Repetições Respeitosas
Um dos componentes mais marcantes da Parashá Naso é a lista de todos os príncipes, os nessi’im, dos Filhos de Israel, e as oferendas que eles trouxeram em conjunto com a dedicação do Mishkan.

Apesar de cada nasi ter trazido a mesma oferenda que seu antecessor, a Torah detalha cada oferenda com exatidão: não economiza nos detalhes nem abrevia seu significado.
Repetidamente, a Torah declara meticulosamente o nome do nasi, a tribo que ele liderava e a oferenda que ele trouxe.
“Ele trouxe sua oferta – uma tigela de prata, pesando cento e trinta [siclos]; e uma bacia de prata de setenta siclos no siclo sagrado; ambas cheias de farinha fina misturada com azeite para uma oferta de cereais, uma concha de ouro de dez [siclos] cheia de incenso. Um novilho, um carneiro, uma ovelha de um ano para uma oferta de elevação. Um bode para uma oferta pelo pecado. E para uma oferta pacífica de festa – dois bois, cinco carneiros, cinco bodes, cinco ovelhas de um ano… esta é a oferta de…”
Esses versículos são repetidos em conjunto para cada príncipe — suas ofertas idênticas exigidas como se fossem as únicas.
A Torah, que pode consolidar leis que preenchem extensos tomos talmúdicos em apenas algumas palavras breves, optou por elaborar extensamente a fim de dar a cada nasi seu lugar no eterno holofote da sabedoria da Torah. Por quê?
O Rabino Paysach Krohn, no primeiro livro de sua clássica Série Maggid, relata a história de Rav Yitzchak Elchonon Spektor, o Rav Kovno. Segundo a lei russa, todos os jovens eram obrigados a se alistar no exército. Além da óbvia ameaça onipresente de morte violenta, manter qualquer semelhança de observância religiosa no exército era virtualmente impossível. A única saída era a isenção do serviço militar.
Yaakov, um estudante muito amado por seu rebe, Rav Yitzchak Elchonon, solicitou uma isenção. Moscou não respondeu imediatamente ao pedido, e todos os dias os amigos de Yaakov, juntamente com seu amado Rebe, Rav Yitzchak Elchonon, aguardavam notícias sobre se a isenção de Yaakov fora aceita.
Certa tarde, Rav Yitzchak Elchonon estava envolvido em um litígio rabínico. Ele sentou-se com Rav Elya Boruch Kamai, o Rav de Mir, e um terceiro Rav distinto. Eles estavam litigando um problema complexo envolvendo dois ricos empresários. Ambos os lados estavam dispostos a chegar a um acordo, e por horas os três rabinos tentaram encontrar uma solução amigável, porém haláchicamente aceitável.
De repente, a porta se abriu e um jovem colocou a cabeça para dentro da sala. Assim que viu o Rav Yitzchak Elchonon, dirigiu-se a ele animadamente: “Rebbi!”, exclamou. “Acabamos de receber a notícia: Yaakov recebeu uma isenção!” Rav Yitzchak Elchonon deu um suspiro de alívio e disse com um sorriso radiante, enquanto o cobria de bênçãos: “Que D’us o abençoe por trazer esta notícia maravilhosa. Que você mereça longos anos e boa saúde. Muito obrigado!”
O rapaz saiu sorrindo, feliz por ter deixado seu rabino tão feliz. Imediatamente, os rabinos retomaram as deliberações na tentativa de resolver o problema da Torah.
Alguns minutos depois, outro aluno abriu a porta. Sem saber que seu rabino já sabia da notícia, desculpou-se por interromper, dizendo que tinha algo muito importante para compartilhar. Então, ele anunciou com alegria: “Rebbi, soubemos que Yaakov está isento!”
Rav Yitzchak Elchonon respondeu com o mesmo entusiasmo da primeira vez. “Que maravilha!” Ele também o cobriu de bênçãos. “Que D’us o abençoe por trazer esta notícia maravilhosa. Que você mereça longos anos e boa saúde. Muito obrigado!”
O menino fechou a porta e saiu, radiante de alegria por ter feito seu rebbi tão feliz.
Cinco minutos depois, um terceiro menino entrou na sala. “Rebbi, você ouviu? Yaakov está isento!” Mais uma vez, Rav Yitzchak Elchonon sorriu largamente e abençoou o menino pela notícia maravilhosa. Ele o agradeceu e o abençoou exatamente como fez com os meninos anteriores.
Seis vezes, meninos diferentes chegaram com a mesma notícia, cada um antecipando a felicidade que seu rebbi sentiria com a notícia, cada um sem saber que outros o haviam precedido. Rav Yitzchak Elchonon sorriu para cada menino, expressou sua gratidão e o fez se sentir tão importante quanto o primeiro.
O Ponovez Rosh Yeshiva, Rav Eliezer Schach, de abençoada memória, certa vez explicou em uma palestra para seus alunos que a atenção à honra de um irmão judeu é uma das lições mais importantes que podemos aprender. Portanto, a Torah repetiu e repetiu cada Nasi com o mesmo entusiasmo para nos ensinar a importância do respeito ao indivíduo.
E agora que a história dos príncipes repetitivos foi incorporada à Torah, a lição da atenção individual também se torna não apenas uma lição de moralidade, mas uma parte da Torah, cujo estudo merece o mesmo valor que as leis mais complexas contidas nas partes mais difíceis. Porque uma lição sobre honrar um irmão judeu certamente vale a pena ser repetida.
Tradução: Mário Moreno.
