Três milhões de peregrinos
Três milhões de peregrinos
Quando falamos sobre a caminhada do povo de Israel saído do Egito e indo em direção a Canaã temos então uma estimativa quanto ao número de pessoas que saíram libertas para formar a nação de Israel. Segundo a tradição judaica, haviam 3 milhões de pessoas no deserto!
Mas, como chegou-se a este número? Vejamos o que diz a tradição:
Quanto ao número de líderes que foram separados por Moshe para o auxiliarem na resolução de problemas do povo:
Líderes de 10 = 300.000
Líderes de 50 = 60.000
Líderes de 100= 30.000
Líderes de 1000 = 3.000
Totalizando: 393.000
Cortando os zeros temos o valor de 393 que representam as letras גצש
Guimel ג 3
Tsade 90 צ
Shim 300 ש
Vamos agora analisar cada letra individualmente para chegarmos a uma conclusão:
- Mistérios do Gimel
No Talmud diz-se que o Gimel simboliza um homem rico correndo atrás de um homem pobre (a próxima letra Dalet) para lhe dar tzedakah (caridade); (dalut) em hebraico significa “empobrecido”. Gimel representa, assim, a livre escolha de correr atrás do ensino da Torah, praticando atos de Chesed (misericórdia).
A raiz (Gamal) significa “repartir, dar ou desmame”. A palavra (g’mul) significa tanto “recompensa ou benefício”, indicando que a natureza da doação pode levar a uma bênção ou julgamento para aquele que dá. Em outras palavras, como alguém escolhe “correr” a corrida no Olam Hazeh irá determinar o resultado de sua vida no Olam habah. Daí Guemilut chasidim é a prática de bondade para com os outros.
As partes de Gimel somam 16, o mesmo valor para o verbo “ser”, indicando, assim, que a nossa doação afeta a natureza de nossa existência no reino do espírito.
Esta letra é então formada por três partes e o número três representa também a estabilidade, como três pernas de um banquinho. Desde a Mishnah (Torah oral), é dito que o próprio mundo está fundado em três coisas: a Torah, avodah (adoração) e atos de bondade. Outras importantes “tríades” incluem os três patriarcas (Abraão, Isaac e Ia´aqov) e as seções do Tanakh (Torah, Neviim e Ketuvim).
- O Significado de Tsade
Tzadi obteve seu nome a partir da forma de um “anzol” ou talvez uma armadilha de aves, o que está relacionado com a raiz tzod, que significa “caçar, apanhar, capturar.” Note que a letra em si é formada a partir de um Nun dobrado e um Vav. O Nun representa um servo humilde e fiel (o Vav coroado), que é dobrado em submissão. O Yod representa uma mão levantada para os céus, ou o Espírito de D-us. O tzaddik – a pessoa justa – é, portanto, revelado na forma de letra como um servo fiel com os braços erguidos diante do Senhor em humildade.
O notável rabino cabalista Isaac Luria (1534-1572) afirmava que D-us criou o mundo por um ato de tzimtzum – a retirada voluntária ou contração – a fim de “criar espaço” para a Sua criação. Desdeque a palavra “tzimtzum” começa com a letra Tsade, Luria raciocinou que o primeiro ato criativo foi esta humildade voluntária de D-us como Ele abriu espaço para as outras formas de vida que Ele estava a criar.
O conceito de tzimtzum é um tanto paradoxal, uma vez que, por um lado, se D-us não se limitou, em seguida, nada poderia existir – tudo seria esmagado pela totalidade de D-us; e, por outro lado, D-us sustenta continuamente o universo criado (imanência).
Da perspectiva do tzaddik, tzimtzum significa “tornar-se menos, a fim de fazer os outros mais”, outra alusão à humildade que está incorporada dentro da pessoa justa.
- Mistérios da letra Shin
Os três pilares que podem ser vistos em sua forma são interpretados como as colunas da Árvore da Vida: Amor, Temor e Equilíbrio. Vista como três letras Vav unidas pela base, ao somá-las obtemos a guematria 18, que é a mesma da palavra “Chai” que significa “vida”.
Shin é também associado a Shein (dente) pois, do mesmo modo que os dentes trituram a comida para que ela possa ser digerida, Shin “mastiga” a Torah, para que os seus ensinamentos possam ser absorvidos pela mente e pelo coração. Chegamos à mesma conclusão quando analisamos a posição do Shin na Árvore da Vida, entre as sefirót Chochmá (sabedoria) e Biná (entendimento): a sabedoria de Chochmá é caótica até ser organizada por Biná; o discernimento de Biná é inútil sem Chochmá como parâmetro. Shin estabelece uma comunicação entre uma coisa e outra.
Nos estudos feitos nas Yeshivas rabinaticas sobre Ieshua, a letra Shim está associada a Samaria (Shomron), e as 10 tribos perdidas.
Também significa fogo, relacionado às mudanças que o fogo proporciona nas moléculas em resposta a ele (Shina = mudança). O fogo representa a provação, ligado a passagens que falam da que seremos provados no fogo.
Quando juntamos todas estas evidências podemos então entender que pelo número de homens que auxiliariam Moshe temos então o número aproximado de três milhões de pessoas que foram tiradas do Egito e que precisavam de cuidados a fim de permanecerem em harmonia no deserto e também buscarem ouvir, aprender e obedecer aos ensinos do Eterno trazidos por Moshe a fim de que pudessem ter um padrão celestial no deserto, pois quando chegassem em Canaã poderiam vivenciá-lo e desta forma estabelecerem a nação dentro destes padrões!
É fundamental entendermos que era necessário um árduo trabalho para que todo o povo pudesse ouvir, entender e depois vir a obedecer às Leis e mandamentos dados pelo Eterno através de Moshe.
Por isso temos em mente que todas as dificuldades que Moshe passou para levar o povo até Canaã foram causadas por diversos motivos, mas o pior deles foi sem dúvida a rebelião.
Que o Eterno nos ajude e nos guarde para que em nossa caminhada possamos ouvir, aprender e viver as Escrituras sempre com humildade e buscando distanciar-nos cada vez mais deste espírito de rebelião que somente nos leva à morte.
Baruch Há Shem!
Adaptação: Mário Moreno.