As 24 transgressões
As 24 transgressões
Se o báal teshuvá estiver determinado, apesar de todas as dificuldades, a retornar a D’us, não há nada que impeça seu caminho, asseguram nossos sábios
O grande Maimônides, Rabi Moshê ben Maimon, talmudista, codificador, filósofo e médico, que floresceu há 800 anos, escreveu uma seção especial sobre Teshuvá em sua importante obra, Mishnê Torah.
No capítulo 4 desta seção, Maimônides enumera vinte e quatro tipos de transgressões que devem ser especialmente evitadas, pois é muito difícil arrepender-se delas. A dificuldade consiste no fato de que estas transgressões possam ser muito sérias, ou pelo contrário, muito leves aos olhos do transgressor, de forma a que ele sinta que o arrependimento não é possível no primeiro caso, ou necessário no segundo; ou novamente, são de natureza tal que corrigi-las é de fato quase impossível.
Dos vinte e quatro tipos de transgressão, declara Maimônides, quatro tipos são tão graves que D’us nega Sua graça especial ao transgressor, embora em outros casos D’us ajude o que deseja se arrepender a cumprir suas boas intenções de retornar a D’us.
Estes quatro tipos de transgressão são:
- Aquele que faz com que outras pessoas pequem, ou as impede de cumprir uma mitsvá.
- Aquele que usa sua influência para desviar alguém do caminho da Torah.
- Aquele que permite que seu próprio filho se desvie do caminho da Torah, falhando em dar-lhe a educação e direção apropriadas; ou aquele que tem a oportunidade de impedir alguém de cometer um pecado, e não o faz.
- Aquele que se ilude pensando: “Pecarei agora, e arrependo-me depois,” ou: “O Dia da Expiação lavará meus pecados, de qualquer forma.”
Os seguintes cinco tipos de transgressão são tais que, pela própria atitude e ações do pecador, ele bloqueia seu caminho a Teshuvá.
São eles:
- Aquele que se separa da congregação, e não participa da vida comunitária judaica e de suas instituições, privando-se assim dos méritos que pertencem à toda a congregação, e dos méritos da prece congregacional e do arrependimento.
- Aquele que nega as palavras dos Sábios e zomba de seus escritos sagrados, dessa maneira privando-se dos grandes benefícios espirituais neles contidos, com sua influência e inspiração.
- Aquele que zomba dos Divinos Mandamentos, pois não se arrependerá de seus pecados.
- Aquele que despreza seus professores espirituais, sem cuja ajuda ele provavelmente não achará seu caminho para o arrependimento.
- Aquele que não aprecia palavras de repreensão, pois é muito difícil para uma pessoa atingir teshuvá sem influência externa.
A próxima classificação dos cinco tipos de transgressão, diz Maimônides, consiste de transgressões pelas quais é difícil fazer reparos ou restituição.
São elas:
- Quando alguém comete uma ofensa contra uma congregação inteira, ou causa-lhe uma perda (como no caso do mau uso de dinheiro público), pois seria impossível ao ofensor conseguir o perdão de cada membro da congregação enganada pela sua ação.
- Quando alguém participa num roubo cometido por outra pessoa, não conhecendo o proprietário do objeto furtado, sendo assim incapaz de fazer a restituição. Além disso, ao participar do roubo, ele encoraja o ladrão a roubar, sendo culpado de um pecado difícil de se corrigir.
- Encontrar algo na rua, e deixando de procurar o proprietário do objeto perdido imediatamente; assim, provavelmente será impossível para ele achar o proprietário do objeto extraviado, e ele permanecerá de posse de algo que não lhe pertence.
- Ofender um transeunte pobre, ou um estranho, pois ser-lhe-á impossível encontrar a pessoa ofendida para obter seu perdão, ou fazer-lhe a restituição.
- Aceitar suborno para ministrar um julgamento incorreto, ou em caso de dar conselho errado a alguém. Num caso destes, é difícil avaliar a extensão do ferimento ou prejuízo causado à parte enganada, e corrigir este ato por completo.
As cinco transgressões que se seguem são passíveis de permanecer sem arrependimento, porque não são consideradas como transgressões:
- Aceitar um convite para partilhar uma refeição que não seja suficiente para ambos, o anfitrião e o convidado. Isto tem “um toque de roubo” (ou, em termos hebraicos, “poeira de roubo”), pois o convite é forçado, o anfitrião fica envergonhado por não convidar alguém para a refeição, e na verdade está se privando de alimento por causa de sua vergonha. O hóspede pode pensar que nada fez de errado ao aceitar o convite, mas na verdade, tal convite não deveria ser aceito.
- Fazer uso de um penhor deixado como seguro de um empréstimo. O credor pode pensar que o que faz não é errado, pois o penhor não é prejudicado. Mas na verdade, a pessoa não tem o direito de usar algo sem o consentimento do proprietário.
- Cometer um pecado, não pela verdadeira ação, mas meramente com os olhos, como por exemplo, assistindo algo indecente. O observador pode pensar que nada está fazendo de errado, pois está apenas assistindo; mas na verdade a Torah o proíbe, pois está escrito: “E não te perderás pelo teu coração e pelos teus olhos.”
- Recebendo honras às custas de outra pessoa, embora com nenhuma intenção de envergonhar o outro, como por exemplo, quando alguém se compara a outra pessoa para provar que é superior a ela.
- Lançar suspeitas sobre um inocente, embora não o acusando abertamente; até a mera sugestão ou insinuação é um pecado, não importa quão insignificante a pessoa o considere.
Finalmente, Maimônides enumera cinco tipos de transgressões, as quais, se cometidas descuidada e frequentemente, tornam-se um mau hábito, e o transgressor achará difícil livrar-se dele.
- Espalhar boatos ou agir como “leva-e-traz” de escândalos e rumores maldosos, que é pecado mesmo se o boato é verdadeiro e contado sem má intenção. Isto inclui todos os tipos de fofoca que alguém se permita ouvir ou repetir.
- Lashon hará (calúnia), o pecado do homem com a língua venenosa, que é pior que um assassino, pois destrói a reputação de uma pessoa, que é mais preciosa que a vida, e que “mata” três vítimas com sua língua: ele próprio, a pessoa que escuta a maledicência, e a pessoa caluniada.
- Raiva, o homem que torna-se facilmente irado, ofendido ou provocado, está sempre em perigo de fazer as coisas mais terríveis, e causar um prejuízo indizível a si mesmo e a outros. Além disso, a pessoa que se enfurece ou se ofende com facilidade, nega, indiretamente, a Divina Providência, e eis porque a raiva é comparada à idolatria.
- Pensamento pecaminoso, permitir que os pensamentos se afundem em coisas pecaminosas pode tornar-se um mau hábito, e levar a sérios crimes.
- Associar-se com más companhias pode da mesma forma tornar-se um hábito, mau em si mesmo, e que leva a más ações.
O grande Maimônides nos adverte especificamente contra todos os vinte e quatro tipos de transgressões mencionadas acima, pois são de natureza a tornar a teshuvá difícil, ou mesmo impossível. Porém isso não significa que não haja esperança para o pecador que cometeu uma ou mais das transgressões acima. Significa apenas que encontrará mais dificuldades e provações no seu caminho para o arrependimento. Mas se estiver determinado, apesar de tudo, a retornar a D’us, não há nada que atrapalhe ou impeça o caminho da teshuvá, asseguram nossos sábios.
Extraído da Internet.