Mário Moreno/ maio 6, 2020/ Artigos

O destino judaico e o livro de Ezequiel

Ezequiel (Yechezkel: יְחֶזְקֵאל) era um sacerdote judeu e profeta hebreu que viveu os devastadores tempos da destruição do 1º Templo Judaico (586 A/C) e o posterior exílio do povo judeu para a Babilônia.

O Profeta foi exilado na verdade uns 11 anos antes que o 1º Templo fosse destruído, e se juntou aos outros exilados que foram tomados quando o Rei de Judá, isto é, Jeconias foi destronado por Nabucodonosor.

Enquanto ele estava no exílio ao longo do Rio Kebar, Ezequiel teve uma visão surpreendente da Merkavá (“carruagem”) de D-us com 4 ofanim (“rodas de fogo”), inspirando os querubins, mediante ao S-nhor sentado sobre um trono de safira (Ezequiel 1).

Esta visão marcou o início do oficio profético de Ezequiel para os exilados, que consistia principalmente de uma série de visões no que diz respeito à iminente destruição do 1º Templo, junto com profecias sobre a queda das Nações ao redor, a visão dos ‘ossos secos’ voltando à vida (ou seja, a ressurreição futura de Israel), a grande profecia da guerra contra Gog e Magog e o clímax da visão do futuro Templo durante a era messiânica… (o milênio)

Uma Tradição judaica da antiguidade tendia a considerar que o livro de Ezequiel (סֵפֶר יְחֶזְקֵאל) era tão difícil de compreender (e até mesmo questionável) por uma variedade de razões.

Em primeiro lugar, os antigos sábios ficaram perturbados pelas aparentes contradições entre a visão de Ezequiel do serviço do Templo e as leis dadas na Torah.

Por exemplo, vários rituais do Templo e as regras descritas no livro parecem ter sido alterados das leis dadas anteriormente no livro de Levítico.
Segundo os antigos sábios pensavam que Ezequiel teve um “retrocesso” por re-enfatizar o papel do Templo. Até por causa de Miquéias 6:6-8.
Em terceiro lugar, outros antigos sábios se opuseram as visões místicas encontradas no livro (especialmente a visão da Merkavá), e advertiram que incentivar o misticismo poderia desviar as pessoas.

Apesar destas objeções, no entanto, o livro de Ezequiel foi eventualmente aceito no cânon das escrituras judaicas (e assim na bíblia de hoje), e hoje algumas partes são publicamente lidas na Haftará, não menos do que dez vezes por ano.

Parte do crédito para a inclusão do livro de Ezequiel no Canon das escrituras, é dito ter sido um êxito de um dos nossos sábios do 1º Século chamado Ezequias ben Hananias (70 D/C), que tinha a fama de ter usado ‘trezentas medidas de óleo’ (para manter suas luzes acesas) por que estudou incansavelmente a profecia e harmonizando-a com as leis da Torah: ‘se não fosse por ele, o livro de Ezequiel ficaria escondido’ (Talmud: Trat. Shabath 13b).

Hoje a tradição judaica aceita amplamente o livro de Ezequiel pela compreensão de que a necessidade de ritual é uma parte da vida judaica, assim como é o estudo da Torah, a prática de Tzedaká (caridade – justiça) e assim por diante.

Entre os Judeus ortodoxos, e messiânicos, no entanto, o livro de Ezequiel prediz o tempo quando o Messias virá para o povo judeu e estabelecer o Reino de Tzion (Sião) sobre toda a terra.

Comentaristas mais modernos dividem o livro de Ezequiel em quatro principais divisões:
(1) capítulos 1-24 fornecem avisos proféticos antes da destruição do 1º Templo.
(2) capítulos 25-32, fornecem profecias durante a queda de Jerusalém, incluindo profecias de juízo sobre as nações vizinhas.
(3) profecias de 33-39, capítulos após Destruição de Jerusalém, incluindo as promessas da futura restauração e bênçãos para Israel. (4) capítulos 40-48, a grande visão do futuro Templo e sua glória no mundo por vir (ou seja, o Reino milenar – Era Messiânica).

Em Ezequiel 44:15-31 vem da última seção do livro (capítulos 40-48) que prediz a glória do Futuro Templo que será construído após a redenção Final, durante os 1000 anos do Reino de Tzion (Sião – Era Messiânica).
Este Templo, note que; será construído pelo Messias Ieshua após sua segunda vinda e é melhor compreendido como o ‘4º Templo’, desde o ‘3º Templo’ será “destruído” (ou profanado) no final do período da grande tribulação….

A conexão entre a nossa porção de leitura publica da Torah (Emor) e a porção de leitura dos profetas Haftará centra-se claramente sobre o papel dos sacerdotes e a continuação das Festas do Senhor (Moadim) no mundo por vir (Olam Habá).

A frase de abertura da Parashá (Levitico 21:1) – ‘Diga aos sacerdotes’ – portanto, está ligada ao serviço descrito pelos sacerdotes no Reino milenar no próximo Templo. Como as instruções dadas na parte da Torah, Ezequiel declara que; ‘os sacerdotes devem ensinar meu povo a diferença entre o Santo e o profano e mostrar-lhes como distinguir entre o imundo e o limpo’. ‘Em uma disputa, devem agir como juízes e eles devem julgar de acordo com meus juízos. Eles devem manter as minhas leis e meus estatutos em todas as minhas festas apontadas, e devem manter meu sábado sagrado’ (Ezequiel 44:23-24, cp. Levitico 10:10-11).

Observe que além de ensinar as pessoas à diferença entre o Santo e o profano, os sacerdotes vão julgar as pessoas e ensiná-las sobre o Shabat, Rosh Chodesh (Lua nova), Sukot e outras festas (especialmente Pesach e Sukot: Ezequiel 45:17-25).

Curiosamente, os sacerdotes do Templo milenar só serão aqueles que são diretos descendentes de Tzadok (צָדוֹק), que foi o primeiro sumo sacerdote no Templo de Salomão (I Reis 2:35).

Tzadok demonstrou lealdade ao Rei David durante a insurreição de Absalão (II Samuel 15) e mais tarde ungiu Salomão para ser o rei de Israel após a tentativa fracassada de Adonias para tomar o trono (II Reis 1:32).
Tzadok também era conhecido por ser um descendente direto de Pinchas (Fineias), o neto de Aarão, o qual lhe foi prometido uma aliança Sacerdotal Perpetua em suas gerações (Números 25:13).

Em Ezequiel 44:15, em outras palavras, os outros descendentes dos levitas irão ser proibidos do sagrado serviço no lugar Santo do futuro Templo Milenial….

Alguns dos comentadores judaicos (ou seja, Radak). Note que; o nível espiritual dos sacerdotes ‘Zadokitas’ subirá para ser igual ao do sumo sacerdote conforme descrito na parte da Torah (Parashá Emor).

Por exemplo, todos os sacerdotes usarão o vestuário de linho que o Sumo Sacerdote usava durante o Iom Kipur (Ezequiel 44:17-19) e mais, as regras rigorosas para a santidade exigida do sumo sacerdote são agora aplicadas a todos os sacerdotes ‘Zadokitas’.

Em outras palavras, todos os sacerdotes terão os padrões mais elevados de santidade anteriormente necessários somente ao Sumo Sacerdote. (Cohen HaGadol)
Os sacerdotes vão comer as ofertas, ofertas de pecado, ofertas de culpa, primeiros frutos e Terumah (contribuições Especiais) dadas pelo povo no para o novo templo.

As maiorias das pessoas e dos cristãos ficam perturbadas com a ideia de um sacerdócio judaico operando no mundo por vir (Olam Habá – Milênio) e especialmente com a ideia que os vários sacrifícios descritos em Ezequiel serão oferecidos após o sacrifício de Ieshua o Cordeiro de D-us.
Na verdade, Ezequiel descreve ofertas de Sacrifício (dada pelo regente do rei Davi) para o dia de sábado (46-5), a lua nova (46:6-8), as festas (46:9-12), bem como os sacrifícios diários (tamid) – (46:13-15).
Porque tudo isso parece inconsistente com a mensagem do Evangelho, muitos Cristãos tentam ‘alegorizar’ (fazer do texto uma alegoria) ou espiritualizam o livro de Ezequiel e aplicam a sua mensagem como uma visão da Igreja triunfante no céu.

Deve ser observado, no entanto, que o que está sendo descrito em Ezequiel pertence à um tempo ou era que se segue após a “era da Igreja”.
A linguagem de descrição de Ezequiel do Templo é muito precisa para caber tal ‘alegoria’ ou ‘espiritualização’ dos Textos.
O livro de Ezequiel faz muitas descrições pormenorizadas dos Sacrifícios, das Festas do Senhor, a descrição da ‘cidade do Senhor’, a herança das tribos.

É melhor, então, para compreender o futuro Templo, isto ser a forma da qual um Israel remido vai comemorar (ou memorizar) o sacrifício de Ieshua como verdadeiro sumo sacerdote e Rei de Israel.
Pensando bem, se os sacrifícios oferecidos no sistema sacerdotal antes da Cruz aguardavam com expectativa para o sacrifício de Ieshua, é lógico que os sacrifícios no futuro Reino de Tzion (Sião) irão comemorar seu Sacrifício como Cordeiro de D-us, O D-us de Israel…

Quando lemos consistentemente as Escrituras usando o Método histórico gramatical, o livro de Ezequiel fortemente refuta o erro da ‘teologia cristã da substituição’, e mesmo os sábios judeus compreenderam que o livro de Ezequiel seja a expressão ritual das palavras de outros Profetas hebreus, tais como Isaías, Jeremias, Zacarias e assim por diante.

Assim Veja por que o estudo da língua hebraica (ou seja, a ‘língua do Reino’) e o estudo e a pratica das Festas do Senhor (Moadim) são tão importantes para nós, Haverim (Amigos).

Os Propósitos de D-us permanecem os mesmos, e a Torah é uma parte do nosso patrimônio (ainda mais como seguidores de Ieshua, o Messias judeu e nosso Salvador…)
Aqueles que ignoram (ou ‘interpretam alegoricamente’) a literal leitura do livro de Ezequiel provavelmente vão ser escandalizados com a clara mensagem do livro de Esther, também.

O nome Ezequiel significa;
‘D-us [אֵל] – El dará força [יֶחֱזַק] Yechezak’ e a sua mensagem é de esperança e força (Hazak) para os judeus e toda a humanidade… Como o Emissário Paulo previa: ‘um dia todo o Israel vai ser salvo e as promessas dos profetas hebreus serão completamente cumpridas’ (Romanos 11:26).
Que esse dia possa vir em breve em nossos dias!

Adaptação: Mário Moreno.