Mário Moreno/ setembro 26, 2017/ Artigos

Casamento

O homem no Gan Eden

Mas, qual seria a função do homem neste lugar? O texto nos informa que: “E tomou o IHVH Elohim o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar.

“E ordenou o IHVH Elohim ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. E disse o IHVH Elohim: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele. Havendo, pois, o IHVH Elohim formado da terra todo o animal do campo, e toda a ave dos céus, os trouxe a Adam, para este ver como lhes chamaria; e tudo o que Adam chamou a toda a alma vivente, isso foi o seu nome” (Gn 2:15-19). O local onde o homem é posto – isso significa que ele (o homem) não foi criado ali – tem um nome: Éden. O jardim foi então criado antes do homem com uma finalidade: receber um novo ser que era a obra-prima da criação. Esta palavra – Éden – foi transliterada e significa “planície, estepe”. Ela está associada à palavra hebraica ´adan que significa “desfrutar, ter prazer em”. Esta palavra “Éden” também significa “roupas vistosas, jóias vistosas, coisas caras”. Aqui temos também a dimensão daquilo que o homem faria no jardim: lavrar e guardar. A palavra “lavrar” vem do termo hebraico ´abar que significa “transpor, ultrapassar, atravessar, transportar, levar embora”. Ele vem preposicionado com a partícula le que significa “para, em, com relação a, de, por”. Este termo traz a idéia de movimento e indica o movimento de uma coisa ou pessoa em relação a um objeto que está parado. A palavra “guardar” vem do termo hebraico shamar que significa “guardar, observar, prestar atenção”. Esta palavra também vem preposicionada. Então o Eterno ordena então ao homem que ele não coma da árvore do conhecimento do bem o do mal. A palavra usada aqui para “ordenar” vem do termo hebraico tsawâ e significa “ordenar, incumbir”. Da raiz desta palavra temos dois termos importantes: mitswâ que significa “mandamento” e também tsaw que significa “ordem”. Estas palavras nos mostram que há uma relação muito forte naquilo que é dito a Adam, pois o Eterno também lhe dá a opção para que ele escolha obedecer ou não. Por outro lado o Senhor avisa ao homem que a desobediência lhe traria a morte! Esta ordem se referia a uma árvore específica: a do conhecimento do bem e do mal. A palavra “conhecimento” vem do termo hebraico da´at e significa “conhecimento, astúcia”. A raiz expressa o conhecimento adquirido de diversas maneiras pelos sentidos. Esta palavra vem preposicionada significando que este tipo de conhecimento era único para o homem! Já a palavra “morrer” vem do termo hebraico mût que significa “morrer, matar, mandar executar”.

Agora o Eterno argumenta sobre a atual situação do homem: “Não é bom que o homem esteja só”. A palavra “esteja” vem do termo hebraico hayâ que significa “tornou-se, existir, acontecer”. Já a palavra “só” vem de outro termo hebraico que é bad e que significa “sozinho, por si mesmo, solitário”. A intenção do Criador não era que o homem se tornasse um ser solitário, mas sim que ele pudesse conviver em harmonia com outros de sua própria espécie! Então a solução encontrada pelo Senhor foi: “far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele”. Aqui a palavra “ajudadora” vem do termo hebraico ´ezer que significa “ajuda, apoio, auxílio”. Na raiz desta mesma palavra temos também um outro significado: tesouro! O que a Escritura quer dizer então? Quer dizer que além de alguém para ajudá-lo o homem estaria recebendo de seu Criador um tesouro, que é a mulher! Após ter declarado isso o Eterno então dá a Adam a atribuição de dar nomes aos seres viventes.

“A Torah condena o celibato. O homem é obrigado a contrair matrimônio desde a idade de dezoito até vinte anos, se assim o pode fazer (Maimônedes – Sefer Hamitzvot [Kidushin 29]). Porém, o homem que tem de abandonar o estudo da Torah para procurar manutenção, fica isento desta obrigação até formar uma situação, pois que, segundo o Talmud, o homem deve, em primeiro lugar, preparar o lar, plantar uma vinha (estabelecer trabalho) e depois contrair casamento (Sotah 44). Quem não tem esposa, vive sem alegria e sem bênção (Yebamot 62). O solteiro é considerado meio corpo (Zohar).

Isto aconteceu assim: “E Adam pôs os nomes a todo o gado, e às aves dos céus, e a todo o animal do campo; mas para o homem não se achava ajudadora idônea. Então o IHVH D-us fez cair um sono pesado sobre Adam, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar; e da costela que o IHVH D-us tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adam. E disse Adam: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne. E ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam” (Gn 2:20-25). Na criação da mulher o processo foi semelhante: Elohim usa o próprio homem para tirar dele sua companheira! O Criador dá ao homem um momento para uma “soneca” e através e uma costela retirada do lado do homem Ele forma uma mulher para Adam! A palavra “costela” vem do termo hebraico tsela´ que significa “lado, costela”. Esta palavra está muito próxima de um outro termo que a explica, tselem que significa “imagem, e representa algo que é semelhante”.

Esta palavra é empregada também para definir o lado do tabernáculo de Moshe: “Farás também cinco travessas de madeira de acácia, para as tábuas de um lado do tabernáculo, e cinco travessas para as tábuas do outro lado do tabernáculo; como também cinco travessas para as tábuas do outro lado do tabernáculo, de ambos os lados, para o ocidente” Exodus 26:26-27. Isso significa que foi retirado do homem um de seus “lados” para que pudesse formar a mulher. A conclusão a que chegamos é que o homem sem a mulher é um tabernáculo incompleto!

Quando o Eterno cria a mulher Ele retira de Adan a parte feminina dele e juntamente com esta parte vem um pedaço da parte masculina do homem. Por isso quando os dois se encontram – almas gêmeas – completam-se as partes que faltaram em cada um deles!

Quando Adam vê a mulher, ele tem a primeira revelação de que temos notícia na Escritura: “E disse Adam: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada” (Gn 3.23). A partir do momento em que o homem reconhece sua companheira (encontra-a), então eles se tornarão um no Senhor! Então é-lhes dito o que fazer para constituírem uma verdadeira família: “Portanto deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão uma só carne” (Gn 2.24). Aqui a palavra “mulher” vem do termo hebraico ishshâ que significa “mulher, esposa, fêmea”. O texto diz ainda que eles seriam uma só carne. A palavra “carne” vem do termo hebraico basar que significa “carne (pele, corpo)”.

Casamento versus viver junto

Deste ponto em diante, o artigo foi extraído da internet.

“…Fiz uma palestra certa vez, na residência de um amigo em Londres, durante minha aula semanal para casais, dos quais muitos não necessariamente casados, sobre por que as pessoas deveriam transformar relacionamentos em casamento. Pela primeira vez um casal que estava vivendo junto em um relacionamento de vinte e sete anos, mas nunca havia se casado, compareceu. Eu fora avisado de antemão de sua situação um tanto irregular, e de certa forma dirigi a eles minhas observações. Ninguém poderia afirmar que não estavam comprometidos um com o outro. Na verdade, embora ambos fossem previamente divorciados, já estavam juntos por vinte e sete anos. Em seu testamento, tudo que ele possui está sendo legado a sua “parceira”, como ele se refere a ela. Mas ele se recusa a casar-se, porque já passou por um mau casamento e sente que não precisa disso. Considera o casamento como uma satisfação à comunidade, apenas um pedaço de papel sem nenhum significado. Eu discordo. Ele estava dizendo que o casamento é apenas um símbolo daquilo que sentem um pelo outro, e que os símbolos não são tão importantes assim.

Primeiramente, como dissemos em muitos destes ensaios, o casamento é muito mais que um símbolo. Porém mesmo os símbolos são importantes; a vida está repleta de símbolos. Para um judeu, por exemplo, colocar o solidéu (kipá) é um símbolo de orgulho por seu Judaísmo. É uma proclamação ao mundo daquilo que ele é. Suas ações serão baseadas no fato de que ele sabe que as pessoas sabem que ele é judeu. Quando um soldado americano enverga uma farda americana, não apenas distingue-se do inimigo, como dá um testemunho daquilo que representa. Quando luta contra um soldado nazista, não está somente lutando contra um inimigo, está libertando a humanidade. Ao vestir sua farda, o soldado torna-se a democracia personificada. É por isso que arrisca a vida para cravar sua bandeira, como no filme mundialmente famoso sobre a batalha de Iwo Jima, quando os fuzileiros americanos, em meio a terrível luta, se reúnem para juntos cravarem a bandeira, que hoje serve de principal monumento ao Corpo de Fuzileiros Navais Americanos.

Embora um símbolo meramente represente alguma outra coisa, nossa prontidão em abraçar ou rejeitar aquele símbolo torna-se a chave daquilo que sentimos pelo objeto que representa. Quando um homem usa um anel de casamento, é como se fosse uma declaração ao mundo, não apenas que ele está amando alguém, como também que está tão orgulhoso disso, que anuncia este fato ao mundo todo. Diz ao mundo que está casado, que não apenas ama uma pessoa, como também está se afastando de formas íntimas de afeição com outras mulheres. Quando uma mulher orgulhosamente exibe seu anel de noivado, está proclamando a todos que quiserem ouvir que ela acredita que seu noivo é alguém especial, e que ela se considera uma pessoa de sorte.

Sonhos e símbolos

Estes símbolos são incrivelmente importantes. Toda empresa precisa de um logotipo, todo país possui uma bandeira, toda religião necessita de um ícone. Entendemos sua necessidade e sua importância. De repente, quando se trata de casamento, as pessoas dizem que é “apenas” um símbolo. Perdemos todo o respeito por símbolos na sociedade de hoje.

Eis por que em meu primeiro livro Sonhos eu discuto que as pessoas não podem entender seus sonhos. Acordam pela manhã tendo visto durante a noite estas imagens poderosas de suas vidas que, se fossem compreendidas, lhes diriam tanto sobre si mesmos, especialmente aquelas coisas que podem não estar prontos para encarar conscientemente. Coisas que falam de emoções tão grandes que jamais poderemos expressar, segredos tão profundos e escuros que não ousamos enfrentar, ganham vida em cores reais. Porém, nós os descartamos rapidamente, e esquecemos nossos sonhos porque não podemos entendê-los. Perdemos nossa capacidade de apreciar os símbolos, imagens visuais e linguagem pictórica. Podemos apenas falar verbalmente, de tal forma que quando vamos ao museu precisamos de um professor erudito para traduzir os hieróglifos encontrados numa antiga tumba egípcia. Somos ignorantes, bem como apáticos, sobre a linguagem dos símbolos.

Qual a diferença entre linguagens verbais e visuais? A linguagem verbal faz com que o ouvinte evoque uma imagem em sua mente. Por exemplo, se eu descrever todos os detalhes da casa onde cresci em Miami Beach, cada leitor terá um quadro diferente sobre o aspecto da casa em sua imaginação. A razão é esta: ao assimilarem os vários detalhes da casa em um todo coerente, serão eles a criar e formar a imagem na mente. Porém, se eu imprimisse o desenho da casa junto com a descrição da mesma, todos os leitores saberiam exatamente como ela era. Em outras palavras, imagens visuais são poderosas porque plantam uma imagem na mente do observador. Produzem um impacto ao carimbarem sua impressão na pessoa que as olha.

Quando você apenas diz verbalmente a uma pessoa que a ama, ou que irá viver com ela, isso tem algum impacto, é de certa forma poderoso. Quando lhe demonstra isso em cores vivas ao dar-lhe um anel na presença de toda a comunidade, está dizendo: “sou seu,” numa declaração de amor que eles jamais poderão esquecer. Está carimbado neles como um selo de aprovação. Alguém está proclamando: “Você é meu, não importa quantos queixos venha a ter daqui a cinquenta anos, ou como será sua saúde durante a vida. Sempre o amarei e lhe terei devoção.” Em um casamento judeu, a mulher não usa jóias sob a chupá (pálio nupcial), e um homem nada tem em seus bolsos; a mulher usa um véu para mostrar que a despeito de sua beleza ou do status financeiro do casal, mesmo se os bolsos estão vazios, mesmo assim amam um ao outro. Estão assumindo um compromisso para toda a vida, independente de quaisquer considerações externas. Está sendo mostrado a toda a comunidade. Este símbolo é tão poderoso porque é uma representação visual de seu amor; algo que a palavra “relacionamento” jamais poderá transmitir. Mesmo nos dias de hoje, sabemos que o casamento é intenso e compromissado. Um relacionamento sempre oferece uma porta de saída.

<>Saber que você está casado com alguém é a suprema e constante declaração de amor. Em um relacionamento sempre há uma ambigüidade; será que ele me ama? Será que ainda me ama? Você está sempre se questionando. Isso também pode existir no casamento, mas pelo menos ocorre dentro de uma estrutura completa do amor e compromisso que assumiram um com o outro.

Proclamação total de amor

A ideia completa de um símbolo é que uma foto pode captar algo em sua totalidade. Esta foi minha intenção com o exemplo da casa. Que uma foto diz tudo aquilo que diria um livro inteiro sobre a casa. Captura tudo, e coloca tudo junto numa imagem visual. Causa um impacto muito mais poderoso no observador. Eis o que é o casamento. Encerra todos os sentimentos que você tem pela pessoa. É a declaração de um ser humano a outro: “Eis o quadro de meus sentimentos, eu sou seu… Amo-o tanto que quero me arriscar por você. Aceito o comprometimento absoluto. Não sei como me sentirei em dez ou vinte anos, mas isso não faz diferença. Minha proposta de casamento encerra tudo aquilo que sinto a seu respeito.” Não há melhor maneira de expressá-lo.

De que forma um relacionamento pode dizer tudo isso? É claro que você pode dizer a alguém: “Estamos vivendo juntos, eu a amo, você é minha, saímos juntos, compartilhamos o mesmo espaço, o mesmo dinheiro, portanto não precisamos nos casar. Já temos isso tudo.” Porém, mesmo assim, são somente palavras. Não há uma imagem. Sempre deixa margem para alguma ambigüidade, da mesma forma que cem pessoas diferentes farão uma centena de imagens diferentes de minha casa após lerem minha descrição. Uma centena de pessoas terá cem diferentes modos de pensar sobre o que significa um relacionamento. É sério, não é sério? É intenso, não é intenso? Como foi dito acima, a palavra relacionamento nada significa e nada transmite.

Porém casamento significa o mesmo para todos. Significa compromisso. Significa: pertenço a você. Significa que estamos juntos para sempre, e lutaremos para fazer este casamento dar certo. Não sairei simplesmente porta afora na primeira vez que você perder a paciência comigo. Significa que como marido e mulher, nos reservamos algumas experiências apenas um para o outro, e isso é o que as torna tão intensas. A intensidade é criada quando você isola toda uma área da atividade humana, uma área inteira de linguagem verbal e pensamento humano, e as reserva para uma única pessoa. É como o dia de Shabat, diferente dos outros dias da semana, e que se distingue principalmente por ser tratado de forma diferente. Aqui a sua intimidade é preservada antes e durante o casamento para aquela pessoa que você vai amar. Pois tudo que você faz com ela é único, porque não é feito com ninguém mais. Não é como uma conversa que você acabou de ter, não é apenas como dar uma saída.

A vida trata de símbolos: o carro que dirigimos, a casa em que vivemos, as roupas que vestimos. Então, por que as pessoas sugerem que o casamento é um símbolo sem importância?

Finanças compartilhadas

Outro símbolo importante do casamento é ter uma conta bancária conjunta. Posso enumerar quantos casais tenho visto que viram a constante deterioração de seu casamento por não compartilharem uma conta bancária; têm acordos pré-nupciais ou guardam seus ganhos para si. Muitas vezes, se as pessoas não têm contas conjuntas é porque estão apostando dos dois lados. Não têm certeza se dará certo. Entretanto, quando você aposta dos dois lados, está perdendo o necessário grau de comprometimento. Naturalmente não dará certo, porque você não está canalizando seus esforços suficientemente, concentrando-os em tornar o relacionamento um sucesso. Por que arriscar?

Porém, além disso, uma conta conjunta é também um símbolo poderoso. Encaremos isso: o dinheiro é incrivelmente importante para as pessoas. Tudo que você possui, sua prosperidade e seu futuro, as roupas que veste e os alimentos que come, a casa onde se abriga, tudo é comprado com seu dinheiro. E quando você o compartilha, está declarando que pertence a ambos. Você compartilha tudo. Isso significa que compartilha a mesma vida. Na verdade, esta é a única maneira, num sentido empírico, pela qual podemos transmitir o tipo de unidade que o casamento concede, mesmo se usarmos a expressão: uma só carne. É verdade que você pode ser uma só carne ao ter filhos. Ambos podem olhar para os filhos e ver uma parte sua e uma parte de seu companheiro. Porém se não há filhos, isso não existe.

Mas se vocês compartilham os mesmos cartões de crédito, contas bancárias, com os nomes de ambos em tudo, isso serve como um símbolo, como uma extensão de si mesmos. Sua casa, suas roupas. sua comida, seu carro, sua segurança, seu futuro, são de ambos. Não é apenas algo que vocês criaram. É na verdade aquilo que os sustenta e os mantém vivos. Pertence a ambos.

Apenas quando nossa intimidade é preservada para aquela pessoa em especial, e quando fazemos nossos maiores esforços para tornar nossa vida conjugal com nosso parceiro uma vida apaixonada, é que podemos sentir realmente que esta é uma atividade reservada especificamente para a pessoa com a qual se está casado. Isso em si nos impede de cometer adultério. Sentimo-nos diferentes. Não sentimos que isso é apenas um empreendimento casual.

Casamento – 1+ 1 = 1

Você já se perguntou o que faz um homem e uma mulher casarem-se? Afinal, casamento não é brincadeira! Com ele, vem a responsabilidade de prover sustento, educar filhos, dedicação ao cônjuge… Qual é a força de atração que supera todos os empecilhos?

Para o judaísmo, o amor é muito mais que um encontro de corpos e mentes: é um verdadeiro encontro de almas. A alma, ao descer ao mundo, é dividida em duas metades – uma fica com o homem, outra com a mulher. No período do nascimento ao casamento, as duas partes encontram-se em casas separadas, e muitas vezes em sociedades e países diferentes. No momento predestinado, elas encontram-se. Nosso trabalho é fazer com que encaixem-se perfeitamente.

Existem duas conexões entre um homem e uma mulher casados.

A primeira, uma ligação material, pela qual são ligados todos os casais do mundo. Viver sob o mesmo teto, compartilhar tarefas e vida conjugal. Neste ponto de vista, sempre haverão duas unidades – dois corpos separados, com pensamentos particulares e emoções peculiares. Mesmo num casamento “super bonder” de paz e amor, será sempre possível reconhecer que, apesar de inseparáveis, existem ali dois indivíduos.

Porém, o casamento é fruto de uma ligação muito mais profunda e essencial. Debaixo da chupá (pálio nupcial), duas metades fundem-se em uma alma só. No campo espiritual, não se reconhece que existem ali duas pessoas separadas. O casamento não é uma sociedade entre duas pessoas. É a união ao pé da letra.

A consciência da ligação interna no casamento é o melhor caminho para assegurar uma vida de paz e serenidade no lar. Uma ligação apenas material dá abertura a cálculos pessoais, referentes às expectativas e aos desejos de cada lado. Porém, tendo em mente que meu cônjuge é metade de minha alma, não se pode nem chegar a pensar numa vida individual, assim como ninguém abriria mão de uma parte de seu corpo. Eu sou sua alma, ele/ela é minha alma, somos duas metades… enfim, somos um.

Se o casamento é algo tão espiritual e profundo, porque é, então, que os casamentos são comemorados com tanta dança e música? Mais do que isto, existe uma mitsvá especial de alegrar o noivo e a noiva desta forma, e neste dia é servida uma refeição festiva! Não seriam estas formas muito mundanas para a celebração de algo tão transcendental?

A resposta é: são formas mundanas, sim, e é justamente por isso que as utilizamos. Neste mundo, espiritualidade não deve ser desconectada de materialidade. Tanto, que a união sublime das almas somente ocorre quando o noivo põe o anel no dedo da noiva sob a chupá. Não é somente a alma que deve estar alegre por ter se completado para o resto da vida. O corpo também participa desta alegria, na sua maneira de se fazer alegre – através de música, dança e alimentos saborosos.

Na próxima vez que for a um casamento, ou refletir sobre sua própria vida matrimonial, lembre-se que esta não é somente uma ligação entre duas pessoas. É a conexão entre dois mundos: o material e o espiritual. E a interseção entre eles forma um dois mais importantes núcleos do judaísmo: o lar judaico.

A fusão de duas almas

Foi uma semana inteira. Como manda nossa tradição, não o vi ou falei com ele; nem sequer ouvi sua voz durante uma semana antes de nosso casamento. E mesmo assim tenho sua imagem na minha mente, suas palavras em meu coração, e seu ser gravado em minha alma.
É o dia de nosso casamento e acordei cedo para preparar-me. Por fora, estão arrumando meu cabelo, fazendo minhas unhas, minha maquiagem. Mas por dentro estou num mundo totalmente diferente. Recito salmos tentando infundir cada momento com santidade. Jejuo, pois este é meu Yom Kipur pessoal, meu Dia de Expiação e peço perdão pelo meu passado, enquanto me purifico e me preparo para o meu futuro.

Em meu vestido de noiva, represento uma rainha e rezo pela capacidade de ser uma coroa para meu marido. Não para ser seu enfeite, mas o laço entre seu consciente e seu inconsciente, para permitir-lhe ser o melhor possível. Assim como uma coroa está acima da cabeça e também conectada com ela, assim a mulher judia une o espiritual e o físico, a teoria com a realidade. A coroa repousa nas têmporas, a parte mais sensível da cabeça. Espiritualmente, a mulher também repousa nas têmporas. Ela pode massagear onde existe dor, ao mesmo tempo em que assegura que o ego não se envaideça, pois ela serve como suas fronteiras. E ela mantém a cabeça erguida, porque é a rainha e permite que ele seja o rei. Tiro meus brincos, minha pulseira e colar. Em outro aposento, ele esvazia os bolsos, desfaz o nó da gravata e desata os cordões dos sapatos. Ele não está me desposando pela minha beleza física ou jóias exteriores. Não estou casando com ele pelo dinheiro em seus bolsos. Ele vem para ser desligado, sem laços, sem nenhuma conexão a ninguém ou coisa alguma, exceto comigo e com nosso compromisso mútuo.

A música tem início e meu chatan, meu noivo, está para ser levado a mim. Ele cobrirá o meu rosto com um véu, para proteger a santidade, a Divina Presença, que paira sobre o rosto de uma noiva. Meu véu será opaco para que eu não possa ver e ninguém possa me ver também. Meus olhos, de qualquer maneira, estarão fechados para que eu sensibilize mais minha capacidade de pensar e sentir. Neste momento, desejo a mais absoluta privacidade e não quero ser distraída pelos olhares das centenas de convidados.

Ao me velar, fazemos uma importante declaração mútua, sem palavras. Reconhecemos que estamos nos casando com aquilo que vemos, mas estamos também casando com aquilo que não vemos. Acreditamos plenamente que somos a metade da alma um do outro. Somente juntos podemos nos completar. Porém isso demandará esforços, muitos esforços. Ele não é a resposta para minha imperfeição, mas sim os meios para eu chegar lá. Portanto, reconhecemos que amamos o que conhecemos e aquilo que sabemos, mas estamos também nos casando com as partes que estão ocultas um do outro, e mesmo de nós próprios. Estamos determinados a amar também estas partes e a aprender a entender como elas são também parte integrante de nossa restauração e nosso desenvolvimento. Finalmente, após a semana mais longa de minha vida, meu chatan, meu noivo, se aproxima de mim. É quase intenso demais para olhar. Contemplo meu futuro marido por um instante mas então meus olhos se enchem de lágrimas. Não posso mais ver, e não preciso. Estamos para nos unir. Porém não somos apenas duas pessoas. Nosso casamento representa a continuidade do povo judeu. Não estamos apenas a ponto de nos unir um ao outro, mas ao fazê-lo, estamos unindo o passado, o presente e o futuro.

Reunimo-nos agora novamente sob a chupá, para nos tornarmos marido e mulher. A canópia é aberta de todos os lados para representar como devem ser nosso lar e nosso coração, receptivos e abertos a todos que nos cercam. Ficaremos fora, sob as estrelas, para aproximar o céu da terra ao mesmo tempo em que nos elevamos para mais perto dos céus.

Agora sou eu a ser levada para ele, que me espera sob a chupá. Quando me aproximo, circulo sete vezes à sua volta. Como há sete dias na semana, culminando com a santidade do Shabat, assim também eu o rodeio, envolvendo-o em amor e comprometimento, culminando comigo ao seu lado. Assim como eu sou a coroa dele que repousa como um círculo na sua cabeça, agora eu também crio aquele vínculo, aquele alicerce, aquela segurança. Num círculo, todos os lados estão à mesma distância do centro e existe perfeita harmonia. Quando eu terminar meus sete círculos, ele volta a circundar-me colocando um anel simples de ouro em meu dedo. Este é nosso oitavo círculo, um acima do natural, os dias da semana, e nos unindo com o sobrenatural, o Criador Acima. Sete bênçãos são agora recitadas, imbuindo santidade adicional ao nosso relacionamento e compromisso. Mas pouco antes de celebrarmos um com o outro, como marido e mulher, devemos primeiro quebrar um copo. A última coisa que meu marido faz sob nossa canópia nupcial é pisar no copo. Tudo está em silêncio, e ouvimos o barulho. O vidro despedaçado representa o sofrimento que sempre deve ser lembrado, mesmo em nosso júbilo. Embora estejamos repletos de felicidade, nós como um povo, como um mundo, não estamos assim. E portanto é nossa responsabilidade lembrar que enquanto nos alegramos, precisamos criar um mundo onde todos sejam felizes. E devemos viver nossa vida com sensibilidade a todos os menos afortunados que nós, e sermos gratos por todo o bem que nos foi concedido. Depois que o copo é quebrado, está na hora de celebrar nossa alegria. Removo o véu, enquanto meu marido e eu nos olhamos pela primeira vez como casados. A música tem início, nossos convidados começam a cantar e dançar, e somos levados da chupá para começarmos juntos uma nova vida”.