Os três poços
Os três poços
Gn 26.18-33
O Midrash nos dá uma interpretação muito interessante sobre o episódio que Itschac vivenciou enquanto estava morando em terras estranhas, no reino do Avimelech.
“Quando os servos do Rei Avimêlech viram como Itschac ficara rico, sentiram inveja. Maldosamente, entupiram todos os poços que pertenciam a Itschac. Estes poços haviam sido cavados pelo pai de Itschac, Avraham. Itschac ordenou aos servos: “Limpem meus poços de toda terra e sujeira com que os servos de Avimêlech os encheram.”
O Rei Avimêlech se deu conta que a inveja de seus servos poderia lhe trazer problemas. “Vá embora,” ordenou ele a Itschac. “Você ficou muito mais rico que nós.”
Itschac obedeceu, saindo da vizinhança da corte do rei, apesar de permanecer na terra dos pelishtim.
Assim que havia se estabelecido, ordenou aos servos:
“Cavem a terra. Talvez achemos novos poços de água.”
Os servos cavaram fundo e encontraram um manancial. Assim que souberam disso, os servos de Avimêlech afirmaram:
“Na realidade, este poço pertence a nós, porque Itschac achou-o em nossa terra.”
Eles expulsaram os servos de Itschac para longe do poço e o tomaram para si.
Mas algo estranho aconteceu!
Quando os servos do Rei Avimêlech tentaram extrair água do poço, não saía água. O poço havia secado.
Então, os servos de Avimêlech devolveram o poço aos servos de Itschac. Assim que Itschac recuperou a posse, este novamente se encheu de água.
Itschac chamou este poço de Essec, que significa “luta”, referindo-se ao fato de os servos de Avimêlech terem lutado por este poço.
Itschac ordenou aos servos:
“Cavem novamente”. Desta vez, acharam um segundo poço e novamente os servos de Avimêlech o tiraram dos servos de Itschac. Mais uma vez D’us os puniu e, quando tentaram tirar água do poço, este permaneceu seco. Quando os servos de Avimêlech viram isso, devolveram o controle do poço a Itschac.
Itschac chamou este poço de Sitna. Sitna quer dizer “distúrbio”, porque os servos de Avimêlech o haviam perturbado, tirando-lhe a posse do poço.
Itschac então ordenou aos servos que voltassem a cavar e estes encontraram um terceiro poço. Desta vez, os servos de Avimêlech não tentaram tirar-lhe o poço. Haviam aprendido a lição!
Itschac chamou este poço de Rechovot, que significa “espaço amplo” ou “alívio”, pois, desta vez, os servos de Avimêlech pararam de discutir com ele; finalmente, encontrou paz e alívio das contendas”.
Notamos aqui que existem três momentos na vida deste homem que estão explícitos nos acontecimentos com os poços.
Essec
O primeiro momento é aquele que diz respeito ao poço chamado de Essec. Esta palavra em hebraico significa “luta”, mas em sua raiz temos ainda a palavra ashaq que significa “oprimir, conseguir fraudulentamente, enganar, praticar violência”. Este é justamente o primeiro momento de nossas vidas quando estamos caminhando rumo a Canaã. É o tempo em que tem início as lutas de uma forma muito rude, até mesmo feroz. Veja que Itschac cavou este poço e ele foi fechado pelos seus inimigos. Estes tentaram extrair água do poço aberto por Itschac e não conseguiram. Mas quando o poço retorna aquele que o abriu, a água jorra novamente! Lembra-se de quantas vezes seus “poços” foram fechados por seus inimigos. Houve luta e contenda contra você, pois o Eterno lhe deu algo que foi cobiçado por alguém que tentou tomar-lhe o que lhe fora dado. O teu inimigo até teve sucesso momentâneo, julgou-se vitorioso e agora detentor de algo extraordinário; mas quando ele tenta “tirar água” do poço que você cavou, nada acontece! Amado não temas! Quando Há Shem (O Eterno) te dá algo e você usa suas próprias mãos para que isso venha a existência, ninguém poderá fazer com que o teu projeto siga em frente! Só a você foi dada a oportunidade e a unção para realizar aquele projeto que é um sonho do coração do Pai que se realizará através de tua vida!
Essec representa a luta física – no corpo – que há satan trava contra os servos do Eterno fazendo-os sucumbir antes mesmo de alcançarem a sua libertação! Essec tenta nos trazer opressão – através dos servos de Avimelech – tenta também conseguir aquilo que é nosso de forma ilícita e fraudulenta. Este é o tempo em que o engano tenta assaltar nossas vidas e nos fazer pensar que tudo está perdido! Podemos até mesmo nos tornarmos vítimas da violência que tentará nos intimidar nos dizendo: “Saia daqui, este poço é meu”. Mas é em Essec que o Eterno faz com que o inimigo devolva aquilo que tentou nos roubar. Nós não ficaremos sem ter em nossas mãos aquilo que é devido em Essec! Os ardis do inimigo serão aniquilados e os opressores serão desbaratados! Os demônios que nos combatem nesta fase de nossa vida tentam atacar nosso exterior – fisicamente – e é justamente este o momento de dizermos como os príncipes do Senhor disseram no passado: “Subamos animosamente e possuamo-la em herança, porque certamente prevaleceremos contra ela” (Nm 13.30). Nada há a temer! Nosso inimigo já está vencido, pois o Todo-Poderoso já decretou e anunciou a sentença a eles: “Culpado conforme acusação”! Já a nós foi dada a Palavra de vitória que deve ser agora obedecida para que nada e ninguém possa retardar aquilo que o D-us de Israel fará através de nós!
Este é também o tempo profético de Pessach (A Festa de Páscoa). É nesta época que há a libertação física do povo de Israel do Egito. Eles agora verão o total julgamento impingido aos deuses do Egito e poderão ser totalmente libertos das garras de Faraó. O tempo da opressão física acaba com os juízos que vem sobre os deuses egípcios! Você não precisa mais ser escravo dos demônios que te atormentam, pois o Eterno já nos deu libertação através do sangue de Ieshua! Esta libertação trará consigo ainda as riquezas do Egito, pois quando os israelitas saíram dali, eles literalmente “saquearam” as riquezas dos egípcios! Você deixará a terra dos teus opressores, mas sairá dali liberto e com as riquezas que são suas por direito! Tudo o que você fez – trabalhou – será dado a ti como “despojo” acrescido de juros e correção! Certamente agora você entende o motivo de tanta perseguição! É por que chegou o tempo de tua libertação; além da libertação você ainda verá seu inimigo vencido e saqueará teus inimigos sem que possam sequer reclamar disso! Este é o tempo da vitória do Senhor em tua vida de uma forma muito especial, pois com a derrota do inimigo, nada mais há que temer. Por isso vamos em frente e demos início à nossa caminhada rumo a Canaã, lugar definitivo de nossa vitória!
Sitna
O próximo poço se chama “Sitna”. Esta palavra significa “inimizade, acusação”. Ela tem a mesma raiz do termo hebraico “satan” que significa “adversário, oponente”. Este poço nos fala sobre o tempo em que o inimigo se levanta contra nós usando justamente esta arma: a acusação! É notável vermos que esta é uma das mais eficazes armas usadas contra os servos do Senhor, e muitas vezes, outros servos são “usados” para que, através da acusação seja disseminada a inimizade entre os irmãos! É claro que esta postura de acusação é instigada por Há Satan que sendo nosso adversário não se cansa de tentar nos enfraquecer através de seus ardis!
Novamente este poço foi “cavado” pelos servos de Itschac e isso nos fala sobre nossos projetos que foram iniciados e chegaram até a ter sua aceitação por algumas pessoas. Mas, quando começamos a “decolar” veio então o espírito de Sitna e tratou de dissipar não somente o projeto mas também aqueles que eram seus colaboradores. Assim como este “poço” foi cavado e rapidamente deu água, seu fim também foi repentino. Quando alguns perguntaram sobre este poço você disse meio envergonhado: “Tivemos de parar o projeto por problemas tidos com o nosso pessoal!” Houve uma dispersão e um sentimento de fracasso muito grande por causa deste empreendimento que “fracassou”!
Sitna representa o inimigo tentando atingir nossa alma a fim de que fiquemos totalmente paralisados e nunca mais nos coloquemos à disposição do Reino para qualquer projeto ou empreitada! Agora o inimigo tenta nos marcar com o medo! Ele nos diz: “Não tente isso de novo, pois você já falhou uma vez! Não há disponibilidade de recursos e você não encontrará pessoas para investirem seu dinheiro nisso! Há também um outro detalhe: você não encontrará pessoal capacitado para “tocar” o projeto juntamente com você”! Creio, meu amado irmão, que esta voz e estes argumentos são muito conhecidos daqueles que foram atingidos pelo inimigo em suas almas. Neste momento há satan quase conseguiu que nossos sonhos morressem! Mas espere! Sitna não é ainda o final. Há um caminho que precisa ser percorrido até alcançarmos aquilo que o Eterno tem para nós como um legado – herança – eterno!
Sitna representa também a Festa de Shavuot! Esta é a festa que nos fala sobre o início da colheita e este é o principal momento em que o inimigo nos atacará: no início de tudo. Shavuot foi celebrada na Brit Hadasha em Atos capítulo 2. Ali houve um derramamento do Espírito – unção – e também a manifestação dos dons! Ali temos também uma palavra que foi dita pelos “opositores”: “Estavam, pois, atônitos e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando? E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? Somos partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia, da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem, tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios. Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Elohim? Todos, atônitos e perplexos, interpelavam uns aos outros: Que quer isto dizer? Outros, porém, zombando, diziam: Estão embriagados! Então, se levantou Kefa, com os onze; e, erguendo a voz, advertiu-os nestes termos: Varões judeus e todos os habitantes de Jerusalém, tomai conhecimento disto e atentai nas minhas palavras. Estes homens não estão embriagados, como vindes pensando, sendo esta a terceira hora do dia. Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Ioel: E acontecerá nos últimos dias, diz o IHVH, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão” (At 2.7-18).
Como sempre há uma “tentativa” do opositor em fazer com que a obra do Eterno caia em descrédito! No texto citado ele diz: “Eles estão bêbados”, não lhes dêem qualquer crédito! Aqui temos então a confirmação de que algo sobrenatural já está acontecendo conosco!
Também devemos nos lembrar que no Tabernáculo este evento é o que equivale ao lugar santo! Aqui temos então os três móveis que nos falam sobre nossa experiência com o Eterno: a mesa dos pães da propiciação, a menorah e o altar de incenso! Através deles temos contato com o Eterno e agora já estamos num lugar coberto dentro do Tabernáculo! Já há sobre nós uma cobertura vermelha – a cobertura do Tabernáculo – que nos permite entrar mais profundamente em nosso relacionamento com D-us!
Rechovot
O último poço se chama “Rechovot” que em hebraico significa “espaço amplo” ou “alívio”. Em sua raiz temos o termo rahab que significa “ser largo” e diz respeito à largura ou amplidão da terra ou da largura de um objeto.
Agora finalmente entramos definitivamente na vitória! Este terceiro poço é chamado de “espaço amplo, alívio”. Agora o inimigo não mais poderá lutar contra nós. A Torah afirma que neste instante os inimigos não mais vieram para incomodar Itschac! Este é então o lugar onde os demais poços se fundem, pois agora chega o tempo de alargarmos nossas fronteiras e nossas moradas! Não há mais lutas ou clamores que tentarão nos impedir de chegarmos ao nosso objetivo! Não! Agora já estamos definitivamente postados no lugar onde o Todo-Poderoso nos preparou para que ali tenhamos nossas vitórias consolidadas!
Este poço representa nosso espírito. Esta é a parte do homem que faz contato com D-us. As atribuições do espírito são orar, louvar e adorar. O corpo e a alma são meramente veículos e intérpretes de nosso espírito quando estamos realizando estas coisas. Agora o Eterno está aperfeiçoando nosso espírito e consequentemente nosso relacionamento com Ele estará sendo cada vez mais dinamizado! Temos aqui uma fusão entre o homem e seu Criador! Espíritos se fundem tornando-se um só!
Aqui temos a Festa de Sucot que representa o final da colheita e consequentemente teremos a aquisição daquilo que de melhor o Pai tem para nós! Esta é a sétima festa, realizada durante sete dias, e cujo dia final – o sétimo – é o auge da festa!
Mário Moreno.