Mário Moreno/ janeiro 31, 2020/ Artigos

A coluna de nuvem no deserto

O que era exatamente a coluna de nuvem que acompanhou os israelitas em sua peregrinação pelo deserto? Seria ela a “presença” do Eterno entre eles ou somente um fenômeno natural que se repetiu durante todo o tempo de sua caminhada até Canaã?

A coluna de nuvem no deserto

A primeira aparição da coluna de nuvem se dá nos versos: “E o IHVH ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem, para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo, para os alumiar, para que caminhassem de dia e de noite. Nunca tirou de diante da face do povo a coluna de nuvem, de dia, nem a coluna de fogo, de noite” Ex 13.21-22.

A coluna de nuvem (עַמּוּד עָנָןamud anan) que acompanhava os israelitas durante o dia fazia várias funções assim como a nuvem de fogo (עַמּוּד אֵשׁamud esh) que os acompanhava à noite. Pelo texto apresentado podemos afirmar que estas aparições de “nuvem”, ora como uma coluna, ora com um fogo eram de fato a Presença do Eterno que transitava sobre o povo como um sinal visível de que eles estavam conectados e sendo acompanhados pelos céus.

Logo depois disso temos um texto ainda mais impressionante: “E o mensageiro de Elohim, que ia diante do exército de Israel, se retirou, e ia atrás deles: também a coluna de nuvem se retirou de diante deles, e se pôs atrás deles. E ia entre o campo dos egípcios e o campo de Israel: e a nuvem era escuridade para aqueles, e para estes esclarecia a noite: de maneira que em toda a noite não chegou um ao outro” Ex 14.19-20.

Duas coisas precisam ser destacadas aqui: a primeira é que além da coluna havia também um mensageiro celestial que foi destacado para ser o “guia” do povo de Israel; ele iria na função de “batedor” oficial dos céus destacado para conduzir o povo em segurança ao seu destino.  A segunda coisa a destacar aqui é que a coluna de nuvem agia de forma muito curiosa, pois para os egípcios que estavam no encalço dos judeus ela agia como um bloqueio e gerava escuridão; já no lado israelita a nuvem agira como um luminar que brilhava de forma a clarear o trajeto À frente deles.

Esta “nuvem” é dotada de inteligência e de uma forma de ação muito particular, pois defende a Israel e não permite que os inimigos sequer se aproximem do povo judeu. Quando percebemos est situação entendemos que esta não era uma “nuvem” como as outras, pois além de guiar também protegia o povo de Israel em sua caminhada pelo deserto…

A nuvem como um “sinal”

E aconteceu que, entrando Moshe na tenda, descia a coluna de nuvem, e punha-se à porta da tenda: e o IHVH falava com Moshe. E, vendo todo o povo a coluna de nuvem que estava à porta da tenda, todo o povo se levantou, e inclinaram-se cada um à porta da sua tenda” Ex 33.9-10.

Estes versos são muito particulares, pois neles a nuvem aparece ficando como que “de guarda” na entrada do Tabernáculo como um aviso de que o Eterno estava presente ali de uma forma diferenciada. Sendo assim a reação do povo era a de inclinarem-se à porta de suas tendas e reverenciarem a presença de seu Criador.

Certamente o Eterno vinha para falar com Moshe e dar-lhe instruções de como conduzir o povo e para onde ir e isso era feito de uma forma pessoal e intransferível. A honra e a responsabilidade de Moshe são extraordinárias visto que ele recebe do Eterno – a voz que fala com ele – as instruções daquilo que deve acontecer e o que ele deve ensinar ao povo nesta etapa da caminhada. Neste momento há uma “intimidade” entre o Eterno e Moshe e a nuvem garante que ninguém entrará no Tabernáculo enquanto a conversa entre ambos não terminar e for autorizada a entrada no local através da desobstrução da porta.

Este padrão é confirmado por estes dois versos: “E disse o IHVH a Moshe: Eis que os teus dias são chegados, para que morras; chama a Josué, e ponde-vos na tenda da congregação, para que eu lhe dê ordem. Assim foi Moshe e Josué, e se puseram na tenda da congregação. Então o IHVH apareceu na tenda, na coluna de nuvem; e a coluna de nuvem estava sobre a porta da tenda” Dt 31.14-15.

Aqui temos o Eterno chamando Moshe e ordena-lhe que este chame a Josué para que ouçam as instruções acerca do futuro da nação de Israel. Moshe já sabe que morrerá, mas é preciso que a autoridade seja transferida para Josué e isso será feito de uma forma muito transparente para que não haja qualquer dúvida de quem será o sucessor de Moshe. Estas instruções foram públicas pois o povo deveria estar ciente dos fatos que viriam a seguir e por isso o Eterno apareceu a todos na forma da coluna de nuvem que estava à porta do Tabernáculo.

Esta situação demonstra que o “proprietário” da casa – Tabernáculo – estava ali dando as orientações finais para que seu projeto de translado do povo de Israel pudesse se completar, agora pelas mãos de Josué e não mais Moshe.

A nuvem repreende e pune

Então o IHVH desceu na coluna da nuvem, e se pôs à porta da tenda: depois chamou a Aarão e a Miriã, e eles saíram ambos. E disse: Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu, o IHVH, em visão a ele me farei conhecer, ou em sonhos falarei com ele. Não é assim com o meu servo Moshe que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, e de vista, e não por figuras; pois, ele vê a semelhança do IHVH: por que pois não tivestes temor de falar contra o meu servo, contra Moshe? Assim a ira do IHVH contra eles se acendeu; e foi-se. E a nuvem se desviou de sobre a tenda; e eis que Miriã era leprosa como a neve: e olhou Aarão para Miriã, e eis que era leprosa” Nm 12.5-10.

Neste texto temos o Eterno se manifestando na nuvem e “chamando” Aharon e Mirian para uma conversa. O tom da conversa não é “amistoso” e nem cordial; o Eterno fala com eles sobre a autoridade que havia sido conferida a Moshe e a sua atuação até aquele momento.

Mas o que fez com que o próprio Eterno viesse e falasse com eles na presença de todos? Um “falatório” acerca de Moshe que não agradou aos céus e neste caso não houve um “recado” enviado para reprender as partes envolvidas, o próprio D-us veio e se encarregou de agir para que não ocorresse algo pior contra seu servo Moshe.

Novamente temos aqui um princípio muito poderoso: quando alguém é injustiçado e não busca “vingar-se com suas próprias mãos” então os céus se encarregam de punir os culpados e justificar os inocentes.

Neste caso Mirian ficou leprosa por sete dias; uma justiça que foi aplicada de cima para baixo e sem qualquer contestação. Mesmo a intercessão de Moshe não adiantou e por isso o povo aguardou os sete dias da impureza de Mirian para depois continuarem em sua jornada rumo a terra de Canaã.

Isaías diz isso de uma outra forma: “Eu anunciei, e eu salvei, e eu o fiz ouvir, e deus estranho não houve entre vós, pois vós sois as minhas testemunhas, diz o IHVH; eu sou Elohim. Ainda antes que houvesse dia, eu sou; e ninguém há que possa fazer escapar das minhas mãos: operando eu, quem impedirá?” Is 43.12-13.

Esta é a forma do Eterno agir em sua justiça para demonstrar ao seu povo que seu padrão é único e imutável e Ele age sem consultar ninguém e nem dá explicação de seus atos.

O Testemunho da nuvem

Na reconstrução do primeiro Templo executada por Neemias, ele faz uma oração em que cita os acontecimentos ocorridos no deserto dizendo: “Todavia tu, pela multidão das tuas misericórdias, os não deixaste no deserto. A coluna de nuvem nunca deles se apartou de dia, para os guiar pelo caminho, nem a coluna de fogo de noite, para os alumiar, e mostrar o caminho por onde haviam de ir. E deste o teu bom espírito, para os ensinar; e o teu maná não retiraste da sua boca; e água lhes deste na sua sede” Ne 9.19-20.

Nesta oração Neemias cita que a nuvem serviu como o “Guia” da nação na caminhada pelo deserto e ainda diz que o Eterno deu a Israel o  “seu bom espírito” que atuava como “mestre”, além de dar-lhe comida – através do maná – e bebida – através das fontes ambulantes que andavam junto com os israelitas enquanto estavam no deserto.

Esta conexão é muito interessante pois demonstra que a Nuvem não era somente a “presença” do Eterno, mas ela também era responsável por outros aspectos como ensino e provisão material ao povo que estava andando pelo deserto!

Até aqui já vimos que esta “nuvem” tem uma “atuação” muito especial neste período em que o povo de Israel está no deserto e aqui temos vários princípios, mas o principal deles é que enquanto um filho do Eterno está no “deserto” ele nunca estará só, mas poderá contar com a presença do Eterno – sempre de forma milagrosa e inusitada – assim como também haverá a provisão do que é fundamental para a vida: pão e água.

Isso sem falar na proteção do Eterno que estará com esta pessoa o tempo todo, inclusive dificultando a ação dos inimigos que se levantam contra os propósitos dos céus e isso ficará sempre muito explícito a todos, pois foi assim que ocorreu com os israelitas no deserto.

A Nuvem na Brit Hadasha

Vamos perceber que a “nuvem” aparece novamente na Brit Hadasha e a primeira menção disso está ligada a Ieshua: “E, estando ele ainda a falar, eis que uma nuvem luminosa os cobriu. E da nuvem saiu uma voz que dizia: Este é o meu filho amado, em quem me agrado; a ele ouvi. E os discípulos, ouvindo isto, caíram sobre seu rosto e tiveram grande medo” Mt 17.5-6.

Novamente vemos o padrão da “nuvem” que fala com a voz do Eterno e faz isso de forma pública com a finalidade de trazer aos presentes convicções acerca de algo e neste caso é para que se confirme a identidade de Ieshua, que é o Filho de Elohim e Aquele que foi escolhido para trazer a redenção ao mundo.

Esta mesma nuvem que testemunha acerca de Ieshua agora faz algo diferente: “Mas recebereis a virtude do espírito santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra. E, quando dizia isto, vendo-o eles, foi elevado às alturas, e uma nuvem o recebeu fora da vista deles” At 1.8-9.

Agora a nuvem age como um “portal” que leva Ieshua aos céus! Ele avisa seus discípulos acerca daquilo que receberão em breve e simplesmente oculta-se em uma nuvem que o “recebe”!

As pistas que nos são dadas de que a coluna de nuvem e esta “nuvem” são como portais que fazem a ligação dos céus e da terra não é nada anormal, mas demonstra que há um padrão celestial que se repete a fim de mostrar aos homens como funcionam os céus.

Um outro detalhe interessante é a conexão desta “nuvem” com a promessa do derramar do Espírito o Santo sobre a vida dos discípulos. A proximidade dos fatos nos dizem que a “nuvem” que ocultou a Ieshua logo apareceria como “línguas de fogo” – lembrando a coluna de fogo no deserto – que repousaria sobre aqueles que estariam aguardando a promessa do Pai. O Espírito se manifestou e ainda se manifesta de diversas formas mas sempre com um o objetivo de glorificar o nome de Ieshua e trazer os perdidos de volta à presença do Grande Rei!

Finalizando temos a nuvem agindo como um “transporte” para seres celestiais e para o próprio Ieshua. Vejamos:

E vi outro mensageiro forte, que descendia dos céus, rodeado de uma nuvem; e em sua cabeça estava o arco celeste, e o seu rosto era como o sol, e os seus pés, como colunas de fogo” Ap 10.1.

E olhei, e eis aqui uma nuvem branca, e assentado sobre a nuvem um semelhante ao filho do homem, que tinha sobre a sua cabeça uma coroa de ouro, e em sua mão uma foice aguda” Ap 14.14.

Nestes dois textos temos a “nuvem” atuando como o transporte dos céus para a terra fazendo a conexão entre os dois níveis.

Conclusão:

O que podemos concluir disso? A coluna de nuvem e depois simplesmente a “nuvem” funcionaram como a “presença do Eterno” entre seu povo mas também foram veículos para a manutenção da vida e proteção dos israelitas no deserto.  Da coluna saiu orientação assim como a voz de repreensão e juízo do Eterno para que se povo pudesse entender como é o padrão de justiça divina…

Finalmente a nuvem é usada como meio de comunicação entre os céus e a terra e transforma-se no veículo que liga estes dois níveis – físico e espiritual.

Mas o mais importante aqui é que podemos afirmar que o Eterno usa meios inteligíveis a nós para que possamos perceber com são suas ações e também como devemos agir em meio a situações em que somos atacados por alguém.

A nuvem os conduziu a Terra Prometida e também foi responsável pela manutenção de sua segurança. Esta “presença” divina em meio ao povo ainda está entre nós, não mais como uma “nuvem”, mas sim com a pessoa do Espírito o Santo que se encarrega de nos levar à presença de Ieshua e também nos preserva de todos os males além de nos conduzir a uma estreita comunhão com os céus; então Ele tem a mesma função do portal que conectou os céus à terra! Conecte-se já e usufrua dos benefícios de ser um daqueles que recebem as instruções direto da “sala do Trono” a cada instante de sua vida!

Baruch há Shem!

Mário Moreno.