Três milhões de peregrinos

Mário Moreno/ fevereiro 13, 2019/ Artigos

Três milhões de peregrinos

Quando falamos sobre a caminhada do povo de Israel saído do Egito e indo em direção a Canaã temos então uma estimativa quanto ao número de pessoas que saíram libertas para formar a nação de Israel. Segundo a tradição judaica, haviam 3 milhões de pessoas no deserto!

Mas, como chegou-se a este número? Vejamos o que diz a tradição:

Quanto ao número de líderes que foram separados por Moshe para o auxiliarem na resolução de problemas do povo:

Líderes de 10 = 300.000

Líderes de 50 = 60.000

Líderes de 100= 30.000

Líderes de 1000 = 3.000

Totalizando: 393.000

Cortando os zeros temos o valor de 393 que representam as letras גצש

Guimel ג 3

Tsade 90 צ

Shim 300 ש

Vamos agora analisar cada letra individualmente para chegarmos a uma conclusão:

  1. Mistérios do Gimel

No Talmud diz-se que o Gimel simboliza um homem rico correndo atrás de um homem pobre (a próxima letra Dalet) para lhe dar tzedakah (caridade); (dalut) em hebraico significa “empobrecido”. Gimel representa, assim, a livre escolha de correr atrás do ensino da Torah, praticando atos de Chesed (misericórdia).

A raiz (Gamal) significa “repartir, dar ou desmame”. A palavra (g’mul) significa tanto “recompensa ou benefício”, indicando que a natureza da doação pode levar a uma bênção ou julgamento para aquele que dá. Em outras palavras, como alguém escolhe “correr” a corrida no Olam Hazeh irá determinar o resultado de sua vida no Olam habah. Daí Guemilut chasidim é a prática de bondade para com os outros.

As partes de Gimel somam 16, o mesmo valor para o verbo “ser”, indicando, assim, que a nossa doação afeta a natureza de nossa existência no reino do espírito.

Esta letra é então formada por três partes e o número três representa também a estabilidade, como três pernas de um banquinho. Desde a Mishnah (Torah oral), é dito que o próprio mundo está fundado em três coisas: a Torah, avodah (adoração) e atos de bondade. Outras importantes “tríades” incluem os três patriarcas (Abraão, Isaac e Ia´aqov) e as seções do Tanakh (Torah, Neviim e Ketuvim).

  1. O Significado de Tsade

Tzadi obteve seu nome a partir da forma de um “anzol” ou talvez uma armadilha de aves, o que está relacionado com a raiz tzod, que significa “caçar, apanhar, capturar.” Note que a letra em si é formada a partir de um Nun dobrado e um Vav. O Nun representa um servo humilde e fiel (o Vav coroado), que é dobrado em submissão. O Yod representa uma mão levantada para os céus, ou o Espírito de D-us. O tzaddik – a pessoa justa – é, portanto, revelado na forma de letra como um servo fiel com os braços erguidos diante do Senhor em humildade.

O notável rabino cabalista Isaac Luria (1534-1572) afirmava que D-us criou o mundo por um ato de tzimtzum – a retirada voluntária ou contração – a fim de “criar espaço” para a Sua criação. Desdeque a palavra “tzimtzum” começa com a letra Tsade, Luria raciocinou que o primeiro ato criativo foi esta humildade voluntária de D-us como Ele abriu espaço para as outras formas de vida que Ele estava a criar.

O conceito de tzimtzum é um tanto paradoxal, uma vez que, por um lado, se D-us não se limitou, em seguida, nada poderia existir – tudo seria esmagado pela totalidade de D-us; e, por outro lado, D-us sustenta continuamente o universo criado (imanência).

Da perspectiva do tzaddik, tzimtzum significa “tornar-se menos, a fim de fazer os outros mais”, outra alusão à humildade que está incorporada dentro da pessoa justa.

  1. Mistérios da letra Shin

Os três pilares que podem ser vistos em sua forma são interpretados como as colunas da Árvore da Vida: Amor, Temor e Equilíbrio. Vista como três letras Vav unidas pela base, ao somá-las obtemos a guematria 18, que é a mesma da palavra “Chai” que significa “vida”.

Shin é também associado a Shein (dente) pois, do mesmo modo que os dentes trituram a comida para que ela possa ser digerida, Shin “mastiga” a Torah, para que os seus ensinamentos possam ser absorvidos pela mente e pelo coração. Chegamos à mesma conclusão quando analisamos a posição do Shin na Árvore da Vida, entre as sefirót Chochmá (sabedoria) e Biná (entendimento): a sabedoria de Chochmá é caótica até ser organizada por Biná; o discernimento de Biná é inútil sem Chochmá como parâmetro. Shin estabelece uma comunicação entre uma coisa e outra.

Nos estudos feitos nas Yeshivas rabinaticas sobre Ieshua, a letra Shim está associada a Samaria (Shomron), e as 10 tribos perdidas.

Também significa fogo, relacionado às mudanças que o fogo proporciona nas moléculas em resposta a ele (Shina = mudança). O fogo representa a provação, ligado a passagens que falam da que seremos provados no fogo.

Quando juntamos todas estas evidências podemos então entender que pelo número de homens que auxiliariam Moshe temos então o número aproximado de três milhões de pessoas que foram tiradas do Egito e que precisavam de cuidados a fim de permanecerem em harmonia no deserto e também buscarem ouvir, aprender e obedecer aos ensinos do Eterno trazidos por Moshe a fim de que pudessem ter um padrão celestial no deserto, pois quando chegassem em Canaã poderiam vivenciá-lo e desta forma estabelecerem a nação dentro destes padrões!

É fundamental entendermos que era necessário um árduo trabalho para que todo o povo pudesse ouvir, entender e depois vir a obedecer às Leis e mandamentos dados pelo Eterno através de Moshe.

Por isso temos em mente que todas as dificuldades que Moshe passou para levar o povo até Canaã foram causadas por diversos motivos, mas o pior deles foi sem dúvida a rebelião.

Que o Eterno nos ajude e nos guarde para que em nossa caminhada possamos ouvir, aprender e viver as Escrituras sempre com humildade e buscando distanciar-nos cada vez mais deste espírito de rebelião que somente nos leva à morte.

Baruch Há Shem!

Adaptação: Mário Moreno.

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