Mário Moreno/ março 26, 2018/ Pessach

Pessach: morre o cordeiro, ressuscita o leão!

A Festa de Pessach é um dos eventos mais importantes dentro não somente do judaísmo como também da história universal, pois foi neste grande evento que o Eterno consumou a libertação do povo de Israel do jugo dos egípcios. Mas, como isso começou? O relato abaixo nos mostra a importância e a amplitude daquilo que aconteceu:

“Após uma série de pragas que esmagaram o país e subjugaram seu rei, o faraó finalmente se rende. Depois de torturar, abusar e assassinar judeus impiedosamente durante décadas, eles são libertados. No 15º dia do mês hebraico de Nissan, o povo judeu, finalmente, viveu um êxodo em massa de um regime genocida e de uma monarquia tirânica. Eles tinham embarcado no caminho da liberdade.

Mais de três milênios se passaram desde aquele dia. É muito tempo. Porém os filhos e netos dos escravos que partiram do Egito ainda comemoram anualmente este evento. Até hoje, Pêssach continua sendo a Festa mais amplamente observada e celebrada. Muitos judeus que se consideram afastados da tradição e da religião ainda se sentem compilados a participar em algum tipo de Sêder de Pêssach.

A importância disso não pode ser deixada de lado. É fácil celebrar o milagre da liberdade quando você é livre. Porém na maior parte da sua história a nação judaica se viu exilada, oprimida, dominada – física, emocional e religiosamente – por tiranos e ditadores de todos os tipos. Se Pêssach representa a jornada da escravidão à liberdade, o que ocorreu com isso depois da destruição babilônica do Primeiro Templo e o subseqüente exílio de Israel? Ou após a conquista pelos gregos e romanos da terra judaica e o exílio de seus habitantes? O que aconteceu com a celebração da liberdade após a destruição do Segundo Templo, o fracasso da rebelião de Bar Kochba, as horríveis perseguições de Adrianus e a longa, trágica série de eventos que levaram ao maior exílio na história judaica? Poderiam os judeus celebrar a emancipação sob circunstâncias opressivas? Poderiam os judeus ainda se sentarem anualmente e declarar com sinceridade: “Fomos escravos do faraó no Egito e D’us nos libertou?”

Mas, qual foi o veículo usado pelo Eterno para trazer a libertação ao povo de Israel? A resposta é simples e objetiva: o cordeiro. O texto da Torah nos informa que: “E falou o IHVH a Moisés e a Arão na terra do Egito, dizendo: Este mesmo mês vos será o princípio dos meses; este vos será o primeiro dos meses do ano. Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos dez deste mês tome cada um para si um cordeiro, segundo as casas dos pais, um cordeiro para cada família. Mas se a família for pequena para um cordeiro, então tome um só com seu vizinho perto de sua casa, conforme o número das almas; cada um conforme ao seu comer, fareis a conta conforme ao cordeiro” Ex 12:1-4. Mas, por que o cordeiro?

Em primeiro lugar o cordeiro era considerado para os egípcios como uma divindade; então sacrificar um cordeiro seria o equivalente a dizer que estavam “sacrificando” ao deus egípcio e vencendo-o! Em segundo lugar o cordeiro era um animal considerado “casher” – ou seja, próprio para o consumo de acordo com os preceitos da Torah – e portanto apropriado para ser consumido pelos israelitas.

Em terceiro lugar o cordeiro tinha uma conotação profética, pois apontaria para uma realidade muito mais profunda e que culminaria com a sua associação à redenção humana.

Em quarto lugar o Eterno associou ao cordeiro funções proféticas que estão ligadas ao homem e a sua salvação conforme veremos abaixo:

  • “Então falou Isaque a Abraão seu pai, e disse: Meu pai! E ele disse: Eis-me aqui, meu filho! E ele disse: Eis aqui o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto? E disse Abraão: Elohim proverá para si o cordeiro para o holocausto, meu filho. Assim caminharam ambos juntos” Gn 22:7-8.
  • “Se oferecer um cordeiro por sua oferta, oferecê-lo-á perante o IHVH” Lv 3:7.
  • “Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca” Is 53:7.
  • “E eu era como um cordeiro, como um boi que levam à matança; porque não sabia que maquinavam propósitos contra mim, dizendo: Destruamos a árvore com o seu fruto, e cortemo-lo da terra dos viventes, e não haja mais memória do seu nome” Jr 11:19.
  • “Cordeiro desgarrado é Israel; os leões o afugentaram; o primeiro a devorá-lo foi o rei da Assíria; e, por último Nabucodonosor, rei de Babilônia, lhe quebrou os ossos” Jr 50:17.
  • “No dia seguinte Iorranam viu a Ieshua, que vinha para ele, e disse: Eis o cordeiro de Elohim, que tira o pecado do mundo” Jo 1:29.

Por isso, em Pessach o Cordeiro deveria morrer para que através de seu sangue os umbrais das portas fossem marcados e assim a morte – a décima praga – não atingira aos israelitas, porém atingiria aos egípcios. Mas, qual era a diferença entre estes dois povos então? A diferença está na obediência às instruções do Eterno que deveriam ser obedecidas. Quem obedeceu recebeu como recompensa a vida; aos desobedientes veio a morte, conseqüência do juízo iminente do Eterno sobre os opressores dos judeus.

Em Pessach o cordeiro morre para que os judeus tenham a vida e possam ser libertos da escravidão dos egípcios. Até este momento o que é mais importante nesta Festa é a morte do Cordeiro! Se o Cordeiro não morresse não haveria qualquer possibilidade do sangue ser posto nos umbrais das portas e conseqüentemente não haveria uma marca distintiva naquela casa demonstrando que um inocente já havia morrido ali no lugar do primogênito da casa. Nunca a morte teve uma importância tão grande num evento histórico!

Séculos se passaram e todo o ano a mesma coisa acontecia: em Pessach o Cordeiro morria em memória daquele dia em que os israelitas foram libertados do Egito e tiveram sua história mudada para sempre! O Cordeiro fora o responsável por isso!

Isso aconteceu até que um dia, numa celebração de Pessach, um outro evento marca a história de Israel, descrito assim pela história: “E, no primeiro dia da festa dos pães ázimos, chegaram os discípulos junto de Ieshua, dizendo: Onde queres que façamos os preparativos para comeres a páscoa? E ele disse: Ide à cidade, a um certo homem, e dizei-lhe: O Mestre diz: O meu tempo está próximo; em tua casa celebrarei a páscoa com os meus discípulos. E os discípulos fizeram como Ieshua lhes ordenara, e prepararam a páscoa. E, chegada a tarde, assentou-se à mesa com os doze. E, comendo eles, disse: Em verdade vos digo que um de vós me há de trair. E eles, entristecendo-se muito, começaram cada um a dizer-lhe: Porventura sou eu, Adonai?” Mt 26:17-22.

O texto nos fala sobre Pessach e os envolvidos são Ieshua e seus discípulos… Esta era a mais importante Festa de Pessach celebrada por eles e quando o cenário está pronto temos então o Cordeiro de Elohim que está pronto a ser oferecido em sacrifício – conforme o mandamento da Torah, em que um cordeiro de um ano sem mancha deveria ser morto para relembrar a libertação do Egito. Agora, o Cordeiro de Pessach está ali junto com os seus e pronto para ser “imolado” para a redenção daqueles que ali estão. Ele morreria para que os outros tivessem vida; assim era em Pessach e assim acontece nas Escrituras: um inocente puro morre por aqueles que são pecadores e culpados, sentenciados à morte. A sentença apenas muda de destino; porém os efeitos desta morte beneficiariam a um incontável número de pessoas em todas as eras e em todos os lugares do mundo!

E, conforme acontece em Pessach o Cordeiro é morto às quinze horas para que seu sangue possa trazer via aos participantes da Festa! A tristeza da morte é substituída pela alegria da salvação! “E, chegando ao lugar chamado Gólgota, que se diz: Lugar do Crânio, deram-lhe a beber vinagre misturado com fel; mas ele, provando-o, não quis beber. E, havendo-o crucificado, repartiram as suas vestes, lançando sortes, para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta: Repartiram entre si as minhas vestes, e sobre a minha túnica lançaram sortes. E, assentados, o guardavam ali. E por cima da sua cabeça puseram escrita a sua acusação: ESTE É IESHUA, O REI DOS JUDEUS” Mt 27:33-37. Para muitos esta Festa de Pessach foi cercada de muita tristeza e angústia… para outros de uma indizível alegria que permeava o ar, pois eles haviam se “livrado” de um grande incômodo: um profeta, um homem de D-us que quando abria seus lábios não deixava dúvidas: o Eterno falava através dele! Para muitos Ele representava esperança; para outros uma grande ameaça!

Enquanto isso no reino espiritual certamente havia uma indizível alegria entre os demônios, principados, potestades e o próprio Adversário, que após a morte de Ieshua se regozijavam e se cumprimentavam pelo “sucesso” de seu plano maligno! Eles haviam conseguido matar ao Ungido do Eterno e agora nada mais poderia impedi-los de conquistarem o restante do mundo e até mesmo o universo e o olam haba – mundo vindouro, a morada do Altíssimo! Vamos entender o que havia acontecido: enquanto Ieshua estava na terra Ele era não somente o Ungido, como também uma ameaça aos poderes das trevas que sabiam estarem seus dias de operações malignas contados. Todo o reino do espírito sabia que tipo de ameaça representava Ieshua para eles. Mas não era só isso. Eles sabiam da vulnerabilidade do homem – o ser humano – e buscaram nesta vulnerabilidade a derrota final de Ieshua tentando a todo o instante fazê-lo pecar. Isso seria a sua completa vitória, pois arrasaria de vez os planos de redenção do Eterno. Entendendo: como um homem que pecou poderia trazer a redenção à humanidade? A resposta é: nunca! Por isso uma das coisas que Ieshua nunca poderia fazer era pecar. Para isso Ele lutou intensamente contra o pecado, dando assim ao homem uma certeza: podemos viver sem ficarmos “atolados” no pecado pois Ieshua como homem também conseguiu! Mas. Voltemos ao reino espiritual… para eles a vitória já estava “consumada” e o que restava agora era festejar e logo em seguida reunir as “tropas do inferno” para conquistarem a eternidade, pois o Ungido do Eterno falhara em sua missão! Para eles era questão de pouquíssimo tempo para que tudo isso viesse a acontecer e para que pudessem então desfrutar de mais um prazer: derrotar Aqueles que os havia Criado!

O tempo passa, e ao terceiro dia de Pessach algo inesperado acontece, primeiro nas profundezas do inferno e depois na terra… No inferno o maligno recebe, em meio à sua grande celebração da vitória, uma bizarra visita: Ieshua o Ungido ressurreto de entre os mortos! A cena foi chocante: Ieshua entrando nos domínios das trevas de forma imponente, com sua cabeça erguida e com a luz do Criador brilhando em seu ser… O pânico toma conta daquele lugar e o Adversário ao vê-lo se caminhando em sua direção certamente perguntou: “Ei, você não é o Cordeiro de D-us…” – certamente não completou a frase dita por Iorranam que dizia: “…que tira o pecado do mundo”. E para sua surpresa o adversário ouve um rugido intenso, forte e magnífico e palavras doces, porém recheadas de autoridade lhe dizem: “Eu fui o Cordeiro de D-us; agora eu sou o Leão da Tribo de Iehudá” e vim aqui para lhe dizer que eu venci. Me devolva a autoridade sobre a morte e sobre o inferno”!

O ambiente certamente estava todo em silêncio; somente a voz do Ungido de Elohim se fazia ouvir. Então o adversário deve ter lhe respondido: “Mas eu te matei! Existem testemunhas de que você morreu! O que você faz aqui?” A resposta de Ieshua deve ter sido assim: “Como você poderia matar Aquele que é a origem da própria vida? Estou aqui para lhe dizer que Eu venci e tenho direito ao despojo: levo comigo a autoridade sobre a morte e a partir de agora tenho também autoridade sobre o inferno! Você não governa mais; Eu governo os céus, a terra e agora também o inferno!”

Em Pessach tivemos dois eventos num só: a morte do Cordeiro de Elohim e a ressurreição do Leão da tribo de Iehudá! Aparentemente um fraco morreu para nos trazer vida eterna; porém quando Aquele “fraco” ressuscitou Ele o fez como o mais poderoso e imponente dos animais: o Leão! “E disse-me um dos anciãos: Não chores; eis aqui o Leão da tribo de Iehudá, a raiz de David, que venceu, para abrir o livro e desatar os seus sete selos. E olhei, e eis que estava no meio do trono e dos quatro animais viventes e entre os anciãos um Cordeiro, como havendo sido morto, e tinha sete chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Elohim enviados a toda a terra” Ap 5:5-6.

Esta é a história de Pessach que todos precisamos conhecer: que a morte do cordeiro – que aparentemente causa tristeza e dor – transforma-se na ressurreição do Leão, que enquanto Cordeiro é manso, amável, dócil, mas que, ao ressurgir da morte se transforma num Leão cheio de poder e autoridade que derrota até mesmo os poderes mais terríveis das trevas.

Celebrar Pessach da forma correta é dizer ao mundo espiritual: eu estou consciente de que o Cordeiro de Elohim morreu por mim; mas tenho consciência também de que o Leão da tribo de Iehuda ressuscitou para que eu tenha certeza de que a vitória está em minhas mãos! Não abra mão nem da vitória nem da certeza de que as trevas já foram derrotadas!

Que nesta Festa de Pessach você e eu possamos ver materializadas as vitórias de Ieshua o Ungido sobre as trevas a cada passo de nossa caminhada com Ele e que este seja um tempo de “ressurreição” dos “fracos” para se tornarem guerreiros dos céus em nome de Ieshua!

Chag Pessach Sameach!

Mário Moreno.