Parasha Shelac
Shelac
Envia
Nm 13.1–15.41 / Js 2:1-24 / Hb 3:7-4:11
Na Parasha desta semana estaremos analisando o relato dos espias enviados a Canaã para observarem a terra e a forma como eles relataram aquilo que haviam visto; veremos também a reação do Eterno para com a postura deles e as instruções sobre como ofertar quando estiverem na terra.
O nosso texto tem início com as seguintes palavras: “E falou o IHVH a Moshe, dizendo: Envia homens que espiem a terra de Canaã, que eu hei de dar aos filhos de Israel; de cada tribo de seus pais enviareis um homem, sendo cada um príncipe entre eles. E enviou-os Moshe do deserto de Parã, segundo a ordem do IHVH; todos aqueles homens eram cabeças dos filhos de Israel” (Nm 13:1-3). Há aqui o início de um diálogo entre D-us e Moshe, pois a palavra “falou” vem do termo hebraico dabar e significa “falar, declarar, conversar, ordenar, prometer, advertir”. Já a palavra que define o Eterno vem do termo hebraico IHVH e significa literalmente “Eu me torno aquilo que me torno”. Ou seja, Aquele que se torna a solução e o preenchimento das necessidades de seu povo conversa amigavelmente com Moshe e lhes ordena uma série de padrões e ensinamentos que certamente lhes trará grandes bênçãos e determinará seu futuro na terra de Canaã.
A ordem aqui é enviar homens para espiar a terra. A palavra “enviar” vem do termo hebraico shalah que significa “enviar, mandar embora, soltar, espalhar, disseminar”. Quando lemos o restante do texto compreendemos que os espias saíram de dois a dois para lugares diferentes; eles não foram todos juntos para o mesmo lugar, porém quase todos tiveram a mesma impressão sobre a terra e sobre o povo que ali residia. A palavra “tribos” vem do termo hebraico matteh, e significa “vara, bordão, haste, tribo”. A vara é um símbolo da liderança e da autoridade conferida a alguém! Isso significa que aqueles homens não eram simples pessoas de entre as tribos que foram aleatoriamente escolhidos e então enviados. Cada um deles possuía um alto grau de autoridade em sua tribo e representava os interesses daqueles que eram seus parentes. Estas pessoas foram enviadas assim: “E enviou-os Moshe do deserto de Parã, segundo a ordem do IHVH”. Aqui temos algo interessante: a palavra “ordem” vem do termo hebraico pê que significa simplesmente “boca”! Já a palavra que define o Eterno vem do termo hebraico IHVH e significa literalmente “Eu me torno aquilo que me torno”. Isso significa que foi a boca do Eterno que escolheu estas pessoas para que ali estivessem e pudessem receber a revelação do Eterno sobre Canaã.
Quando lemos os nomes dos enviados e depois comparamos com o relato sobre a terra entendemos o porque de algumas coisas estarem acontecendo hoje com o povo de D-us! Leiamos então com atenção: “E estes são os seus nomes: Da tribo de Rúben, Samua, filho de Zacur; da tribo de Simeão, Safate, filho de Hori; da tribo de Iehuda, Calebe, filho de Jefoné; da tribo de Issacar, Jigeal, filho de José; da tribo de Efraim, Oséias, filho de Num; da tribo de Benjamim, Palti, filho de Rafu; da tribo de Zebulom, Gadiel, filho de Sodi; da tribo de José, pela tribo de Manassés, Gadi filho de Susi; da tribo de Dan, Amiel, filho de Gemali; da tribo de Aser, Setur, filho de Micael; da tribo de Naftali, Nabi, filho de Vofsi; da tribo de Gade, Geuel, filho de Maqui. Estes são os nomes dos homens que Moshe enviou a espiar aquela terra; e a Oséias, filho de Num, Moshe chamou Iehoshua” (Nm 13:4-16). Esta “listagem” merece dois destaques: o verso 6, onde fala-se sobre Calebe, da tribo de Iehuda e o verso 8 onde fala-se sobre Oséias da tribo de Efraim. O verso 16 nos informa que o nome de Oséias foi mudado por Moshe para Iehoshua. Mas, o que isso tem a ver conosco hoje? Estes dois homens foram os que retornaram com as “boas notícias”, pois eles conseguiram ver aquilo que os demais não viram: que o Eterno lhes daria a terra que de antemão lhes fora prometida! Estes dois homens representam os dois pólos do povo de Israel hoje: Iehuda representa o moderno Israel, que é oriundo da dispersão acontecida no ano 70 d.C. e que veio a reunir-se novamente em 1948 quando renasce o Estado de Israel. Já Efraim representa as 10 tribos perdidas que foram dispersas no cativeiro Assírio em 722 a. C., quando o rei Salmaneser V levou o povo cativo para a Assíria. Não há relato histórico do retorno do povo! Aqui deu-se a “pulverização” do povo de Israel entre os gentios e um conseqüente processo de assimilação do povo de Israel aos usos e costumes gentios. A única maneira de distingui-los dos gentios: o sobrenome!
As instruções foram muito claras quanto ao que deveria ser feito enquanto eles ali estivessem: “Enviou-os, pois, Moshe a espiar a terra de Canaã; e disse-lhes: Subi por aqui para o lado do sul, e subi à montanha: e vede que terra é, e o povo que nela habita; se é forte ou fraco; se pouco ou muito. E como é a terra em que habita, se boa ou má; e quais são as cidades em que eles habitam; se em arraiais, ou em fortalezas. Também como é a terra, se fértil ou estéril; se nela há árvores, ou não; e esforçai-vos, e tomai do fruto da terra. E eram aqueles dias os dias das primícias das uvas” (Nm 13:17-20). As instruções abrangiam todos os aspectos de uma completa “espionagem”, e o relatório deveria ser de tal forma completo que falaria sobre a terra, o povo e as cidades. A época em que eles foram para ali enviados era a das primícias das uvas! Tal época é conhecida em Israel como Shavuot – esta é a época do princípio da colheita – e essa época é entre o fim do mês de junho e o princípio de julho!
Os espias então foram e obedientemente observaram a terra e retornaram com o relatório. “Assim subiram e espiaram a terra desde o deserto de Zim, até Reobe, à entrada de Hamate. E subiram para o lado do sul, e vieram até Hebrom; e estavam ali Aimã, Sesai e Talmai, filhos de Enaque (Hebrom foi edificada sete anos antes de Zoã no Egito). Depois foram até ao vale de Escol, e dali cortaram um ramo de vide com um cacho de uvas, o qual trouxeram dois homens, sobre uma vara; como também das romãs e dos figos. Chamaram àquele lugar o vale de Escol, por causa do cacho que dali cortaram os filhos de Israel. E eles voltaram de espiar a terra, ao fim de quarenta dias” (Nm 13:21-25). Algo que os israelitas observaram foi um tipo de povo que é conhecido como “os filhos de Enaque”. A palavra filhos vem do termo hebraico yalid e significa “nascido, crianças, filhos”. Já a palavra “enaque” vem do termo hebraico anaq e significa “pescoço”; também colar. Mas, por que esta palavra foi traduzida por “gigantes”? Certamente isso deve-se ao sentido que ela sugere, pois algumas das pessoas que ali viviam deveriam ter o pescoço alongado – como acontece em algumas tribos da África – e isso certamente causou uma grande “surpresa” aos espias! Se isso aconteceu, é certo também que tais pessoas tivessem uma estatura avantajada, pois teriam ossos mais longos e seriam mais altos que os homens considerados “normais”. Até mesmo as crianças pareceriam maiores para os israelitas que estavam ali para observarem cada detalhe da terra! Esta época era de colheita e eles trouxeram três tipos de frutos da terra: uvas, romãs e figos! Mas, porque trouxeram apenas três frutos? Não existiriam ali outros diferentes destes? Certamente que sim! Mas o três nos fala de algo que atinge o homem de forma plena – corpo, alma e espírito – e isso também nos remete às três manifestações do Eterno – O Pai, o Filho e o Espírito – o que nos mostra que os israelitas receberiam a terra como herança e isso lhes acrescentaria em todas as áreas de sua vida, assim como também entendemos que a terra lhes foi dada pelo Eterno em colaboração com os demais membros co-Eternos que com Ele trabalham! O tempo que ali ficaram também nos fala de algo: quarenta dias! O número quarenta na Escritura nos fala sobre provação e foi justamente isso que aconteceu com os espias ali, pois neste tempo suas convicções quanto ao que o Eterno lhes dissera foram fortemente provadas e somente no caso de dois homens se mantiveram firmes! Os demais não passaram no teste!
Os judeus pedem a Moshê que envie espiões a Israel
O povo judeu estava agora num local a sudoeste de Israel. Sabiam que em breve subiriam a montanha localizada na fronteira de Israel.
Acotovelando-se animadamente, aproximaram-se de Moshê com um pedido. A única tribo que não juntou-se à multidão foi a de Levi.
“Deixe-nos enviar espiões à nossa frente,” pediu o povo a Moshê, “para investigar a Terra. Aconselhar-nos-ão sobre a rota a ser tomada. Também nos informarão quais cidades podem ser facilmente conquistadas, para que saibamos onde atacar primeiro.”
É óbvio que não necessitavam de espiões para reconhecer a Terra. A Nuvem de Glória e a Arca de D’us viajavam na frente do povo. Preparavam o caminho para o povo, e indicavam para onde ir.
Os judeus, portanto, citaram vários argumentos a fim de convencer Moshê da necessidade de exploradores.
“D’us prometeu levar-nos à Terra repleta de tudo de bom e bens preciosos,” disseram-lhe. “Antes de nossa chegada, os canaanitas com certeza esconderão de nós todos os bens valiosos. Por isso, é uma boa ideia enviar agentes secretos para observar os habitantes e investigar seus esconderijos secretos.
“Mais que isso, D’us prometeu expulsar os habitantes de Canaã aos poucos. Precisamos decidir quais cidades atacar e conquistar primeiro. Os espiões também averiguarão a língua nativa. Se soubermos sua língua, podemos ser treinados para espioná-los durante a guerra, a fim de descobrir suas estratégias.”
O povo judeu, na verdade, queria enviar espiões por causa das dúvidas que rondavam sua cabeça:
- Apesar de D’us ter-lhes assegurado que Israel era uma terra boa, ninguém daquela geração a tinha visto. Não estavam convencidos de que a terra era especial o bastante para garantir uma guerra de grandes proporções (a guerra da época de Iehoshua durou sete anos). Os judeus queriam confirmação através de relatos de testemunhas oculares de que a Terra Prometida era de fato boa.
- Comparados aos numerosos e bem treinados exércitos das sete nações que habitavam Canaã, o povo judeu tinha apenas um punhado de guerreiros sem preparo algum. Como poderiam ousar enfrentar inimigo tão temido em terreno desconhecido, sem saber exatamente seu número, o poderio de seu exército, e outros detalhes relevantes ao combate?
D’us condenou o povo pela falta de fé em Sua palavra, proclamando, por conseguinte, que aquela geração não entraria em Israel.
A Tribo de Levi, todavia, não requisitara espiões, e nenhum espião desta tribo fora enviado, consequentemente, os leviyim entraram na Terra Prometida.
Quando Moshê ouviu o pedido do povo, replicou: “Jamais darei um passo antes de consultar D’us. Concordarei apenas se Ele sancionar seu plano.”
Moshê perguntou ao Todo Poderoso: “Consentes em enviar espiões à Canaã?”
“Se você assim o desejar,” respondeu D’us, “não o impedirei. Todavia, Moshê, envie espiões por você mesmo, não por Mim.”
Quando o dono do vinhedo percebeu que a vindima estava indo muito bem e que as uvas daquela safra resultariam em vinho doce e delicioso, ordenou a seus trabalhadores: “Tragam todas as uvas ao meu celeiro!”
Contudo, de outra vez, quando experimentou uvas de outra estação, percebeu que resultariam em vinho ácido. Portanto, disse aos trabalhadores: “Podem levar todas essas uvas aos seus próprios celeiros!”
Similarmente, D’us previu que os espiões não dariam certo, “azedariam”; por isso, não usou a frase: “Envie espiões para Mim” (como dissera, por exemplo, “Junte para Mim setenta homens; traga a Mim os leviyim”). Em vez disso, consentiu com as palavras: “Envie espiões por você mesmo.”
Apesar de D’us saber que os espiões falhariam em sua missão e trariam punição a à geração inteira, não os proibiu de viajarem a Israel por diversas razões. Dentre elas:
- Se recusasse o pedido dos israelitas, poderiam supor que a Terra não era verdadeiramente tão boa como Ele prometera. A profanação do Nome de D’us de acreditarem que o Todo Poderoso decepcionou-os era pior que a eventual punição da geração.
- Apesar do Todo Poderoso prever todos os eventos futuros, Ele concede livre arbítrio a cada um. Apesar da exigência dos judeus de enviar espiões estar errada, os espiões tinham a opção de trazer um relato positivo e tornar a missão um sucesso.
De fato, Moshê consultou D’us no que concerne a cada espião individualmente, se tratava-se ou não de um tsadic, e D’us confirmou acerca de cada um: “Ele é um indivíduo de valor.”
No princípio desta parashá, os espiões, são descritos como “anashim,” homens distintos, indicando que quando principiaram sua missão, ainda eram todos virtuosos.
Os doze homens escolhidos eram os doze melhores do povo.
Quando Moshê informou aos judeus que D’us concordara com a empreitada, esperava que o povo respondesse que não necessitavam de espiões. Afinal, o fato de que a permissão fora concedida significava que Israel deve ser uma boa Terra.
Moshê tinha esperança de que sua aquiescência dissuadisse o povo de insistir no pedido. Os sábios discorrem uma parábola:
Alguém quer comprar um asno, mas diz que quer primeiro testá-lo. O vendedor, entusiasmado, concorda. “Posso levá-lo tanto para montanhas como para vales?” – pergunta o comprador.
“Claro!” – responde o vendedor.
Vendo que o vendedor estava tão confiante na coragem e astúcia do animal, o comprador decide que não tem nada a temer, e não faz o teste. Compra o asno e fica muito satisfeito.
Da mesma forma, Moshê pensou que sua prontidão em concordar com o pedido do povo o convenceria de que não havia nada a temer.
Ele estava errado; eles queriam ouvir sobre a Terra da boca de seus iguais. Assim, Moshê enviou os espiões.
A resposta dos espias foi a seguinte: “E caminharam, e vieram a Moshe e a Aharon, e a toda a congregação dos filhos de Israel no deserto de Parã, em Cades; e deram-lhes notícias, a eles, e a toda a congregação, e mostraram-lhes o fruto da terra. E contaram-lhe, e disseram: Fomos à terra a que nos enviaste; e verdadeiramente mana leite e mel, e este é o seu fruto. O povo, porém, que habita nessa terra é poderoso, e as cidades fortificadas e mui grandes; e também ali vimos os filhos de Enaque. Os amalequitas habitam na terra do sul; e os heteus, e os jebuseus, e os amorreus habitam na montanha; e os cananeus habitam junto do mar, e pela margem do Jordão” (Nm 13:26-29). O relato é, no mínimo, desconcertante, pois os espias falam de um povo que habita na terra e que é poderoso! A palavra “poderoso” vem do termo hebraico ´az que significa “forte, poderoso, impetuoso”. Estas pessoas eram os “filhos de Enaque”. Certamente toda esta descrição demonstra somente aquilo que os espias viram! Não há relato de que eles conversaram ou sequer avaliaram o perfil psicológico daquelas pessoas! Eles somente estavam julgando por aquilo que eles tinham visto e nada mais!
A reação de Calebe é imediata e também, de certa forma, inesperada, pois agora ele se levanta para falar também sobre o que viu, mas especialmente sobre o que o Eterno lhes havia dito antes de irem à terra! “Então Calebe fez calar o povo perante Moshe, e disse: Certamente subiremos e a possuiremos em herança; porque seguramente prevaleceremos contra ela. Porém, os homens que com ele subiram disseram: Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós. E infamaram a terra que tinham espiado, dizendo aos filhos de Israel: A terra, pela qual passamos a espiá-la, é terra que consome os seus moradores; e todo o povo que vimos nela são homens de grande estatura. Também vimos ali gigantes, filhos de Enaque, descendentes dos gigantes; e éramos aos nossos olhos como gafanhotos, e assim também éramos aos seus olhos” (Nm 13:30-33). No relato de Calebe ele evoca aquilo que o Eterno já lhes havia dito e então coloca a sua fé num plano mais alto. Ele conhece as limitações de seu povo, mas também conhece as ilimitadas possibilidades do Eterno! Os demais espias agora dizem que o povo “é mais forte do que nós”. Aqui a palavra “forte” vem do termo hebraico hazaq que significa “ser (tornar-se) forte, fortalecer, prevalecer”. E então estes homens “E infamaram a terra que tinham espiado”. Aqui a palavra “infamar” vem do termo hebraico dibbâ que significa “difamação, relatório negativo, infâmia, calúnia”. Os demais espias julgaram que os habitantes de Canaã haviam se tornado mais fortes do que eles mesmos e por isso trouxeram um relatório negativo, caluniando assim a terra de Canaã! Um outro detalhe é que eles disseram sobre a terra que “é terra que consome os seus moradores”. Aqui a palavra “consome” vem do termo hebraico akal que significa “comer, consumir, devorar, queimar, alimentar”. O que eles entendiam é que, caso fossem para Canaã, a terra – através de seus moradores – os consumiria; seriam devorados e deixariam de existir! No final de seu relato dizem: “Também vimos ali gigantes, filhos de Enaque, descendentes dos gigantes; e éramos aos nossos olhos como gafanhotos, e assim também éramos aos seus olhos”. A palavra “gigantes” vem do termo hebraico nepîlîm e significa “gigantes”. A raiz napal significa “cair, prostrar-se, ser lançado fora, fracassar”. Os espias viram os “caídos” e deduziram que eles seriam vistos por eles como simples insetos! Eles tiveram tanto temor destes homens que imediatamente se colocaram como os perdedores e lhes conferiram a vitória! E nem mesmo ainda havia acontecido a batalha pela conquista da terra! Na realidade os inimigos a serem enfrentados já estavam derrotados; porém os israelitas não se deram conta disso e não estavam vislumbrando a sua vitória! Os inimigos de Israel – apesar de serem grandes – iriam cair diante deles, prostrarem-se e seriam levados a fracassar em seus intentos de resistir ao povo de D-us!
A volta dos espiões
Os espiões voltaram no quadragésimo dia, na noite de 9 de Av. Antes de entrarem em suas tendas, aproximaram-se da casa de estudos.
Viram Moshê, Aharon, o San’hedrin (Corte Suprema) e o povo estudando as leis de chalá (separar um pedaço de massa) e orlá (a proibição de ingerir frutos nos primeiros três anos após o plantio de uma árvore).
“Vocês não precisam estudar tais leis, que se aplicam somente em Israel,” disseram zombeteiramente ao povo. “Jamais conseguirão pô-las em prática.”
Os espiões despejaram seu discurso cuidadosamente preparado. Primeiro, elogiaram e louvaram Israel. Sabiam que suas perversas afirmações só seriam aceitas se primeiro dissessem a verdade.
“Achamos que Israel é uma terra extraordinariamente fértil, realmente,” principiaram. “A qualidade de que dela jorram o leite e o mel é literalmente verdade. As árvores estão carregadas de tâmaras doces e suculentas, das quais pinga o mel. As cabras têm tanto leite que o excesso flui ao chão. Assim, vimos verdadeiros riachos de leite e mel. Vejam os suculentos frutos que trouxemos.
“Agora, examinem os frutos de perto. Já viram uvas tão gigantescas? Não são estranhas? Bem, este país abriga habitantes monstruosos, exatamente como produz frutos monstruosos.
“É impossível conquistá-la, pois seus moradores são fortes, e as cidades fortificadas. Não podemos entrar por lado nenhum sem nos depararmos com temíveis inimigos. No sul vive Amalec…”
À mera menção do nome “Amalec”, o povo tremia.
Os espiões mencionaram Amalec primeiro (apesar dos canaanitas e emoritas serem mais fortes que Amalec), pois sabiam quanto temor este nome instilava no povo.
Os espiões continuaram: “Os canaanitas residem a leste e a oeste, e os emoritas e seus parentes, também poderosos guerreiros, nas montanhas, ao norte. Assim, todas as fronteiras estão cercadas por poderosas nações.”
Até aqui, os espiões não contaram nenhuma mentira abertamente. As cidades canaanitas eram, de fato, muito bem fortificadas, e os habitantes verdadeiramente poderosos. Também era verdade que havia gigantes entre eles. Contudo, a sugestão dos espiões, de que a Terra era impossível de ser conquistada não constituía um fato real, porém uma opinião pessoal. (Não lhes foi pedido que opinassem se a Terra era ou não conquistável. Se quisessem externar seus pontos de vista, deveriam tê-las mencionado a Moshê em particular.)
Os espiões continuaram: “Éramos pequenos como gafanhotos comparados a estes gigantes. Certa vez sentamos todos em uma casca de romã atirada por um deles. Sentimo-nos como gafanhotos!”
Ao ouvirem a descrição de “exércitos inimigos invencíveis”, o povo começou a perder a coragem. Por isso, Yehoshua levantou-se para contradizer as palavras dos espiões.
Os espiões, porém, não deixariam que desse voz a sua opinião.
“Quieto!”, gritaram. “Você não tem o direito de falar! Você tem filhas, mas não filhos. Você não teme que seus filhos sejam recrutados para o exército. Não queremos que nossos filhos sejam mortos!”
Calêv percebeu que deveria valer-se de um método diferente. Levantou-se sobre um banco e gritou de maneira provocativa: “Este foi o único ato que o Filho de Amram (Moshê) perpetrou para nós?”
Esperando que Calêv os apoiasse, os espiões silenciaram a multidão. As vozes aquietaram-se. Todos esperavam ansiosamente pela próxima sensação.
Obtendo atenção geral, Calêv concluiu: “Moshê fez muito mais! Ele não partiu o Mar Vermelho para nós? Não nos deu a maná? Por que estão com medo de conquistarem Canaã se Moshê assim ordenar? Moshê jamais nos iludiu ou induziu em erro. Se ele assim o diz, podemos prevalecer sobre nossos inimigos. Mesmo se a Terra estivesse situada nos próprios céus e Moshê nos obrigasse: ‘Construam escadas e subam até lá,’ deveríamos segui-lo. Nosso sucesso baseia-se em obedecê-lo, pois o que quer que Moshê diga é a vontade de D’us.”
Ao ouvirem as palavras de Calêv, os espiões apressaram-se em contradizê-lo.
“Não é como você está dizendo,” proclamaram. “Não podemos prevalecer sobre essas pessoas, pois são mais fortes que nós.”
A fim de impedir o povo de acreditar em Calêv, os espiões trataram de caluniar a Terra: “É uma Terra que devora seus habitantes,” clamaram falsamente. “É cheia de epidemias. Onde quer que passássemos, víamos pessoas morrendo. Uma vez que os habitantes são tremendamente fortes, não estavam morrendo de qualquer fraqueza física. Outrossim, o clima prejudicial da Terra destrói qualquer um que lá habite.”
Moshê retrucou: “Ouviram o que Calêv disse: Iehoshua também concorda com ele! Não deem ouvidos à maledicência dos outros espiões!”
Mas o povo não queria mudar de ideia. “São dez contra dois!” – disseram a Moshê. “Acreditamos nos dez espiões. Além disso, Iehoshua e Calêv não negaram que as cidades são fortificadas e que encontraram gigantes!”
Moshê, então argumentou: “Tudo o que eu já lhes disse não é invenção minha, mas uma ordem direta de D’us. Se estou prometendo que Ele os levará à Terra e destruirá todos seus inimigos, a garantia é do próprio D’us. Aquele que realizou todos estes milagres até agora continuará a operar milagres mesmo depois que vocês entrarem em Israel.”
Após o relato dos espias temos então a reação da congregação e do póvo quanto às notícias recebidas: “Então toda a congregação levantou a sua voz; e o povo chorou naquela noite. E todos os filhos de Israel murmuraram contra Moshe e contra Aharon; e toda a congregação lhes disse: Quem dera tivéssemos morrido na terra do Egito! ou, mesmo neste deserto! E por que o IHVH nos traz a esta terra, para cairmos à espada, e para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não nos seria melhor voltarmos ao Egito? E diziam uns aos outros: Constituamos um líder, e voltemos ao Egito” (Nm 14:1-4). Aqui a palavra “congregação” vem do termo hebraico edâ que significa “assembléia, congregação, povo, enxame, multidão”. Esta palavra diz respeito à totalidade do povo. Já a palavra “povo” vem do termo hebraico ´am que significa “povo, nação”. Este termo refere-se especificamente ao povo de Israel. A reação deles após o impacto inicial foi a de murmurar contra os seus líderes! A palavra “murmurar” vem do termo hebraico lûn que significa “murmurar, rebelar-se”. É o ato de dar vazão a sentimentos de insatisfação, ira ou aborrecimento mediante cochichos numa posição hostil aos líderes de D-us e à autoridade que lhes foi outorgada! Esta palavra nos fala sobre um princípio de rebelião que aconteceu “nos bastidores” para então manifestar-se e chegar aos ouvidos dos líderes de Israel. Esta palavra também nos fala sobre a forma como Ha Satan – O Adversário – deu início ao seu projeto de rebelião contra o Criador. Tudo aconteceu primeiro “nos bastidores” vindo depois à tona e causando uma divisão enorme nos exércitos celestiais.
Seria previsível que a reação de Moshe e Aharon se manifestaria de forma a reprimir de qualquer forma este tipo de atitude! Afinal, ali estavam pessoas que abertamente estavam se levantando contra eles e também contra o Senhor. Na atualidade, a Igreja trataria de “excluir” estes rebeldes para que não causassem danos ainda maiores no meio do povo!
Mas, estes dois homens reagem duma forma inesperada: “Então Moshe e Aharon caíram sobre os seus rostos perante toda a congregação dos filhos de Israel. E Iehoshua, filho de Num, e Calebe filho de Jefoné, dos que espiaram a terra, rasgaram as suas vestes. E falaram a toda a congregação dos filhos de Israel, dizendo: A terra pela qual passamos a espiar é terra muito boa. Se o IHVH se agradar de nós, então nos porá nesta terra, e no-la dará; terra que mana leite e mel. Tão-somente não sejais rebeldes contra o IHVH, e não temais o povo dessa terra, porquanto são eles nosso pão; retirou-se deles o seu amparo, e o IHVH é conosco; não os temais. Mas toda a congregação disse que os apedrejassem; porém a glória do IHVH apareceu na tenda da congregação a todos os filhos de Israel” (Nm 14:5-10). Os homens de D-us reagiram à rebelião buscando ao Senhor! Eles sabiam que a única solução para tal problema seria uma intervenção do Eterno entre o povo! Eles falam à essa mesma congregação enfurecida e lhes dizem para não serem rebeldes contra o Senhor! Na realidade a rebelião não estava sendo dirigida aos homens, mas sim Àquele que na realidade comandava aqueles homens: O Senhor! A palavra “rebelião” vem do termo hebraico marad que significa “ser rebelde, rebelar-se”. Em sua raiz está também a palavra Merodaque, que era o principal D-us da cidade de Babilônia! Este nome significa “D-us dos deuses” e anteriormente havia sido adorado com os nomes de Anu e Bel. Nós podemos então dizer que tal atitude está ligada a deuses pagãos que “incitam” o povo a rebelar-se contra o Eterno! Isso significa que a rebelião então vem de um espírito das trevas que tem por finalidade colocar o povo de D-us na mesma condição que Ha Satan e os seus seguidores ficaram quando fizeram isso contra o Senhor: exilados para sempre da presença e da glória de D-us! Então Iehoshua e Calebe falam à congregação palavras que demonstram mais uma vez sua fé e sua postura em meio aquela situação desagradável e caótica: “Tão-somente não sejais rebeldes contra o IHVH, e não temais o povo dessa terra, porquanto são eles nosso pão; retirou-se deles o seu amparo, e o IHVH é conosco; não os temais”. As palavras da congregação foram extremamente sérias e agressivas: eles queriam apedrejar seus líderes matando-os para que voltassem ao Egito! Aqui havia “unidade” entre todo o povo para fazerem o mal contra seus lideres! É incrível que, para fazerem o bem, raramente conseguem ter unidade em algo, mas quando é necessário fazer-se aquilo que desagrada ao Eterno as pessoas são levadas a se unirem em torno de uma causa comum e maligna! Porém, antes mesmo do povo conseguir seu objetivo – de matar seus líderes por apedrejamento – a glória do Eterno manifesta-se entre eles! A palavra “glória” vem do termo hebraico kabod e significa “glória, honra, honroso”. Já a palavra que define o Eterno vem do termo hebraico IHVH e significa literalmente “Eu me torno aquilo que me torno”. Agora Aquele que caminhara com o povo tornando-se a solução dos problemas do povo, agora manifesta-se de uma forma tão esplendida que o povo pára de fazer aquilo que queriam para ouvir o que o Eterno dirá agora!
As palavras do Eterno são muito fortes e incisivas quando Ele diz: “E disse o IHVH a Moshe: Até quando me provocará este povo? e até quando não crerá em mim, apesar de todos os sinais que fiz no meio dele? Com pestilência o ferirei, e o rejeitarei; e te farei a ti povo maior e mais forte do que este” (Nm 14:12). Aqui a palavra “provocar” vem do termo hebraico na´ats que significa “desprezar, rejeitar, abominar”. A palavra “povo” vem do termo hebraico ´am que significa “povo, nação”. Esta palavra é usada especificamente para designar o povo de Israel. A palavra “crer” vem do termo hebraico amam e significa “confirmar, sustentar, estabelecer-se, ser fiel, estar certo, crerem”. Temos ainda a palavra “sinal” que vem do termo hebraico ´ot e significa “sinal, marca, indício, insígnia, estandarte, milagre, prova advertência”. Temos aqui um típico caso de um povo que, deixado levar-se pelas circunstâncias, rebela-se e com essa atitude demonstra estar rejeitando ao Senhor! Devemos ainda dizer que o povo que faz isso é aquele que conhece ao Senhor, anda com Ele, tem acesso à suas leis e mandamentos! Sobre isso está dito que eles não creram, ou melhor, não confirmaram nem sustentaram as palavras que foram-lhes ensinadas e que lhes trariam vida – caso fossem obedecidas – mas que agora voltavam-se contra eles trazendo-lhes juízo! Este povo viu sinais, milagres, coisas esplêndidas que aconteceram entre eles, porém nada disso foi lembrado e nem por eles considerado!
A palavra de Moshe agora procura “convencer” o Eterno sobre não destruir aos rebeldes: “E disse Moshe ao IHVH: Assim os egípcios o ouvirão; porquanto com a tua força fizeste subir este povo do meio deles. E dirão aos moradores desta terra, os quais ouviram que tu, ó IHVH, estás no meio deste povo, que face a face, ó IHVH, lhes apareces, que tua nuvem está sobre ele e que vais adiante dele numa coluna de nuvem de dia, e numa coluna de fogo de noite. E se matares este povo como a um só homem, então as nações, que antes ouviram a tua fama, falarão, dizendo: porquanto o IHVH não podia pôr este povo na terra que lhe tinha jurado; por isso os matou no deserto” (Nm 14:13-16). O argumento de Moshe aponta para os estrangeiros e não para os israelitas, pois ele está agora dizendo que as nações haveriam de saber o ocorrido no deserto e diriam então que o Senhor não teria tido capacidade de cumprir sua promessa para com o povo de Israel! Isso certamente prejudicaria e muito o restante do desenvolvimento da própria nação e também a Palavra do Senhor não teria tanto crédito ante as nações!
Agora, Moshe argumenta com o Eterno em outros termos, dizendo: “Agora, pois, rogo-te que a força do meu Adonai se engrandeça; como tens falado, dizendo: O IHVH é longânimo, e grande em misericórdia, que perdoa a iniqüidade e a transgressão, que o culpado não tem por inocente, e visita a iniqüidade dos pais sobre os filhos até à terceira e quarta geração. Perdoa, pois, a iniqüidade deste povo, segundo a grandeza da tua misericórdia; e como também perdoaste a este povo desde a terra do Egito até aqui. E disse o IHVH: Conforme à tua palavra lhe perdoei. Porém, tão certamente como eu vivo, e como a glória do IHVH encherá toda a terra, e que todos os homens que viram a minha glória e os meus sinais, que fiz no Egito e no deserto, e me tentaram estas dez vezes, e não obedeceram à minha voz, não verão a terra de que a seus pais jurei, e nenhum daqueles que me provocaram a verá” (Nm 14:17-23). Primeiro, Moshe pede que “a força do Senhor se engrandeça”. Aqui a palavra “força” vem do termo hebraico kôah e significa “força, poder, habilidade, capacidade, poderio, solidez”. Já a palavra que define o Eterno vem do termo hebraico Adonai que significa o “Senhor”. Isso significa que Moshe espera que Aquele que é realmente o único Senhor possa confirmar seu poderio e sua capacidade poupando ao povo da morte naquele momento! Em segundo lugar temos estas palavras: “O IHVH é longânimo, e grande em misericórdia, que perdoa a iniqüidade e a transgressão”. Aqui a palavra que define o Eterno vem do termo hebraico IHVH e significa literalmente “Eu me torno aquilo que me torno”. Já a palavra “longânimo” vem do termo hebraico arek e significa “comprido”. Quando é traduzida por “longânimo” significa que “D-us tem a ira adiada”. A palavra “misericórdia” vem do termo hebraico hesed e significa “bondade, bondade amorosa, misericórdia”. A palavra “perdoar” vem do termo hebraico nasa que significa “erguer, carregar, tomar”. Finalmente, a palavra “iniqüidade” vem do termo hebraico avon e significa “iniquidade, culpa, castigo, castigo pela culpa”. Moshe aqui afirma que o Eterno (Aquele que se torna aquilo que precisamos) é tardio em se irar-se; Ele demonstra também por nós o amor prático em ação e Ele não quer que carreguemos sobre nós a culpa de nossas transgressões!
Em terceiro lugar temos a “reação do Senhor” quanto ao pedido de perdão feito por Moshe em nome do povo: “E disse o IHVH: Conforme à tua palavra lhe perdoei”. A palavra que define o Eterno é IHVH e a palavra “perdoar” vem do termo hebraico sallah e significa “pronto a perdoar, disposto a perdoar, perdoador”. Isso significa que a intersessão de Moshe deu certo! Agora o Eterno estava para tornar-se para o seu povo o perdão que eles necessitavam – caso houvesse arrependimento – e isso certamente mudaria a história deste povo! E finalmente temos: “Porém, tão certamente como eu vivo, e como a glória do IHVH encherá toda a terra, e que todos os homens que viram a minha glória e os meus sinais, que fiz no Egito e no deserto, e me tentaram estas dez vezes, e não obedeceram à minha voz, não verão a terra de que a seus pais jurei, e nenhum daqueles que me provocaram a verá”. Agora a conseqüência da desobediência é proclamada: aos “provocadores” – aqueles que encabeçaram o movimento de rebelião contra o Senhor – a estes será vedado o direito de ver a terra; não entrariam em Canaã!
O comentário acerca de Calebe tem um conteúdo um pouco diferente: “Porém o meu servo terra de Canaã! Isso significa que estas pessoas também morreriam no Calebe, porquanto nele houve outro espírito, e perseverou em seguir-me, eu o levarei à terra em que entrou, e a sua descendência a possuirá em herança” (Nm 14:24). Quando o Eterno fala sobre Calebe diz que houve nele um outro espírito! Aqui a palavra traduzida por “espírito” vem do termo hebraico ruach que significa “vento, sopro, espírito”. Isso reforça o que foi dito anteriormente que assim como a rebelião é algo que acontece a nível mental (lógico, com o apoio da razão, sendo portanto uma decisão consciente) e depois traz influências espirituais, assim acontece também com a obediência, que faz o mesmo processo e depois se manifesta como sendo uma orientação do Espírito de d-us sobre a vida do homem que assim escolhe. A sua opção trouxe influência não somente sobre ele, mas também sobre seus descendentes e sobre toda a nação de Israel!
A punição dos espiões e a recompensa de Calêv e Yehoshua
Os dez espiões que caluniaram a Terra morreram pouco tempo depois. Tiveram uma morte terrível. Por terem pecado com a língua, D’us alongou as línguas deles até chegarem ao ventre. Vermes rastejaram para fora de suas línguas, penetraram nos intestinos, e lhes causaram a morte.
Por que os espiões mereceram uma punição tão terrível?
- As pessoas deveriam aprender com a própria experiência; mas nem sempre o fazem. D’us disse: “Os espiões não podem usar a desculpa de que não perceberam a seriedade de lashon hará (maledicência). Todos sabiam da punição de Miriam por ter falado sobre seu irmão Moshê (conforme se encontra na parashá anterior). Mesmo assim, recusaram-se a aprender a lição. Falaram lashon hará sobre Mim e Israel.”
- Como foram punidos através de suas línguas, os judeus puderam observar seu castigo e aprenderam uma lição importante: se os espiões tiveram uma morte terrível por falar mal de uma terra, quanto mais deve-se ter cuidado para não falar mal de uma pessoa viva.
- Não foi concedido aos espiões a oportunidade de fazer teshuvá, pois incitaram o povo a pecar. Alguém que faz com que outros pequem é considerado muito mais culpado que aquele que peca sozinho.
Quando a Tribo de Iehudá recebeu seu território, sob a liderança de Iehoshua, Calêv recebeu o território nas cercanias de Hebron, por ordem Divina, como recompensa.
Iehoshua recebeu as porções do Mundo Vindouro que haviam sido reservadas aos espiões. A letra Iud (cujo valor numérico é dez) foi acrescida a seu nome original, Hoshea, indicando que mereceu a recompensa espiritual dos dez espiões.
Por que D’us deu a Iehoshua recompensa maior que a Calêv?
A magnitude da recompensa é proporcional à severidade da tentação. Calêv descendia de Iehudá, que tinha controle sobre sua língua. Era, portanto, naturalmente inclinado a resistir ao lashon hará, sem ter de esforçar-se muito. (Não obstante, rezou por ajuda dos Céus nos túmulos dos patriarcas, pois estava em má companhia, o que pode ser perigoso, mesmo para um tsadic.)
Iehoshua, por outro lado, era descendente de Iossef, que falou mal de seus irmãos a seu pai. Por isso, herdou uma fraqueza inerente no que tange a este pecado. Uma vez que lutou contra a tentação, sua recompensa foi proporcionalmente maior.
Quando os homens da geração ouviram o juramento do Todo Poderoso de que deveriam falecer no deserto, e ao testemunharem a morte dos espiões, lamentaram-se muito pelo seu pecado.
O Eterno continua falando sobre o povo dizendo: “Depois falou o IHVH a Moshe e a Aharon dizendo: até quando sofrerei esta má congregação, que murmura contra mim? Tenho ouvido as murmurações dos filhos de Israel, com que murmuram contra mim. Dize-lhes: Vivo eu, diz o IHVH, que, como falastes aos meus ouvidos, assim farei a vós outros. Neste deserto cairão os vossos cadáveres, como também todos os que de vós foram contados segundo toda a vossa conta, de vinte anos para cima, os que dentre vós contra mim murmurastes; não entrareis na terra, pela qual levantei a minha mão que vos faria habitar nela, salvo Calebe, filho de Jefoné, e Iehoshua, filho de Num. Mas os vossos filhos, de que dizeis: Por presa serão, porei nela; e eles conhecerão a terra que vós desprezastes. Porém, quanto a vós, os vossos cadáveres cairão neste deserto. E vossos filhos pastorearão neste deserto quarenta anos, e levarão sobre si as vossas infidelidades, até que os vossos cadáveres se consumam neste deserto. Segundo o número dos dias em que espiastes esta terra, quarenta dias, cada dia representando um ano, levareis sobre vós as vossas iniqüidades quarenta anos, e conhecereis o meu afastamento. Eu, o IHVH, falei; assim farei a toda esta má congregação, que se levantou contra mim; neste deserto se consumirão, e aí falecerão” (Nm 14:26-35). Aqui temos na continuidade, uma palavra muito dura, severa quanto à congregação de Israel. Novamente aqui a palavra “congregação” vem do termo hebraico edâ que significa “assembléia, congregação, povo, enxame, multidão”. Esta palavra diz respeito à totalidade do povo. E novamente a totalidade do povo é acusada de murmuração por parte do Senhor. A palavra “murmuração” vem do termo hebraico lûn que significa “murmurar, rebelar-se”. É o ato de dar vazão a sentimentos de insatisfação, ira ou aborrecimento mediante cochichos numa posição hostil aos líderes de D-us e à autoridade que lhes foi outorgada! O eterno diz ter ouvido as murmurações que foram feitas contra Ele! Aqui o Eterno se coloca no lugar de Moshe e Aharon – pois as palavras foram a eles dirigidas – e toma tal ato como algo feito diretamente contra Ele mesmo! O veredito contra os murmuradores é que morreriam naquele deserto sem ver a terra de Canaã!
Novamente percebemos que os jovens – de vinte anos para baixo – não são aqui incluídos e a estes será dada a terra de Canaã, pois os demais haveriam de receber o prêmio por seu ato de murmuração: a morte no deserto! Aqui é dito que o período de peregrinação pelo deserto seria de 40 anos – cada ano sendo representado pelos dias em que foi espiada a terra – e novamente reconhecemos que o 40 representa “um período de provação” pelo qual estariam eles passando para, no final dele, serem ou não aprovados! O Eterno ainda diz algo pior: “e conhecereis o meu afastamento”. Aqui a palavra “afastamento” vem do termo hebraico tenuâ que significa “oposição”. O sufixo “nû” indica uma reação negativa e uma ação planejada. Esta palavra nos diz que aquilo que aconteceria aos murmuradores seria algo proveniente de sua desobediência e de suas palavras imedidas! Também demonstra que a reação do Eterno seria cuidadosamente arquitetada a fim de fazer com que os murmuradores recebessem aquilo que lhes era de direito.
Aqui os pecadores – murmuradores – receberam a sua justa paga: “E os homens que Moshe mandara a espiar a terra, e que, voltando, fizeram murmurar toda a congregação contra ele, infamando a terra, aqueles mesmos homens que infamaram a terra, morreram de praga perante o IHVH. Mas Iehoshua, filho de Num, e Calebe, filho de Jefoné, que eram dos homens que foram espiar a terra, ficaram com vida. E falou Moshe estas palavras a todos os filhos de Israel; então o povo se contristou muito. E levantaram-se pela manhã de madrugada, e subiram ao cume do monte, dizendo: Eis-nos aqui, e subiremos ao lugar que o IHVH tem falado; porquanto havemos pecado. Mas Moshe disse: Por que transgredis o mandado do IHVH? Pois isso não prosperará. Não subais, pois o IHVH não estará no meio de vós, para que não sejais feridos diante dos vossos inimigos. Porque os amalequitas e os cananeus estão ali diante da vossa face, e caireis à espada; pois, porquanto vos desviastes do IHVH, o IHVH não estará convosco. Contudo, temerariamente, tentaram subir ao cume do monte; mas a arca da aliança do IHVH e Moshe não se apartaram do meio do arraial. Então desceram os amalequitas e os cananeus, que habitavam na montanha, e os feriram, derrotando-os até Horma” (Nm 14:36-45). O interessante é que tais homens morreram de “praga” diante da face do Eterno. A palavra “praga” vem do termo hebraico “magepâ” e significa “golpe, peste, derrota, praga”. Isso nos fala sobre aquilo que lhes aconteceu, pois aqueles homens – espias – voltaram de Canaã e disseram aquilo que viram, porém destituídos de qualquer confiança nas palavras do Eterno! Eles tinham a intenção de induzir o povo de Israel à serem convencidos de que não seria possível possuir a terra em herança! E foi por esta postura que eles morreram de um golpe – dado pelo Senhor – e foram assim derrotados!
A reação dos israelitas foi imediata! Agora eles queriam entrar em Canaã a fim de vencerem os inimigos! Novamente eles estavam dando lugar à sua forma de obediência. Eles não esperaram que o Eterno os guiasse, mas agora queriam entrar na terra e massacrar os inimigos à seu modo! É claro que para o Eterno as coisas não funcionam assim! Novamente o Senhor lhes diz através de Moshe: “Mas Moshe disse: Por que transgredis o mandado do IHVH? Pois isso não prosperará. Não subais, pois o IHVH não estará no meio de vós, para que não sejais feridos diante dos vossos inimigos. Porque os amalequitas e os cananeus estão ali diante da vossa face, e caireis à espada; pois, porquanto vos desviastes do IHVH, o IHVH não estará convosco.”
Novamente o povo teima em desobedecer ao Eterno! E novamente vemos que a metodologia do Eterno é a melhor: a obediência! A conseqüência foi que o povo foi derrotado pelos amalequitas e cananeus e voltaram para o arraial feridos, frustrados e envergonhados!
Na próxima seção o Eterno repete a orientação quanto às ofertas que serão feitas ao Eterno na terra de Canaã. O destaque seria para o verso 16: “Uma mesma lei e um mesmo direito haverá para vós e para o estrangeiro que peregrina convosco” (Nm 15:16). Fica claro por esta orientação que o Eterno determinou que as ofertas devem ser feitas, tanto por judeus quanto por gentios de tal forma que haja entre eles uma igualdade; ou seja, caso um gentio queira oferecer algo ao Eterno ele deverá proceder da mesma forma como faz um israelita! É lógico que ele também usufruirá das mesmas bênçãos que estão disponíveis aos israelitas!
Quando alguém pecar também haverá punição. Os versos a seguir confirmam isso: “Mas a pessoa que fizer alguma coisa temerariamente, quer seja dos naturais quer dos estrangeiros, injuria ao IHVH; tal pessoa será extirpada do meio do seu povo. Pois desprezou a palavra do IHVH, e anulou o seu mandamento; totalmente será extirpada aquela pessoa, a sua iniqüidade será sobre ela. Estando, pois, os filhos de Israel no deserto, acharam um homem apanhando lenha no dia de sábado. E os que o acharam apanhando lenha o trouxeram a Moshe e a Aharon, e a toda a congregação. E o puseram em guarda; porquanto ainda não estava declarado o que se lhe devia fazer. Disse, pois, o IHVH a Moshe: Certamente morrerá aquele homem; toda a congregação o apedrejará fora do arraial. Então toda a congregação o tirou para fora do arraial, e o apedrejaram, e morreu, como o IHVH ordenara a Moshe” (Nm 15:30-36). O pecado voluntário mostra-se terrível pois viola a santidade e despreza a obediência ao Eterno! A Torah nos informa que isso “injuria ao Senhor”. A palavra “injuria” vem do termo hebraico gadap que significa “injuriar (pessoas), blasfemar (contra D-us)”. Esta palavra vem de uma raiz que significa “cortar ou ferir”. A palavra Senhor é o tetragrama (IHVH). Isso significa que o pecado voluntário é um insulto contra Aquele que se torna aquilo que precisamos que Ele se torne para nós! Mas, por que isso é assim? O verso seguinte nos responde dizendo: “Pois desprezou a palavra do IHVH, e anulou o seu mandamento”. A palavra “desprezar” vem do termo hebraico bazâ que significa “desprezar, desdenhar, manter sob desdém”. Novamente percebemos que aquilo que saiu da boca do Eterno é tido como algo insignificante, que não deve ser obedecido, não merece nossa atenção! Já a palavra “anulou” vem do termo hebraico parar que significa “quebrar, destruir, frustrar, invalidar”. Novamente vemos que quem peca voluntariamente está quebrando, destruindo os mandamentos do Eterno por não considera-los importantes!
Esta postura foi confirmada através de um homem que quebrou o mandamento de guardar o shabat e isso foi punido com a morte! Alguns poderiam então perguntar: “Mas por que tal punição foi tão dura? Ele não poderia ser somente “advertido verbalmente” na presença do povo e depois liberado?” A resposta é não, pois isso faria com que houvesse um “enfraquecimento” por parte dos israelitas quanto à sua obediência aos mandamentos do Senhor! As instruções do Eterno são claras e a obediência deve ser total! Nada menos do que isso é aceitável pelo Senhor!
A parasha finaliza com as instruções sobre o tzit-tzit: “E falou o IHVH a Moshe, dizendo: Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: Que nas bordas das suas vestes façam franjas pelas suas gerações; e nas franjas das bordas ponham um cordão de azul. E as franjas vos serão para que, vendo-as, vos lembreis de todos os mandamentos do IHVH, e os cumprais; e não seguireis o vosso coração, nem após os vossos olhos, pelos quais andais vos prostituindo. Para que vos lembreis de todos os meus mandamentos, e os cumprais, e santos sejais a vosso Elohim. Eu sou o IHVH vosso Elohim, que vos tirei da terra do Egito, para ser vosso Elohim. Eu sou o IHVH vosso Elohim” (Nm 15:37-41). Aqui temos um mandamento para que os filhos de Israel façam tiz-tzit nas bordas de suas roupas. Esta palavra significa “franja” e era composta de oito fios e cinco nós, dando um total de 13. Esta palavra em hebraico soma 600 – a soma das letras – e isso significa que quando os judeus olham para as franjas eles possam lembrar-se das leis e mandamentos do Eterno a fim de obedece-los! Fica claro que nós temos uma orientação a qual devemos seguir que é a Torah! Não devemos fazer aquilo que julgamos correto, mas sim aquilo que já está determinado para nós na Palavra do Eterno!
Que o Eterno nos ajude a sermos fiéis a esta Palavra
Mário Moreno.