Mário Moreno/ fevereiro 21, 2018/ Artigos

Reis de Israel e os Cohanim

Podemos pensar que basta ter um San’hedrin que cuida da nação judia. Mas Moshê explicou que: Além do San’hedrin, D’us quer que vocês tenham um rei. O rei se preocupará que o país esteja funcionando de acordo com a lei da Torah. Ele também os liderará em caso de guerra.”

Benê Israel deveriam cumprir três mitsvot ao se estabelecer na Terra de Israel:

  1. Escolher e coroar um rei;
  2. Exterminar os descendentes de Amalec e;
  3. Construir o Bet Hamicdash;

Assim, não nos é apenas permitido, mas numa determinada época do futuro, nos é ordenado que nossa nação exija um rei. Até mesmo as profecias sobre a era Messiânica, que descrevem Israel em seu mais elevado nível espiritual, versam sobre um rei da dinastia de David.

Portanto, a monarquia é uma situação desejável. Não obstante, quando o povo pediu que o profeta Shemuel lhe desse um rei, “para que possamos ser como os povos à nossa volta,” ele reagiu com desapontamento e ira.

Benê Israel deveria ter pedido um rei que os liderasse, inspirasse e fosse exemplo de alguém que serve a D’us altruística e sinceramente. Em vez disto, disseram que queriam um rei meramente para imitar seus vizinhos. Será que o objetivo que D’us estabeleceu para os judeus é ser igual a qualquer outro povo, cujas aspirações são apenas glória, riqueza e conquistas?

Por causa do desejo equivocado da nação, seu primeiro rei, Shaul, não pôde manter seu trono permanentemente.

Respeito e Temor ao Rei

Há várias leis referentes ao comportamento que o povo judeu deveria ter diante de seu rei:

  • Um rei recém-escolhido é levado para uma fonte de água. Lá, ele é ungido com óleo (shêmen hamishchá).
  • Quando as pessoas vêem o rei judeu, elas devem mencionar uma bênção: “Baruch shechalac micvodô lireav”; “Abençoado és tu, D’us, que compartilha Sua honra com aqueles que o temem.”
  • É proibido sentar no trono real, cavalgar em seu cavalo, usar o seu cetro ou qualquer um de seus objetos pessoais.
  • Os reis descendentes de David são as únicas pessoas que têm a permissão de sentar-se no pátio do Bet Hamicdash. Todos os outros devem ficar de pé.
  • O rei tem seu cabelo cortado todo dia para ter sempre uma boa aparência. Pessoas são proibidas de assistir ao seu corte de cabelo, para que não percam o respeito por ele.
  • Todos, mesmo um navi (profeta), devem se curvar perante ele, exceto o cohen gadol (sumo-sacerdote). Porém, é uma mitsvá que o rei honre os sábios da Torah.
  • Um judeu que desobedece a ordem real merece pena capital.

Foi dito sobre o rei Yehoshafat que quando um sábio entrava, ele se levantava e clamava: “Meu mestre e rabino!

As Mitsvot Especiais do Rei

  1. Ele não deve manter cavalos demais: na época dos reis judeus, o Egito era famoso pela sua criação de cavalos. Se um rei queria muitos cavalos, poderia fazer com que alguns judeus se estabelecessem no Egito para que lhe mandassem cavalos de lá. D’us disse “Não quero que os judeus viajem para o Egito e permaneçam lá. O Egito é um país perverso, que influenciará negativamente ao povo judeu.”

Outra razão por que o rei judeu não pode ter um grande número de cavalos: o cavalo era muito importante em tempo de guerra. Quanto mais cavalos tivesse um rei, mais assegurado estaria quanto as suas vitórias.

Um rei judeu deve saber que é D’us Quem lhe fornece a vitória, independente se tem cavalos, ou não. Portanto, o rei tem a ordem de não manter cavalos demais em seus estábulos.

  1. Ele não deve exagerar no ouro e na prata: reis não-judeus enchiam seus tesouros com ouro e prata. Um rei judeu pode armazenar dinheiro o bastante para as suas necessidades, mas ele não deve perder seu tempo acumulando fortuna. Aparentemente, não haveria necessidade da Torah dizer porquê adverte sobre a posse de muito dinheiro, pois as tentações do excesso de riqueza são muito bem conhecidas. Riqueza demais leva ao orgulho e ao esquecimento da existência de um Soberano.
    D’us. Porém, era uma mitsvá para o rei coletar ouro e prata para o Bet Hamicdash.
  2. Ele não pode ter muitas esposas: todos os reis antigos casavam-se com muitas mulheres. Um rei judeu era proibido de fazer o mesmo. Muitas mulheres iriam desviar seu coração de D’us. Aos reis também foi dito que deveriam casar-se somente com mulheres tementes a D’us.

O Midrash nos conta:

O Erro do Rei Shelomô

O rei Salomão foi o ser humano mais sábio da Terra. Ele disse: “É verdade que a Torah proíbe o rei de ter muitas esposas. Isso poderá desviar seu coração de D’us. Porém esta mitsvá não se aplica a mim. Sou tão sábio e temo tanto a D’us que, mesmo se me casar com muitas mulheres, elas nunca me influenciarão para o mau caminho. Se eu tiver muitas esposas, elas me darão muitos filhos guerreiros.

A Torah também proíbe um rei de ter muitos cavalos, para que ele não faça com que judeus assentem-se no Egito. Esta mitsvá, também, não serve para mim. Nunca deixarei judeus morarem no Egito. Sou inteligente o suficiente para comprar cavalos de diferentes países.”
Shelomô também pensou que coletar muito ouro e prata não iria prejudicá-lo.

A letra yud voou para o trono de D’us e reclamou: “Mestre do Universo! Você prometeu que nenhuma letra da Torah seria mudada. Porém Shelomô me trocou! Eu apareço nas palavras da Torah ‘lo yarbe’, ‘o rei não deve ter a mais!’ O rei Shelomô desobedeceu a esta mitsvá!”

D’us confortou o yud: “Não se preocupe! Mesmo uma pequena letra como você é muito importante! Você verá que Shelomô errou. Aí ficará claro que as leis da Torah se aplicam a todos, sem exceções.”

E assim aconteceu. Quando o rei Shelomô já era avançado em idade, suas esposas (que se converteram ao judaísmo antes de se casarem com ele) serviram ídolos. Shelomô não protestou o suficiente. D’us ficou tão aborrecido com o rei Shelomô que Ele escreveu no Tana”ch (Bíblia): “Shelomô serviu a ídolos.” Para um grande tsadic como o rei Shelomô foi considerado como se ele mesmo tivesse praticado idolatria. O rei Shelomô também adquiriu cavalos demais. Como conseqüência, alguns judeus acabaram morando no Egito. Mais ainda, os pesados impostos que seu vasto tesouro exigia fizeram com que a nação se dividisse após sua morte.

Shelomô compôs um livro cheio de sábios conselhos, chamado Cohêlet. Nele, ele escreve: “Eu me apoiei na minha grande sabedoria e ignorei as palavras da Torah, enraivecendo a D’us. As mitsvot de D’us são mais sábias do que tudo o que um ser humano poderia sequer imaginar.”

A Torah, geralmente, não nos dá a razão das mitsvot. Shelomô falhou pois a Torah deu a razão das mitsvot dos reis. Ele racionalizou que elas não se aplicavam a ele. Se a Torah tivesse nos ensinado o significado de outras mitsvot, poderíamos transgredi-las também, achando que estas não se aplicam a nós.

O rei deve cumprir uma outra mitsvá:

  1. O sefer-Torah do rei: Andamos lap-tops e celulares para não perdermos nenhuma notícia ou chamada telefônica, onde quer que estejamos. Nos tempos dos reis judeus, eles levavam consigo mais uma coisa: um mini sêfer-Torah. O carregavam a toda hora: no seu palácio, em viagem, e mesmo nas batalhas.

O rei sempre estava extremamente atarefado. Poderíamos pensar portanto que ele era isento do estudo diário da Torah. Mas não, a Torah ordena: “O rei deve ter dois sifrê-Torah.
Um é guardado em seu tesouro. E o outro é carregado por ele aonde quer que vá, a cada dia de sua vida. Ela vai ensiná-lo a temer a D’us e guardar Suas mitsvot. Também o impedirá de tornar-se orgulhoso, ou arrogante demais em relação aos seus irmãos.
Em proporção à imensa honra que ele recebe, o rei deve se destacar na virtude da humildade (sentindo-se especialmente subjugado e grato a D’us, Que tanto o distinguiu). Para reduzir o grande perigo da arrogância, a Torah ordena ao rei carregar consigo um sêfer Torah para estudo freqüente e para recordar a toda hora sua posição como o servo de D’us. Em seu coração ele nunca deve esquecer que afinal, ele é somente um ser humano e D’us é o verdadeiro Rei.

Para demonstrar sua grande humildade, o rei tinha que se curvar na oração da amidá até mais do que pessoas comuns. Nós nos inclinamos quatro vezes, porém o rei tinha que manter-se curvado ao longo de toda a amidá.

Maimônides escreve: a Torah aqui proíbe a presunção e a vaidade. Até mesmo o rei, apesar da sua posição especial, é proibido de ser arrogante; quanto mais as simples e ordinárias pessoas. D’us não tolera soberba alguma. Somente a D’us pertence toda a grandeza, a força e a glória.

Nossos sábios nos contam:

O Rei David e o Rei Mashiach

Assim como grandes sábios, o rei David nunca tinha tempo para dormir adequadamente. Estudava Torah até o meio da noite, cochilando somente quando estava exausto. À meia noite, o vento norte tocava as cordas de sua harpa que ficava sobre o seu leito. Este era um sinal para David acordar. Então, cantava músicas de louvor para D’us até o amanhecer.

Durante o dia, ele se encontrava com reis estrangeiros. Não discutia política com eles. Em vez disso ele falava sobre Torah, seu assunto favorito. Os judeus seguiam o exemplo de seus reis. O rei era a inspiração para o espírito nacional. Por isso, na época de David, todos estudavam Torah.

Além disto, o rei David era muito humilde. Nunca levantava a cabeça ao andar entre seus súditos. Dizia a D’us: “Posso ser o rei, porém você é o Rei dos reis.”

D’us denominou David como Seu servo. Ele prometeu que o reinado continuaria na família de David para sempre. Apesar de que o reinado de David está suspenso enquanto estamos no exílio, D’us prometeu que Ele irá restaurá-lo no futuro. O rei Mashiach também será um descendente do rei David.

Maimônides traz a seguinte halachá (lei) que descreve Mashiach: “Se surgir um rei da casa de David que se ocupará com a Torah e as mitsvot – tanto a Torah Oral como a Torah Escrita – assim como seu antecedente David, e que fará todos os judeus retornarem para a observância, podemos presumir que ele é o Mashiach.”

“Se tiver sucesso reconstruindo o Bet Hamicdash e reunindo os exilados, certamente é o Mashiach. Mashiach fará com que o mundo todo retorne ao caminho da verdade, e com que todas as nações sirvam a D’us com harmonia.”

Moshê ordenou que os cohanim fossem divididos em oito vigílias, ou “grupos” (mishmarot), que trabalhariam em turnos para realizar o serviço no Tabernáculo. Mais tarde, o rei David e o profeta Shemuel aumentaram o número de turnos para vinte e quatro. Desta forma, cada cohen ficaria “de plantão” por um pouco mais que duas semanas ao ano. Apesar do serviço regular ser uma prerrogativa do turno designado, qualquer cohen podia realizar o serviço de suas oferendas pessoais a qualquer época do ano; e de ir ao Templo durante Pêssach, Shavuot e Sucot tomar parte no serviço e receber em troca parte das oferendas da comunidade.

Em Êrets Israel os cohanim viverão espalhados por todo o país, e virão a Yerushaláyim apenas quando for seu respectivo turno de realizar os serviços. Durante o resto do ano, os cohanim cumprirão suas obrigações guiando o povo no caminho da Torah, ensinando-os e sendo um exemplo pessoal.

Adaptação: Mário Moreno