Mário Moreno/ novembro 9, 2017/ Artigos

Trigo

O que é o trigo? Vamos definir em primeiro lugar o que é para depois entrarmos em alguns aspectos bíblicos e judaicos acerca disso.

O trigo é uma gramínea que é cultivada em todo mundo. Globalmente, é a segunda-maior cultura de cereais, a seguir ao milho; o terceiro é o arroz. O grão de trigo é um alimento básico usado para fazer farinha e, com esta, o pão<, na alimentação dos animais domésticos e como um ingrediente na fabricação de cerveja. O trigo é plantado também estritamente como uma forragem para animais domésticos, como o feno.

Esta palavra vem do termo hebraico “hittâ” com o mesmo significado. O interessante é que em sua raiz temos os termos: “hanat” que significa “temperar, tornar temperado” e “hanutim” que significa “embalsamamento. O trigo é o elemento que traz “tempero” à humanidade e ele deve ser “embalsamado” – no sentido de ser “preservado” – pois somente assim a humanidade alcançará o favor do Eterno em sua busca pelo reino espiritual. O trigo é que fornece esta “matéria prima” para que a humanidade venha a ter um conhecimento do Eterno. O trigo transforma-se em farinha que evolui para tornar-se pão e o pão é o alimento essencial para a humanidade. A palavra é pão e Ieshua declarou ser o “pão da vida”. Desta forma percebemos que a finalidade do trigo é abençoar a vida daqueles que buscam ter um relacionamento com o Eterno. Por isso o grão de trigo quando cai na terra precisa primeiro morrer para depois gerar a vida que abençoará aos que dele necessitam. Sem a morte do trigo não existe a vida. Então, neste caso a morte preserva a vida!

Na guematria o resultado é: Trigo – 8 + 9 + 5 = 22 quereduzido dá 4. Isso demonstra que o trigo é um alimento para todo o mundo, pois o número 4 está ligado aos quatro contos do mundo! Este é o motivo pelo qual o Eterno “espalhou” o trigo – seus filhos – por todo o mundo. Não há ninguém no planeta terra que não necessite de um relacionamento com o Eterno e também que necessite das bênçãos vindas dos céus! O trigo aponta o caminho para estas pessoas conduzindo-as à presença do Todo-poderoso. O trigo é alimento para o mundo; não existiria o mundo caso o trigo não estivesse presente no mundo para dar a este mundo o alimento que traz consigo a salvação!

Bençãos

A primeira ocorrência da palavra “trigo” nas Escrituras está ligada a uma bênção dada por Itzhaq a seu filho Ia´aqov: “Assim, pois, te dê Elohim do orvalho dos céus, e das gorduras da terra, e abundância de trigo e de mosto“. O trigo é uma bênção dos céus que emerge na terra e que está intrinsecamente ligado ao vinho – mosto. O Criador daria a Ia´aqov abundância destas coisas. Mas o que é o mosto? Vejamos a sua definição: O mosto (do mŭstum, “novo”, “jovem”) é o sumo de uvas frescas obtido antes que passem processo de fermentação. Por extensão é o subproduto de qualquer fruta com alto teor de açúcar. Cada um destes “frutos” representa algo nas Escrituras: o trigo representa o homem justo: “Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Colhei primeiro o joio, e atai-o em molhos para o queimar; mas, o trigo, ajuntai-o no meu celeiro” Mt 13:30

Esta bênção dos céus está ligada à obediência e o Eterno deseja nos abençoar com a abundância de recursos vindos d´Ele. Para isso precisamos realmente nos sujeitar ao que Ele determinou em sua Palavra, pois as promessas multiplicam-se: “Oh! se o meu povo me tivesse ouvido! se Israel andasse nos meus caminhos! Em breve abateria os seus inimigos, e viraria a minha mão contra os seus adversários. Os que odeiam ao IHVH ter-se-lhe-iam sujeitado, e o seu tempo seria eterno. E o sustentaria com o trigo mais fino, e o fartaria com o mel saído da rocha Sl 81:13-16. A bênção dada a Ia´aqov é extensiva aos judeus em todo o mundo e é justamente esta bênção que “preserva” os judeus para serem obedientes ao Eterno. Isso significa também que os “judeus” seriam “trigo” – justos – pois o Eterno disse que daria a Ia´acov abundancia de trigo além de lhe dar também alegria – mosto. Por isso se diz que os judeus são tidos como “justos” diante do Eterno; pois além de obedecerem aos mandamentos do Eterno e temerem ao Eterno eles carregam consigo uma promessa do Eterno para seu Patriarca de que seus descendentes seriam “justos”. Veja que Ia´acov não pediu isso; o Eterno é que lhe disse que faria isso com eles!

Uma outra bênção que o Eterno traria sobre a Casa de Israel seria a restauração de Seu Nome – e consequentemente de Sua Palavra – entre os gentios assim como a restauração de Israel como uma nação única em toda a terra. O fato dos judeus estarem espalhados por toda a terra realizaria isso, pois são eles que tem o conhecimento não somente acerca do verdadeiro nome do Eterno como também de sua Palavra. Isso aconteceria de forma gradativa, ou seja, um passo por vez. A restauração da nação de Israel já começou mas ainda está em andamento. Os judeus em Israel e no mundo estão “recebendo um coração restaurado” e servindo de exemplo para as demais nações onde eles estão ainda “espalhados”. E é justamente neste tempo que o Eterno chamaria o “trigo” para que eles não tivessem nunca mais fome! Ora o trigo começa seu período de amadurecimento em Shavuot, que é justamente o tempo em que dá-se início à colheita deste e dos outros “frutos de Shavuot”. Veja o que diz o profeta: “Dize portanto à casa de Israel: Assim diz o IHVH Elohim: Não é por respeito a vós que eu faço isto, ó casa de Israel, mas pelo meu santo nome, que profanastes entre as nações para onde fostes. E eu santificarei o meu grande nome, que foi profanado entre os gentios, o qual profanastes no meio deles; e os gentios saberão que eu sou o IHVH, diz o IHVH Elohim, quando eu for santificado aos seus olhos. E vos tomarei dentre os gentios, e vos congregarei de todas as terras, e vos trarei para a vossa terra. Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. E dar-vos-ei um coração restaurado, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis. E habitareis na terra que eu dei a vossos pais e vós sereis o meu povo, e eu serei o vosso Elohim. E livrar-vos-ei de todas as vossas imundícias; e chamarei o trigo, e o multiplicarei, e não trarei fome sobre vósEz 36:22-29.

Estas promessas são para aquelas pessoas que podemos chamar de “justas” e que estão ligadas à casa de Israel. O trigo além de representar o justo representa também a fartura de pão que eles teriam para alimentarem-se até a saciedade. O pão também representa a Palavra do Eterno e Israel tem tido ao longo dos tempos a abundância da Palavra para alimentar-se e também para alimentar as nações do mundo inteiro que ali – neles e com eles – buscam alimentar-se. Neste texto o profeta vê Israel como uma nação “justa” e “limpa” pelo Eterno! O texto fala do cumprimento das promessas do Eterno feitas aos patriarcas quanto à terra de Israel. Isso já se cumpriu em parte, mas é o suficiente para sabermos que se isso já aconteceu com Israel então podemos esperar que o Eterno fará o mesmo à todos os seus filhos espalhados pelas nações do mundo. Shavuot é o tempo do trigo se ajuntar com outros trigos; é também o tempo da busca pela identidade e a transformação que trará consigo não somente a bênção mas também a salvação.

Mandamento

O trigo está também relacionado com os mandamentos do Eterno e isso está ligado às Festas do Eterno. Em Shavuot – Festa que é mandamento perpétuo – isso se manifesta de uma forma muito clara. Senão vejamos o que nos diz a Palavra do Eterno: “Também guardarás a festa das semanas, que é a festa das primícias da sega do trigo, e a festa da colheita no fim do ano” Ex 34:22. Neste verso temos relacionadas duas Festas: Shavuot e Sucot. Uma dando início ao período de colheita do trigo e outra o fim deste mesmo período. A ordem é para obedecer ao mandamento das Festas, pois sabemos que cada Festa carrega consigo uma “unção” própria e que quando participamos da referida Festa recebemos as bênçãos decorrentes da Festa em si e também somos restaurados em alguma área de nossa vida. Por isso a participação nas Festas é tão fundamental para nós que desejamos estar cada vez mais próximos do Eterno.

Na época das Festas acontece a visitação do Eterno que vem sobre toda a terra, pois é justamente neste tempo que os céus se abrem de uma forma diferenciada a fim de trazer para a terra as bênçãos para os servos do Eterno que são obedientes à Sua Palavra. E isso acontece assim: “Tu visitas a terra, e a refrescas; tu a enriqueces grandemente com o rio de Elohim, que está cheio de água; tu lhe preparas o trigo, quando assim a tens preparada. Enches de água os seus sulcos; tu lhe aplanas as leivas; tu a amoleces com a muita chuva; abençoas as suas novidades. Coroas o ano com a tua bondade, e as tuas veredas destilam gordura. Destilam sobre os pastos do deserto, e os outeiros os cingem de alegria. Os campos se vestem de rebanhos, e os vales se cobrem de trigo; eles se regozijam e cantam Sl 65:9-13. Veja que uma parte destas bênçãos se referem ao trigo, ou seja, o justo estará sendo alcançado por estas bênçãos através das Festas do Eterno e estará também ministrando a Palavra do Eterno para aqueles que estão ao seu redor vivendo os mandamentos do Eterno – neste caso as Festas – que trarão consigo o resultado da obediência: a quebra do jugo do maligno sobre a vida destas pessoas e também op derramar da água – Palavra – e da unção do Eterno que trará também cura e restauração aos que a desejam.

Tempo de Livramento

Em Shavuot acontecem também outros fatos que apontam para realidades proféticas passadas e presentes. Observe: “Então o anjo do IHVH veio, e assentou-se debaixo do carvalho que está em Ofra, que pertencia a Joás, abiezrita; e Gideão, seu filho, estava malhando o trigo no lagar, para o salvar dos midianitas Jz 6:11. É justamente neste tempo – de Shavuot – que o Eterno levanta grandes servos seus para a realização de grandes obras na terra. Isso aconteceu com Gideão, que é visitado pelo Eterno chamando-o para ser o libertador de Israel justamente no tempo de Shavuot! Era um tempo de medo e falta de esperança para eles; porém com o chamado de Gideão tudo muda e através daquele homem a sorte do povo de Israel muda e os inimigos são vencidos de forma milagrosa. O nome “Gideão” vem da raiz hebraica “gada´” e significa “abater, cortar fora, cortar em dois”. Isso significa que seu nome aponta para a sua função: abater e cortar fora os seus inimigos! Este foi o motivo pelo qual o Eterno o chama para livrar a Israel e isso aconteceu justamente em Shavuot.

Um outro exemplo de livramento dos inimigos está registrado no mesmo livro e diz o seguinte: “E aconteceu, depois de alguns dias, que, na sega do trigo, Sansão visitou a sua mulher, com um cabrito, e disse: Entrarei na câmara de minha mulher. Porém o pai dela não o deixou entrar. E disse-lhe seu pai: Por certo pensava eu que de todo a desprezavas; de sorte que a dei ao teu companheiro; porém não é sua irmã mais nova, mais formosa do que ela? Toma-a, pois, em seu lugar. Então Sansão disse acerca deles: Inocente sou esta vez para com os filisteus, quando lhes fizer algum mal. E foi Sansão, e pegou trezentas raposas; e, tomando tochas, as virou cauda a cauda, e lhes pôs uma tocha no meio de cada duas caudas. E chegou fogo às tochas, e largou-as na seara dos filisteus; e assim abrasou os molhos com a sega do trigo, e as vinhas e os olivais Jz 15:1-5. Em Shavuot Sansão se vinga dos filisteus ateando-lhes fogo às suas plantações de trigo! Isso nos fala acerca do enfraquecimento e da derrota de nossos adversários justamente em Shavuot. Eles não poderão resistir aos justos e serão debilitados tendo suas “plantações” destruídas! Sansão tira dos filisteus três coisas: os “justos” que estavam entre eles [trigo], a alegria [as vinhas] e a unção [os olivais], despojando-os das riquezas espirituais que sustentam a vida do homem. Sem estas coisas o homem nada é. Portanto, com esta atitude Sansão retira e seus inimigos aquelas coisas que poderiam fazer com que eles se aproximassem do Eterno. Agora é tempo de juízo para eles e isso fica claro com a atitude de Sansão que julga os filisteus e os derrota sistematicamente até que desobedece. Quando ele age de forma a quebrar o juramento que fizera, então sua derrota acontece! Mas, enquanto isso não acontece, ele é usado pelo Eterno para julgar e punir os filisteus castigando-os de forma contínua, humilhando-os e levando-os ao desespero!

Shavuot é também o tempo de nos consertarmos diante do Eterno. O Eterno nos avisa que para podermos receber suas bênçãos precisamos também estar “limpos” diante de´Ele. Veja o exemplo do que aconteceu na época da Festa em Israel: “Não é hoje a sega do trigo? Clamarei, pois, ao IHVH, e dará trovões e chuva; e sabereis e vereis que é grande a vossa maldade, que tendes feito perante o IHVH, pedindo para vós um rei. Então invocou Samuel ao IHVH, e o IHVH deu trovões e chuva naquele dia; por isso todo o povo temeu sobremaneira ao IHVH e a Samuel. E todo o povo disse a Samuel: Roga pelos teus servos ao IHVH teu Elohim, para que não venhamos a morrer; porque a todos os nossos pecados temos acrescentado este mal, de pedirmos para nós um rei I Sm 12:17-19. Foi justamente no início da Festa que Shmuel falou aos israelitas acerca de um pecado que eles haviam cometido: trocaram o Eterno por um rei terreno! Nós sabemos que as chuvas precedem a colheita; não há chuvas durante a colheita! E o sinal que o Eterno deu a Israel foi que choveria durante a colheita e isso serviria para testemunhar a maldade que os israelitas fizeram em desobedecer ao Eterno pedindo-lhe um rei. O objetivo disso era gerar teshuva – arrependimento – a fim de que eles pudessem então voltar ao Eterno e novamente partilharem das bênçãos a eles prometidas.

Um outro exemplo de conserto aconteceu com David: “Subiu, pois, David, conforme a palavra de Gade, que falara em nome do IHVH. E, virando-se Ornã, viu o anjo, e esconderam-se seus quatro filhos que estavam com ele; e Ornã estava trilhando o trigo. E David veio a Ornã; e olhou Ornã, e viu a David, e saiu da eira, e se prostrou perante David com o rosto em terra. E disse David a Ornã: Dá-me este lugar da eira, para edificar nele um altar ao IHVH; dá-mo pelo seu valor, para que cesse este castigo sobre o povo. Então disse Ornã a David: Toma-o para ti, e faça o rei meu senhor dele o que parecer bem aos seus olhos; eis que dou os bois para holocaustos, e os trilhos para lenha, e o trigo para oferta de alimentos; tudo dou. E disse o rei David a Ornã: Não, antes, pelo seu valor, a quero comprar; porque não tomarei o que é teu, para o IHVH, para que não ofereça holocausto sem custo. E David deu a Ornã, por aquele lugar, o peso de seiscentos siclos de ouro I Cr 21:19-25. Após haver pecado contando o povo agora David vê a praga cessar e compra o terreno de um homem para ali construir o templo do Eterno! Um arrependimento que trouxe bênção para toda uma nação! O rei David agiu da forma certa e através de seu posicionamento naquele instante o Eterno pode dar a Israel o local onde mais tarde seria construído o templo do Eterno, o local da habitação do D-us de Israel e o local onde os judeus celebrariam as festas do Eterno e também fariam seus sacrifícios e ensinariam as Escrituras em Jerusalém!

Tempo de restauração / restituição

Shavuot – a colheita do trigo – é tempo de restituição e isso ocorre quando o Eterno devolve algo a seus filhos de forma a alegrar-lhes o coração. Vejamos o exemplo: “E vós, filhos de Sião, regozijai-vos e alegrai-vos no IHVH vosso Elohim, porque ele vos dará em justa medida a chuva temporã; fará descer a chuva no primeiro mês, a temporã e a serôdia. E as eiras se encherão de trigo, e os lagares transbordarão de mosto e de azeite. E restituir-vos-ei os anos que comeu o gafanhoto, a locusta, e o pulgão e a lagarta, o meu grande exército que enviei contra vós. E comereis abundantemente e vos fartareis, e louvareis o nome do IHVH vosso Elohim, que procedeu para convosco maravilhosamente; e o meu povo nunca mais será envergonhado Jl 2:23-26. Neste caso a restituição acontece de uma forma muito ampla, e não somente isso, mas a restituição envolve anos passados de insucessos causados pelos adversários que tiveram permissão em nos espoliar. O Eterno permitiu e agora Ele age de maneira contrária; o que foi perdido retorna às nossas mãos e a vergonha deixa para sempre nossas vidas! A restituição envolve fatores físicos – materiais – mas envolve também fatores espirituais (relativos às nossas emoções). Nunca recebemos somente parte da bênção; ou recebemos tudo ou recebemos nada! O Eterno em Shavuot nos dará trigo – comida em abundância – a fim de que possamos não somente sermos abençoados, mas também para abençoarmos a muitos que estão ao nosso redor e que também precisam ver e experimentar estas bênçãos concernentes à obediência das Escrituras.

Que o Eterno faça cumprir tudo isso em nossas vidas em nome de Ieshua!

Mário Moreno.