Mário Moreno/ setembro 26, 2017/ Parasha da semana

Haazinu

(Dêem ouvidos)

Dt 32.1–52 / II Sm 22:1-51 / Rm 10:17-11:12;12:19;15:9-10

        Na Parasha desta semana estaremos estudando o cântico de Moshe e suas implicações como a Palavra de D-us para o seu povo. Veremos como o Eterno colocou nos lábios de Moshe diversas determinações que haverão de nortear toda a nação no futuro.

        Este discurso tem início com as seguintes palavras: “Inclinai os ouvidos, ó céus, e falarei; e ouça a terra as palavras da minha boca. Goteje a minha doutrina como a chuva, destile a minha palavra como o orvalho, como chuvisco sobre a erva e como gotas de água sobre a relva” (Dt 32:1-2). A palavra “falarei” vem do termo hebraico dabar e significa “falar, declarar, conversar, ordenar, prometer, advertir”. Já a palavra “palavras” vem do termo hebraico emor que significa “discurso, palavra”. A diferença entre estes dois termos é que dabar nos fala de uma conversa entre duas partes; já emor nos fala de alguém proferindo um discurso e a outra parte é simplesmente a ouvinte. No primeiro caso presenciaremos um diálogo; depois um discurso.

Moshe falando pelo IHVH diz: “Goteje a minha doutrina como a chuva” onde a palavra “doutrina” vem do termo hebraico leqah que significa “aprendizagem”. Aquilo que modernamente chamamos de “doutrina” a Torah nos diz ser “aprendizagem”, ou seja, é fruto de palavras que são ministradas, compreendidas e assimiladas voluntariamente, gerando assim uma nova vida. Os ensinamentos do Eterno são vistos aqui como a chuva, que caem lentamente a fim de regarem o solo seco trazendo assim nova vida.

A continuidade das palavras de Moshe complementa este pensamento dizendo: “Porque apregoarei o nome do IHVH; engrandecei a nosso Elohim. Ele é a Rocha, cuja obra é perfeita, porque todos os seus caminhos justos são; Elohim é a verdade, e não há nele injustiça; justo e reto é. Corromperam-se contra ele; não são seus filhos, mas a sua mancha; geração perversa e distorcida é” (Dt 32:3-5). Moshe fala sobre “apregoar” o nome do IHVH. A palavra que define o Eterno aqui é IHVH e isso nos mostra a importância deste nome em especial que traz uma conotação profética sobre cada ato do povo e da nação. Ele também fala sobre “engrandecer a nosso D-us”. Aqui a outra palavra que define o Eterno vem do termo hebraico Elohim, o que significa que a nação deveria dar crédito Aquele que era de fato o seu Criador! O IHVH é chamado de “rocha” e esta palavra no hebraico é tsûr e significa “rocha, maciço rochoso”. É dito também que os caminhos do IHVH são justiça. A palavra “justiça” vem do termo hebraico mishpat que significa “justiça, ordenança, costume, maneira”. Esta palavra “caminhos” na Escritura indica o nosso viver diário e quando Moshe nos informa que tais caminhos são “justiça” ele nos fala sobre nosso dia a dia como um reflexo de nossa obediência às ordenanças, costumes, maneiras que nos foram (e são) ensinadas através da ministração da Torah!

Outro detalhe é que Moshe afirma: “El é a verdade”. A palavra que define o Eterno vem do termo hebraico El que significa “D-us, poderoso, forte”. Já a palavra “verdade” vem do termo hebraico emuna que significa “firmeza, fidelidade, constância”. Isso nos mostra que El – o poderoso, o forte – é também firme, fiel e constante em todos os seus atos e palavras! Já na Torah somos ensinados que o Eterno não muda! Este ensinamento vai contrapor-se ao ensino dos gregos que ensinam que os deuses deles têm uma personalidade muito parecida com a humana, sendo inclusive suscetíveis à mudanças, ataques de cólera, práticas que influenciam mal aos homens, etc… Isso já não acontece com o IHVH, que é aquilo que Ele mesmo faz manifesto em sua Palavra!

Torah: Chuva e orvalho

Moshe declara que a Torah, como a chuva, traz a vida, Moshe continuou: ‘Céu e terra serão testemunhas de que eu agora estou proclamando que a Torah é como a chuva.” Por que Moshe comparou a Torah com a chuva? Dentre os vários motivos, estão:

• Assim como a água é vital para a sobrevivência do universo, assim é a Torah.

• Assim como a chuva vem do alto, também recebemos a Torah dos Céus.

• A água é um purificador muito importante. Da mesma forma, a Torah purifica e eleva aqueles que a estudam e cumprem pelo mérito dos Céus.

  • Assim como a chuva não cria uma nova planta, mas apenas desenvolve e amadurece uma semente ou planta já existente, também a Torah desenvolve as sementes no coração da pessoa. (Uma pessoa deve primeiro dedicar seu coração e mente ao estudo de Torah, e então seus estudos serão frutíferos.)

    • Um judeu jamais se cansa de estudar Torah. Assim como os peixes vivem num ambiente aquático, porém continuam sedentos e procuram cada gota de chuva, assim a pessoa mergulhada em Torah deseja ouvir ainda outra explicação de Torah.

    Moshe também disse: “Minhas palavras gotejarão como orvalho.”
    Após comparar a Torah com a chuva, por que ele também a comparou ao orvalho?
    A chuva às vezes aborrece as pessoas. Incomoda viajantes nas estradas e as pessoas com barris de vinho abertos, cujo vinho poderia se estragar. Para não pensarmos que a Torah, também, às vezes torna as pessoas infelizes, Moshe explicou que não é este o caso. A Torah, a esse respeito, é como orvalho. Todos, sem exceção, se alegram ao ver o orvalho cair. Portanto, a Torah provoca apenas felicidade. Moshe disse aos judeus: “Assim como arrisquei minha vida quando permaneci quarenta dias no Monte Sinai entre os anjos, vocês também devem estar preparados para se sacrificarem pela Torah!” A declaração de Moshe também continha uma prece, que esta mensagem não deveria ser ignorada, mas entrar nos corações de Benê Yisrael: “Que meus ensinamentos sejam agradáveis a Benê Yisrael, como a chuva; que minhas palavras sejam bem aceitas por eles como o orvalho; como os ventos soprando nas campinas no outono; e como a chuva de primavera que irriga os campos no mês de Adar.” “Meus ensinamentos” refere-se à Torah Escrita; “minhas palavras” à Torah Oral.

Louvar o Nome de D’us

Moshe convoca o Povo a responder com Glória a D’us toda vez que ele menciona o nome de D’us. Moshe prefaciou a canção de Ha’azinu com o ensinamento: “Sempre que eu mencionar o nome de D’us, louvem-No respondendo ‘amén.’” Nossos Sábios aprenderam com este versículo que após cada bênção recitada no Bet Hamicdash, o povo deveria responder: “Bendito seja o Nome de Seu glorioso reino para todo o sempre.”
Nós também observamos a regra de “responder com uma bênção” – sempre que o chazan (cantor) no Bet Haknêsset menciona o Nome de D’us numa bênção, e quando escutamos um indivíduo recitar uma bênção.
Aquele que responde Amén a uma bênção é ainda mais notável que aquele que recitou a bênção. A obra de D’us é perfeita: todos Seus caminhos são absolutamente justos. No desenrolar da canção Moshe prenunciaria duros castigos se os judeus abandonassem a Torah. A pessoa pode aceitar a punição de boa vontade se estiver convencido de que a merece. Moshe, portanto, começou declarando a absoluta justiça dos caminhos de D’us.

Em contrapartida a isso, o homem passa por diversas “fases” durante sua vida e a pior delas é quando: “Corromperam-se contra ele; não são seus filhos, mas a sua mancha; geração perversa e distorcida é”. Aqui a palavra “corromper-se” vem do termo hebraico shahat e significa “destruir, corromper”. Na raiz da palavra temos também os significados de “cova, destruição”. Já a palavra “perversa” vem do termo hebraico iqqesh que significa “torto, desonesto, perverso”. A raiz da palavra enfatiza a perversão e a natureza tortuosa do pecado. Está relacionada com o árabe “aqasa”, “fazer tranças nos cabelos de uma mulher”, assim como as mulheres trançam seus cabelos, as pessoas torcem seus caminhos. Para finalizar, a palavra “distorcida” vem do termo hebraico petaltol e significa “tortuoso”; provém da raiz patal que significa torcer. Este verso é muito forte quando fala sobre a geração que escolheu não obedecer ao IHVH e preferiu destruir-se pela não observância da Torah! Com esta atitude eles “torceram” seus caminhos – seu viver diário – adotando um padrão que não estava de acordo com os ensinamentos do Eterno e isso fez com que eles recebessem consequências trágicas sobre suas vidas!

O comentário de Moshe sobre esta atitude é o seguinte: “Recompensais assim ao IHVH, povo louco e ignorante? Não é ele teu pai que te adquiriu, te fez e te estabeleceu?” (Dt 32:6). A palavra “recompensar” vem do termo hebraico gamal e significa “negociar, recompensar, amadurecer”. Ela tem o sentido de fazer o bem ou mal a alguém. A palavra que define o Etenro é IHVH e significa “Eu me torno aquilo que me torno” e a palavra “povo” vem do termo hebraico ´am que significa “povo, nação”; porém esta palavra é usada exclusivamente para o povo de Israel. Finalizando, a palavra “louco” vem do termo hebraico nabal e significa “ser insensato, tolo”. Enfatiza a pessoa que tem comportamento vil e vergonhoso, sendo um grosseirão rematado. É insensível à D-us e à moral e isso fecha sua mente para a razão. Então este verso nos indica que uma parte do povo de Israel resolveu tornar-se insensata, tola, agindo de tal forma que viesse a envergonhar Aquele que havia se tornado tudo o que eles haviam precisado até então. Esta atitude é atribuída como uma “recompensa” ao IHVH por tudo aquilo que Ele já vinha fazendo por seu povo! Eles fizeram o mal para quem somente lhes dera o bem!

Agora Moshe diz ao povo de Israel: “Lembra-te dos dias da antiguidade, atenta para os anos de muitas gerações: pergunta a teu pai, e ele te informará; aos teus anciãos, e eles te dirão. Quando o Altíssimo distribuía as heranças às nações, quando dividia os filhos de Adão uns dos outros, estabeleceu os termos dos povos, conforme o número dos filhos de Israel. Porque a porção do IHVH é o seu povo; Ia´aqov é a parte da sua herança” (Dt 32:7-9). Aos israelitas é dito que “lembrem-se dos dias passados…” Este retrocesso no tempo fará com que eles possam então recordar aquilo que já acontecera a muito tempo… No verso 8, nossa versão em português omite um termo hebraico, que antecede a palavra Altíssimo. O termo usado ali é qodesh e significa “ser consagrado, ser santo, ser santificado, consagrar, santificar, preparar, dedicar”. A palavra “altíssimo” vem do termo hebraico eliôn e significa “Altíssimo, alto, de cima, superior, mais alto, supremo”. Moshe lembra aos israelitas que um dia “O santo de cima”, Aquele que é superior à todos, O supremo, dividiu os filhos de Adão em países, nações, povos. Esta palavra “dividir” vem do termo hebraico parad e significa “separar, dividir”. Novamente somos informados que não houve “ocaso” ou “acidente” na formação de divisão das nações que originaram nosso mundo hoje! O Eterno é que trabalhou e realizou esta separação entre tais povos. A Torah ainda diz que o Eterno “estabeleceu os termos dos povos, conforme o número dos filhos de Israel”. A palavra “termos” vem do termo hebraico gebûl e significa “fronteira, limite, território”. Isso aconteceu levando-se em conta o número dos filhos de Israel! Ou seja, o Eterno primeiro pensou em Israel e lhes deu a sua herança conforme o número de habitantes que ali estariam; depois Ele então demarca as fronteiras de cada nação, pensando novamente no número de habitantes que cada uma delas teria!

O pensamento de Moshe continua quando ele diz: “Porque a porção do IHVH é o seu povo; Ia´aqov é a parte da sua herança”. A palavra “porção” vem do termo hebraico heleq e significa “parte de porção, território”. Com freqüência refere-se a parte de uma herança. A palavra que define o Eterno é IHVH e a palavra “povo” vem do termo hebraico ´am que significa “povo, nação”. Este termo é exclusivo para a nação de Israel. A palavra “herança” vem do termo hebraico nachala e significa “herança, legado, possessão”. Tem o sentido de receber uma propriedade que faz parte de uma possessão permanente e é resultado de uma sucessão hereditária. O IHVH dá a Moshe palavras muito exatas para definir que a parte que cabe ao Eterno, o lugar onde ele domina é justamente o seu povo Israel, e eles são tidos pelo Eterno como a sua possessão terrena, adquirida por direito de posse!

Como isso aconteceu? O relato a seguir nos dá esta informação: “Achou-o numa terra deserta, e num ermo solitário cheio de uivos; cercou-o, instruiu-o, e guardou-o como a menina do seu olho. Como a águia desperta a sua ninhada, move-se sobre os seus filhos, estende as suas asas, toma-os, e os leva sobre as suas asas, assim só o IHVH o guiou; e não havia com ele Elohim estranho. Ele o fez cavalgar sobre as alturas da terra, e comer os frutos do campo, e o fez chupar mel da rocha e azeite da dura pederneira. Manteiga de vacas, e leite de ovelhas, com a gordura dos cordeiros e dos carneiros que pastam em Basã, e dos bodes, com o mais escolhido trigo; e bebeste o sangue das uvas, o vinho puro” (Dt 32:10-14). O Eterno nos informa que Israel foi achado numa terá deserta – Egito – e dali foi retirado, sendo pelo IHVH instruído (recebendo a Torah) e sendo também guardado de todo o mal enquanto caminhavam, tendo como “cobertura” o D-us Eterno!

O texto nos informa que “assim só o IHVH o guiou”. A palavra que define o Eterno é IHVH e a palavra “guiou” vem do termo hebraico naha que significa “conduzir, guiar”. A raiz indica a ação de conduzir alguém pelo caminho direito. Isso somente foi possível porque o Eterno – que é o Criador de todas as coisas – tornou-se para seu povo o Guia e o Caminho correto a ser seguido em sua caminhada para Canaã! A sequência diz: “e não havia com ele Elohim estranho”. A palavra a seguir vem do termo hebraico el que significa “D-us, poderoso, forte”. Já a palavra “estranho” vem do termo hebraico nekar que significa “estrangeiro”. Ou seja, enquanto o povo peregrinava pelo deserto não houve outro ser sobrenatural entre o povo de Israel que não fosse o verdadeiro El, pois os El´s estrangeiros nada poderiam fazer por este povo! Somente um é o verdadeiro El e este é justamente o El de Israel!

Moshe continua falando sobre as “reações” de Israel para com o Eterno: “E, engordando-se Jesurum, deu coices (engordaste-te, engrossaste-te, e de gordura te cobriste) e deixou a Eloah, que o fez, e desprezou a Rocha da sua salvação” (Dt 32:15). A palavra Jesurum vem do termo hebraico ieshurûn e significa “correto, observador da lei”. Em sua raiz está a palavra iesharâ que significa “retidão”. Moshe mostra a Israel que eles eram retos, corretos, observadores da Torah e que essa postura um dia acabou e eles voltaram-se então contra o Eterno! Ele diz que eles “deixaram a D-us”. Aqui a palavra D-us vem do termo hebraico Eloah que significa “D-us”. A raiz desta palavra tem o sentido de “temor”. E há ainda mais, pois eles “deixaram a rocha de sua salvação”. Duas coisas devem ser destacadas aqui: a primeira é que a palavra “rocha” vem do termo hebraico tsûr e significa “rocha, maciço rochoso”. É interessante que este “maciço rochoso” funcionava na antiguidade como um sólido alicerce, impedindo qualquer construção de correr qualquer risco de desabar! A palavra salvação vem do termo hebraico Ieshua que significa “O IHVH salva”. Quando eles agiram de forma a desprezarem a Torah eles estavam também deixando de crer naquele que seria o cumprimento da promessa feita pelo próprio D-us: O Mashiach! Este homem que viria chamou-se Ieshua! É interessante como a Torah traz exatamente o sentido daquilo que o Eterno planejou para a vida do homem! E quando nós cremos nesta palavra, então poderemos ver e usufruir daquilo que é a realidade do cumprimento profético da Palavra!

Este “abandonar” ao IHVH consistia também de: “Com deuses estranhos o provocaram a zelos; com abominações o irritaram. Sacrifícios ofereceram aos demônios, não a Elohim; aos deuses que não conheceram, novos deuses que vieram há pouco, aos quais não temeram vossos pais. Esqueceste-te da Rocha que te gerou; e em esquecimento puseste o Elohim que te formou” (Dt 32:16-18). Esta atitude “provocou” ao Eterno. A palavra “provocar” em hebraico é ka´as e significa “estar irritado, indignado, irado, enfurecido, magoado, desgostoso; provocar à ira”. Já a palavra “zelo” vem do termo hebraico qana e significa “ter ciúme, ter inveja, ter zelo”. Os israelitas quando “trocaram” o IHVH por deuses estranhos desencadearam um processo de irritação, indignação, fúria no IHVH. E isso aconteceu justamente por causa desta atitude que fez com que o Eterno ficasse magoado com seu povo sentindo assim ciúmes daqueles que Ele mesmo tratara e cuidara até agora! Certamente isso pareceria incompatível com o IHVH, mas não é, pois Ele também tem sentimentos que demonstram o amor que Ele sente por seu povo! Isso aconteceu porque os israelitas introduziram em seu viver diário abominações! Esta palavra vêm do termo hebraico tô´ebâ e significa “costume abominável, coisa abominável”. Ou seja, os falsos deuses eram tidos aos olhos do IHVH como um costume abominável, trazendo sobre os israelitas graves consequências! A Torah diz que eles ofereceram sacrifícios a demônios e não a D-us! Aqui temos um trocadilho proveniente das palavras Eloah e Elohim. A palavra Eloah foi traduzida por “demônios” que significa deus. A raiz desta palavra tem o sentido de “temor”. Já a palavra D-us veio do termo hebraico Elohim que significa “D-us Criador”! Isso significa que os israelitas ofereceram sacrifícios à deuses que passavam agora a temer – porém feitos por mãos humanas – e não estavam reconhecendo ao seu Criador – Elohim – este sim, merecedor de toda a honra e de todo o crédito por aquilo que foi e estava sendo feito entre eles!

A reação do Eterno é imediata e suas atitudes são descritas de maneira muito forte: “O que vendo o IHVH, os desprezou, por ter sido provocado à ira contra seus filhos e suas filhas; e disse: Esconderei o meu rosto deles, verei qual será o seu fim; porque são geração perversa, filhos em quem não há lealdade. A zelos me provocaram com aquilo que não é Elohim; com as suas vaidades me provocaram à ira: portanto eu os provocarei a zelos com o que não é povo; com nação louca os despertarei à ira. Porque um fogo se acendeu na minha ira, e arderá até ao mais profundo do inferno, e consumirá a terra com a sua colheita, e abrasará os fundamentos dos montes. Males amontoarei sobre eles; as minhas setas esgotarei contra eles. Consumidos serão de fome, comidos pela febre ardente e de peste amarga; e contra eles enviarei dentes de feras, com ardente veneno de serpentes do pó. Por fora devastará a espada, e por dentro o pavor; ao jovem, juntamente com a virgem, assim à criança de peito como ao homem encanecido” (Dt 32:19-25). Este parágrafo nos fala sobre as atitudes do Eterno:

  1. Desprezo aos seus filhos;
  2. Esconderia deles o seu rosto;
  3. Provocaria Israel a zelos com outras nações;
  4. Males viriam contra eles;
  5. Seriam consumidos pela fome, pela febre ardente e pela peste amarga;
  6. Seriam feridos no corpo físico e em sua alma.

Estas coisas por si só já são muito graves, porém a mais grave estava ainda por vir: “Eu disse: Por todos os cantos os espalharei; farei cessar a sua memória dentre os homens” (Dt 32:26). Esta palavra novamente retoma o caminho que o Eterno usaria para levar seu povo a estar em todo o mundo! Já que eles não estavam dispostos a obedecer-lhe, então certamente o Eterno disporia de outras maneiras para que o mundo pudesse ser alcançado pela sua Palavra! E isso seria feito espalhando-se os israelitas por todo o mundo!

Isso aconteceu porque os israelitas se portaram de forma tal que agiram de acordo com os seus próprios padrões e movidos pelo seu sentimento naquele momento! “Porque são gente falta de conselhos, e neles não há entendimento. Quem dera eles fossem sábios! Que isto entendessem, e atentassem para o seu fim! (Dt 32:28-29). Aqui o Eterno muda a terminologia para com Israel, pois a palavra “gente” vem do termo hebraico goi que significa “povo, nação, raça”. Esta palavra é usada para falar sobre os gentios. Há também a palavra “entendimento” que provém do termo hebraico tebunâ e significa “entendimento”. Esta palavra refere-se ao objeto do conhecimento quando se obtém entendimento. Isso significa que, novamente, os israelitas trataram de se utilizar dos antigos padrões aprendidos no Egito e deixaram os padrões que lhes foram dados e deveriam ter sido aprendidos enquanto caminhavam pelo deserto!

Agora o Eterno expõe a sua “lógica” dizendo: “Como poderia ser que um só perseguisse mil, e dois fizessem fugir dez mil, se a sua Rocha os não vendera, e o IHVH os não entregara? Porque a sua rocha não é como a nossa Rocha, sendo até os nossos inimigos juízes disto” (Dt 32:30-31). Enquanto o povo de Israel obedecia ao Eterno, Ele sempre tinha condições de realizar atos de livramento inacreditáveis! Uma destas circunstâncias é a descrita acima, quando um homem colocaria em fuga a mil homens e dois fariam o mesmo com dez mil! Moshe afirma que se Aquele que é a rocha – o IHVH – não fizesse isso, nada poderia acontecer! A palavra que define o Eterno aqui é IHVH e define a situação: o Eterno se tornaria como o Valente que, através de um homem traria a ruína e a derrota a mil do exército contrário! É como se o Eterno tornasse aquela pessoa tão grandiosa que os mil inimigos ficariam atônitos e temerosos de tal forma que seriam então derrotados por um único homem! Esta sempre foi e ainda é a metodologia de ação do IHVH para com aqueles que o obedecem!

Esta forma de agir demonstra aos israelitas que não precisavam atuar de forma a vingarem-se de seus inimigos, pois quem faria isso seria justamente o IHVH e algumas vezes Ele os usaria para que tal vingança pudesse acontecer! “Minha é a vingança e a recompensa, ao tempo que resvalar o seu pé; porque o dia da sua ruína está próximo, e as coisas que lhes hão de suceder, se apressam a chegar. Porque o IHVH fará justiça ao seu povo, e se compadecerá de seus servos; quando vir que o poder deles se foi, e não há preso nem desamparado. Então dirá: Onde estão os seus deuses? A rocha em quem confiavam, de cujos sacrifícios comiam a gordura, e de cujas libações bebiam o vinho? Levantem-se, e vos ajudem, para que haja para vós esconderijo” (Dt 32:35-38). O Eterno dá início dizendo: “Minha é a vingança e a recompensa”! A palavra “vingança” vem do termo hebraico naqan e significa “vingar-se, ser vingado”. Já a palavra “recompensa” vem do termo hebraico shillem e significa “recompensa”. Em sua raiz está a palavra shalom que significa “paz, prosperidade, bem, saúde, inteireza, segurança”. Também vem de shelem que significa “perfeito, inteiro, completo”. Fica claro e notório que o Eterno se vingaria daqueles cujas atitudes fossem contrárias à sua Torah. E isso lhes traria como recompensa algo inteiro, completo, pleno, porém não pelo lado positivo, mas sim pelo negativo! Caso eles fossem obedientes, as coisas positivas apresentadas na raiz das palavras os alcançariam; caso contrário, viriam as negativas. O Eterno ainda diz que fará justiça a seu povo! Esta afirmação está plenamente de acordo com a personalidade do Eterno em todos os seus atos, pois justiça significa que Ele agirá de acordo com a obediência ou não de seu povo!

O Eterno pergunta então a estas pessoas: “Onde estão os seus deuses? A rocha em quem confiavam, de cujos sacrifícios comiam a gordura, e de cujas libações bebiam o vinho? Levantem-se, e vos ajudem, para que haja para vós esconderijo”. Os deuses das nações nada poderiam fazer por aqueles que neles criam! Isso não é uma incoerência? Onde está o tão poderoso Elohim que exigia sacrifícios e outras dádivas a fim de realizar aquilo que os homens lhes pediam? Agora, diante do IHVH – IHVH – tais deuses nada são e nada poderão fazer, pois quando aparece O Criador, todos os outros são reduzidos a nada!

Tais palavras são verdadeiras e tornam-se ainda mais fortes quando provêm da boca do próprio D-us: “Vede agora que eu, eu o sou, e mais nenhum Elohim há além de mim; eu mato, e eu faço viver; eu firo, e eu saro, e ninguém há que escape da minha mão. Porque levantarei a minha mão aos céus, e direi: Eu vivo para sempre. Se eu afiar a minha espada reluzente, e se a minha mão travar o juízo, retribuirei a vingança sobre os meus adversários, e recompensarei aos que me odeiam. Embriagarei as minhas setas de sangue, e a minha espada comerá carne; do sangue dos mortos e dos prisioneiros, desde a cabeça, haverá vinganças do inimigo. Jubilai, ó nações, o seu povo, porque ele vingará o sangue dos seus servos, e sobre os seus adversários retribuirá a vingança, e terá misericórdia da sua terra e do seu povo” (Dt 32:39-43). Estas são palavras fortes e carregadas de autoridade, colocando-se assim cada um em seu lugar: O Eterno como o Criador de todas as coisas e Aquele que tem o direito de fazer aquilo que Ele achar melhor e os outros deuses ocupando simplesmente um lugar “decorativo”, pois quando o Eterno se propõe a agir nada nem ninguém certamente pode interferir no cumprimento de sua vontade! O Eterno fala sobre vingança e recompensa aos que lhe são como e também aos que o odeiam. Certamente é impossível ser adversário do próprio D-us! Mas o que Ele quis dizer com isso? Quando nos lembramos que Israel representa o Eterno na terra então entendemos o que esta palavra quer dizer! Todos aqueles que, de alguma forma, se levantam contra Israel fazem-se adversários do IHVH! E quanto ao ódio? Funciona da mesma forma, pois é muito difícil odiar-se aquilo – ou Aquele – que não vemos nem conhecemos! Todo sentimento precisa de um objeto ou alvo para sr a ele dirigido! No caso do ódio devemos nos lembrar que tac sentimento é quase o final de uma cadeia deles, que tem início com a ira, que se transforma em raiva e que gera o ódio! Isso não acontece do dia para a noite, mas é um processo às vezes longo e que, quando chega ao ódio tem a tendência de manifestar-se com atitudes violentas que são o ápice deste sentimento!

Moshe agora termina de dizer estas palavras com um conselho: “E veio Moshe, e falou todas as palavras deste cântico aos ouvidos do povo, ele e Iehoshua, filho de Num. E, acabando Moshe de falar todas estas palavras a todo o Israel, disse-lhes: Aplicai o vosso coração a todas as palavras que hoje testifico entre vós, para que as recomendeis a vossos filhos, para que tenham cuidado de cumprir todas as palavras desta lei. Porque esta palavra não vos é vã, antes é a vossa vida; e por esta mesma palavra prolongareis os dias na terra a qual, passando o Jordão, ides a possuir” (Dt 32:44-47). O conselho é que o povo de Israel obedeça a estas palavras, fale aos seus filhos (ensino) e tenham cuidado para cumprir todas as palavras da Torah! Isso demonstra a importância dada à este conjunto de escritos que agora Moshe finaliza. Mas qual seria o motivo para isso ser assim? Moshe declara que esta palavra – a Torah – é a vida do povo de Israel! Moshe diz ao povo que da Torah emana vida que traria sobre eles a longevidade ainda na terra e isso certamente lhes daria mais tempo para ensinarem aos seus descendentes quão bom é obedecer ao IHVH!

Agora, chega o grande momento da vida de Moshe: “Depois falou o IHVH a Moshe, naquele mesmo dia, dizendo: Sobe ao monte de Abarim, ao monte Nebo, que está na terra de Moabe, defronte de Jericó, e vê a terra de Canaã, que darei aos filhos de Israel por possessão. E morre no monte ao qual subirás; e recolhe-te ao teu povo, como Aharon teu irmão morreu no monte Hor, e se recolheu ao seu povo. Porquanto transgredistes contra mim no meio dos filhos de Israel, às águas de Meribá de Cades, no deserto de Zim; pois não me santificastes no meio dos filhos de Israel. Pelo que verás a terra diante de ti, porém não entrarás nela, na terra que darei aos filhos de Israel” (Dt 32:48-52). O Eterno continua usando com Moshe a mesma forma de agir, pois está escrito: “Depois falou o IHVH a Moshe”. A palavra “falou” vem do termo hebraico dabar que significa “falar, declarar, conversar, ordenar, prometer, advertir”. Já a palavra que define o Eterno vem do termo hebraico IHVH! Isso significa que houve uma conversa amistosa entre Moshe e Aquele que se tornaria aquilo que ele precisa! E aquilo que Moshe precisa agora é justamente morrer! Sendo assim o Eterno agora diz a ele que suba ao monte e morra, pois ali ele seria recolhido ao seu povo e finalmente descansaria com os seus!

É incrível como o Eterno conduziu a vida de seus servos a fim de que, até mesmo na hora de sua morte, nada acontecesse de forma brusca ou desenfreada. Moshe obedecerá e morrerá tranqüilo, indo então reunir-se aos outros judeus justos já mortos até então!

Assim termina nossa Parasha com uma grande lição a ser aprendida: quando somos obedientes ao Eterno, até mesmo no momento de nossa morte, Ele haverá de fazer com que tudo transcorra muito bem e não haverá necessidade de quaisquer preocupações, pois até mesmo neste momento o Eterno estará conosco nos recolhendo para junto dos nossos!

Que assim seja esse cumpra!

Baruch Há Shem!

Mário Moreno