Ahavat Israel

Mário Moreno/ agosto 29, 2017/ Artigos

Ahavat Israel

Talvez nada seja tão prejudicial ao povo judeu quanto a ideia moderna de que o Judaísmo é uma religião. Se somos uma religião, então alguns judeus são mais judeus, outros menos judeus e muitos não são judeus de maneira alguma. É uma mentira. Somos todos um só. Se um judeu come carne de porco ou trabalha no Shabat, D’us não o permita, é como se todos nós estivéssemos transgredindo junto com ele. Quando o mesmo judeu estende a mão para dar uma esmola a um necessitado, para enrolar o tefilin no braço ou acender uma vela antes do Shabat – todos nós esticamos o braço juntos.


Não somos uma religião. Somos uma alma. Uma única alma irradiando para muitos corpos, cada raio brilhando em sua missão única, cada corpo recebendo a luz segundo a sua capacidade, cada personificação desempenhando seu papel crucial. Juntos, compomos uma sinfonia sem partes redundantes, nenhum instrumento mais vital que o outro. E nosso caminho de volta àquela fonte original de luz é através de todos os raios que se estendem a partir dela.

Um corpo sadio é aquele no qual todas as partes trabalham em harmonia. Um povo judeu saudável é uma grande família, onde cada indivíduo está preocupado pelo outro como se fosse ele mesmo. Quando um judeu enfrenta tempos difíceis o outro segura suas mãos. Quando alguém é bafejado pela boa sorte, todos nós festejamos. Ninguém é rotulado pelas suas crenças, comportamento ou passado. Cada qual se apressa a fazer um ato de bondade para com o outro e fecha os olhos e ouvidos à vergonha do outro.

E se, por algum motivo, um ofender o outro, então tudo é resolvido com sensibilidade. Ou talvez seja simplesmente esquecido – como a mão direita perdoa a esquerda por fazer algum gesto desajeitado.

Eu não deveria amar a todos?

Alguns não acham que os judeus deveriam selecionar outros judeus para tratamento especial. Na mente deles, não há subgrupos de humanidade; todas as distinções deveriam ser extintas. Parece muito bom. O problema é que isso tem pouco a ver com as realidades da natureza humana. E menos ainda com a natureza do verdadeiro amor. Se alguém ignora as necessidades de seu próprio irmão, o que há por trás de sua bondade para com os outros? Primeiro aprendemos a cuidar de nossa própria família e depois podemos realmente nos preocupar com os outros. Este é o caminho que a Torah nos dá para atingirmos o oceano além de nosso próprio ego: primeiro encontre o rio do qual você é afluente, o local de onde vem, o destino ao qual deve se dirigir e o povo com quem você partilha aquela herança e jornada. Depois então você poderá ir mais além.

Isso funciona. Até nos guetos da Idade Média, mendigos não-judeus sabiam bater primeiro nas portas dos judeus. As coisas não mudaram muito: quando o Peace Corps foi fundado nos Estados Unidos, 40% dos voluntários eram judeus. E um estudo em 1987 descobriu que quanto mais voluntários uma família oferece para causas judaicas, mais tende a oferecer também para causas não-judaicas. Se pregássemos exclusivamente a universalidade, não haveria judeus para serem voluntários – teríamos desaparecido há muito tempo, juntamente com nossa mensagem de justiça social para o mundo.

Há um outro motivo para você começar com seu irmão judeu. Se não cuidarmos do que é nosso, quem o fará? Talvez seja este o segredo da nossa sobrevivência. Nisso somos singulares; até hoje, quando um judeu foca sabendo da provação de algum outro judeu em qualquer lugar do mundo, identifica-se com ele, sente seu sofrimento e faz todo o possível para ajudar.

Falando de Maneira Prática

Em 1976, o Rebe acrescentou a mitsvá de Ahavat Israel (amor pelo próximo judeu) à sua “campanha de mitsvá” – uma lista de ações práticas que ele propôs para encorajar todo judeu, independentemente de seu grau de observância religiosa, a fazer uma ação Divina. Obviamente, Ahavat Israel tem sido um pilar central do Chassidismo e especialmente da liderança do Rebe, desde o seu início; sua inclusão na campanha das mitsvot simplesmente significava que Ahavat Israel não deveria ser algo que os chassidim praticavam, mas um valor judaico ativamente ensinado ao mundo em geral.

Eis aqui algumas das coisas práticas que o Rebe pediu que todo judeu fizesse:

1 – Inicie toda manhã dizendo: “Aceito sobre mim a mitsvá de amar meu próximo como a mim mesmo.”

2 – Fale somente o bem sobre outras pessoas. Nem sequer escute uma má palavra, a menos que algum bem possa resultar para aquela pessoa por meio dessa conversa.

3 – Procure oportunidades de fazer um favor a seu semelhante.

4 – Apoie um fundo de empréstimos judaico sem juros.

5 – Aproxime os judeus uns dos outros. Ajude a derrubar as falsas barreiras da idade, filiação e etnia.

6 – Convide outros judeus a partilharem o que temos de mais precioso: nossa Torah e nossas mitsvot.

Das Fontes

“Ama teu próximo como a ti mesmo.”
Vayicrá 19:18

“Este é o maior princípio da Torah.”
Rabi Akiva”

“Todo o povo judeu é um todo único, perfeito.”
Zôhar

“Toda manhã, antes de suas preces, comprometa-se a amar outro judeu como a si mesmo. Então suas preces serão aceitas e produzirão frutos.”
Rabi Yitschac Luria, “O Ari”

“Uma alma desce de seu lugar no alto e entra neste mundo por setenta ou oitenta anos apenas para fazer um favor a outra.”
O Báal Shem Tov

“Você ouve o que dizem na academia celestial? Que amar seu próximo judeu significa amar o totalmente perverso assim como você ama o completamente justo!”
O Maguid de Mezeritch

“Etiquetas são para camisas, não para judeus. Servimos a todos os judeus igualmente, sem expectativas.”
O Rebe

Extraído do site do Beit Chabad.

Share this Post