Mário Moreno/ maio 18, 2018/ Shavuot

Shavuot

Em meados do mês de Nissan, o povo de Israel saiu do Egito, da escravidão para a liberdade, e nem passados dois meses, os escravos hebreus chegaram ao Monte Sinai.

Qual o motivo de tanta pressa?

A Torah descreve a escravidão no Egito como algo brutal, cruel, que entorpecia a mente dos escravos. Ainda no deserto, libertos fisicamente, os hebreus continuaram a protestar e se lamentar, sem sair do seu torpor, e assim, sem compreender a grande transformação de suas vidas.

Qual era o remédio necessário para que o povo pudesse entender o grande momento que viviam?

Somente a Torah, com seus valores humanistas, com as Mitzvót práticas, éticas e morais nela apresentados, poderia elevar seus corações e atingir suas mentes doentias.

Não foi uma tarefa simples e fácil manter esse ideal em um povo escravizado durante séculos. Mesmo no deserto ainda pleiteavam contra Moisés, com saudades dos tempos no Egito. Foram necessários quarenta anos, durante os quais os conflitos e o desejo de retornar ao Egito fossem eliminados, para que então estivessem aptos a valorizar sua liberdade.

A liberdade da escravidão física e a liberdade espiritual deviam caminhar juntas, sem demora.

E assim no Monte Sinai, a Revelação e os Dez Mandamentos, princípios fundamentais da fé judaica, valores estes que foram transmitidos a toda a humanidade civilizada, foram os elementos que uniram o povo e lhe deu força e coragem para continuar sua marcha para a Terra Prometida.

Este espírito acompanhou o povo desde a saída do Egito, na época dos Juizes, da monarquia, e durante os séculos até se tornarem realmente livres… até os nossos dias.

O estudo da Lei recebida, que acompanhou nosso povo lado a lado, em todos os momentos mais difíceis, nas guerras contínuas que nosso povo foi obrigado a travar com seus vizinhos desde a antigüidade até os dias de hoje, foi a garantia para a nossa sobrevivência, ao contrário de tantos e tantos grandes povos e impérios, que desapareceram durante milênios.

É certo que a saída do Egito – da escravidão para a liberdade, é anterior à Revelação do Sinai. Todavia, sem a revelação do Sinai, a saída do Egito seria apenas um episódio muito curto na história de Israel, porque sem ela o povo de Israel não teria continuado a existir durante séculos e mais séculos, sem ela não teríamos chegado ao renascimento do Estado de Israel.

Shavuot

As festas significam para o povo judeu, além de seu aspecto religioso, a lembrança de acontecimentos nacionais. É sabido que as três festas nas quais a visita a Jerusalém e ao Templo é obrigatória estão ligadas à natureza e à terra: Festa da Primavera (Pessach), Festa da Ceifa (Shavuot) e a Festa da Colheita (Sucot). Na recomendação a respeito do cumprimento destas festas, a Torah salientou as duas últimas com as seguintes palavras: “E a Festa da Ceifa dos primeiros frutos por você plantados, e a Festa da Colheita ao terminar o ano agrícola ao recolher da terra os frutos do seu trabalho”. Mas não são apenas os acontecimentos naturais e religiosos que indicaram estas festas, foi o povo que exigiu que estas festas ligadas à natureza fossem consideradas festas nacionais e assim ficaram gravadas em nossas memórias até os dias de hoje. Estes acontecimentos, portanto, tiveram sua influência marcante no decorrer de todos os anos de exílio, ainda que desprovidos de seu caráter agrícola.

Com a renovação da vida nacional, após a declaração do Estado de Israel, o povo sentiu a necessidade de reativar a prática destas festas unindo o aspecto religioso ao aspecto rural, à ligação com a terra. Assim a Festa de Shavuot, cujo destaque é a Outorga da Torah no Monte Sinai, acentua-se sua característica agrícola com a Festa da Ceifa e das Primícias.

As festividades nos estabelecimentos educacionais e nas localidades rurais de todo o país assemelham-se muito, quanto à forma, às cerimonias que eram realizadas na época do Segundo Templo. Desta forma, o povo de Israel renova sua vida na atualidade como uma continuidade das origens de sua formação nacional, cultural e religiosa.

Uma canção

Com seus vários nomes e simbolismos, sua alegria pela entrega do Torah e início das colheitas, Shavuot é uma festa alegre, onde destacam-se várias músicas. Destacamos abaixo uma delas, que descreve o contentamento dos fiéis que iam a Jerusalém trazer os primeiros frutos de suas plantações.

Saleinu al Ktefeinu “Os cestos sobre nossos ombros
Rashenu Aturim As nossas cabeças enfeitadas
Miksót Haaretz Banu Dos confins do país viemos
Haveinu Bikurim As primícias trouxemos
Miyehuda Adhashomron Da Judéia até Samaria
Min Haemek Adhagalil Do vale até Galiléia
Panu Derech Lanu Abram alas, primícias trouxemos
Bikurim Itanu Primícias trouxemos
Hach, Hach, Hach Batof Toque, toque o tambor
Chelel Bechalil Toque, toque a flauta

Os diferentes nomes da Festa

São quatro os nomes de Shavuot:

Chag Hashavuót (Festa das Semanas) – A Torah denomina assim esta comemoração, devido às sete semanas cuja contagem iniciamos na segunda noite de Pessach.

Chag Hakatzir (Festa da Ceifa) – Baseia-se no versículo: “Vechag Hakatsir Bucurei Masseichá, asher tizrá bassade”, ou seja, “E a festa da Ceifa que é das Primícias de teus trabalhos, do que semearás no campo” (Ex 23.16).

Chag Habikurim (Festa das Primícias) – Festa na qual os agricultores levavam ao Templo de Jerusalém os primeiros frutos das sete espécies mencionadas na Torah como oferendas de agradecimentos ao Eterno pela boa colheita.

Zman Matan Toratênu (Data da entrega da nossa Torah) – Esta denominação não consta na Torah. Foi atribuída pela tradição popular como o dia em que o povo de Israel recebeu os mandamentos no Monte Sinai.

Costumes principais

Enfeitamos a Sinagoga com folhagem a fim de compará-la com o Monte Sinai, no dia da Revelação.

Lemos a história de Ruth, por tratar-se da época da Ceifa lembramos o Rei David, descendente de Ruth, cujo nascimento e morte ocorreram em Shavuot.

Lemos na Torah o trecho referente à Revelação do Eterno no Sinai e a outorga dos Dez Mandamentos ao povo judeu.

No segundo dia de Shavuot, realiza-se a homenagem aos nossos entes queridos que partiram: a oração de Izkor.

Receitas de Shavuot

Assim como as festas judaicas comemoram a passagem específicas de certos períodos de nossa história, as tradições da culinária acompanham a comemoração, destacando-se com preparos diferentes ligados simbolicamente à tradição festiva.

A Torah foi comparada ao leite e mel, tendo por base o versículo citado no livro Shir Hashirim (Cântico dos Cânticos): “Nofet Titofna Siftotaich Calá, D’Vash Vechalav Tachat Leshonech…” Ou seja: “Doçura está emanando dos teus lábios, ó noiva, mel e leite estão debaixo de tua língua…”

A mística judaica, ao interpretar este versículo, compara o leite e o mel a Torah, e a língua e os lábios, aos judeus, que sempre dedicam-se ao estudo e são versados no conhecimento da Torah.

Adaptação: Mário Moreno.