Mário Moreno/ setembro 18, 2019/ Rosh Hashaná

Rosh Hashana e os patriarcas

No dia de Rosh Hashana não somente Adam foi criado como também nasceram os Patriarcas Avraham, Isthaq e Ia´aqov.

Isso aconteceu para nos ensinar que estamos indo para um tempo em que eles nasceram e cada um deles deu uma contribuição para o povo de Israel.

Avraham e Ish Chesed, o homem da bondade.

Itshaq era uma pessoa forte e simboliza a avodá, a oração e o serviço para o Eterno. Ele é aquele que conhece a si mesmo e consegue buscar sua harmonia e é capaz de ir ao altar e entregar-se por completo ao seu pai.

Ia´aqov simboliza o Estudo da Torah, a erudição judaica.

Temos três patriarcas com três propostas diferentes: um preocupado com o outro; o outro se preocupa com o Eterno e o terceiro se preocupa com o Estudo da Torah.

Isso nos traz uma noção muito interessante acerca dos patriarcas, pois cada um deles estabelece um início diferenciado na história judaica. Vamos então saber um pouco mais de cada um deles:

Quem foi Avraham?

Ele nasceu no ano 1948 da Criação (1813 AEC), durante o reinado do poderoso Nimrod, que comandava quase toda a civilização. O pai de Avraham Terach, era um dos nobres de Nimrod. Avraham cresceu numa sociedade onde todos, incluindo o próprio Avraham, adoravam ídolos.

Até este ponto tudo está registrado em fontes talmúdicas e midráshicas. Somente agora finalmente encontramos Avraham em Lech Lecha, quando D’us lhe ordena: “Sai da tua terra e do teu local de nascimento e da casa de teu pai, para a terra que Eu te mostrarei.”

Após muitas dificuldades e tribulacões que estão relatadas na Bíblia, D’us faz um pacto com Avraham e proclama: “Para tua semente Eu dei esta terra, do rio do Egito até o grande rio, o Eufrates…”

Quando Avraham tem 99 anos, D’us lhe ordena fazer a circuncisão em si próprio e seus descendentes, dizendo: “E manterás Meu pacto, tu e tua semente no decorrer das gerações. Este é o Meu pacto, que cumprirás entre Eu e tu, e entre tua semente depois de ti, que todo homem entre vós será circuncidado. E deverás circuncisar a carne de teu prepúcio, e será como o sinal de um pacto entre Eu e ti…”

De todo o acima, vemos claramente que:
a – Avraham foi escolhido por D’us.
b – D’us fez um pacto entre Si próprio e Avraham.

Além disso, segundo nossos Sábios, os antepassados não apenas aprenderam a Torá, mas guardaram seus mandamentos embora ainda não tivessem sido “dados”. Isso parece estar implicado no versículo: “Porque Avraham ouviu Minha voz, e cumpriu Minha ordem, Meus mandamentos, Meus estatutos, e Minhas instruções.”

Então Avraham deu início à nação de Israel e destacou-se como o Justo de sua época afirmando a sua emunah – fé – no Eterno e mudando o rumo do pensamento estabelecido até então; ele deu uma “guinada” de um povo idólatra para a noção de que havia um só D-us e Senhor em todo o mundo! Ele foi o precursor do monoteísmo como o conhecemos hoje e foi o padrão da obediência ao Eterno que marcou a vida e a história judaica.

Itshaq

Isaque, fruto de um milagre, foi o único patriarca que nunca saiu de Israel e que teve apenas uma esposa.

O serviço Divino essencial de nosso Patriarca Itshaq foi o de cavar poços, elevando as águas e as fontes subterrâneas para revelá-las na terra. Rivka, mulher de Itshaq , apoiou seu marido neste trabalho. O trabalho de qualquer alma é o serviço espiritual tanto do homem quanto de sua esposa, que são duas metades de uma alma. O serviço Divino de Itshaq de revelar as águas abaixo e trazê-las para cima é considerado uma forma feminina do serviço Divino, chamado “elevando as águas femininas”.

Itshaq , então, abriu seus próprios três poços. Os primeiros dois poços que ele cavou criaram controvérsia e discussão quanto a quem seria o dono dos poços. Por isso, Itshaq deu o nome de Esek ao primeiro poço, que significa “problema”. Ele nomeou o segundo poço de Sitna, que significa “ódio”. Finalmente, Itshaq viajou para uma diferente área onde seu ato de cavar um poço não provocou qualquer controvérsia. Neste novo lugar, estava claro, em todos os níveis da consciência do mundo, que os poços cavados por Itshaq pertenciam a ele. Itshaq nomeou o terceiro poço, cavado neste novo lugar, Rechovot, que significa “infinita extensão” – em antecipação à vastidão que o permitiria carregar novos frutos na realidade.

Uma outra questão acerca de Itshaq é que ele “cavou” poços em busca das águas vivas – águas correntes. Mais adiante uma pessoa dá uma declaração sensacional sobre isso: “Se alguém tem sede, que venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a escritura, rios de água viva manarão do seu ventre” Jo 7.37-38.

A identificação de Itshaq com Ieshua é total e assim como Itshaq começou uma nova etapa inaugurando a era das “águas vivas” Ieshua fez o mesmo trazendo para o mundo a redenção através destas águas restauradoras.

Ia´aqov

Finalmente temos Ia´aqov; vejamos o seu perfil.

Os primeiros, e talvez os mais famosos gêmeos na Torá são Yaacov e Esav. Os dois não poderiam ser mais diferentes. Como resume o versículo, “Esav era um homem que entendia de caça, um homem do campo, ao passo que Yaacov era um homem inocente, que habitava em tendas.”

Como mostra a narrativa bíblica, elucidada por vários comentários, Esav acaba sendo um assassino e adorador de ídolos que tenta matar seu irmão gêmeo. Alguns dizem que Jacob e Esaú são as origens das lendas do “gêmeo do mal” encontrada em várias culturas, onde um gêmeo é justo e o outro é mau.

O Midrash compara a nação judaica sendo gêmea de D’us. Assim como um gêmeo sente o que está acontecendo com seu gêmeo ou gêmea, assim também, D’us e o povo judeu estão interconectados. Rabi Yisrael Hopstein (1737-1814), o mestre chassídico conhecido como o Maguid de Kozhnitz, explica que é por isso que a Torá foi dada no mês judaico de Sivan. Como o signo astrológico para Sivan é Gêmeos (ou Mazal Te’umim – Gêmeos), e a nação judaica é como “gêmea” de D’us, é apropriado que a Torá fosse outorgada naquele mês. Isso nos ensina que o que é bom para D’us (ex., estudar Torá e cumprir mitsvot) é bom para o povo judeu.

O signo de Gêmeos é também mencionado na liturgia que recitamos na noite de 9 de Av, quando pranteamos a destruição do Templo Sagrado. “A constelação de Gêmeos apareceu separada porque o sangue de irmãos foi derramado como água.” Em outras palavras, a calamidade foi tão grande que até a constelação de Gemos (representando um vinculo que é mais próximo que aquele de irmãos comuns) foi “partida”.

Com Ia´aqov temos então o início do período da composição das doze tribos, ou seja, ele é a árvore de onde procederão doze frutos (filhos) que serão juntos a “nação de Israel”. Uma “árvore” que é o ponto final entre os patriarcas cuja missão agora é iniciar a nação que influenciaria todo o mundo e faria com que a Palavra do Eterno pudesse ser conhecida por todos. Este homem deu origem aos maiores nomes da história mundial que estavam ali de forma embrionária, pois em cada descendente de Ia´aqov estavam os judeus que viriam anos e séculos depois dele… Mas o DNA deste homem foi determinante para marcar a humanidade e também para trazer ao mundo o Ungido Ieshua que veio da tribo de Iehuda, a tribo dos reis de Israel. Por isso no livro de Apocalipse Ele é assim chamado: “E em sua veste que está sobre sua coxa tinha escrito este nome, Rei dos reis, e Senhor dos senhores” Ap 19.16.

Cada um dos patriarcas contribui para um início na história do povo judeu, mas o importante é que cada um deles cumpriu a sua vocação de ser um agente transformador que nasceu em Rosh Hashana e assim foram os “cabeças” em suas gerações e influenciaram o mundo inteiro com suas palavras e ações.

Que possamos entender então o significado desta Festa, onde as nossas mentes são transformadas e levadas cativas a Ieshua para que Ele possa usar-nos a fim de sermos os agentes transformadores em nossa geração.

Baruch há Shem!

Adaptação: Mário Moreno.