Véspera da Vida
Véspera da Vida
Perdição, desespero e destruição. Tudo aconteceu tão rápido depois das promessas de uma vida 
idílica. E tudo com duas mordidas no fruto proibido. O homem, a quem foi prometida a felicidade eterna no Jardim do Éden, está agora amaldiçoado com uma infinidade de infortúnios. Ele deve labutar com o suor do seu rosto, trabalhar uma terra que produza espinhos e cardos. Sua esposa deve suportar a dor do parto com todas as suas implicações fisiológicas. Tudo isso é coroado com a mais poderosa maldição de que “você é do pó e ao pó retornará”.
Mas parece que Adam interpreta todas as notícias na perspectiva adequada. No versículo que segue imediatamente às maldições, Adam não espalha culpas nem lamenta seu destino. Ele continua desenvolvendo a civilização exatamente de onde parou. Antes de conhecer Eva e comer do fruto proibido, Adam começou a classificar todas as coisas vivas com nomes que descreviam apropriadamente seus atributos. Após as maldições ele continua. Ele nomeia sua esposa.
“Adam chamou sua esposa de Chava porque ela era a mãe de toda a vida.” (Gn 3:20)
Não é inadequado que Adam dê à sua esposa o nome de Chava – a mãe de toda a vida – imediatamente após a maldição da morte? Que mensagem a Torah está nos enviando com essa justaposição?
Rav Levi Yitzchok de Berditchev era conhecido por seu amor e boa vontade para com seus companheiros judeus, sempre tentando avaliar o que há de bom nas pessoas, em vez de expor o que há de ruim.
Certa vez, no Jejum de Tish’a B’av, ele viu um judeu comendo em um restaurante não-kosher. Ele bateu de leve na janela do estabelecimento e chamou o homem para fora.
“Talvez você tenha esquecido que hoje é um dia de jejum?” Rav Levi Yitzchok questionou.
“Não Rebe”, respondeu o homem.
“Então talvez você não tenha percebido que este restaurante não é kosher.”
“Não Rebe, eu sei que é um restaurante traife (não-kosher).”
Rav Levi Yitzchok colocou suavemente as mãos nos ombros do homem e olhou para o céu. “Ribbono Shel Olam, Mestre do Universo”, exclamou ele. “Veja como seus filhos são maravilhosos. Eles podem estar comendo em um dia de jejum. Para começar, em um restaurante não-kosher. No entanto, eles se recusam a emitir uma falsidade dos seus lábios!”
Adão ouviu a maldição lançada sobre si mesmo, sua esposa e a humanidade por toda a eternidade. Sua reação imediata não foi de desprezo ou crítica. Ele chamou sua esposa de Chava, derivado da palavra “vida”. Ele via a mulher a quem certa vez culpara por sua queda com uma perspectiva diferente. Ele viu apenas a véspera da vida – e assim a nomeou assim. Depois da tragédia e da derrota, há culpa suficiente para partilhar e espalhar. Adam juntou os pedaços e apreciou a beleza do que restou.
Ele não se viu às vésperas da destruição. Ele se viu no início da vida. E ele apreciava muito essa vida.
Tradução: Mário Moreno