Mário Moreno/ novembro 16, 2021/ Artigos

O que é Bitachon?

Verdadeira Confiança

O que é

Geralmente traduzida como confiança, bitachon é uma poderosa sensação de otimismo e confiança baseada não na razão ou na experiência, mas na emuna. Você sabe que “D’us é bom e Ele é o único que manda” e portanto não há temores ou aflições.

Como a emuná, bitachon é supra-racional. A pessoa que mantém essa atitude sempre conseguirá ver o lado positivo das experiências da vida, mas é óbvio que sua bitachon não é baseada nelas. Não é uma atitude baseada na experiência, mas uma que cria experiência. Ela diz: “As coisas serão boas porque acredito que são boas.”

Por outro lado, bitachon não é uma estratégia para manipular o universo. A sua crença não cria o bem – o bem no qual você está tão confiante já é a realidade subjacente. Sua crença apenas fornece os meios pelos quais aquela realidade pode aparecer.

Existem os momentos em que somos questionados sobre a nossa confiança como aconteceu com Israel: “E Rabsaqué lhes disse: Ora dizei a Ezequias: Assim diz o grande rei, o rei da Assíria: Que confiança é esta em que confias? Dizes tu (porém palavra de lábios é): Há conselho e poder para a guerra. Em que pois agora confias, que contra mim te revoltas?  Eis que agora tu confias naquele bordão de cana quebrada, no Egito, no qual, se alguém se encostar, entrar-lhe-á pela mão e lha furará; assim é Faraó, rei do Egito, para com todos os que nele confiam. Se porém me disserdes: No IHVH nosso Elohim confiamos: porventura não é este aquele cujos os altos e cujos altares Ezequias tirou, dizendo a Judá e a Jerusalém: Perante este altar vos inclinareis em Jerusalém?” II Rs 18.19-22.

Neste caso nosso nível de confiança deve ser maior do que o nosso temor pelas ameaças que possam nos fazer os homens.

Há vários níveis de bitachon, segundo o grau de emuna da pessoa, alguém pode ter emunah que, embora as coisas agora não estejam bem, elas são todas para o bem (eventualmente). Veja o que Iochanan (João) disse sobre isso: “Nisto é perfeito o amor para com nós, para que no dia do juízo possamos ter confiança; a saber, que tal qual ele é, tais somos nós também neste mundo” I Jo 4.17. Uma emuna mais elevada, porém mais esclarecida é que tudo é bom agora mesmo – até quando superficialmente parece terrível. Veja “Quando Mau é Bom” para as histórias de Rabi Akiva e Nachum Ish Gamzu que ilustram como essas duas atitudes podem influenciar a bitachon resultante.

Etimologia da palavra

O verbo בטח (batah) significa “confiar, sentir-se seguro ou ter confiança” (Sl 33:21, Is 12:2). Com a partícula ב (ser) prefixada, significa “confiar” (II Rs 18:5, Sl 41:9, Is 26:3). Em conjunto com a partícula על (‘l), significa “confiar” (Sl 31:14, Jr 49:11), e com אל (‘l) significa “confiança para” (II Rs 18:22, Sl 4:5).

Não está claro como esse verbo entrou no idioma hebraico; não há equivalente óbvio nas linguagens cognatas. Outro verbo hebraico que expressa confiança é חסה (hasa), da ideia de buscar refúgio.

Nosso verbo בטח (batah) “expressa aquela sensação de bem-estar e segurança que resulta de ter algo ou alguém em quem confiar“.

Os objetos desse verbo variam muito, das coisas (Dt 28:32) às pessoas (Jz 9:26), mas principalmente a D-us (Sl 9:11).

As derivadas deste verbo são:

O substantivo masculino בטח (betah), que significa “segurança ou proteção” (Gn 34:25, Is 32:17). Essa palavra é usada principalmente como advérbio, com significado de “seguro” (Lv 25:18, Jz 18:7, Is 14:30).

O substantivo feminino בטחה (beteha), que significa “confiança em confiar” (Is 30:15).

O substantivo masculino בטחון (bittahon), que significa “confiança ou verdade” (II Rs 18:19, Ec 9:4).

O substantivo plural feminino בטחות (battuhot), que significa “segurança ou seguro” (Jó 12:6).

O substantivo masculino מבטח (mibtah), que significa (1) o ato de confiar (Pv 21:22); (2) O objeto da confiança (Jó 8:14, Jr 2:37); (3) O estado de confiança (Pv 14:26, Is 32:18).

Quando é necessária

Ao contrário da emuna, bitachon não vive dentro da pessoa em estado uniforme. Na maior parte do tempo está sentada nos bastidores: Você cuida das coisas da melhor maneira possível com perfeita fé de que “D’us o abençoará em tudo que fizer”. E portanto, não é sua esperteza nem seu esforço que lhe trarão o sucesso, mas sim “a bênção de D’us é o que torna um homem rico”.

Mas então, de tempos em tempos surgem situações em que você não pode ver quaisquer meios naturais pelos quais você consegue sair disso. A esse ponto, bitachon precisa despertar e ir à luta. Em vez de dizer: “Ei, sou eu! Quem pode me ajudar?” você diz: “Minha ajuda vem de D’us que faz o céu e a terra – e portanto pode fazer tudo aquilo que Ele deseja com eles.”

Podemos dizer que enquanto estamos vivos temos a esperança – confiança – de que o Eterno agirá em nossas vidas para o bem. “Ora, para o que acompanha com todos os vivos há esperança (porque melhor é o cão vivo do que o leão morto)” Ec 9.4.

O que faz

Bitachon encerra uma profunda, porém subliminar, cosmologia. Até um judeu simples acredita que D’us pode prover as nossas necessidades apesar de todos os problemas – até contrariando a ordem natural – e sem quebrar uma única lei da natureza. A cura virá através de um bom médico, o lucro virá através de uma melhor clientela – porém o médico e a clientela são apenas canais, a verdadeira cura e o lucro vêm da bênção de D’us. Em outras palavras, encontramos na bitachon um D’us além da natureza, dentro da natureza.

Isso explica porque quando um judeu está em dificuldades, primeiro cuida dos assuntos espirituais – como verificar tefilin e mezuzot, fazer caridade ou alguma outra mitsvá, passando mais tempo em estudo de Torah – antes de lidar com a urgência material à mão: primeiro coloca as bênçãos no lugar, depois lida com os canais através das quais elas virão.

Esta atitude está de acordo com aquilo que Ieshua disse: “Mas buscai primeiro o Poder soberano de Elohim, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” Mt 6.33. Então quando eu tenho obstáculos e busco então tratar das coisas espirituais, o que era um obstáculo passa a ser somente uma lembrança, pois sendo resolvido faz parte do passado.

Como conseguir

Para qualquer pessoa, bitachon pode ser uma fonte de tranquilidade e felicidade através das vicissitudes da vida. Muitos leem a história do maná (Êxodo) todo dia para fortalecer seu bitachon. Ler e contar histórias de outros que viveram com bitachon também ajuda. Mas nada ajuda mais que meditar profundamente sobre o profundo relacionamento que temos com a Fonte de Todo o Bem, e pôr aquela convicção para trabalhar para você sempre que necessário.

Baruch ha Shem!

Adaptação: Mário Moreno.