A história da imersão

Mário Moreno/ abril 2, 2020/ Artigos

A história da imersão

Um novo significado para uma velha prática

A maioria das pessoas não tem consciência das raízes judaicas da imersão pelas águas. A imersão tem uma longa história e não começou com João o imersor. O Livro do Levítico diz que uma pessoa tem de estar ritualmente pura antes que possa entrar no Templo. Assim, um antigo processo de purificação e de limpeza espiritual– em um mikvê (um banho ritual) – já existia para os judeus muito antes da imersão de João. Ao longo dos séculos, essa limpeza no mikvê, a lavagem de purificação, tem sido tão essencial e importante para os judeus, como a imersão é essencial e importante para os cristãos.

Sem dúvida, João o imersor deu um novo significado à velha prática da imersão: a limpeza de um pecado. Nunca antes Israel havia escutado o clamor por “uma imersão de arrependimento”.

Vejamos o que a tradição judaica diz sobre isso e depois analisaremos alguns versos da Brit Hadasha ligados à esta prática.

“A imersão no micvê tem oferecido um portal para a pureza desde a criação do homem, O Midrash relata que após ser banido do Éden, Adam entrou num rio que fluía do Jardim. Esta foi uma parte integrante de seu processo de teshuvá (arrependimento), sua tentativa de retornar à perfeição original.

Antes da revelação no Sinai, todos os judeus foram ordenados a imergir em preparação para ver-se face a face com D’us. No deserto, o famoso “poço de Miriam” servia como micvê. E a indução de Aharon e seus filhos ao sacerdócio foi marcada pela imersão no micvê.

Na época do Templo, os sacerdotes e os judeus que desejavam entrar na Casa de D’us tinham primeiro de imergir num micvê.

Em Yom Kipur, o mais sagrado dos dias, o Sumo Sacerdote podia entrar no Santo dos Santos, a câmara mais interior do Templo, na qual nenhum outro mortal podia entrar. Este era o zênite de um dia que envolvia uma ordem ascendente de serviços, cada um dos quais precedido pela imersão no micvê.”

Estes parágrafos nos mostram que há uma profunda conexão entre a imersão num “mikve” – que são “reservas naturais de água do mundo (oceanos, rios, poços e lagos provenientes de fontes) são micvaot em sua forma mais primitiva. Por possuírem água de origem Divina, têm o poder de purificar.” Então podemos inferir que a imersão deve ser feita em água corrente e suas funções são purificação interna e externa.

Agora que entendemos o significado do mikvê – o local da imersão – e também da imersão em si, vejamos o que a Brit Hadasha nos mostra sobre isso:

A primeira menção da imersão está ligada a João, o imersor (conhecido como “Batista”) e esta imersão tinha um caráter diferente daquela praticada naqueles dias em Israel, pois estava ligada ao “arrependimento”.

E, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus que vinham a sua imersão, dizia-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura?” Mt 3.7.

Apareceu João imergindo no deserto e pregando a imersão de arrependimento, para remissão dos pecados” Mc 1.4.

E percorreu toda a terra ao redor do Jordão, pregando a imersão de arrependimento, para o perdão dos pecados” Lc 3.3.

Esta não era uma prática normal, mas isso era necessário pois João está cumprindo uma profecia que for a dada aceca da vinda do Ungido que diziz: “Eis que eu vos envio o profeta Elias, antes que venha o dia grande e terrível do IHVH” Ml 4.5. Esta profecia tem um cumprimento duplo, pois primeiro fala sobre o Mashiach bem Iosef – O Messias sofredor – e depois está ligada ao Messias Ben David – o Guerreiro que virá para libertar Israel e o mundo do mal.

Mas como sabemos que esta profecia se cumpriu em João? Ieshua responde isso dizendo: “E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir” Mt 11.14. E ele ainda fala mais sobre isso enfatizando o cumprimento da profecia de Malaquias: E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Por que dizem logo os escribas que é mister que Elias venha primeiro? E Jesus, respondendo, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro e restaurará todas as causas. Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o filho do homem. Então, entenderam os discípulos que lhes falara de João o imersor” Mt 17.10-13.

Estas palavras nos mostram então que João traz uma nova dimensão da imersão: arrependimento. E isso ocorre de forma pública e aponta para uma restauração da vida da pessoa que faz uso desta prática dentro deste contexto. Isso equivale ao “novo nascimento”, ou seja, uma restauração da condição humana ao momento em que se estava no ventre materno, em pureza total!

Ieshua e a imersão

E, sendo Ieshua imerso, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu a o espírito de Elohim, que descendia como pomba, e vinha sobre ele. E eis, uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu filho amado, em quem me agrado” Mt 3.16-17.

A imersão de Ieshua foi diferente das demais? Certamente que sim! Ele não tinha que se arrepender de qualquer pecado, então sua imersão se deu com uma outra finalidade: a sua entrada no ministério.

Isso pode ser confirmado pelas palavras da Torah: “E Moisés fez chegar a Aarão e a seus filhos, e os lavou com água” Lv 8.6. Antes do início do ministério dos Sacerdotes filhos de Aharon e dele mesmo, eles foram “lavados”, e isso é uma figura da imersão. Eles certamente já haviam feito a mesma e agora apresentados diante do povo para dar início ao seu ministério.

Moshe os “lava” e os prepara para iniciarem seu ministério; o mesmo aconteceu com Ieshua que foi imerso e o próprio Eterno confirmou sua shemicha – ordenação – ao ministério.

Detalhe: a voz do Eterno só havia sido ouvida publicamente uma outra vez: na entrega da Torah no Sinai. Agora, a Torah Viva estava sendo entregue aos judeus que poderiam então desfrutar dos mesmos milagres e da instrução que estavam sendo lhes dada.

Os discípulos e a imersão

A imersão apresenta um padrão interessante: ela deve ser executada em nome de Ieshua. Vejamos um exemplo disso: “E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja imerso em nome de Ieshua o Ungido para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito o Santo” At 2.38. Perceba que isso passa a ser uma regra no livro de Atos, e há uma sequência lógica para que isso aconteça: Arrependimento, imersão, perdão de pecados e a unção do Espírito o Santo!

Sha´ul repete o padrão: “Mas Sha´ul disse: Certamente João imergiu com a imersão do arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Ieshua o Ungido. E os que ouviram foram imersos em nome do Senhor Ieshua” At 19.4-5.

Podemos então dizer que a imersão é de fato uma necessidade tanto para a identificação com uma comunidade como também para a transição de uma vida comum para uma vida de compromisso com Ieshua e a Palavra do Eterno.

Isso nos faz lembrar da importância de uma instrução consistente àqueles que desejam unir-se às comunidades, congregações, sinagogas e igrejas para que entendam de fato o que significa a imersão. Caso contrário farão algo que não causará um efeito transformador em suas vidas.

Quando a imersão é real – feita dentro dos padrões de ambos lados – então o resultado é fantástico, pois ocorrem uma transformação na vida da pessoa e também um salto para a dimensão espiritual que é aberta quando isso acontece.

Neste caso as palavras de Sha´ul tornam-se verdadeiras: “…um só Senhor, uma só fé, uma só imersão” Ef 4.5. Quando a transformação através da imersão corre, não há mais necessidade de uma nova imersão para que nossa vida mude; mas devemos então cultivar esta mudança de vida que teve início com a imersão quando nos tornamos novamente uma “nova criatura” para que possamos sim desfrutar dos privilégios que somente os filhos podem ter!

Conclusão:

A imersão é uma prática inteiramente judaica e tem suas bases nas Escrituras desde os tempos de Adam e estende-se até hoje! Não podemos confundir a imersão com outras práticas e nem ensinar de uma forma que a descaracterize.

Por isso é importante entender seus princípios e também viver a imersão física e espiritual de forma intensa e plena. A imersão espiritual ocorre quando a Unção do Espírito o Santo é derramada sobre nós e nos tornamos instrumentos de difusão não somente da palavra como também do poder de Ieshua!

Que sejamos imersos no corpo e também pelo Espírito o Santo hoje em nome de Ieshua!

Mário Moreno.

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