Mário Moreno/ janeiro 1, 2018/ Artigos

Perdão

Perdão – salah – “pronto a perdoar, disposto a perdoar, perdoador”.

Na etimologia desta palavra entendemos que existem alguns fatores que são necessários para que o perdão possa acontecer:

A transgressão. Não é possível se falar em “perdão” se não existir uma transgressão, que geralmente atinge: a própria pessoa, o próximo ou o Eterno.

O arrependimento. Ele pressupõe que a pessoa que errou admite sua culpa e busca a redenção, que passa pelo perdão.

A confissão. Esta é a parte mais difícil de ser operacionalizada, pois envolve as partes – ofensor e ofendido – e depende da humildade do ofensor confessar o erro e pedir ao ofendido seu perdão.

Estas três variáveis são necessárias para que o perdão possa ser liberado e assim possa ha ver a libertação entre as partes e uma reconexão no reino do espírito entre o pecador e o Eterno!

Esta palavra ocorre apenas seis vezes em nossas Bíblias nos seguintes textos:

“Mas contigo está o perdão, para que sejas temido” Sl 130.4.

“Ao IHVH, nosso Elohim, pertence a misericórdia e o perdão; pois nos rebelamos contra ele” Dn 9.9.

“Qualquer, porém, que blasfemar contra o Espírito o Santo, para sempre não obterá perdão, mas será réu do eterno juízo” Mc 3.29.

“E percorreu toda a terra ao redor do Jordão, pregando a imersão de arrependimento, para o perdão dos pecados” Lc 3.3.

“E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja imerso em nome de Ieshua o Ungido para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito o Santo” At 2.38.

“A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele crêem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome” At 10.43.

Todos estes textos nos informam que o perdão vem dos céus e que precisamos recebê-lo para que a salvação possa se consumar em nossas vidas.

O Salmo 103.4 nos explica que o perdão está com o Eterno para que o homem possa teme-lo! Quando nos lembramos da definição de “perdão” – “pronto a perdoar, disposto a perdoar, perdoador” – entendemos o quão verdadeira é essa definição da língua hebraica! Somente o Eterno tem essa postura de “estar pronto a perdoar”, pois Ele sabe que o homem tem sido influenciado pela prática do pecado e pelas sugestões de Ha Satan e isso dificulta o ser humano em sua conduta através de uma vida santa. Por isso o perdão traz consigo um desejo: o de abandonar o pecado e seguir uma vida dentro dos padrões do Eterno. Aqui o perdão está ligado ao temor ao Eterno, e a postura de temê-lo pressupõe estar no caminho da sabedoria. É o princípio – início – de uma vida sábia. Precisamos aprender a temer aos céus mais do que tememos aos homens. Tememos muito aqueles que vemos, porém não nos importamos em pecar de forma descarada simplesmente porque não VEMOS o Eterno e por isso de certa forma desprezamos sua Palavra que nos informa: “e eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos” Mt 28.20. De fato, se nós acreditássemos que esta palavra é verdadeira pensaríamos melhor antes de fazermos qualquer coisa…

Daniel complementa essa situação nos informando que a misericórdia e o perdão estão com o Eterno pois a condição do homem é de rebelião. Isso se confirma quando Sha´ul diz: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Elohim” Rm 3.23. Isso mostra a necessidade do perdão ser liberado, não sem antes haver o arrependimento!

Iorranan, o primo de Ieshua, pregava o arrependimento para que houvesse o perdão dos pecados! “E percorreu toda a terra ao redor do Jordão, pregando a imersão de arrependimento, para o perdão dos pecados” Lc 3.3.

A imersão era então um sinal de que aquela pessoa havia feito teshuva – retorno – através do arrependimento e consequentemente seus pecados eram perdoados e sua vida restaurada à condição fetal – de uma criança no ventre de sua mãe – ou seja, um ser totalmente puro!

Quando não há perdão…

“Qualquer, porém, que blasfemar contra o Espírito o Santo, para sempre não obterá perdão, mas será réu do eterno juízo” Mc 3.29.

Esta é a única forma de pecado que não tem perdão! Entendemos pelo contexto da passagem que este pecado refere-se a uma postura na qual a pessoa atribui a ha satan os feitos do Espírito o Santo; ou até mesmo nega que a ação do Espírito seja verdadeira!

Vemos isso em diversos momentos quando por exemplo, o Eterno usa uma pessoa para curar uma enfermidade e alguém diz que aquilo foi o poder das trevas atuando! Ou ainda quando o Eterno vem com sua unção através de um homem e pessoas caem e são tratadas, curadas, arrebatadas, etc… e alguém atribui esta ação à ha satan!

Esta é uma verdadeira “armadilha” que as trevas semeiam no coração das pessoas. Eu me refiro à incredulidade. A pessoa não acredita que os milagres das Escrituras possam repetir-se hoje em dia, e em alguns casos atribuem os milagres à outros poderes que não o do Eterno! Isso tem se tornado cada vez mais comum e é um perigo principalmente nas redes sociais quando alguns postam vídeos de homens de D-us sendo usados para operar maravilhas e alguns desavisados criticam e atribuem aquele feito às trevas. E o mais grave: outros “desavisados” entram na conversa apoiando esta postura e às vezes incitando ainda mais ao erro!

Tais pessoas já não tem mais temor em abrir sua boca para fazer qualquer tipo de crítica seja a quem for. Porém, quando confrontadas com a Verdade da Palavra se esquivam e dizem não ser nada disso; alguns dizem que esse não é o pecado de blasfêmia; outros dizem que este texto não pode ser interpretado literalmente; é somente algo “figurado” e que não tem uma interpretação conhecida até hoje! Mas o mais incrível é que as Escrituras são simples, a Palavra é simples. Imagine que os judeus na época de Ieshua entenderam bem isso, então por que nós no século 21 não entenderíamos?

Perdão garantido

“A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele crêem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome” At 10.43.

A fé traz consigo o perdão; essa é uma faceta do caráter do Eterno e não pode ser de forma alguma esquecida!

O fato de qualquer homem crer que Ieshua é o salvador do mundo traz consigo o arrependimento dos pecados e o perdão! O resultado disso é “salvação”.

Quando o homem assume a postura correta o perdão acontece: “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos alimpar de toda maldade. Se dissermos que não havemos pecado, fazemo-lo a ele mentiroso, e a sua palavra não está em nós” I Jo 1.8-10.

Iorranam neste texto demonstra de forma muito clara a condição humana: somos pecadores e precisamos admitir isso, pois quando agimos assim e confessamos então o Eterno através de Ieshua nos perdoa de todos os pecados!

O maior ato de perdão já praticado por um homem foi quando Ieshua perdoou a humanidade por tê-lo pregado na estaca de execução: “E dizia Ieshua: pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. E, repartindo as suas vestes, lançaram sortes” Lc 23.34. Nada pode se comparar a estas palavras ditas por Ieshua no que diz respeito ao perdão!

Ele estava sendo morto, e mesmo sem ter cometido qualquer erro foi julgado e condenado até chegar a este momento. Nenhum de nós suportaria isso! Por muito menos (mas muiiiiiiiiiito mesmo) nós tentamos de todas as formas justificar-nos mostrando que estamos certos e que aquilo que dizem acerca de nós é falso! É notável que quem iria justificar Ieshua era o próprio Pai – Ele fora enviado em Seu Nome – e não havia qualquer necessidade de preocupar-se com as acusações infundadas, pois elas a seu tempo se mostrariam mentirosas por si só.

Nós como pecadores precisamos do perdão divino a cada momento, pois pecamos todos os dias… Porém nem todos desejamos perdoar e quando o fazemos, usamos do NOSSO padrão e não do padrão da Palavra!

Homem x perdão

Dentre muitos exemplos nas Escrituras o que mais se encaixa aqui é o de Iosef, que foi humilhado à mais baixa condição humana de ser VENDIDO por seus irmãos – de sangue – para ser escravo no Egito.

Que palavras definiriam isso? Desprezo? Abandono? O que dizer da malignidade daqueles homens que PLANEJARAM entre si o que fariam com o irmão quando uma boa ocasião surgisse? Quando um ato é premeditado é pela própria lei visto de uma forma mais grave do que algo que é “acidental”.

O perdão certamente foi aquilo que manteve Iosef vivo, pois as circunstâncias que vieram a seguir foram não menos difíceis! Porém ele sabia que um dia eles iriam encontrar-se e esse seria o momento de provar que o perdão realmente fazia parte de sua vida.

O primeiro encontro entre Iosef e seus irmãos mostra que ele já estava curado: “Iosef, pois, era o governador daquela terra; ele vendia a todo o povo da terra; e os irmãos de Iosef vieram, e inclinaram-se ante ele com a face na terra. E Iosef, vendo os seus irmãos, conheceu-os; porém mostrou-se estranho para com eles, e falou com eles asperamente, e disse-lhes: Donde vindes? E eles disseram: Da terra de Canaã, para comprarmos mantimento. Iosef, pois, conheceu os seus irmãos; mas eles não o conheceram. Então Iosef lembrou-se dos sonhos, que havia sonhado deles, e disse-lhes: Vós sois espias, e viestes para ver a nudez da terra” Gn 42.6-9.

Neste momento Iosef passa desapercebido por seus irmãos; porém chegaria o momento da revelação e quando esse momento chegou foi, além de emocionante, crucial para demonstrar o quando Iosef havia sido curado pelo Eterno por compreender os caminhos traçados por Ele em sua vida: “E disse Iosef a seus irmãos: Peço-vos, chegai-vos a mim. E chegaram-se. Então disse ele: Eu sou Iosef, vosso irmão, a quem vendestes para o Egito. Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos pese aos vossos olhos por me haverdes vendido para cá; porque para conservação da vida, Elohim me enviou diante da vossa face. Porque já houve dois anos de fome no meio da terra, e ainda restam cinco anos em que não haverá lavoura nem sega. Pelo que Elohim me enviou diante da vossa face, para conservar vossa sucessão na terra, e para guardar-vos em vida por um grande livramento. Assim não fostes vós que me enviastes para cá, senão Elohim, que me tem posto por pai de Faraó, e por senhor de toda a sua casa, e como regente em toda a terra do Egito” Gn 45.4-8.

Isso é perdão!

Iosef entendeu que o que eles haviam feito contra ele era um projeto dos céus que o conduziu até aquele momento de glória! Eles tentaram matar Iosef, mas o Eterno tinha outros planos…

Certamente entendemos isso muito bem, porém não vivemos! Vou citar dois exemplos aqui correndo o risco de ser “triturado” por críticas, mas prefiro falar e me expor a concordar com o que tenho visto.

Nós nos consideramos maiores do que o próprio Eterno e do que Ieshua, pois nas Escrituras todos os pecados tem o mesmo “peso” e o Eterno não faz distinção entre eles; porém para nós seres humanos, principalmente dentro do Corpo de Messias, fazemos essa distinção e há um pecado que não é perdoado e nem esquecido: o adultério. Permitam citar aqui dois casos que tiveram repercussão mundial e nacional.

O primeiro acontecido já há cerca de vinte anos foi quando o evangelista Jimmy Swaggart cometeu este deslize e depois agiu como um verdadeiro homem confessando seu pecado em rede nacional e pedindo perdão! Foi um momento inesquecível; uma demonstração de arrependimento e humildade daquele homem.

Apesar de sua postura correta, sua vida e ministério nunca mais foram os mesmos. Ele foi colocado de lado, esquecido e menosprezado como “homem de D-us”. O julgamento e a pena aplicados à ele foram duríssimas e nunca mais se ouviu falar dele…

Outro caso foi o do Pr. Caio Fábio, que cometeu o mesmo pecado e que foi colocado no “ostracismo” e até hoje os líderes quando se referem a ele isso é feito de forma “pejorativa”.

Certamente o que eles fizeram foi muito grave e honestamente abalou a muitas pessoas, inclusive eu. Mas o tempo passou e revendo a vida destes homens verifico o quanto foram importantes para mim. O valor daquilo que eles escreveram e pregaram continua sendo grande para mim. Se pudesse encontra-los certamente lhes agradeceria por tudo o que fizeram por mim, mesmo sem saberem o quanto me inspiraram através de suas vidas.

Eles certamente erraram e pagaram um preço alto por isso! Não estou advogando aqui a inocência ou culpa do que fizeram. Erraram, e isso ficou claro. Porém, não pode haver pecado que dure para sempre.

Sei de líderes que estão vivendo essa situação ou até pior – roubo, homessexualismo, corrupção, assassinato, etc… – e que continuam sendo “aceitos” por seus pares por considerarem estes pecados menos “graves” do que o adultério.

Perdão… coisa séria e que nos coloca ou na posição de servos do Eterno ou na posição de deuses que controlam e determinam quem e qual pecado deve ser perdoado.

O caso de David é emblemático, e mesmo após ter feito tudo o que ele fez, o Eterno ainda o amou e o usou de forma fantástica!

Então por que temos a arrogância de querermos julgar alguém e riscá-lo do mapa por cometer esse pecado? Que espírito é esse que nos faz pensar que podemos ser maiores do que o próprio Eterno? A punição é necessária, porém não o abandono, o ostracismo e a pior condenação: a fofoca, que desabona o fulano de tal, pois no passado pecou!

Me preocupo com isso, pois tento levar minha vida dentro de um determinado padrão que possa adequar-se a isso! Não é fácil, pois também tenho meus próprios “perseguidores” que julgam estar fazendo um serviço para D-us me difamando e perseguindo!

Por isso perdoar é essencial; é questão de sobrevivência e de saúde! Estou ainda vivo e com saúde por que tive de perdoar e deixar para trás ofensas que num primeiro momento machucaram muito… quase a ponto de me fazer desistir das pessoas! Mas o tempo nos ensina quão fundamental é o perdão! Meus perseguidores caíram e cairão um a um; continuo e continuarei em pé perdoando…

Perdão é uma prática constante em nossas vidas… sem ele nossa existência será vazia e cercada de problemas que nos perseguirão no corpo, na alma e no espírito!

Espero que este pequeno artigo com um desabafo final sirva para nos ajudar a crescermos não só no conhecimento mas também na prática de algo que nos ajudará a entrarmos na eternidade de cabeça erguida!

Perdoar é seguir os passos de Ieshua e poder olhar para os demais sem culpa e nem reservas! Mesmo que o ofensor apareça é possível ainda estender-lhe a mão e cumprimenta-lo com Shalom!

Que o Eterno nos abençoe em nome de Ieshua.

Mário Moreno.