Mário Moreno/ dezembro 20, 2017/ Artigos

Ramo

O que é um ramo? Todos nós sabemos e já vimos diversas vezes um ramo de qualquer planta. Mas e nas Escrituras, o que significa esta palavra?

A palavra “ramo” vem do termo hebraico “zemorah” significando “ramo, galho”. A sua única ocorrência na Torah é no verso que diz: “Depois foram até ao vale de Escol, e dali cortaram um ramo de vide com um cacho de uvas, o qual trouxeram dois homens, sobre uma vara; como também das romãs e dos figos” Nm 13:23.

Vamos agora verificar alguns pontos interessantes aqui:

O ramo já estava em Canaã, suas raízes já estavam firmadas naquele lugar.

Quando os espias chegaram a Canaã eles perceberam uma coisa: a terra já possuía a videira e esta videira na Tanach representa a própria nação de Israel que já estava de uma forma profética na terra! Aqueles homens puderam ver que a alegria e a aliança que foi feita através do sangue de animais com Avraham estavam presentes ali, ou seja, o povo de Canaã já sabia que aquele lugar em que viviam estava destinado a pertencer a um outro povo que tinha estas duas características: uma aliança de sangue e alegria!

Avraham é por três vezes interpelado pelo Eterno para lhe dar a promessa da terra de Canaã:

“Ora, o IHVH disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra. Assim partiu Abrão como o IHVH lhe tinha dito, e foi Ló com ele; e era Abrão da idade de setenta e cinco anos quando saiu de Harã. E tomou Abrão a Sarai, sua mulher, e a Ló, filho de seu irmão, e todos os bens que haviam adquirido, e as almas que lhe acresceram em Harã; e saíram para irem à terra de Canaã; e chegaram à terra de Canaã. E passou Abrão por aquela terra até ao lugar de Siquém, até ao carvalho de Moré; e estavam então os cananeus na terra. E apareceu o IHVH a Abrão, e disse: À tua descendência darei esta terra. E edificou ali um altar ao IHVH, que lhe aparecera. E moveu-se dali para a montanha do lado oriental de Betel, e armou a sua tenda, tendo Betel ao ocidente, e Ai ao oriente; e edificou ali um altar ao IHVH, e invocou o nome do IHVH. Depois caminhou Abrão dali, seguindo ainda para o lado do sul” Gn 12:1-9.

“E disse o IHVH a Abrão, depois que Ló se apartou dele: Levanta agora os teus olhos, e olha desde o lugar onde estás, para o lado do norte, e do sul, e do oriente, e do ocidente; porque toda esta terra que vês, te hei de dar a ti, e à tua descendência, para sempre. E farei a tua descendência como o pó da terra; de maneira que se alguém puder contar o pó da terra, também a tua descendência será contada. Levanta-te, percorre essa terra, no seu comprimento e na sua largura; porque a ti a darei. E Abrão mudou as suas tendas, e foi, e habitou nos carvalhais de Manre, que estão junto a Hebrom; e edificou ali um altar ao IHVH” Gn 13:14-18.>

“E pondo-se o sol, um profundo sono caiu sobre Abrão; e eis que grande espanto e grande escuridão caiu sobre ele. Então disse a Abrão: Sabes, de certo, que peregrina será a tua descendência em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos, mas também eu julgarei a nação, à qual ela tem de servir, e depois sairá com grande riqueza. E tu irás a teus pais em paz; em boa velhice serás sepultado. E a quarta geração tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia. E sucedeu que, posto o sol, houve escuridão, e eis um forno de fumaça, e uma tocha de fogo, que passou por aquelas metades. Naquele mesmo dia fez o IHVH uma aliança com Abrão, dizendo: À tua descendência tenho dado esta terra, desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates; e o queneu, e o quenezeu, e o cadmoneu, e o heteu, e o perizeu, e os refains, e o amorreu, e o cananeu, e o girgaseu, e o jebuseu” Gn 15:12-21.

Podemos agora entender que este lugar foi dado à Israel já antes mesmo da nação sequer existir! Por isso há esta relação tão forte entre o povo de Israel e a sua terra. Não é possível separar Israel – nação, povo – de Israel – a terra. Um não existe sem o outro!

O ramo estava num lugar profético: o vale do Cacho.

O vale de Eschol – cacho (de uvas). Esta palavra está relacionada a um lugar que é na realidade uma “torrente de águas” ou um rio em que estão plantadas videiras e estas videiras dão muitos frutos! Isso demonstra que aquela região era muito fértil e sua produção poderia ser vista através destes frutos que estão sendo agora colhidos para serem apresentados para toda a nação de Israel que está na fronteira da terra de Canaã. Os frutos colhidos ali pelos espias são tão bons que mesmo levando muitos dias para chegarem ao acampamento onde estavam reunidos Moshe e o povo de Israel os frutos não se estragaram e mesmo depois de serem transportados por alguns dias ainda assim impressionaram aos israelitas que os viram! O que eles viram era somente uma pequena amostra do que a terra tinha de fato a lhes oferecer!<

Este ramo que foi “cortado” já possuía frutos – um cacho de uvas.

O primeiro desses é a uva, cuja característica principal é a alegria. As uvas representam também a aliança no sangue do Ungido – Ieshua – com seu povo! Está aliança está prefigurada já no Gan Eden quando um animal foi morto para que Adan e Chava (Adão e Eva) pudessem ser “cobertos” pela sua pele!

Como a videira descreve seu produto na Parábola de Iotam (Shofetim 9:13), “… meu vinho, que faz felizes D’us e os homens”.

A alegria é revelação. Uma pessoa influenciada pelo júbilo tem os mesmos traços básicos que possui em um estado não-jubiloso – o mesmo conhecimento e inteligência, os mesmos amores, ódios e desejos. Mas em um estado de felicidade, tudo é mais pronunciado: a mente é mais arguta, o amor mais profundo, os ódios mais vívidos, os desejos mais agressivos. As emoções que normalmente mostram apenas uma pálida imagem de sua verdadeira extensão, agora tornam-se mais ostensivas. Nas palavras do Talmud, “Quando entra o vinho, o oculto se revela”.

Uma vida sem alegria poderia estar completa de todas as maneiras, porém é uma vida superficial; tudo está ali, mas apenas a superfície nua é mostrada. Tanto a alma animalesca quanto a Divina contêm vastos reservatórios de percepção e sentimento que jamais vêem a luz do dia porque não há nada para estimulá-los. A “uva” representa o elemento de júbilo em nossa vida – a alegria que desencadeia estes potenciais e adiciona profundidade, cor e intensidade a tudo que fazemos.

Seus frutos eram tão abundantes que precisavam ser carregados por dois homens!

Eles escolheram, contudo, frutas monstruosas, super desenvolvidas, a fim de mais tarde contar ao povo que um país que produz frutas tão estranhas era bizarro, e pessoas comuns não sobreviveriam lá.

Os espiões colheram um galho de videira do qual pendia um cacho de uvas extremamente pesado. Eram necessárias oito pessoas para transportá-lo. O nono espião carregou figos, e o décimo, uma romã. Todavia, Iehoshua e Calêv, que perceberam que os espiões utilizariam esses frutos para denegrir Israel, não carregaram nada.

Neste lugar haviam outros frutos que acompanhavam as uvas: romãs e figos.

Romãs: “Seus lábios são como um fio de escarlate” exaltou Salomão em sua celebração do amor entre o Noivo Divino e Sua noiva Israel: “Sua boca é graciosa: sua têmpora é como um pedaço de romã em seus cachos” (Shir HaShirim, Cântico dos Cantos 4:3). Conforme interpretada pelo Talmud, a alegoria da romã expressa a verdade que: “Mesmo os vazios dentre vocês estão repletos de boas ações, como uma romã [está repleta de sementes].” A romã é não somente um modelo para algo que contém muitos detalhes. Fala também do paradoxo de como um indivíduo pode ser “vazio” e, ao mesmo tempo, estar “repleto de boas ações como uma romã.”

A romã é uma fruta altamente dividida em compartimentos: cada uma de suas centenas de sementes está envolvida em seu próprio saco de polpa, e separada de suas iguais por um membrana rija. Da mesma maneira, é possível para uma pessoa fazer boas ações: muitas boas ações – mesmo assim elas permanecem como atos isolados, com pouco ou nenhum efeito sobre sua natureza e caráter. Ela pode possuir muitas virtudes, mas elas não se tornam ela; ela pode estar repleto de boas ações, mesmo assim permanece moral e espiritualmente superficial.

Figos: O figo, a quarta das “Sete Espécies,” é também o fruto da “Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal” – o fruto que Adão e Eva provaram, cometendo assim o primeiro pecado da história. Como explica o ensinamento chassídico, “conhecimento” (daat) implica um envolvimento íntimo com a coisa conhecida (como no versículo “E Adão conheceu sua mulher”). O pecado de Adão derivou de sua recusa em reconciliar-se com a noção de que há certas coisas das quais ele deveria se distanciar; ele desejava conhecer intimamente cada canto do mundo de D’us, tornar-se envolvido com cada uma das criações de D’us. Mesmo o mal, mesmo aquilo que D’us tinha declarado fora do alcance dele.

O figo de Adão foi uma das forças mais destrutivas da história. Em seu igualmente poderoso disfarce construtivo, o figo representa nossa capacidade para um envolvimento profundo e íntimo em nosso próprio esforço positivo – um envolvimento que significa que somos um com aquilo que estamos fazendo

O ramo de uvas então nos mostra que devemos estar conectados com a videira – Israel –e também com a videira – Ieshua e não há qualquer choque em dizer que ambos são a videira, pois Ieshua está na criação com o Pai e dá origem à todas as coisas – inclusive à nação de Israel – e depois de milênios Ele nasce como homem em Israel – sendo judeu – para declarar-se como “a videira, videira verdadeira”. É impossível termo primeiro o “pacto com derramamento de sangue” sem estarmos ligados à Ieshua. Não há qualquer outro pacto ou qualquer outro sangue que possa perdoar pecados e trazer a redenção ao homem. Quando acontece do homem se unir a Ieshua então vem a alegria. Alegria da redenção, alegria de ter começado um projeto de restauração de vida, a alegria de herdar a salvação eterna e o mundo vindouro. Sem Ieshua nada disso é possível!

Por isso vemos que os espias de Canaã tiveram o privilégio de entrarem na terra para anunciarem aquilo que o Eterno já havia dito: a terra é maravilhosa e mana de fato leite e mel! O que nos espera é justamente isso: uma terra com riquezas e fartura, mas também uma terra que abrigue o Templo do Eterno e Sua presença para reinar sobre toda a terra!

Mário Moreno.