Parasha Shemini

Mário Moreno/ março 26, 2018/ Parasha da semana

Shemini

(Oitava)

Lv 9.1 – 11.47 /II Sm 6.1-7.17 / Hb 7:1-19

         Na Parashá desta semana estaremos estudando sobre o início do período sacerdotal – de fato – e também sobre os primeiros erros cometidos por homens que quiseram estabelecer o seu padrão sobre o padrão ditado pelo Eterno. Também veremos que o Eterno orienta o seu povo sobre o que Ele considera como “comida”, a fim de acrescentar-lhes uma nova dimensão em sua vida diária.

Tudo tem início com a saída de Aharon e de seus filhos do Tabernáculo. “E aconteceu, ao dia oitavo, que Moshe chamou a Aharon e seus filhos, e os anciãos de Israel” (Levítico 9:1). É interessante notarmos que Moshe chama Aharon e seus filhos para fora da tenda da congregação justamente ao oitavo dia! O oito é o número da ressurreição, do novo recomeço. Percebemos isso já na criação, quando o Eterno Criou tudo em seis dias, ao sétimo descansou e no oitavo dia tem início as atividades de Adão no Paraíso! Ou seja, quando o ciclo de sete fecha-se, ao oitavo tudo inicia-se novamente. É quando, após o descanso, dava-se início a uma nova caminhada em todos os aspectos da vida. O reinicio revigorado, agora já com todas as potencialidades recuperadas no dia anterior (shabath). A revelação, a unção e a glória já vieram. Agora o novo homem se levanta e reinicia seu andar em comunhão com HaShem! Podemos perceber isso ainda no ato da circuncisão, pois ela é feita ao oitavo dia no recém-nascido. É o tempo do renascimento do homem, quando uma nova etapa se inicia. É o recomeço da vida diante do Criador.

Temos este exemplo também na cidade de Jerusalém. A cidade possui oito portões, dos quais sete estão abertos. O portão que está fechado é chamado de “Portão Dourado”. Este portão será aberto quando o Mashiach vier para reinar com seu povo! Aí teremos então um novo começo, um recomeço para a cidade de Jerusalém e também um recomeço para toda a humanidade! Isso nos demonstra que o Eterno sempre nos dá uma nova chance para recomeçarmos…

Depois desta informação são dadas determinações ao povo de Israel para que se preparassem com sacrifícios – santificando-se – pois o Eterno apareceria à eles naquele mesmo dia! “E disse a Aharon: Toma um bezerro, para expiação do pecado, e um carneiro para holocausto, sem defeito; e traze-os perante o IHVH. Depois falarás aos filhos de Israel, dizendo: Tomai um bode para expiação do pecado, e um bezerro, e um cordeiro de um ano, sem defeito, para holocausto; também um boi e um carneiro por sacrifício pacífico, para sacrificar perante o IHVH, e oferta de alimentos, amassada com azeite; porquanto hoje o IHVH vos aparecerá. Então trouxeram o que ordenara Moshe, diante da tenda da congregação, e chegou-se toda a congregação e se pôs perante o IHVH” (Lv 9:2-5). Moshe estava informando a Aharon e ao povo algo que aconteceria de forma extraordinária: O Eterno estaria entre eles com sua presença! Ou seja, Aquele que os guiara pelo deserto agora literalmente “desceria” para estar entre eles! Quando Moshe diz “também um boi e um carneiro por sacrifício pacífico, para sacrificar perante o IHVH, e oferta de alimentos, amassada com azeite; porquanto hoje o IHVH vos aparecerá” no original temos alguns detalhes muito importantes. O primeiro é que a palavra que define o Eterno é o tetragrama (IHVH)! Isso nos diz que o Eterno se tornará aquilo que seu povo necessita naquele momento! Um segundo detalhe muito importante é que a palavra “aparecerá” em hebraico é ra´â e significa “ver, olhar, inspecionar”. Mas o que significa isso? Significa que o Eterno estaria vendo, contemplando aquilo que seu povo faria para então liberar sua bênção sobre eles!

Novamente seguem-se instruções exatas daquilo que deve ser feito para o povo de Israel possa então “ver a glória do Eterno”. “E disse Moshe: Esta é a coisa que o Senhor ordenou que fizésseis; e a glória do IHVH vos aparecerá” (Lv 9:6). Devemos perceber duas coisas: Novamente a palavra que define  o Eterno é o tetragrama e isso significa que “Aquele que se torna o que precisamos” já havia emitido ordens que precisavam ser cumpridas;quando isso acontecesse Ele então permitiria que sua glória fosse vista entre o povo! A obediência aos mandamentos do Eterno atrai a presença d´Ele para o meio de seu povo!

Veremos agora um outro princípio sobre os líderes. “Então Aharon se chegou ao altar, e degolou o bezerro da expiação que era por si mesmo” (Lv 9:8). Interessante notar que Aharon chega-se ao altar. Altar é lugar de sacrifício, lugar de morte. Ali ele chega com o bezerro da expiação. Em nosso texto bíblico em português faltou uma palavra que viria após o termo “expiação”. Esta palavra seria o termo “pecado”, que em hebraico é hata’ que significa “errar, sair do caminho, pecar, tornar-se culpado”. Significa ainda “errar o alvo”, “ficar aquém do padrão”. Aqui Aharon dá exemplo público de algo que já era uma realidade em sua vida. Ele e seus filhos já haviam passado sete dias diante do Senhor. Porém agora Aharon torna pública sua humanidade quando vai ao altar e leva seu sacrifício pela culpa (pecado) e o oferece ao Senhor para poder capacitá-lo à oficiar à face do povo! Mesmo os santos precisam pedir perdão!

Quando se peca, é preciso então do sacrifício expiatório! Então, veremos que “expiação” em sua raiz tem múltiplos significados:

Kapar – Expiação – fazer expiação, fazer reconciliação, purificar.

Koper – resgate, dádiva, obter favor.

Kippur – expiação (perdão) usado na expressão IOM KIPPUR (Dia do perdão).

Isso nos demonstra que a expiação deve ser feita em primeiro lugar pelos líderes (que com esse ato dirão ao seu povo: eu também sou pecador!), para que haja reconciliação com o Eterno, e então possa haver o resgate de si mesmo, obtendo-se assim o favor do Eterno! Disso vem o fato de alcançarmos o perdão e de termos também a obrigação de perdoarmos aqueles que nos ofenderam! Temos a confirmação deste princípio implícito aqui numa declaração explícita de Ieshua no Evangelho de Mateus: “Então Kefa, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete? Ieshua lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete” (Mt 18:21-22).

A continuação deste princípio vem a seguir: “Mas a gordura, e os rins, e o redenho do fígado de expiação do pecado, queimou sobre o altar, como o IHVH ordenara a Moshe” (Lv 9:10). A gordura (que simboliza fartura, abundância) é queimada no altar! As entranhas indicam também o centro das emoções, o afeto e a mente que estavam sendo oferecidas sobre o altar do Senhor! Após a vítima ter sido morta, oferece-se então sua gordura e suas entranhas!

Mas percebemos que esta entrega é puramente pessoal! A fé era ingrediente indispensável nessa ocasião! Quando isso era feito – conforme o que fora estabelecido e ordenado pelo Eterno – então novamente Ele se tornava aquilo que seu povo precisava (IHVH)!

        Tudo isso acontecia dentro do arraial (acampamento) do povo de Israel. Mas havia algo que aconteceria fora do arraial. “Porém a carne e o couro queimou com fogo fora do arraial” (Lv 9:11). Esse ato simbolizava a expiação completa: completa maldição caía sobre o substituto e a expiação não era completa até que o sacrifício fosse completa e inteiramente consumido. O “substituto” (que levaria os pecados de Aharon e dos seus) deveria morrer fora dos limites do acampamento – ou da cidade – em que se encontrava o povo de Israel! Isso cumpre-se novamente quando Ieshua é crucificado num lugar chamado Gólgota (que em hebraico significa “Lugar do Crânio”). Este lugar fica fora dos muros da cidade de Jerusalém! Não nos parece isso uma grande coincidência? Percebamos que o animal morre no arraial, mas que a consumação da expiação – que é então aceita por D-us – dá-se quando o sacrifício é queimado totalmente e então é aceito como “cheiro suave” pelo Eterno!

Agora um outro sacrifício será feito aqui: “Depois degolou o holocausto, e os filhos de Aharon lhe entregaram o sangue, e espargiu-o sobre o altar em redor” (Lv 9:12). A palavra traduzida por “holocausto” em hebraico é olah e significa “subida, escadaria”. O holocausto é o único meio de fazer o ofertante “subir” até a presença de D-us. A fumaça da oferta queimada é o símbolo da vida do ofertante que está sobre o altar e é queimada, devorada pelo fogo! olah significa também “oferta total”, “oferta inteira”; o ato de queimar é secundário em relação à entrega da criatura toda ao Senhor.

Há uma identificação do ofertante com o holocausto, o que simbolizava uma substituição. O altar era reservado para as coisas santas. Aquilo que é oferecido sobre o altar deve ser santo.

O animal deveria ser do rebanho do ofertante, simbolizando que aquilo que era oferecido seria o melhor que ele possuía. Isso envolvia um vínculo emocional entre a oferta e o adorador!

A oferenda da vida ao D-us da vida faz a diferença entre um simples abate de animal e uma oferta sacrificial aceitável.

Há também o oferecimento de uma terceira oferta ao Eterno: “Depois fez chegar a oferta do povo, e tomou o bode da expiação do pecado, que era pelo povo, e o degolou, e o preparou por expiação do pecado, como o primeiro” (Lv 9:15). Somente após ter ofertado por si e pelos seus Aharon pode então fazer a oferta pelo povo! Novamente percebemos que é necessário que primeiro os líderes estejam em perfeita sintonia com o Eterno para que, somente depois, o povo seja então alcançado e abençoado por homens que já foram santificados e também abençoados, estando então prontos para liberar sobre o povo as bênçãos de D-us!

Percebamos agora o que acontece: “Depois Aharon levantou as suas mãos ao povo e o abençoou; e desceu, havendo feito a expiação do pecado, e o holocausto, e a oferta pacífica. Então entraram Moshe e Aharon na tenda da congregação; depois saíram, e abençoaram ao povo; e a glória do IHVH apareceu a todo o povo. Porque o fogo saiu de diante do IHVH, e consumiu o holocausto e a gordura, sobre o altar; o que vendo todo o povo, jubilaram e caíram sobre as suas faces” (Lv 9:22-24). Primeiro vem a bênção de Aharon ao povo. A palavra “abençoar” em hebraico é barak – abençoar. Quer dizer “dar poder a alguém para ser prospero, bem-sucedido e fecundo”! De modo geral, a bênção é transmitida do maior para o menor; porém aquilo que é aparente nem sempre representa a verdade! Ou seja, o que parece menor, nem sempre é menor! Há ainda na raiz da palavra:

Berek – joelho

Beraka – benção

Bereka – tanque, reservatório.

O que entendemos então? Quando somos “abençoados” recebemos então poder para sermos prósperos, bem-sucedidos e fecundos em tudo o que fizermos, pois certamente teremos dobrado nossos joelhos para que isso viesse sobre nós! Então seremos “beraka” por onde quer que passarmos pois nossos “tanques, reservatórios” terão sido cheios pelo Eterno e poderemos então dar àqueles que nos procuram!

O fogo de D’us

Aharon também estava preocupado. Ele tinha cumprido o serviço com alegria, mas agora estava temeroso. “Moshê”, disse ansiosamente, “será possível que D’us não esteja satisfeito com meu serviço e não o tenha aceitado? Talvez Ele ainda esteja aborrecido comigo devido a meu pecado e por isso não envia o fogo dos céus?”

Tanto Moshê como Aharon entraram no Mishcan, prostraram-se e imploraram a D’us que mandasse o fogo dos céus. Quando saíram, abençoaram Benê Israel: “Possa D’us aceitar seus corbanot e possa Ele perdoar os seus pecados!” Imediatamente, a Shechiná de D’us apareceu diante de todo o povo. Um fogo desceu dos céus e queimou as partes dos corbanot que ainda permaneciam no altar.

Quando o povo presenciou isto, sentiu-se feliz e gratificado. Era o sinal de que D’us os havia perdoado pelo pecado do bezerro de ouro. Desde a divisão das águas do Mar Vermelho não havia tanta alegria junto ao Povo de Israel. Prostraram-se e agradeceram a D’us pelo grande milagre. O fogo que caiu sobre o altar não desapareceu após queimar os corbanot; permaneceu no altar desde aquela época.

Após isso ter acontecido, Moshe e Aharon entram na tenda da congregação e algo ainda maior acontece: o Senhor (IHVH) é visto por seus filhos! Mas, quando isso aconteceu? Quando Moshe e Aharon juntos liberam sobre o povo a bênção do Eterno! Então o Senhor (IHVH) é ra´â que significa “ver, olhar, inspecionar”. A glória do Senhor na nuvem e o fogo que dele procedeu era, uma confirmação pública da aceitação divina do ministério sacerdotal e da eficácia das ofertas.

Isso aconteceu porque: “Porque o fogo saiu de diante do IHVH, e consumiu o holocausto e a gordura, sobre o altar; o que vendo todo o povo, jubilaram e caíram sobre as suas faces” (Lv 9:24). Veja que maravilhosa é esta palavra que nos diz que saiu fogo diante da face daquele que se torna aquilo que precisamos que Ele se torne para nós! O fogo aparece como bênção para a purificação, mas também traz juízo! Aqui nos mostra a aceitação do Senhor do ministério de Aharon e ratifica a autoridade que já estava sobre a família para ministrar e oficiar diante do Senhor. Com isso sendo visto pelo povo, houve então júbilo entre eles!  A palavra “júbilo” vem do hebraico hada que significa “exultar, alegrar-se”. Em sua raiz ainda temos:

Halal – exaltar, louvar, vangloriar (também significa brilhar).

Hilllul – júbilo, exaltação, louvor.

Mahalal – louvor.

O júbilo – a alegria extrema – trouxe ao povo o brilho do Senhor, o que fez com que eles entrassem num estado de louvor e exaltação Àquele que havia realizado todas aquelas grandes coisas!

Logo no princípio do ministério sacerdotal temos um acidente que serve de advertência aos que querem realizar a obra do Eterno à sua própria maneira! “E os filhos de Aharon, Nadabe e Abiú, tomaram cada um o seu incensário e puseram neles fogo, e colocaram incenso sobre ele, e ofereceram fogo estranho perante o IHVH, o que não lhes ordenara” (Lv 10:1). Duas coisas são possíveis aqui: a primeira é que se crê que Nadabe e Abiú estavam sob influência de bebida forte, inebriante, o que dá sentido à ordenança de D-us como proibição absoluta aos descendentes de Aharon de beberem qualquer bebida fermentada antes de entrarem para seus deveres sagrados no Tabernáculo. Um outro aspecto está relacionado ao fogo que foi levado à presença de D-us. A palavra “estranho” em hebraico é zûr e significa “ser estranho”. Sua raiz também significa “voltar-se, desviar-se”. Há ainda ouro significado para esta palavra que é “ser repugnante”. Isso demonstra-nos que aquilo que aqueles jovens estavam fazendo era algo realmente muito grave, pois quando eles se apresentam diante do Eterno com os incensários e colocam neles um fogo que não fora ordenado pelo Eterno e ainda se apresentam diante do Senhor de qualquer forma, isso foi tomado como um desvio daquilo que lhes fora ensinado. Isso certamente causou repugnância ao Senhor, o que resultou na morte dos dois rapazes! Isso sem falarmos sobre a possibilidade de eles estarem alcoolizados!

Esta postura destes dois homens teve um resultado horrível: “Então saiu fogo de diante do IHVH e os consumiu; e morreram perante o IHVH” (Lv 10:2). Novamente a escritura nos dá a exatidão de quem é o Senhor! As duas vezes que aparece a referência ao Eterno no hebraico é o tetragrama! Ou seja, o Senhor se tornou aquilo que eles precisavam que Ele se tornasse! Neste caso o Eterno tornou-se o juízo deles! O fogo estranho foi confrontado com Aquele que é o fogo consumidor! O resultado foi óbvio: o fogo consumidor (O Eterno) consumiu ao fogo trazido pelos homens à sua presença!

Os filhos de Aharon, Nadav e Avihu, são punidos por oferecerem incenso

Junto com as demais pessoas, os dois filhos mais velhos de Aharon, Nadav e Avihu, viram como um fogo proveniente do céu desceu sobre o altar no pátio e queimou os corbanot. Mas, enquanto todos se alegravam, Nadav e Avihu ficaram desgostosos.

Nadav e Avihu eram os homens mais notáveis da nação judaica, depois de Moshê e Aharon; eram ainda mais importantes que os setenta anciãos do Sanhedrin. Sentiam que desejavam aproximar-se mais de D’us, do que simplesmente ficarem parados observando o fogo miraculoso que descia do céu. Queriam trazer seu próprio corban para D’us a fim de expressarem seu amor. Também esperavam que ao oferecer um corban adicional, D’us Se revelaria ainda mais a eles.

Sem conversarem entre si, tanto Nadav como Avihu tiveram a mesma idéia. Cada um pensou: “De todas as oferendas, o incenso é o mais sagrado, e das seções do Mishcan, o Côdesh Hacodashim é o mais santo. Por isso, o maior dos presentes para D’us será oferecer-lhe incenso no Santo dos Santos.” O desejo de Nadav e Avihu era bem-intencionado, leshem shamayim. Tinham certeza de que D’us ficaria feliz com este “presente especial”, neste oitavo dia da consagração do Mishcan. Como ambos eram grandes sábios do Talmud, acharam muitas boas razões para pensar que seu incenso seria um presente maravilhoso para D’us. Entretanto, cometeram um erro: tinham tanta certeza de que D’us ficaria satisfeito com o presente que não se incomodaram de perguntar a D’us (através de Moshê) se Ele queria este incenso. Nem ao menos pediram a opinião de seu pai, Aharon, que certamente os teria impedido. Talvez não tivessem ousado entrar no Côdesh Hacodashim – a parte mais sagrada do Mishcan, onde até mesmo o Sumo Sacerdote só podia entrar em Yom Kipur – se não tivessem bebido vinho antes. Porém, após beberem, sentiram-se empolgados e não hesitaram em entrar no Santo dos Santos e em oferecer incenso.

Quando D’us viu que eles faziam a avodá a qual Ele não havia ordenado, disse: “Se os deixar escapar impunes agora, outros judeus pensarão que também podem entrar no Santo dos Santos e oferecer seus próprios corbanot. É melhor que Nadav e Avinu morram do que os judeus acreditem que o Mishcan seja um lugar público, onde podem fazer sua própria avodá na hora que bem entenderem”.

Um fogo desceu dos céus e dividiu-se em quatro filetes ardentes. Dois deles entraram pelas narinas de Nadav, e dois nas de Avihu. O fogo queimou-os por dentro, mas os corpos e as vestes não foram queimados.

A tragédia provocou uma “ruptura” na família de Aharon. Agora a palavra do Senhor para ele é a seguinte: “E disse Moshe a Aharon: Isto é o que o IHVH falou, dizendo: Serei santificado naqueles que se chegarem a mim, e serei glorificado diante de todo o povo. Porém Aharon calou-se” (Lv 10:3). Este verso nos informa que houve uma ordem do Senhor dizendo que Ele seria santificado por aqueles que se achegassem à Ele. Isso significa que o Senhor (IHVH) somente receberia em sua presença homens santos, conforme aquilo que Ele mesmo havia dito! O que fosse contrário à isso traria conseqüências aos infratores e glória ao nome do Senhor! A posição de Aharon foi de calar-se! Há uma passagem que exemplifica muito bem o que estava acontecendo à Aharon: “Livra-me de todas as minhas transgressões; não me faças o opróbrio dos loucos. Emudeci; não abro a minha boca, porquanto tu o fizeste. Tira de sobre mim a tua praga; estou desfalecido pelo golpe da tua mão” (Sl 39:8-10). Certamente quando o salmista escreveu estes versos ele lembrou-se da dor de Aharon por causa da morte de seus filhos Nadabe e Abiú! Ele consegue captar bem o sentimento de deve ter ocorrido a Aharon e também o grau de seu sofrimento!

Agora Moshe dirige-se a Aharon e aos seus filhos com asseguintes palavras: “E Moshe disse a Aharon, e a seus filhos Eleazar e Itamar: Não descobrireis as vossas cabeças, nem rasgareis vossas vestes, para que não morrais, nem venha grande indignação sobre toda a congregação; mas vossos irmãos, toda a casa de Israel, lamentem este incêndio que o IHVH acendeu” (Lv 10:6). Quando Moshe dirige-se a seu irmão, ele o faz não como o tio dos rapazes, mas sim como líder daquele povo que estava peregrinando no deserto! Ele usa a palavra amar que em hebraico significa “ordenar”, quando inicia suas palavras a Aharon. “E Moshe disse (amar)…” A ira do Senhor é manifesta e não há como reverter o que já foi feito por Ele! Aharon e seus filhos não tem o direito de descobrir suas cabeças e nem de rasgar seus vestidos (como sinal de sua indignação e dor) pela morte de seus filhos e irmãos! Eles ali representavam toda a congregação de Israel e caso fizessem isso a ira do Eterno se manifestaria entre eles e também entre todo o povo! A reunião do povo é chamada de “congregação”, termo este que provém da palavra hebraica edâ e que significa “assembléia, congregação, multidão, povo, enxame”. Esta palavra foi traduzida na Septuaginta por synagogê (sinagoga, em português). Caso as ordens do Eterno não fossem obedecidas, todos seriam atingidos pelo mal que viria sobre eles!

D’us recompensa Aharon por aceitar o decreto de D’us sem se queixar

Aharon compreendeu o ocorrido e não criticou nem sentiu mágoa de D’us em seu coração quando seus filhos morreram, por esta razão foi recompensado. Geralmente D’us falava com Moshê, e Moshê transmitia as palavras de D’us a Aharon. Agora, D’us falou diretamente a Aharon para consolá-lo e honrá-lo. Estas foram as palavras de D’us para Aharon: “Se um cohen bebe um copo de vinho, está proibido de fazer a avodá em seguida.”

Por que D’us deciciu formular esta advertência justamente naquele dia?

A resposta é que os filhos de Aharon, Nadav e Avihu, haviam morrido porque, entre outras razões, haviam bebido vinho antes de fazer uma avodá. Por isso, D’us advertiu Aharon que ele e os outros cohanim jamais deveriam repetir este erro.

Por que um cohen não pode beber antes de fazer a avodá? Após beber vinho, a mente da pessoa não está perfeitamente lúcida. Por isso, um cohen não está apto a fazer a avodá.

A palavra é ainda complementada por: “Nem saireis da porta da tenda da congregação, para que não morrais; porque está sobre vós o azeite da unção do IHVH. E fizeram conforme à palavra de Moshe” (Lv 10:7). Além da proibição de qualquer manifestação de dor ou pesar pelo pecado (e conseqüente morte) dos filhos e irmãos, Aharon e seus filhos não poderiam sequer sair para fora da tenda da congregação a fim de tocarem os mortos, pois caso isso acontecesse eles seriam tidos como impuros. O motivo: “Está sobre vós…” Esta palavra indica que a unção que aqueles homens receberam não foi momentânea, mas perpétua e ainda operaria de forma eficaz! Como sacerdotes ungidos pelo Senhor, Aharon e seus filhos tinham a obrigação de colocar o serviço de D-us em primeiro lugar, não podendo interrompê-lo nem mesmo por causa de um enterro de algum entre seus filhos e irmãos! Eles tinham sobre si:

Mishhã – óleo de unção

Moshhã – porção

Mashiah – aquele que é ungido

Mimshah – expansão.

Estas coisas atuariam assim sobre eles: após receberem o óleo da unção eles logicamente são considerados como “ungidos”, tendo então recebido a sua porção espiritual e tendo assim também recebido uma expansão de horizontes em seu ministério e em sua vida pessoal! Um último detalhe é que Aharon e os seus filhos obedeceram às palavras ditas por Moshe e certamente isso trouxe sobre eles grandes bênçãos da parte do Senhor!

Esta seção termina com uma determinação muito severa do Eterno para com os seus: “E falou o IHVH a Aharon, dizendo: Não bebereis vinho nem bebida forte, nem tu nem teus filhos contigo, quando entrardes na tenda da congregação, para que não morrais; estatuto perpétuo será isso entre as vossas gerações” (Lv 10:8-9). Duas coisas são importantes serem ditas aqui: a primeira é que a palavra “vinho” aqui em hebraico é yayin e significa “vinho”. Não é suco de uva! O vinho possuía um teor alcoólico natural que flutuava em torno de dois a três por cento de álcool, proveniente da própria fermentação da uva. Já o termo “bebida forte” em hebraico é shekar e significa “embriagar-se, estar bêbado”. Os derivados dessa palavra designam algo altamente desfavorável e negativo. Em Nm 28.7 é usada na oferta de libação e derramada na presença do Senhor. Isso significa que o ofertante abre mão de tal bebida (que poderia lhe proporcionar um prazer passageiro), derramando-a e ficando com a presença do Senhor para si!

Nesta época não existiam as bebidas que conhecemos como “destiladas”, pois a destilação como a conhecemos hoje foi inventada pelos árabes na Idade Média!

Isso significa que o ministério é incompatível com a embriaguez e não com o “tomar vinho” moderadamente. Perceba-se também que isso está restrito ao momento dos sacerdotes entrarem na tenda da congregação!

Quem age desta forma então cumpre o que está escrito: “E para fazer diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo” (Lv 10:10).

Temos agora o capítulo 11 que nos dá a orientação sobre o que é considerado comida pelo Eterno!

A alimentação é um dos fatores que determina a qualidade de vida do povo de D-us! Agora o Senhor começa a instruir o povo no que diz respeito a isso!

E falou o IHVH a Moshe e a Aharon, dizendo-lhes: Fala aos filhos de Israel, dizendo: Estes são

os animais, que comereis dentre todos os animais que há sobre a terra; dentre os animais, todo o que tem unhas fendidas, e a fenda das unhas se divide em duas, e rumina, deles comereis” (Lv 11:1-3).

Existem entre as limitações impostas por D-us, algumas considerações a serem feitas:

  1. havia carne de animais ou pássaros imundos que se podia considerar como sendo doentia ou imprópria por razões sanitárias, pelo fato de se alimentarem de cadáveres em decomposição;
  2. haviam animais que já estavam ligados intimamente aos cultos pagãos, como por exemplo o porco, que era oferecido aos deuses do mundo inferior;
  3. havia no comportamento de algum desses animais, algo desagradável com associações nefandas, como no caso dos animais que “rastejam” que se assemelham à atitude da serpente nos seus movimentos, e no caso dos morcegos cuja moradia são as cavernas escuras e úmidas, e ainda odeiam a luz.

Também existem as razões ecológicas, que dizem respeito à preservação e ao equilíbrio natural determinado por D-us. Se um dos componentes dessa cadeia é atingido, o equilíbrio do planeta sofre com isso. A grosso modo, existem duas categorias de animais sobre a terra: os puros e os impuros! Devemos notar que este capítulo fala somente sobre carne de animais, o que nos dá a entender que existe alguma razão para que o Eterno trate somente da carne proveniente de animais em nosso cardápio!

O versículo 7 deste capítulo nos dá uma informação muito interessante: “Também o porco, porque tem unhas fendidas, e a fenda das unhas se divide em duas, mas não rumina; este vos será imundo” (Lv 11:7).

A palavra “porco” em hebraico é hazir e significa “porco”. Esta palavra vem da raiz hzr de onde provém também outras palavras tais como:

Hata – errar, sair do caminho, pecar, tornar-se culpado.

Het – pecado.

Hattã – pecador

Hattã’a – coisa pecaminosa.

Não nos parece um tanto coincidente o fato da palavra “porco” estar ligada pela raiz a estas palavras tão negativas? Certamente há um motivo muito bom para que o Eterno declare de forma veemente a proibição quanto ao consumo deste tipo de animal, que sempre foi muito apreciado em toda a história da humanidade!

O verso 8 complementa o mandamento dizendo: “Das suas carnes não comereis, nem tocareis nos seus cadáveres; estes vos serão imundos” (Lv 11:8). A proibição está em comer e também em tocar o animal morto! É interessante que o Eterno quer nos livrar daquilo que está ligado ao pecado e à morte! Por isso tais animais são considerados como imundos (ou seja, aquilo que contamina alguém)!

Há ainda outras determinações que também são explanadas aqui: “Todo o inseto que voa, que anda sobre quatro pés, será para vós uma abominação” (Lv 11:20). A palavra “insetos” em hebraico é sherets e significa “insetos que andam sobre quatro pés”. Todos estes animais se multiplicam rapidamente e podem ser classificados como necrófagos – insetos que se alimentam de carne em decomposição e também parasitas, sendo por isso não comestíveis.

Existem alguns insetos que são “comestíveis”. Entre eles estão: “Deles comereis estes: a locusta segundo a sua espécie, o gafanhoto devorador segundo a sua espécie, o grilo segundo a sua espécie, e o gafanhoto segundo a sua espécie” (Lv 11:22). Os “gafanhotos” – independentes de suas famílias – são permitidos para o consumo humano.

Agora entre os répteis temos o seguinte: “Estes também vos serão por imundos entre os répteis que se arrastam sobre a terra; a doninha, e o rato, e a tartaruga segundo a sua espécie, e o ouriço cacheiro, e o lagarto, e a lagartixa, e a lesma e a toupeira” (Lv 11:29-30). Modernamente temos na França um prato que é considerado como uma “iguaria’ e que tem seu consumo proibido pela Torah: lesma que é o mesmo que escargot! É interessante vermos que o Criador pretendeu preservar seu povo de uma série de enfermidades privando-os do consumo de animais cujas espécies seriam as maiores transmissoras de doenças em toda a história da humanidade!

Este capítulo finda com mais um conselho da parte do Eterno para nós: “Também todo o réptil, que se arrasta sobre a terra, será abominação; não se comerá” (Lv 11:41). A palavra “abominação” em hebraico é sheqec e significa “tudo aquilo que é ofensivo à D-us e contrário ao seu plano de proporcionar ao seu povo escolhido uma vida agradável a Ele”, quer seja no aspecto alimentar, quer seja no aspecto moral, quer no aspecto religioso.

Tudo se resume nesta palavra: “Não vos façais abomináveis, por nenhum réptil que se arrasta, nem neles vos contamineis, para não serdes imundos por eles; porque eu sou o IHVH vosso Elohim; portanto vós vos santificareis, e sereis santos, porque eu sou santo; e não vos contaminareis com nenhum réptil que se arrasta sobre a terra” (Lv 11:43-44). É muito significativo para entender as relações do povo de Israel com D-us que o motivo para não comer aqueles alimentos, não era um tabu baseado no medo, antes era um desejo de honrar à D-us, cuja mão era vista na história nacional. A obediência àquelas regras os separava para o serviço de D-us, para assim os tornar o povo santo com quem o Senhor habitava.

O fim de tudo isso está na separação que o Eterno faz com seu povo, usando isso também como forma de distinguir aqueles que lhe pertencem dos que são do mundo! “Para fazer diferença entre o imundo e o limpo; e entre animais que se podem comer e os animais que não se podem comer” (Lv 11:47).

Quais animais são casher e não-casher

Nossa Parashá nos fala de dois sinais pelos quais podemos reconhecer um animal casher:

  1. Os cascos devem ser completamente fendidos, isto é, visualmente divididos em duas partes.
  2. O animal deve ser ruminante, retorna a comida do estômago para a boca e a mastiga uma segunda vez.

Um animal que mastiga a comida uma segunda vez é chamado de maale guera, ruminante. D’us criou-o de uma maneira especial. Não possui os dentes superiores da frente, mas tem quatro estômagos. Não mastiga bem a comida; ao invés disso, corta-a toscamente. A comida desce para o primeiro e o segundo estômagos. Dali, é empurrada de volta para a boca e o animal a mastiga corretamente. Então a comida desce até o terceiro e finalmente ao quarto estômago, onde é digerida.

Um animal é casher apenas se possuir os dois sinais: ter os cascos completamente fendidos e ser ruminante. Os seguintes animais têm apenas um destes sinais:

  1. O camelo é ruminante, mas seus cascos são fendidos apenas parcialmente; os cascos voltam a unir-se na base novamente.
  2. O texugo também é ruminante, mas seus cascos não são fendidos.
  3. O coelho é ruminante, mas seus cascos não são fendidos.
  4. O porco tem cascos fendidos, mas não é ruminante.

A Torah nos adverte que não devemos ser enganados por um dos sinais casher desses animais. Se os estudarmos atentamente, veremos que carecem do segundo sinal.

Peixe
Dentre os peixes, um judeu pode comer apenas os tipos que têm tanto barbatanas como escamas. Exemplos de peixe casher: atum, salmão, carpa, arenque, pescada e truta. Exemplos de peixes não-casher são: o bagre, enguia e tubarões.

Quando um judeu vai a uma peixaria cujo dono não é um judeu cumpridor de Torah, não pode adquirir peixe do qual as escamas e barbatanas foram retiradas antes que ele chegasse, mesmo se o dono disser que o peixe é casher.

Aves
A Torah nos fornece uma lista de 24 aves proibidas. São aves de rapina que seguram a presa com suas garras. Dentre elas estão a águia, o corvo e a cegonha. A Torah nos permite comer qualquer ave que não seja uma destas 24 proibidas. Hoje em dia, entretanto, podemos comer apenas aquelas aves que têm uma tradição confiável de serem casher.

Gafanhotos, animais rastejantes e insetos

A Torah permite que um judeu coma quatro tipos de gafanhotos. Apesar disso, atualmente isto nos é proibido pois perdemos a tradição que nos possibilitaria saber quais gafanhotos são casher e quais não o são.

Insetos são proibidos, também, assim como animais rastejantes como cobras, escorpiões e vermes. Algumas frutas e vegetais podem ter insetos ou vermes dentro deles. Devemos verificar cada um cuidadosamente, e comê-los apenas depois de ter certeza de que estão livres de vermes e insetos.

Assim como a carne de animais não-casher é proibida, também não podemos beber seu leite. Podemos beber leite apenas se for de animal casher, como vaca ou cabra. O leite casher deve ser observado desde o início da ordenha até seu engarrafamento. Apenas desta maneira podemos ter certeza de que nenhum leite de animal não casher foi misturado a ele.

Mel é feito por abelhas, que não são casher. Porém, a Torah nos permite ingerir seu mel.

Que o Eterno nos ajude a cumprirmos os desejos de seu coração em nossas vidas!

Baruch Há shem!

Mário Moreno.

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