Congressos Sionistas
Congressos Sionistas
Herzl convocou o 1º Congresso em 1897 com o propósito de demonstrar ao mundo “o que é o sionismo e o que pretende”. O Congresso foi criado também para unir todos os sionistas sob um só movimento, algo que até então estivera fora do alcance dos simpatizantes nacionalistas judeus. Desde então, apesar da cisão dos revisionistas entre 1935 e 1946, o Congresso cumpriu sua função. Ele se tornou a autoridade suprema da Organização Sionista.
Inicialmente, os encontros eram anuais (1897-1901), depois bienais (1903-13, 1921-39) e, após a 2ª Guerra Mundial, irregulares. De acordo com a constituição da OSM (1960), o Congresso deve se reunir cada quatro anos. Contudo, ele pode ser adiado pelo Conselho Geral Sionista, em caso de circunstâncias especiais ou extraordinárias. Desde a criação do Estado de Israel, todos os Congressos se realizaram em Jerusalém.
Um exame da história do Congresso Sionista esclarece a respeito dos problemas ideológicos com os quais o movimento se confrontou, em particular a luta pela concretização do lar nacional judaico. Após a criação do Estado, o Congresso reflete os esforços da Organização Sionista no sentido de definir sua nova função. Os problemas de estrutura, democracia e ideologia dominam particularmente os procedimentos – sobretudo desde 1971.
O 1º Congresso – Basiléia, 1897
O 1º Congresso Sionista deveria ter se realizado em Munique, Alemanha. Contudo, em virtude da acirrada oposição dos líderes da comunidade local, tanto ortodoxos quanto reformistas, decidiu-se transferir a reunião a Basiléia, Suíça.
Herzl* presidiu o Congresso, ao qual compareceram cerca de 200 participantes. As maiores realizações do Congresso foram a formulação da plataforma sionista, conhecida como Programa de Basiléia, e a fundação da Organização Sionista Mundial. O programa declarava que
“O sionismo procura um lar nacional seguro, legal e publicamente reconhecido para o povo judeu na Palestina.”
Isto expressa claramente o sionismo político de Herzl, em contraste às atividades de povoamento do grupo Chibat Tzion*, menos organizado. Herzl foi eleito presidente da Organização Sionista, e foram eleitas a comissões de Ações Internas e de Maiores Ações, para cuidar dos interesses do movimento entre os congressos.
Em seu diário, Herzl escreveu:
“Se eu tivesse que resumir o Congresso de Basiléia numa só frase – que me absterei de pronunciar em público – ela seria: Na Basiléia eu fundei o Estado Judeu.”
O 2º Congresso – Basiléia, 1898
Diante da ativa oposição ao sionismo por parte de vários líderes judeus, Herzl* lançou um apelo ao Congresso para “conquistar as comunidades”. Essencialmente, era a exigência de que o movimento sionista focalizasse sua atenção não somente na atividade política em prol da Palestina, mas também trabalhasse dentro das comunidades judaicas. Neste Congresso foram estabelecidos os fundamentos para a criação da Companhia de Colonização Judaica, órgão financeiro cuja meta era o desenvolvimento da Palestina. Neste congresso também apareceu pela primeira vez um grupo de socialistas, que exigia representação na liderança sionista.
O 3º Congresso – Basiléia, 1898
Herzl* abriu o Congresso com um relatório sobre seus encontros com o Imperador Guilherme II, em Constantinopla e Jerusalém. Embora tais encontros não tivessem produzido resultado concreto, apenas o fato de terem se realizado tinha considerável valor simbólico.
O Congresso dedicou grande parte do tempo à discussão das dimensões políticas do sionismo, apesar da oposição a essa orientação, manifestada pelos que consideravam ser mais importante envidar esforços pelo povoamento. Num debate na
Companhia de Colonização Judaica, o Congresso decidiu que seus fundos seriam despendidos somente na Palestina ou na Síria.
Embora os delegados estivessem cada vez mais preocupados com a chamada questão cultural – a tentativa sionista para uma identidade nacional / étnica dos judeus – Herzl se preocupava com as questões políticas imediatas. Alguns historiadores argumentam que Herzl não estava tão desinteressado dos problemas culturais; ele receava seu poder potencial de romper o movimento ainda tão jovem.
O 4º Congresso – Londres, 1900
O Congresso foi realizado em Londres a fim de atrair a simpatia da opinião pública deste país à idéia sionista. O Congresso se reuniu em atmosfera de crescente preocupação pela situação dos judeus da Romênia, de onde milhares haviam sido forçados a fugir e os que se haviam quedado eram perseguidos. Embora este fato evidenciasse mais ainda a necessidade de uma “Carta de Garantia”, Herzl não tinha nada o oferecer para socorrer aqueles judeus.
Quanto à questão cultural, os sionistas religiosos, liderados pelo Rabino Yitzhak Yaakov Reines* exigiram que o movimento sionista se restringisse apenas aos assuntos políticos. O Congresso discutiu também os problemas dos trabalhadores da Palestina e a questão de um movimento nacional esportivo judaico.
O 5º Congresso – Basiléia, 1901
Herzl apresentou ao Congresso relatório sobre seu encontro com o Sultão Abdul Hamid II da Turquia e sobre os progressos da Companhia de Colonização Judaica. Nem todos os delegados manifestaram satisfação com essas realizações, sobretudo os que se haviam associado à Facção Democrática, criada pouco tempo antes.
O grupo liderado por Leo Motzkin*, Martin Buber* e Chaim Weizmann* lançaram um apelo ao movimento sionista em prol da adoção de um programa de cultura hebraica e de um maior grau de democracia dentro da organização. A realização mais concreta deste Congresso foi o estabelecimento do Fundo Nacional Judaico (Keren Kaiemet LeIsrael – KKL), com o objetivo de angariar fundos para a compra de terras na Palestina.
O 6º Congresso – Basiléia, 1903
No 5º Congresso Sionista foi adotada uma resolução determinando que os próximos congressos se realizariam cada dois anos, e não anualmente, como tinha ocorrido até então.
Em seu discurso de abertura, Herzl* detalhou os esforços para conseguir uma “Carta de Garantia” para o movimento, mas essas tentativas tornavam-se cada vez mais desesperadas, à proporção que a situação dos judeus se deteriorava, particularmente após o pogrom de Kishinev. Isto deu origem a várias soluções temporárias, como o projeto “El Arish”, negociado com os estadistas britânicos Joseph Chamberlain e Lord Landsdowne.
Após o colapso desta tentativa, os britânicos ofereceram a Herzl a possibilidade de um assentamento judaico autônomo na África Oriental (comumente conhecido com projeto Uganda). Herzl pediu que o Congresso tomasse seriamente em consideração o plano, embora reconhecendo que ele não poderia substituir a Palestina como Lar Nacional Judaico. No encarniçado debate que se seguiu, Max Nordau*, o homem de confiança de Herzl, argumentou que a “Uganda” poderia ser um refúgio para a noite. Apesar da oposição considerável e de uma retirada de protesto dos sionistas russos, os delegados concordaram, por 295 votos a favor, 178 contra e 98 abstenções, que seria enviada uma comissão para o exame das possibilidades de povoamento judeu na África Oriental.
Entre outros assuntos discutidos neste Congresso, consta o relatório de Franz Oppenheimer sobre a possibilidade de um povoamento coletivo no país, programa que influenciaria a criação de vários núcleos de povoamento na Palestina alguns anos depois. Este seria o último Congresso de Herzl, que faleceu um ano depois.
O 7º Congresso – Basiléia, 1905
O Congresso foi aberto com um elogio fúnebre a Herzl*, por Max Nordau*. Imediatamente depois, o debate se concentrou na questão do assentamento fora da Palestina. O Congresso ouviu o relatório da comissão que fora enviada à África Oriental, cuja conclusão era que a Uganda não era adequada ao povoamento em massa por judeus; seguiu-se a votação contra qualquer lar nacional fora da Palestina ou suas vizinhanças imediatas. Os Territorialistas, liderados por Israel Zangwill* abandonaram o Congresso em sinal de protesto e fundaram a Associação Territorial Judaica.
O Congresso também discutiu o trabalho prático na Palestina, i.e., a concessão de apoio aos assentamentos agrícolas e à atividade industrial. Embora parecesse que Nordau seria o substituto natural de Herzl no cargo de Presidente da Organização Sionista, ele recusou-se e David Wolffsohn* assumiu a função. O Executivo da OSM transferiu seus escritórios de Viena a Colônia.
O 8º Congresso – Haia, 1907
A decisão de realizar o Congresso em Haia baseou-se no conhecimento de que a 2ª Conferência Internacional de Paz seria realizada naquela cidade.
No Congresso, o debate principal foi em torno das abordagens contraditórias dos sionistas práticos e dos sionistas políticos.
Os sionistas políticos consideravam que uma Carta de Garantia deveria ser conseguida antes de se começar o trabalho prático na Palestina, e os sionistas práticos argumentavam que sem povoamento substancial havia pouca esperança de se receber sanção legal das Grandes Potências.
Na oportunidade, o movimento apoiou um certo número de esforços práticos e estabeleceu uma filial da OSM na Palestina, chefiada por Arthur Ruppin.
Contudo, a adoção do sionismo sintético – a síntese das duas posições – tornou-se o apelo insistente de um grupo de delegados, cujo principal porta-voz era Chaim Weizmann*.
O 9º Congresso – Hamburgo, 1909
Neste Congresso, Wolffsohn* e Nordau* expressaram a esperança de que após a Revolução da Juventude Turca os esforços sionistas talvez fossem melhor sucedidos.
Ao mesmo tempo, o Congresso continuava dividido a respeito da questão da implementação do programa sionista. Os partidários da abordagem prática acusavam Wolffsohn* de se concentrar na atividade política, afirmando que seu executivo julgava os projetos por seu valor comercial. A liderança rival incluía Menachem Ussishkin*, Chaim Weizmann* e Nachum Sokolov*, que receberam o apoio dos representantes do movimento dos trabalhadores da Palestina.
O 10º Congresso – Basiléia, 1911
Este Congresso é geralmente descrito como o Congresso da Paz, pois finalmente foi colocado de lado o debate entre o sionismo prático e o político; a abordagem operacional do movimento passa a ser o sionismo sintético.
Foi dada considerável atenção à questão do trabalho prático na Palestina, assim como à cultura hebraica. Shlomo Kaplansky levantou a questão das relações do sionismo com os árabes; e pela primeira vez uma sessão do Congresso foi realizada em hebraico.
O sucessor de David Wolffsohn* na presidência foi Otto Warburg, judeu alemão e cientista de fama, que se identificava com o sionismo prático. A sede da OSM transfere-se de Colônia para Berlim.
O 11º Congresso – Viena, 1913
O Congresso dedicou grande parte do tempo à discussão das atividades de povoamento na Palestina e do trabalho do escritório da organização em Jafa. Nordau*, que se opunha a esse desvio da abordagem de Herzl, brilhou pela ausência. Weizmann* e Ussishkin* conseguiram o apoio do Congresso para o estabelecimento da Universidade Hebraica em Jerusalém. Contudo, ainda transcorreriam doze anos até a abertura da instituição.
O 12º Congresso – Carlsbard (Karlovy Vary), 1921
Este foi o primeiro Congresso a se realizar após a 1ª Guerra Mundial; durante este período, o movimento sionista havia conseguido o apoio britânico a seus esforços pela criação de um Lar Nacional Judaico na Palestina (Declaração Balfour*). O Congresso aprovou uma resolução manifestando seu apoio à decisão dos Poderes Aliados de conceder à Grã-Bretanha o Mandato sobre a Palestina, e encorajando a ratificação do Mandato pela Liga das Nações.
Com o final da guerra, a derrota da Alemanha e o sucesso do ramo londrino do movimento, era óbvio que a liderança lhe deveria ser concedida. Weizmann* tornou-se o presidente da OSM e Sokolov, presidente do Executivo.
O Congresso discutiu as atividades e a organização do Keren Haiessod, que fora estabelecido no ano anterior na Conferência de Londres, e cujo objetivo era o levantamento de fundos entre as comunidades judaicas da Diáspora para a construção da Palestina.
Outro assunto abordado pelo Congresso foi a questão das relações entre o sionismo e os árabes. O assunto havia se tornado grave, em conseqüência dos distúrbios árabes em Jerusalém (1920) e em Jafa (1921). O Congresso aprovou uma resolução declarando que o sionismo aspira “viver em relacionamento harmônico e de respeito mútuo com o povo árabe” e conclamando o Executivo a chegar a “um entendimento sincero com o povo árabe.”
Neste Congresso se refletiu também a crescente tendência de divisões partidárias e territoriais dentro do movimento sionista. O Executivo passa a se reunir em Londres e em Jerusalém.
O 13º Congresso – Carlsbad, 1923
O Artigo 4º do Mandato da Liga das Nações* para a Palestina previa a criação de uma Agência Judaica
“para assegurar a cooperação de todos os judeus desejosos de auxiliar no estabelecimento do Lar Nacional Judaico.”
A proposta de incluir não-sionistas na Agência Judaica foi um assunto que despertou considerável oposição, sendo rechaçada. (Weizmann*, contudo, conseguiu implementar este programa uns seis anos depois.)
O 14º Congresso – Viena, 1925
O Congresso se reuniu numa época de grande imigração judaica à Palestina, sobretudo da Polônia. Os que simpatizavam com a idéia de construir o Lar Nacional Judaico através da empresa privada, viram nesta onda de imigrantes a concretização de suas esperanças; o movimento trabalhista considerava o fato uma ameaça a seus esforços socialistas construtivos.
Os revisionistas, liderados por Zeev Jabotinsky*, compareceram pela primeira vez ao Congresso, exigindo do movimento sionista uma política mais ativa. Eles também se opuseram à inclusão de não-sionistas na Agência Judaica.
O 15º Congresso – Basiléia, 1927
Este Congresso reuniu-se à sombra da crescente crise econômica na Palestina, que já havia causado muito desemprego e pobreza. No ano de 1927, o número de judeus que abandonaram a Palestina foi maior do que o número de imigrantes (o primeiro e único ano do período pré-estatal em que isso haveria de ocorrer). Era natural que o Congresso dedicasse grande parte de seu tempo discutindo o assunto. Weizmann* e Ruppin* propuseram, em seus discursos, algumas soluções para o alívio da crise.
Prosseguiram ainda os debates a respeito da expansão da Agência Judaica.
Foram pronunciados elogios fúnebres a Achad Haam*, o líder da ideologia do sionismo cultural, que estivera presente apenas ao 1º Congresso.
Nas eleições à presidência, Weizmann foi reeleito mais uma vez. Sokolov* também foi reeleito para o cargo de presidente do Executivo; e Henrietta Szold* foi a primeira mulher a ser eleita para o Executivo Sionista.
O 16º Congresso – Zurique, 1929
Ao contrário do Congresso anterior, este se reuniu em atmosfera de otimismo no que se refere ao desenvolvimento econômico da Palestina. A imigração prosseguia, assim como o processo de recuperação econômica – ao contrário do que ocorria nos E.U.A. e na Europa.
O Congresso aprovou a ampliação da Agência Judaica – para o desapontamento de uma minoria barulhenta, dominada pelos revisionistas. Esta decisão pôs fim a um debate que durara sete anos. Weizmann* e Sokolov* foram eleitos respectivamente para a presidência da OSM e do Executivo.
O 17º Congresso – Basiléia, 1931
Alguns dias apenas após o encerramento do 16º Congresso, irromperam distúrbios na Palestina. A Comissão Shaw* apresentou relatório desfavorável à atividade sionista na Palestina, assim como a Hope-Simpson*, enviada à Palestina pouco depois. Suas recomendações foram adotadas por Lord Passfield, no Livro Branco que recebeu seu nome. O movimento sionista estava muito tumultuado e Weizmann* apresentou sua renúncia do posto de presidente da organização. Contudo, após negociações com o governo minoritário de Ramsay MacDonald, muitas das cláusulas negativas foram retiradas.
Durante o Congresso, muitos delegados protestaram contra a política de Weizmann em relação aos britânicos, em particular seu comprometimento de cooperar ao máximo com as autoridades mandatórias. Os revisionistas não eram os únicos oponentes de Weizmann, mas eram os que mais se manifestavam. Jabotinsky*, o líder indiscutível desta corrente do sionismo, propôs que a organização adotasse uma resolução declarando que o objetivo final do sionismo era o estabelecimento de uma maioria judaica e de um Estado Judeu na Palestina, nas duas margens do Rio Jordão. Quando o Congresso rejeitou sua proposição, Jabotinsky rasgou seu cartão de delegado e gritou: “Este não é um congresso sionista!”
Este seria mais um passo em direção ao futuro rompimento dos revisionistas da Organização Sionista. Weizmann não voltou atrás em sua renúncia e Sokolov foi eleito em seu lugar. Em virtude da crescente representação trabalhista no Executivo, a orientação pró-britânica de Weizmann continuaria.
O 18º Congresso – Praga, 1933
O Congresso se reuniu sob o impacto de três significativos acontecimentos:
a subida do nazismo ao poder na Alemanha;
uma economia inflacionária na Palestina;
o assassinato do líder trabalhista e diretor do Departamento Político da Agência Judaica, Chaim Arlosoroff*.
As mútuas recriminações entre o movimento trabalhista – unido desde 1930 na Palestina sob o nome de Mapai – e os revisionistas se intensificaram ainda mais. Foi estabelecida uma comissão de inquérito para investigar o assassinato.
Neste Congresso, pela primeira vez, o movimento trabalhista superou numericamente os partidários do Sionismo Geral.
O 19º Congresso – Lucerna, 1935
Mais uma vez, os trabalhistas eram a maioria no Congresso. Estabeleceu-se uma ampla coalizão, que permitiu o retorno de Weizmann* à presidência. Sokolov* foi escolhido Presidente Honorário da OSM e da Agência Judaica, mas morreu no ano seguinte.
O Congresso discutiu vários temas, muitos dos quais relativos ao salvamento do judaísmo alemão e sua imigração à Palestina. Neste contexto, Henrietta Szold* destacou o trabalho da Aliá Jovem. David Ben-Gurion* foi eleito para o executivo da Agência Judaica, e desempenharia funções cada vez mais importantes em seu trabalho. Os revisionistas não participaram do Congresso, após sua decisão de romperem, estabelecendo sua própria Nova Organização Sionista.
O 20º Congresso – Zurique, 1937
Após a irrupção da revolta árabe na Palestina durante a primavera de 1936, o governo britânico despachou uma Comissão Real para investigar a possibilidade de solução do conflito árabe-sionista. A principal recomendação da Comissão Peel* (conhecida pelo nome de seu presidente) foi a partilha da Palestina entre um estado judeu e outro árabe. O Congresso foi solicitado a determinar a posição do movimento sionista em relação a essa proposta.
A crise que surgiu dentro do movimento só podia ser comparada à que abalou a organização na época da assim chamada controvérsia sobre a Uganda. As facções sionistas estavam divididas não apenas entre elas, mas também dentro de cada uma. Por exemplo:
Dentro do Mapai (trabalhistas) Ben-Gurion* era favorável à proposta, enquanto Berl Katznelson* e Yitzhak Tabenkin* se opunham.
A oposição, liderada por Menachem Ussishkin* (os revisionistas haviam rompido com a OSM) argumentava que o Estado Judeu proposto era pequeno demais para absorver o potencial de imigração judaica, não podia se defender de um ataque árabe e excluía Sion (Jerusalém).
Contra estes, Weizmann* e Ben-Gurion argumentavam que um Estado Judeu permitiria livre imigração e soberania. Nestes tempos incertos, eles duvidavam que os britânicos melhorariam sua oferta. Era necessária uma solução imediata, pois o judaísmo europeu estava em crise. Se o Estado Judeu fosse atacado, argumentava Ben-Gurion, o movimento sionista estaria em seu direito de exigir um ajuste de suas fronteiras.
Na oportunidade, o Congresso decidiu rejeitar as fronteiras específicas recomendadas pela Comissão Peel, mas concedeu ao executivo poderes para negociar um plano mais favorável para um Estado Judeu na Palestina.
O 21º Congresso – Genebra, 1939
O Congresso se reuniu poucos dias antes do início da 2ª Guerra Mundial. Desde o último Congresso, a Inglaterra vinha abandonando aos poucos o plano de partilha que havia sido proposto inicialmente pela Comissão Peel*:
a Comissão Woodhead* considerara tal plano impraticável:
a conferência St. James em Londres não conseguiu transpor
o abismo existente entre os dois partidos;
e os interesses de guerra britânicos levaram o Primeiro-Ministro à conclusão de que “se devemos ofender um dos lados, é melhor ofender os judeus do que os árabes.”
Em maio de 1939, fora publicado o Livro Branco, restringindo severamente a imigração e contendo a promessa de criação de um estado palestino independente.
O Congresso condenou a política britânica da forma mais violenta possível, e vários delegados elogiaram a ação das organizações dedicadas à imigração ilegal. Dado o clima de guerra iminente, o executivo atual foi solicitado a permanecer em exercício. Weizmann* concluiu o Congresso declarando: “Minha única prece é a de que todos nós possamos nos encontrar novamente, vivos.”
O 22º Congresso – Basiléia, 1946
O Congresso se reuniu após o fim da 2ª Guerra Mundial e o Holocausto, no qual foi chacinada a maioria do judaísmo europeu.
Os principais recursos humanos do movimento sionista estavam destruídos.
A comunidade judaica da Palestina havia se voluntariado em grandes números ao esforço de guerra britânico, mas pouco pudera fazer a favor de seus irmãos por trás das linhas inimigas.
Somente em outubro de 1944 os britânicos haviam permitido a criação da Brigada Judaica, e a unidade conseguiu desempenhar apenas uma função limitada. O Ishuv tinha tentado, sem sucesso, pressionar as autoridades britânicas a anular o Livro Branco.
Inicialmente, a política de confrontação violenta fora rejeitada pela grande maioria do Ishuv; no verão de 1945, porém, os vários grupos armados passaram a coordenar seus esforços contra o Mandato. Isto causou uma crescente tensão com os britânicos que, em julho de 1946, encarcerou os líderes do Ishuv em Latrun.
O Congresso se reuniu após a publicação do relatório Morrison-Grady*, que recomendava a cantonização da Palestina em quatro distritos e recomendava a realização de uma conferência judaico-árabe a ser realizada em Londres.
Weizmann*, ainda presidente da OSM, conclamou os delegados a aprovarem a plataforma política do movimento sionista, conforme tinha sido aprovada nas conferências realizadas no Hotel Biltmore em Nova Iorque em maio de 1942 e em Londres, em 1945. O ponto principal deste programa dizia que
“A Palestina será estabelecida como uma Comunidade Judaica integrada à estrutura do mundo democrático.”
O Congresso votou por grande maioria a favor do programa mas rejeitou o apelo de Weizmann em prol da participação na conferência de Londres. Weizmann renunciou a seu posto de presidente da OSM, e este ficou desocupado até 1956.
O 23º Congresso – Jerusalém, 1951
Este foi o primeiro Congresso realizado no Estado de Israel, e ele se abriu simbolicamente com uma reunião na tumba de Herzl* em Jerusalém. Este fora o desejo de Herzl, expresso em seu testamento: se e quando o Estado Judeu fosse estabelecido, que seus restos mortais fossem transferidos de Viena.
A questão central debatida no Congresso foi a definição dos objetivos do sionismo, pois o Programa da Basiléia já fora cumprido.
O Congresso aprovou o Programa de Jerusalém, que assim definiu as futuras tarefas do sionismo: “a consolidação do Estado de Israel, a reunião dos exilados em Eretz Israel e a promoção da unidade do povo judeu.” Surgiram também questões concernentes ao relacionamento do novo estado com a Organização Sionista. O Congresso adotou uma resolução apelando ao Estado de Israel a reconhecer a OSM como órgão representativo do povo judeu em todos os assuntos que envolvessem a participação organizada do judaísmo da Diáspora na construção de Israel. Em 1952 o Knesset adotou esta resolução, quando aprovou a Lei [do Status] da OSM e da Agência Judaica para Israel.
O 24º Congresso – Jerusalém, 1956
O Congresso se reuniu em atmosfera de grande ansiedade a respeito da situação política e de segurança na fronteira meridional de Israel.
O Congresso discutiu vários outros assuntos, como aliá, povoamento, arrecadação de fundos e organização. Foi apresentada aos delegados uma proposta de eliminação da divisão partidária dentro do movimento, passando a haver delegações unidas de cada comunidade da Diáspora – mas ela foi rejeitada.
Foi escolhido o novo presidente da Organização Sionista e da Agência Judaica, Nachum Goldman*.
O 25º Congresso – Jerusalém, 1960-1
Um dos principais temas deste Congresso foi o relacionamento do Governo de Israel para com a Organização Sionista. Ben-Gurion* trouxe o assunto à pauta e despertou sérias críticas na OSM.
Outros assuntos incluíram a aliá dos países ocidentais, a educação judaica na Diáspora. Nachum Goldman* foi reeleito presidente da OSM.
O 26º Congresso – Jerusalém, 1964-65
Em seu discurso de abertura, Nachum Goldman* lançou um apelo ao movimento sionista a assumir maior responsabilidade pela situação das comunidades judaicas da Diáspora. Ele conclamou a organização a apoiar o judaísmo em sua luta contra decadência espiritual e a assimilação.
Foram aprovadas algumas resoluções políticas, como o apelo aos governos de suspender o envio de armas ao países do Oriente Médio – e uma exigência à União Soviética no sentido de aliviar a situação de sua comunidade judaica. Nachum Goldman* foi reeleito ao posto de presidente da OSM.
O 27º Congresso – Jerusalém, 1968
O Congresso foi realizado após a Guerra dos Seis Dias, na Jerusalém reunificada. Pela primeira vez, estiveram presentes às discussões delegações de jovens, inclusive grupos de estudantes e do movimento de aliá. Tal fato refletiu os acontecimentos ocorridas no mundo judaico, em particular o grande número de voluntários que chegara a Israel antes e imediatamente após a guerra. Observou-se também que a guerra havia gerado, pela primeira vez, uma significativa imigração a Israel dos países ocidentais.
No contexto das discussões sobre a aliá, o Congresso aceitou a decisão do governo de estabelecer o Ministério de Absorção da Imigração.
O Congresso também acrescentou uma emenda ao Programa de Jerusalém de 1951, que definira os objetivos do sionismo. O novo texto afirma:
“Os objetivos do sionismo são: A unidade do povo judeu e a centralidade de Israel em sua vida; a reunião do povo judeu em sua Pátria histórica, Eretz Israel, através da aliá de todo o mundo; o fortalecimento do Estado de Israel, fundado segundo os ideais proféticos de justiça e paz; a preservação da identidade do povo judeu através da promoção da educação judaica e hebraica e dos valores espirituais e culturais judaicos; a proteção dos direitos dos judeus em todo lugar.”
A eleição do novo presidente da OSM, em conseqüência da renúncia de Nachum Goldman, foi transferida ao Conselho Geral Sionista, que elegeu Ehud Avriel* para a posição de presidente e Arie [Louis] Pincus* como chefe do Executivo.
O 28º Congresso – Jerusalém, 1972
Foram introduzidas várias mudanças nas eleições para o Congresso, entre as quais:
A abolição do shekel, o pagamento que dava direito a ser membro da OSM, e direito de voto nas eleições ao Congresso.
O novo sistema permitia a adoção de vários sistemas eleitorais em cada federação territorial; em Israel, as eleições para o Knesset seriam usadas para determinar o tamanho das delegações de cada partido ao Congresso.
Outras modificações incluíam a aceitação de vários órgãos judaicos internacionais na OSM, como a Federação Mundial de Comunidades Sefaraditas (embora sem pleno direito de voto).
Entre os assuntos discutidos no Congresso, citam-se:
a aliá dos países ocidentais;
a abertura da imigração da União Soviética;
e a educação judaica na Diáspora.
A tentativa de fazer com que os ocupantes de postos na organização se comprometessem a fazer aliá após dois períodos de função (oito anos) não conseguiu obter o apoio suficiente dos delegados. Contudo, ele colocou a questão ideológica da realização sionista [hagshamá] na agenda do movimento.
Louis Pincus* foi reeleito presidente do Executivo sionista.
O 29º Congresso – Jerusalém, 1978
Seis anos haviam se passado desde o Congresso anterior; durante este período ocorreram vários fatos que afetaram o mundo judeu; entre eles citam-se:
o surgimento do terrorismo internacional;
a Guerra do Iom Kipur;
o crescente isolamento de Israel, exemplificado pela resolução da ONU que igualava o sionismo a racismo;
o êxodo dos judeus da União Soviética e a luta pelos direitos dos judeus naquele país;
a vitória do Likud nas eleições de 1977 para o Knesset – pondo fim ao domínio trabalhista;
a visita, no mesmo ano, de Anwar Sadat a Jerusalém.
Embora tais acontecimentos tivessem forte impacto sobre a atmosfera do Congresso, eles não constituíram a parte central dos debates. O principal assunto em debate foi a questão do pluralismo religioso dentro do movimento sionista. Após calorosa discussão, o Congresso aceitou o princípio da igualdade religiosa de todas as correntes religiosas afiliadas à OSM. Isto significava que aos movimentos das sinagogas reformistas e conservativas, recentemente afiliadas, seria concedido status de igualdade. Arie Dulzin* foi eleito presidente do Executivo sionista.
O 30º Congresso – Jerusalém, 1982
Os principais assuntos que estiveram em pauta neste Congresso diziam respeito à organização e estrutura sionistas e à reafirmação de sua ideologia. Em particular, foi dedicado muito tempo à questão do relacionamento da OSM com a Agência Judaica.
Os “não-sionistas” (coletores de fundos), que constituíam 50% da Agência Judaica, haviam – após o “Processo de Cesaréia” – assinado o “Programa de Jerusalém”, anunciando desta forma sua aceitação da plataforma sionista. Na prática, isto significava que a Agência Judaica estava se envolvendo em áreas que tinham sido anteriormente do domínio da OSM – como a aliá e a educação judaica na Diáspora. Esta tendência vinha se intensificando após o chamado “Processo de Hertzlia”, que começou após o Congresso e recomendou mudanças significativas no que diz respeito à organização, democratização e orientação ideológica da OSM – Agência Judaica.
Algumas sessões do Congresso foram tempestuosas, sobretudo a discussão sobre a construção de assentamentos judaicos nas regiões da Margem Ocidental (Judéia e Samaria) e Gaza. A Divisão de Povoamento da OSM estava associada a este trabalho e certos delegados desejavam por um fim a esta atividade. No final, foi adotada uma resolução afirmando que o Congresso “concordara em discordar” a respeito desta questão. Contudo, decidiu-se que um comitê conjunto do governo e da OSM discutiria as localizações exatas dos novos assentamentos.
Arie Dulzin* foi reeleito presidente do Executivo.
O 31º Congresso – Jerusalém, 1987
O Congresso mais uma vez discutiu o relacionamento entre Israel e as comunidades judaicas. Esperava-se que a reunião concluiria o processo de Hertzlia, que expressava a crescente influência dos coletores de fundos da Agência Judaica na reestruturação, democratização e reafirmação dos objetivos ideológicos da organização. Contudo, não se efetivaram maiores decisões neste campo.
Foram apresentadas propostas para a eleição do presidente da OSM, cargo que estava desocupado desde a renúncia de Nachum Goldman* em 1968. A tentativa dos “magshimim” (que prometiam imigrar a Israel dentro de um certo prazo) de receber um status especial dentro do movimento foi discutida mas não adotada. Isto foi entendido como a rejeição do princípio de que um sionista deveria se comprometer pessoalmente a fazer aliá dentro de um prazo limitado.
Simcha Dinitz, ex-embaixador de Israel nos E.U.A. e membro do Partido Trabalhista, foi eleito presidente do Executivo.
O 32º Congresso Sionista – Jerusalém, 1992
O Congresso se reuniu quando se iniciavam as reformas nos departamentos da OSM, com a instituição de uma nova estrutura; isto se tornara necessário devido à aliá em larga escala da URSS/Rússia e da Etiópia. [veja o file*]
Neste período verificou-se também a redução das contribuições ao UJA e ao Keren Haiessod, por causa da recessão nos Estados Unidos e nos países ocidentais. As aliot da Rússia e da Etiópia extenuaram os recursos e instalações da Agência Judaica, tornando necessária uma reformulação da aplicação do orçamento; boa parte do Congresso foi dedicada a visitas aos locais onde estavam se desenvolvendo os projetos. Conseqüentemente, as divisões e os debates ideológicos tornaram-se secundários, cedendo lugar a uma unidade de propósitos e à confirmação de novas prioridades.
Simcha Dinitz, foi reeleito presidente do Executivo.
O “interregno”
Um processo legal contra Simcha Dinitz colocou a Agência Judaica em situação bastante delicada, causando o adiamento da implementação da democratização e das modificações estruturais.
Foram realizadas eleições interinas para a presidência do Executivo, tendo sido escolhido o membro do Knesset Avraham Burg, o qual – buscando uma nova definição da função da Agência Judaica e tendo à disposição um orçamento insuficiente – iniciou um plano radical de racionalização, tanto da Agência quanto da OSM, assim como do relacionamento com o governo israelense. O início do processo de Oslo trouxe a esperança de que a Agência poderá se dedicar novamente a vários de seus projetos sociais e educacionais, à proporção que o orçamento do estado puder se focalizar menos em assuntos de defesa.
A tentativa de encontrar uma definição contemporânea do sionismo, nesta era cínica do post-ismo e da aldeia global coloca como prioridade máxima a necessidade de diminuir o hiato cada vez maior entre os judeus em Israel e na Diáspora, sobretudo os da nova geração.
Rumo ao Novo Século e ao 33º Congresso Sionista
Juntamente com o orgulho pelos empreendimentos alcançados, a aproximação do centenário do 1º Congresso Sionista e o jubileu do Estado de Israel, nota-se uma escalada do processo de diversificação e conflito na sociedade israelense. O assassinato de Yitzhak Rabin e a violenta e inaceitável face das ocorrências criam um clima de incerteza política; o Partido Trabalhista, então no governo, perde as eleições para o Likud e o processo de Oslo torna-se ainda mais instável.
Dentro de um contexto em que as organizações judaicas da Diáspora ligadas ao movimento sionista exercem agora 50% do voto na Agência Judaica, e da mesma forma na OSM [através da Autoridade Conjunta para a Educação Judaica Sionista, atualmente operativa], Israel encontra-se num papel menos central na agenda geral da Diáspora. A liderança sionista e os intelectuais das diversas correntes de pensamento tentam analisar ou definir a natureza e a função do sionismo neste momento de mudança de milênio.