conforme a tudo o que o IHVH lhe mandara acerca deles. Depois que feriu a Siom, rei dos amorreus, que habitava em Hesbom, e a Ogue, rei de Basã, que habitava em Astarote, em Edrei” (Dt 1:1-4). Este relato traz uma retrospectiva dos fatos que ocorreram desde o momento em que Israel acabara de ver a derrota e morte dos egípcios no Mar dos Juncos. Agora eles estão já no 40° ano de peregrinação pelo deserto, ou seja, o período de provação pelo deserto está realmente no fim…

Outro detalhe importante é que já neste período “final” do deserto os israelitas já estavam subjugando seus inimigos de uma forma muito fácil, até mesmo natural! Aprendemos então que enquanto estamos sendo provados pelo Eterno em nosso “deserto” particular certamente veremos muitos milagres, mas também teremos vitórias sobre os nossos inimigos e sobre todos aqueles que se levantaram contra nós. Certamente que essa condição somente será verdadeira se houver obediência de nossa parte, mesmo estando “no deserto”.

Agora Moshe continua seu relato dizendo: “Além do Jordão, na terra de Moabe, começou Moshe a declarar esta lei, dizendo: O IHVH nosso Elohim nos falou em Horebe, dizendo: Assaz vos haveis demorado neste monte. Voltai-vos, e parti, e ide à montanha dos amorreus, e a todos os seus vizinhos, à planície, e à montanha, e ao vale, e ao sul, e à margem do mar; à terra dos cananeus, e ao Líbano, até ao grande rio, o rio Eufrates. Eis que tenho posto esta terra diante de vós; entrai e possuí a terra que o IHVH jurou a vossos pais, Avraham, Itshaq e Ia´aqov, que a daria a eles e à sua descendência depois deles” (Dt 1:5-8). Moshe inicia sua declaração com palavras muito fortes referindo-se ao Eterno: “O IHVH nosso Elohim”. A palavra para definir o Eterno vem do termo hebraico IHVH e significa literalmente “Eu me torno aquilo que me torno”. Já a outra palavra que o identifica vem do termo hebraico Elohim e significa que aqui “D-us é o Criador”, Aquele que se tornou a fonte e razão da existência de todas as coisas! Há também a palavra “falou” que vem do termo hebraico dabar e significa “falar, declarar, conversar, ordenar, prometer, advertir”. Este verso nos fala sobre o Criador do Universo se tornando o D-us de Israel e estabelecendo com o seu povo uma conversa, um diálogo, em que ambas as partes se manifestam, trocam experiências e a parte mais “frágil” – Israel – é certamente aquela que recebe os maiores benefícios deste relacionamento. Esta palavra nos diz que não está havendo qualquer “imposição” da parte do Eterno para com Israel, mas sim um diálogo entre ambos a fim de chegarem juntos à uma conclusão lógica!

Agora as palavras de Moshe são declaratórias quanto à promessa que o Eterno fizera à Israel: “Eis que tenho posto esta terra diante de vós; entrai e possuí a terra”. Aqui a frase “tenho posto” seria melhor traduzida por “olhem e vejam”, pois o termo hebraico usado aqui é ra´a e significa “ver, olhar, contemplar, observar”. Já a palavra “terra” vem do termo hebraico erets e significa “terra, estado, mundo”. Em português não aparece um termo hebraico que fica subentendido na frase “diante de vós”. O termo usado aqui é panîm e significa “rosto, semblante”. Esta palavra sempre ocorre no plural, talvez numa indicação de que o rosto é composto por uma combinação de diversos aspectos. Devemos entender agora uma parte deste todo que está nos sendo apresentado. Os israelitas já estavam na fronteira da terra que o Eterno prometera aos seus antepassados e agora eles certamente a contemplavam – havia um contato visual entre eles e a promessa que agora se torna realidade – e esta terra haverá de tornar-se para eles seu lar nacional, um novo mundo será ali construído por eles. Quando eles vislumbraram isso em suas mentes certamente seus rostos se encheram de esperança e de alegria, tornando assim manifesta a felicidade que agora impregnava seus corações!

O restante do verso nos diz que eles haveriam de “entrai e possuí a terra que o IHVH jurou a vossos pais”. A palavra “possuir” vem do termo hebraico yarash e significa “expulsar, lançar fora, desalojar, destruir, tornar pobre”. E a palavra definindo o Eterno vem do termo hebraico IHVH, o que significa que o Eterno estaria se tornando para o seu povo a sua herança – a terra – que ele mesmo daria para eles dentro de muito pouco tempo.

        Agora o relato de Moshe fala sobre o fato do povo já ser tão grande e numeroso que é impossível que ele continue na liderança. “O IHVH vosso Elohim já vos tem multiplicado; e eis que em multidão sois hoje como as estrelas dos céus. O IHVH Elohim de vossos pais vos aumente, ainda mil vezes mais do que sois; e vos abençoe, como vos tem falado. Como suportaria eu sozinho os vossos fardos, e as vossas cargas, e as vossas contendas?” (Dt 1:10-12). A palavra de Moshe demonstra muito claramente o que tem acontecido: “O IHVH vosso Elohim já vos tem multiplicado”. A palavra que define o Eterno é IHVH e a outra palavra vem do termo hebraico Elohim! Já a palavra “multiplicado” vem do termo hebraico rabâ e significa “ser grande, tornar-se grande, ser numeroso”. Isso nos mostra que o Criador havia se tornado o multiplicador do povo de Israel! Aqui temos o ingrediente espiritual necessário para que isso pudesse acontecer: a intervenção do próprio Criador a fim de fazer com que seu povo se tornasse tão grande, forte e numeroso a ponto de causar espanto às nações que estavam na terra! E ainda assim Moshe diz ao povo: “O IHVH Elohim de vossos pais vos aumente, ainda mil vezes mais do que sois; e vos abençoe, como vos tem falado”. Novamente ele repete aqui os termos IHVH e Elohim, pedindo Àquele que se tornara o Criador de Israel que os multiplicasse mil vezes mais e os abençoasse! Aqui a palavra “abençoar” é barak e significa “dar poder a alguém para ser próspero, bem sucedido e fecundo”! Esta palavra de Moshe engloba todos os aspectos da vida cotidiana do povo e ela trará um resultado tremendo na vida dos israelitas futuramente, pois eles carregarão – por onde quer que andem – esta “unção” que os distingue dos demais povos da terra!

O conselho do IHVH tinha sido dado assim: “Tomai-vos homens sábios e entendidos, experimentados entre as vossas tribos, para que os ponha por chefes sobre vós” (Dt 1:13). Isto parece apenas mais um conselho, mas não é. A palavra “sábios” em hebraico é hakam e significa “ser sábio, agir sabiamente”. Estes homens – que primeiramente são sábios – não tem apenas a sabedoria, mas eles agem de forma a externar esta sabedoria, que também não é apenas teórica, mas profundamente prática! Além disso eles possuem entendimento – conhecimento teórico e prático – naquilo que fazem e também são homens experientes – isso significa que não são homens pegos às pressas para exercerem uma função – eles foram “treinados” e depois de serem aprovados estarão servido aos demais com todas as suas habilidades.

Moshe abençoa Benê Israel

Moshe descreve o que acontecera no início da jornada pelo deserto:

“Fui designado não apenas como seu professor de Torah, como também para ser seu juiz. Como eu estava ocupado! Havia tantas discussões e disputas entre vocês. Eu me sentava e julgava por boa parte do dia, enquanto vocês frequentemente esperavam por horas para ver-me. Vocês cresceram até tornarem-se uma imensa nação, e hoje são tantos como as estrelas dos céus. Que D’us os multiplique mil vezes mais, dando-lhes filhos que sejam tsadikim como vocês. Que Ele os abençoe como prometeu a seus antepassados!”

Por que Moshe subitamente abençoou Benê Israel no meio de seu discurso? 
Uma explicação seria:

Moshe havia reclamado sobre como era difícil lidar com um povo tão numeroso. Mas não queria que o povo pensasse que estava infeliz por eles serem tantos. Por isso, rapidamente acrescentou uma bênção para que se tornassem ainda mais numerosos!
O Midrash fornece outra explicação:

D’us disse a Moshe: “Veja como Benê Israel é justos! Poderia ter reclamado quando você lembrou de seus erros. Porém, aceitaram suas palavras e fizeram teshuvá. Por isto, mereciam ser abençoados.” E assim, Moshe deu-lhes a berachá.

O Midrash nos diz:

Benê Israel é comparado às estrelas, areia e pó

Moshe comparou Benê Israel às estrelas, mas na verdade D’us fizera uma promessa diferente a cada um dos antepassados:

• A Avraham: “Olhe para os céus. Tente contar as estrelas! Assim como esta tarefa é impossível, da mesma forma será impossível contar seus filhos!”

 A Itschac: “Seus filhos serão tão numerosos como os grãos de areia na praia!”

• A Ia´aqov: “Seus filhos serão como o pó da terra.”

Tentemos entender como os judeus são comparados – as estrelas, areia e pó:

• Estrelas – Cada estrela é importante para o universo. Se apenas uma estiver faltando, a criação de D’us é imperfeita. Da mesma forma, cada judeu também é de suma importância.

• Areia – Embora ondas poderosas quebrem contra a praia arenosa, a delicada areia é uma forte barreira. A água não pode passar por ela e carregá-la para longe. 
Similarmente, o povo judeu repetidamente sobrevive aos ataques das nações do mundo.

• Pó da terra – Plantas e árvores não cresceriam sem o solo. Benê Israel pode ser comparados à terra porque, pelo seu mérito, todas as nações são abençoadas.
Na época de Moshe, D’us já tinha completado Sua promessa de que Benê Israel seriam como as estrelas. Apenas na época de Mashiach todas as promessas que D’us fez aos patriarcas serão totalmente cumpridas.

As palavras continuam fluindo e dizendo: “E no mesmo tempo mandei a vossos juízes, dizendo: Ouvi a causa entre vossos irmãos, e julgai justamente entre o homem e seu irmão, e entre o estrangeiro que está com ele. Não discriminareis as pessoas em juízo; ouvireis assim o pequeno como o grande; não temereis a face de ninguém, porque o juízo é de Elohim; porém a causa que vos for difícil fareis vir a mim, e eu a ouvirei” (Dt 1:16-17). Os homens citados acima deveriam desempenhar papéis fundamentais na nação e neste caso esta orientação é tida como uma ordem, pois o termo usado onde está a palavra “mandei” é tsawâ que significa “ordenar, incumbir”. Já a palavra “juízes” vem do termo hebraico shapat que significa “julgar, governar”. Novamente percebemos que estes homens estão sendo investidos de autoridade a fim de exercerem governo – ou mesmo julgarem – mas de forma imparcial, justa e honesta. A forma de julgamento é aqui declarada, pois é dito que não pode haver diferença entre grande e pequeno- rico ou pobre – pois a Torah deve ser aplicada de forma igual para ambos! E Moshe declara ainda que isso deve ser assim “porque o juízo é de Elohim”. Aqui a palavra “juízo” vem do termo hebraico mishpat que significa “justiça, ordenança, costume, maneira”. Já a palavra que define o Eterno vem do termo hebraico Elohim! Isso significa que aquilo que está sendo estabelecido e discutido o foi feito como um padrão já na Criação! Essa informação advém do fato do Eterno aqui se identificar como Elohim – o D-us Criador – fato esse que demonstra que este padrão está de alguma forma ligado à criação!

A terra lhes é apresentada como sua herança e a sua conquista não deve ser vista como algo difícil ou trabalhoso, mas sim como uma ordenança do Eterno para eles! Está dito assim: “Eis aqui o IHVH teu Elohim tem posto esta terra diante de ti; sobe, toma posse dela, como te falou o IHVH Elohim de teus pais; não temas, e não te assustes” (Dt 1:21). Novamente o Eterno se apresenta aqui como IHVH Elohim! É interessante que o Eterno, no momento da conquista da terra, se apresente como Aquele que se tornou o seu Criador (de Israel), pois isso é algo tão básico para ser dito que até mesmo parece algo infantil! Mas o Eterno quer lembrar a Israel com Quem eles podem contar nesta jornada de conquistas que haverão de empreender! A palavra lhes ordena que não temam! A palavra “temer” vem do termo hebraico yare que significa “temer, ter medo, reverenciar”. Está claro que os inimigos não devem ser temidos e nem mesmo devemos nos curvar diante deles e nem mesmo teme-los, pois o Eterno é Aquele que nos irá defender em qualquer circunstância que estejamos envolvidos com eles!

O Eterno agora relembra-os quanto à postura que seus pais tiveram quando foi-lhes ordenado “espiar” a terra: “Então todos vós chegastes a mim, e dissestes: Mandemos homens adiante de nós, para que nos espiem a terra e, de volta, nos ensinem o caminho pelo qual devemos subir, e as cidades a que devemos ir. Isto me pareceu bem; de modo que de vós tomei doze homens, de cada tribo um homem. E foram-se, e subiram à montanha, e chegaram até ao vale de Escol, e o espiaram. E tomaram do fruto da terra nas suas mãos, e no-lo trouxeram e nos informaram, dizendo: Boa é a terra que nos dá o IHVH nosso Elohim. Porém vós não quisestes subir; mas fostes rebeldes ao mandado do IHVH nosso Elohim. E murmurastes nas vossas tendas, e dissestes: Porquanto o IHVH nos odeia, nos tirou da terra do Egito para nos entregar nas mãos dos amorreus, para destruir-nos. Para onde subiremos? Nossos irmãos fizeram com que se derretesse o nosso coração, dizendo: Maior e mais alto é este povo do que nós, as cidades são grandes e fortificadas até aos céus; e também vimos ali filhos dos gigantes. Então eu vos disse: Não vos espanteis, nem os temais. O IHVH vosso Elohim que vai adiante de vós, ele pelejará por vós, conforme a tudo o que fez convosco, diante de vossos olhos, no Egito; como também no deserto, onde vistes que o IHVH vosso Elohim nele vos levou, como um homem leva seu filho, por todo o caminho que andastes, até chegardes a este lugar. Mas nem por isso crestes no IHVH vosso Elohim” (Dt 1:22-32). O texto nos informa que houve uma “visita” à terra e depois uma posterior conversa sobre as possibilidades ou não de conquista-la! Houve então uma atitude de rebelião contra o Eterno e uma atitude ainda pior: a murmuração. A palavra “murmuração” em hebraico vem do termo ragan que significa “murmurar, cochichar”. E o mais interessante é que este ato não foi público, mas sim oculto em cada tenda israelita! A palavra “tenda” vem do termo hebraico ohel e significa “tenda, habitação, lar”. Esta murmuração não foi algo público, coletivo, grande, mas foi algo que ocorreu na intimidade de cada lar israelita, quando palavras ofensivas foram proferidas contra o Eterno, pois disseram: “Porquanto o IHVH nos odeia, nos tirou da terra do Egito para nos entregar nas mãos dos amorreus, para destruir-nos”. Os israelitas afirmaram que o IHVH – IHVH – os odiava! A palavra “odiar” vem do termo hebraico sin´â e significa “ódio, aversão”. É usada para expressar intensidade do ódio aos homens! Aquelas pessoas diziam que o mesmo D-us que se tornara para eles livramento, redenção, salvação, agora transforma-se num ser que sente aversão por este mesmo povo! Isto mais se parece com os deuses egípcios que quando estavam de “bom humor” então abençoavam aos seus súditos; quando não nem se importavam com seus pedidos! Poderiam então os israelitas confiarem num D-us como esse? O sentimento deles era que o Eterno os tirara do Egito a fim de serem destruídos e entregues nas mãos de seus inimigos! Mas certamente não era essa a intenção do IHVH! Ele então lhes diz: “Então eu vos disse: Não vos espanteis, nem os temais. O IHVH vosso Elohim que vai adiante de vós, ele pelejará por vós, conforme a tudo o que fez convosco, diante de vossos olhos, no Egito”. A palavra “espantar-se” vem do termo hebraico ´arats e significa “estar assustado, estar apavorado, ter medo, oprimir, estar aterrorizado”. Já a palavra “temer” vem do termo hebraico yare que significa “temer, ter medo, reverenciar”. Os inimigos de Israel não devem causar pavor, medo ou serem tratados de uma forma mais “amena” por causa da sensação produzida por eles na alma do povo! Antes eles deveriam entender que quem guerrearia suas guerras seria IHVH Elohim! Novamente percebemos que Aquele que se tornara o Criador de Israel é quem tomaria as devidas providências contra os inimigos de seu povo! Ai daqueles que se estavam levantando contra Israel! Quão duro foi o Eterno para com eles!

Esta seção termina com o verso 32 que em português diz: “Mas nem por isso crestes no IHVH vosso Elohim”. No hebraico a tradução seria “Mas nem falastes e crestes no IHVH vosso D-us”. A tradução ao pé da letra parece um pouco insípida, sem vida, mas não é. No contexto o Eterno tem se apresentado como o Guerreiro de Israel, mas para que isso pudesse suceder eles deveriam externar sua fé através das palavras! No hebraico aparece o termo dabar que significa “falar, declarar, conversar, ordenar, prometer, advertir”. Já a palavra “crer” vem do termo hebraico ´amam e significa “confirmar, sustentar; estabelecer-se, ser fiel, estar certo, crer em”. E estas palavras referem-se a IHVH Elohim! O texto diz que os israelitas deveriam ter externado sua certeza e sua fidelidade ao Eterno simplesmente em palavras, conversando, declarando ao Eterno a certeza que tinham de que seus inimigos certamente seriam vencidos, confirmando assim a palavra que já tinha saído da boca do IHVH!

        As palavras ditas por eles foram muito negativas e geraram no Eterno uma postura que refletiu-se nos fatos que se seguiram: a morte dos descrentes! O texto nos diz assim: “Ouvindo, pois, o IHVH a voz das vossas palavras, indignou-se, e jurou, dizendo: nenhum dos homens desta maligna geração verá esta boa terra que jurei dar a vossos pais. Salvo Calebe, filho de Jefoné; ele a verá, e a terra que pisou darei a ele e a seus filhos; porquanto perseverou em seguir ao IHVH. Também o IHVH se indignou contra mim por causa de vós, dizendo: Também tu lá não entrarás. Iehoshua, filho de Num, que está diante de ti, ele ali entrará; fortalece-o, porque ele a fará herdar a Israel. E vossos meninos, de quem dissestes: Por presa serão; e vossos filhos, que hoje não conhecem nem o bem nem o mal, eles ali entrarão, e a eles a darei, e eles a possuirão. Porém vós virai-vos, e parti para o deserto, pelo caminho do Mar Vermelho. Então respondestes, e me dissestes: Pecamos contra o IHVH; nós subiremos e pelejaremos, conforme a tudo o que nos ordenou o IHVH nosso Elohim. E armastes-vos, cada um de vós, dos seus instrumentos de guerra, e estivestes prestes para subir à montanha. E disse-me o IHVH: Dize-lhes: Não subais nem pelejeis, pois não estou no meio de vós; para que não sejais feridos diante de vossos inimigos. Porém, falando-vos eu, não ouvistes; antes fostes rebeldes ao mandado do IHVH, e vos ensoberbecestes, e subistes à montanha. E os amorreus, que habitavam naquela montanha, vos saíram ao encontro; e perseguiram-vos como fazem as abelhas e vos derrotaram desde Seir até Horma. Tornando, pois, vós, e chorando perante o IHVH, o IHVH não ouviu a vossa voz, nem vos escutou. Assim permanecestes muitos dias em Cades, pois ali vos demorastes muito” (Dt 1:34-46). A primeira informação que temos aqui é que nenhum dos murmuradores veria a terra. A exceção cabe a Calebe, pois ele perseverou em seguir ao IHVH. A palavra “persevera” em hebraico vem do termo male´ e significa “estar cheio, encher”. Já a palavra “seguir” vem do termo ´ahar e significa “após, atrás, depois, posteriormente”. Mas o que aconteceu com Calebe? Ele certamente estava cheio de confiança do Eterno, ele O seguia passo a passo – e isso evidencia também sua obediência à Torah – e certamente esse foi o maior motivo para que Calebe não fosse deixado no deserto! A perseverança deste homem em seguir ao Eterno fica aqui evidenciada por estas poucas palavras sobre ele… Mas no verso 38 falaremos também de outro homem: Iehoshua! O texto diz: “Iehoshua, filho de Num, que está diante de ti, ele ali entrará; fortalece-o, porque ele a fará herdar a Israel”. O nome de Iehoshua em hebraico é Iehoshua e significa “o IHVH é salvação”! Quanto a este homem o Eterno diz a Moshe que ele deveria ser fortalecido, pois ele é quem faria a Israel herdar a promessa. A palavra “herdar” aqui vem do termo hebraico nachala e significa “herança, legado, possessão”. Tem o sentido de receber uma propriedade que faz parte de uma possessão permanente e é resultado de uma sucessão hereditária. O papel de Iehoshua seria de levar o povo à posse daquilo que já havia sido prometido a eles desde Avraham! O interessante é que o nome Iehoshua é o mesmo nome de Ieshua, porém o nome Ieshua é uma abreviatura de Iehoshua! E assim como Iehosha fez o povo entrar na terra prometida, Ieshua fará o mesmo com o seu povo!

A resposta do povo ao IHVH foi clara: “Então respondestes, e me dissestes: Pecamos contra o IHVH; nós subiremos e pelejaremos, conforme a tudo o que nos ordenou o IHVH nosso Elohim. E armastes-vos, cada um de vós, dos seus instrumentos de guerra, e estivestes prestes para subir à montanha. E disse-me o IHVH: Dize-lhes: Não subais nem pelejeis, pois não estou no meio de vós; para que não sejais feridos diante de vossos inimigos. Porém, falando-vos eu, não ouvistes; antes fostes rebeldes ao mandado do IHVH, e vos ensoberbecestes, e subistes à montanha. E os amorreus, que habitavam naquela montanha, vos saíram ao encontro; e perseguiram-vos como fazem as abelhas e vos derrotaram desde Seir até Horma. Tornando, pois, vós, e chorando perante o IHVH, o IHVH não ouviu a vossa voz, nem vos escutou. Assim permanecestes muitos dias em Cades, pois ali vos demorastes muito”. O povo reconhece que pecou contra o IHVH! A palavra “pecar” vem do termo hebraico hata´e significa “errar, sair do caminho, pecar, tornar-se culpado”. E esse erro foi cometido contra Aquele que se torna aquilo que seu povo precisa que Ele se torne! Isso significa que para o pecador o Eterno se tornou juízo; enquanto que para o obediente se tornou em bênção! No verso 49 o Eterno diz que eles foram rebeldes à sua palavra! A palavra “rebelde” vem do termo hebraico marad e significa “ser rebelde, revoltar-se”. E novamente essa revolta foi contra IHVH! Isso significa que o povo simplesmente ignorou aquilo que o Eterno já lhes havia dito e resolveu revoltar-se – como um bando de presidiários – e não obedecer-lhe! O resultado da revolta foi que os inimigos os perseguiram os venceram, pois eles não estavam vivendo deforma obediente aquilo que o Eterno lhes havia dito! E após a derrota eles se apresentaram chorando diante do IHVH, pois foram pisoteados por aqueles que o IHVH já havia dito que eles derrotariam!

Na continuidade do diálogo temos as seguintes palavras para o povo de Israel: “Depois viramo-nos, e caminhamos ao deserto, caminho do Mar Vermelho, como o IHVH me tinha dito, e muitos dias rodeamos o monte Seir. Então o IHVH me falou, dizendo: tendes rodeado bastante esta montanha; virai-vos para o norte. E dá ordem ao povo, dizendo: Passareis pelos termos de vossos irmãos, os filhos de Esav, que habitam em Seir; e eles terão medo de vós; porém guardai-vos bem. Não vos envolvais com eles, porque não vos darei da sua terra nem ainda a pisada da planta de um pé; porquanto a Esav tenho dado o monte Seir por herança. Comprareis deles, por dinheiro, comida para comerdes; e também água para beber deles comprareis por dinheiro. Pois o IHVH teu Elohim te abençoou em toda a obra das tuas mãos; ele sabe que andas por este grande deserto; estes quarenta anos o IHVH teu Elohim esteve contigo, coisa nenhuma te faltou” (Dt 2:1-7). As ordens haviam sido também são muito clara quando diziam que os israelitas deveriam passar pela terra de seus inimigos, mas que eles os temeriam! O Eterno havia ordenado que os israelitas deveriam passar pelas terras dos descendentes de Esav pois mesmo isso acontecendo eles os temeriam! A palavra “ordenar” vem do termo hebraico tsavâ e significa “ordenar, incumbir”. Já a palavra “temer” – terão medo – vem do termo hebraico yare´ que significa “temer, ter medo, reverenciar”. Em português faltou uma palavra que é o termo me´od e que significa “extremamente, muito, força, abundância”. Os inimigos de Israel – que também são seus aparentados – teriam um sentimento de extremo temor pelo fato de Israel estar por ali passando e por já terem ouvido acerca das coisas que o Eterno havia feito aos demais inimigos de seu povo! A orientação é não envolver-se com eles, somente passariam por aquele caminho a fim de chegarem à terra que o Eterno lhes havia prometido!

Novamente o Eterno lembra seu povo daquilo que Ele já havia feito por e para eles: “Pois o IHVH teu Elohim te abençoou em toda a obra das tuas mãos; ele sabe que andas por este grande deserto; estes quarenta anos o IHVH teu Elohim esteve contigo, coisa nenhuma te faltou”. Notamos que o Eterno se apresenta como IHVH Elohim! Uma outra coisa é que Aquele que se tornara aquilo que seu povo precisara lhes diz que os estava abençoando. A palavra “abençoar” vem do termo barak que significa “dar poder à alguém para ser próspero, bem sucedido e fecundo”. Esse poder foi dado à Israel em também relação à toda a obra de suas mãos! A palavra “obra” vem do termo hebraico ma´aseh e significa “feito, ato, obra, negócio, destreza, propósito”. Ou seja, enquanto eles estiveram no deserto Aquele que se tornou seu Criador fez com que o povo de Israel carregasse sobre si um poder que fazia com que tudo aquilo que eles fizessem tivesse sucesso! Mesmo estando no deserto havia sobre eles esta “unção” que os guiava no sentido de não errarem o alvo e de não perderem o propósito que já havia sido pelo Eterno estabelecido para suas vidas.

Na sequência, o Eterno relembra-os que em suas caminhadas os seus inimigos iam sendo desalojados e a fama de Israel ia sendo transmitida adiante causando assim terror aos seus opositores. Então o eterno lhes diz: “Levantai-vos, parti e passai o ribeiro de Arnom; eis aqui na tua mão tenho dado a Siom, amorreu, rei de Hesbom, e a sua terra; começa a possuí-la, e contende com eles em peleja. Neste dia começarei a pôr um terror e um medo de ti diante dos povos que estão debaixo de todo o céu; os que ouvirem a tua fama tremerão diante de ti e se angustiarão. Então mandei mensageiros desde o deserto de Quedemote a Siom, rei de Hesbom, com palavras de paz, dizendo” (Dt 2:24-26). É claro que está evidente a intenção do Eterno em dar a Israel a sua herança! Mas para isso eles deveriam “levantar-se” e dar início à sua jornada de conquistas, em obediência à palavra do IHVH!

Na sequência do relato Moshe relembra ao povo tudo o que havia acontecido com eles e de como eles esmagaram seus inimigos, conforme ao que o IHVH lhes havia dito! Quanto mais os inimigos resistiam à Israel mais espetaculares foram as vitórias por eles conseguidas! Vejamos os versos abaixo que dizem: “Mas Siom, rei de Hesbom, não nos quis deixar passar por sua terra, porquanto o IHVH teu Elohim endurecera o seu espírito, e fizera obstinado o seu coração para to dar na tua mão, como hoje se vê. E o IHVH me disse: Eis aqui, tenho começado a dar-te Siom, e a sua terra; começa, pois, a possuí-la para que herdes a sua terra. E Siom saiu-nos ao encontro, ele e todo o seu povo, à peleja, em Jaza; e o IHVH nosso Elohim no-lo entregou, e o ferimos a ele, e a seus filhos, e a todo o seu povo. E naquele tempo tomamos todas as suas cidades, e cada uma destruímos com os seus homens, mulheres e crianças; não deixamos a ninguém. Somente tomamos por presa o gado para nós, e o despojo das cidades que tínhamos tomado. Desde Aroer, que está à margem do ribeiro de Arnom, e a cidade que está junto ao ribeiro, até Gileade, nenhuma cidade houve que de nós escapasse; tudo isto o IHVH nosso Elohim nos entregou. Somente à terra dos filhos de Amom não chegastes; nem a toda a margem do ribeiro de Jaboque, nem às cidades da montanha, nem a coisa alguma que nos proibira o IHVH nosso Elohim” (Dt 2:30-37).

Terminando o relato, no capítulo 3 o eterno continua dizendo: “Depois nos viramos e subimos o caminho de Basã; e Ogue, rei de Basã, nos saiu ao encontro, ele e todo o seu povo, à peleja em Edrei. Então o IHVH me disse: Não o temas, porque a ele e a todo o seu povo, e a sua terra, tenho dado na tua mão; e far-lhe-ás como fizeste a Siom, rei dos amorreus, que habitava em Hesbom. E também o IHVH nosso Elohim nos deu na nossa mão a Ogue, rei de Basã, e a todo o seu povo; de maneira que o ferimos até que não lhe ficou sobrevivente algum. E naquele tempo tomamos todas as suas cidades; nenhuma cidade houve que lhes não tomássemos; sessenta cidades, toda a região de Argobe, o reino de Ogue em Basã. Todas estas cidades eram fortificadas com altos muros, portas e ferrolhos; e muitas outras cidades sem muros. E destruímo-las como fizemos a Siom, rei de Hesbom, destruindo todas as cidades, homens, mulheres e crianças. Porém todo o gado, e o despojo das cidades, tomamos para nós por presa. Assim naquele tempo tomamos a terra das mãos daqueles dois reis dos amorreus, que estavam além do Jordão; desde o rio de Arnom, até ao monte de Hermom (A Hermom os sidônios chamam Siriom; porém os amorreus o chamam Senir); todas as cidades do planalto, e todo o Gileade, e todo o Basã, até Salcá e Edrei, cidades do reino de Ogue em Basã. Porque só Ogue, o rei de Basã, restou dos gigantes; eis que o seu leito, um leito de ferro, não está porventura em Rabá dos filhos de Amom? De nove côvados, o seu comprimento, e de quatro côvados, a sua largura, pelo côvado comum. Tomamos, pois, esta terra em possessão naquele tempo: Desde Aroer, que está junto ao ribeiro de Arnom, e a metade da montanha de Gileade, com as suas cidades, tenho dado aos rubenitas e gaditas” (Dt 3:1-12). Este relato nos informa como procedeu o povo de Israel quando estava em processo de conquista da terra e em especial a terra de Basã, cujo rei era Ogue e este homem era um remanescente dos gigantes. Sobre sua cama édito que ela tinha as seguintes medidas: 9 x 4 côvados, o que, transformando-se em metros temos as medidas de 4,5 x 2 metros! Quando está dito que a terra foi tomada em possessão, a palavra “tomar” vem do termo hebraico yarash que significa “expulsar, lançar fora, desalojar, destruir, tornar pobre”. Tem o sentido de obter o controle de uma região mediante a conquista e expulsão de seus atuais moradores! Isso demonstra-nos que os israelitas não somente passaram pela terra, mas eles, ao passarem eles também destruíam e desalojavam aos moradores locais, tomando assim o controle daquela região e fazendo daquele lugar a sua possessão e sua herança!

Finalizando, o relato nos informa ainda que: “E no mesmo tempo vos ordenei, dizendo: O IHVH vosso Elohim vos deu esta terra, para possuí-la; passai, pois, armados vós, todos os homens valentes, diante de vossos irmãos, os filhos de Israel. Tão-somente vossas mulheres, e vossas crianças, e vosso gado (porque eu sei que tendes muito gado), ficarão nas vossas cidades, que já vos tenho dado. Até que o IHVH dê descanso a vossos irmãos como a vós; para que eles herdem também a terra que o IHVH vosso Elohim lhes há de dar além do Jordão; então voltareis cada qual à sua herança que já vos tenho dado. Também dei ordem a Iehoshua no mesmo tempo, dizendo: Os teus olhos têm visto tudo o que o IHVH vosso Elohim tem feito a estes dois reis; assim fará o IHVH a todos os reinos, a que tu passarás. Não os temais, porque o IHVH vosso Elohim é o que peleja por vós” (Dt 3:18-22). As orientações a Iehoshua são muito claras no sentido de que Israel não abrigue dentro de si nenhum sentimento de temos contra seus inimigos. A palavra “temer” vem do termo hebraico yare´ que significa “temer, ter medo, reverenciar”. O inimigo precisa ser encarado como tal e não há necessidade de qualquer tipo de respeito por ele! As ordens são claras para derrota-los e isso deve ser feito custe o que custar! A ausência de temor deveria existir entre o povo justamente pelo motivo de que as batalhas de Israel não seriam travadas somente por eles, mas o Eterno é quem lutaria por eles! O Guerreiro de Israel se chama IHVH Elohim e é justamente nesse momento que o Criador de Israel se tornaria para eles aquilo que eles tanto necessitavam: a sua vitória sobre seus inimigos! É dito que o Eterno “peleja” por eles. A palavra “pelejar” vem do termo hebraico laham e significa “lutar, combater”. Nós sabemos que este combate é feito primeiro na eternidade e depois consumado em nosso mundo material, através do contato físico com o inimigo!

Assim o povo de Israel relembrou suas vitórias e recobrou um novo ânimo para poderem continuar em sua caminhada de vitórias rumo à terra prometida!

Que o Eterno nos ajude a seguirmos o exemplo de Israel a fim de podermos encarar nosso inimigo da forma correta: como alguém que já foi vencido e nada mais poderá contra os exércitos de D-us! É evidente essa vitória só é possível aos servos que são obedientes às ordens de seu IHVH!

Que nossa obediência nos conduza à vitória!

Baruch Há Shem!

Mário Moreno.

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