Espaço para uma Vassoura

Mário Moreno/ abril 11, 2025/ Teste

A porção desta semana começa com Hashem ordenando a Moshe que ensinasse a Arão e seus filhos algumas leis. Hashem não ordena a Moshe que fale com Arão, nem mesmo a Moshe que ensine a Arão. Ele diz a Moshe: “Tzav et Ahron“. Ordene a Arão.

Tzav“, explica Rashi, “é uma palavra muito poderosa. Significa comando com uma ordem que deve ser executada com rapidez e diligência. A palavra tzav”, continua Rashi, “também é usada apenas para situações com ramificações eternas”. Se analisarmos os próximos comandos, podemos nos perguntar: por que esses comandos precisam do poderoso prefácio Tzav?

O próximo versículo é sobre o Korban Olah. Um Korban Olah é um sacrifício dedicado inteiramente a Hashem; nenhuma parte do animal, exceto a pele, é deixada para benefício ou consumo humano. A pessoa que o oferece quer ter certeza de que ele seja oferecido dentro dos mais altos padrões da Halacha. A advertência, tzav, certamente é apropriada. No entanto, a Torah dedica apenas um versículo à Olah. Ela prossegue nos contando sobre a limpeza diária das cinzas do altar. Um Kohen deve usar vestes de linho, remover as cinzas e colocá-las perto do altar.

Por que esse trabalho servil é mencionado junto com a sagrada Olah? Para que fim ele merece o poderoso comando, tzav?

O Gaon Steipler, Rabi Yisrael Yaakov Kanievski, era um paradigma de santidade. As histórias sobre sua santidade eram bem conhecidas em toda a comunidade da Torah. Aos dezessete anos, ele já havia sobrevivido ao exército russo sem comprometer o Shabat ou a Kashrut.

O Steipler não era conhecido por conversas longas. Ele havia perdido a audição como sentinela nas noites geladas da Sibéria durante seu mandato no exército do Czar. As pessoas lhe escreviam perguntas ou imploravam que orasse pelos doentes ou desafortunados. O Steipler lia o bilhete, mal levantava os olhos do grande volume sobre sua velha mesa e começava a rezar. Muitas vezes, condensava seus conselhos em uma ou duas frases, mas eram poderosos. As pessoas perguntavam e ele respondia. Em poucos dias, a salvação milagrosa chegou. E as pessoas também. Formavam filas em frente à sua modesta casa, e o homem, já idoso, encontrava tempo para atender qualquer pessoa que entrasse com os problemas do mundo pesando sobre seus ombros.

Um jovem aspirante, cuja busca era ser um estudioso tão grande quanto o próprio Steipler, chegou com um problema. O jovem sentia que essa situação específica estava impedindo seu crescimento espiritual e certamente um homem como o Rabino Kanievski, que perseverou diante de problemas que ameaçavam sua vida, poderia se identificar com a dele!

O jovem havia escrito a situação em detalhes para que o Steipler compreendesse sua gravidade. “Toda sexta-feira”, escreveu o jovem, “chego da Yeshivá e a cena na casa me leva ao desespero. A mesa não está posta, a cozinha mal está limpa e as crianças não tomaram banho! O que devo fazer? Como posso me concentrar nos estudos quando tenho tantos problemas?” O aspirante a acadêmico esperava que o Steipler o aconselhasse sobre como lidar com uma esposa que não estava seguindo seus padrões.

O Steipler ergueu os olhos do papel e fez uma cara séria. O jovem sorriu. O Steipler deve ter percebido a gravidade da situação. Então, falou em seu iídiche com forte sotaque russo: “Você realmente quer saber o que fazer?” O jovem assentiu ansiosamente. O Steipler parecia austero.

“PEGUE UMA VASSOURA!”

Rabbeinu Yonah de Girondi (1180-1263) explica a justaposição da ordem de varrer as cinzas com a do Korban Olah. É preciso compreender que, às vezes, o que é considerado trabalho servil aos olhos humanos merece a mais alta concordância aos olhos de Hashem. A mitzvá de varrer o Altar é precedida pela palavra tzav e colocada ao lado do Korban Olah. É preciso compreender que os pequenos atos, sem glória, também produzem grande santidade. Na busca pela espiritualidade, nunca se deve menosprezar as tarefas simples. Pois, por mais santo que seja, sempre há espaço para uma vassoura.

Tradução: Mário Moreno.

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