Desculpas Não Ajudam
“Eles confessarão o pecado que cometeram...” (Nm 5:7)
A Torah descreve o processo de expiação para um indivíduo que retém ilegalmente dinheiro que pertence a outro e, em seguida, agrava sua iniquidade jurando falsamente. Um elemento crucial de sua expiação é conhecido como “viduy” – “confissão“. O Rambam cita este versículo como a fonte para o mandamento geral do arrependimento. O Rambam conclui com as palavras: “kol hamarbeh lehisvadot haray zeh meshubach” – “qualquer um que confesse excessivamente é digno de louvor”. (Yad Hilchot Teshuvá 1:1) A noção secular de confissão evoca imagens que envolvem admissão de culpa e expiação, uma pessoa psicologicamente se castigando e se repreendendo por sua indignidade. É difícil considerar uma pessoa que se entrega a esse tipo de comportamento como digna de louvor. Pelo contrário, tal comportamento geralmente encoraja a pessoa a violar a mesma proibição novamente; ela ou vê a autoflagelação como expiação por suas ações e estaria disposta a suportar esse tipo de expiação se tentada novamente pelas mesmas ações, ou chega a um ponto em que sua opinião sobre si mesma é tão baixa que se sente justificada em cometer a violação novamente, pois sente que não merece mais nada. Qual é, então, a definição judaica de confissão?

Em outra ocasião, o Rambam usa uma expressão semelhante; a respeito da mitzvá de narrar o êxodo de Mitzrayim, na noite de Pessach, o Rambam declara: “kol hamarich bedevarim haray zeh meshubach” – “qualquer um que recite com grandeza é digno de louvor”. (Yad Hilchot Chomeitz U’Matzah 7:1) A recitação da Hagadá na noite de Pessach é o cumprimento desse preceito. A passagem que descreve a entrega das primícias, que contém um breve esboço da história judaica, constitui uma parte importante da Hagadá de Pessach. (Dt 26:2) O Talmud se refere a essa passagem como “viduy bikkurim”. (Talmud Yerushalmi Bikkurim) Em toda a passagem, não há menção de culpa ou confissão. Por que Chazal descreveria essa recitação como um viduy?
O termo “viduy” tem a mesma raiz da palavra “todah” – “obrigado”. Essa comparação é enfatizada pelo seguinte Midrash: Quando Adão se arrependeu de seu pecado, ele compôs o Salmo “Tov Lehodot” – “É Bom Agradecer”. O Midrash relata que “lehodot” deve ser lido como “lehisvadot” – “confessar”. (Rabá 22) Qual é a conexão entre agradecer e confissão?
Quando uma pessoa expressa gratidão por uma ação positiva realizada em seu favor, ela reconhece o benefício que recebeu. A palavra “todah” deriva da palavra “modeh” – “reconhecer”. A confissão força a pessoa a verbalizar seu reconhecimento dos benefícios que Hashem lhe concedeu e a demonstrar que reconhece que transgredir uma das mitzvot de Hashem é, em essência, autodestrutivo, pois aderir às mitzvot lhe é benéfico. Portanto, é louvável reconhecer continuamente o benefício que Hashem nos concedeu, pois isso garantirá que nosso compromisso com a adesão aos preceitos seja fortalecido. Da mesma forma, na noite de Pessach, recontamos a infinidade de milagres que Hashem realizou em nosso favor ao longo da história e expressamos nossa gratidão por Sua bondade. Não há limite que possa ser imposto ao reconhecimento de nossas obrigações para com Hashem, devido à grande bondade que Ele demonstrou.
Tradução: Mário Moreno.
