Mário Moreno/ agosto 17, 2020/ Artigos

Tornando o incomum, comum

Este artigo nasceu de uma ministração feita em nossa Congregação por minha esposa Dolores, que ao longo de nossa caminhada tem se tornado minha inspiração em tudo o que faço. Dedico a Ieshua e a ela este artigo.

O que significa ser “incomum”? Significa dar um valor especial a algo que é precioso e fundamental para nosso viver diário.

O Salmista nos fala sobre uma situação muito complexa que acometeu os filhos de Israel no tempo de sua peregrinação pelo deserto com as seguintes palavras:

Dividiu o mar, e os fez passar por ele; fez com que as águas parassem como num montão. De dia os guiou com uma nuvem, e toda a noite com um clarão de fogo. Fendeu as penhas no deserto; e deu-lhes de beber como de grandes abismos. Fez sair fontes da rocha, e fez correr as águas como rios. E ainda prosseguiram em pecar contra ele, provocando ao Altíssimo na solidão. E tentaram a Elohim nos seus corações, pedindo carne para satisfazerem o seu apetite. E falaram contra Elohim, e disseram: Poderá Elohim porventura preparar-nos uma mesa no deserto? Eis que feriu a penha, e águas correram dela; rebentaram ribeiros em abundância: poderá também dar-nos pão, ou preparar carne para o seu povo? Pelo que o IHVH os ouviu, e se indignou: e acendeu um fogo contra Ia´aqov, e furor também subiu contra Israel; Porquanto não creram em Elohim, nem confiaram na sua salvação” Sl 78.13-22.

Nos versos 19 e 20 temos uma ação de provocar a ira do Eterno. Há um ingrediente muito pesado aqui presente: a incredulidade. E isso não pode estar presente no meio do povo do Eterno.

No deserto Israel passa a ter o Eterno como seu “vizinho”, pois Ele vai habitar entre o povo através do Tabernáculo e isso o torna alguém “comum”; a presença d´Ele entre o povo faz com que eles se acostumem com isso.

Esta postura de acostumar-se é muito comum; temos a tendência de não valorizar mais aquilo que está próximo ou acessível e nem sempre isso é bom, pois por vezes desvalorizamos o que tem valor.

Situações incomuns num lugar comum

Em verdade vos digo que muitas viúvas existiam em Israel nos dias de Elias, quando o céu se cerrou por três anos e seis meses, de modo que em toda a terra houve grande fome; e a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a Sarepta de Sidom, a uma mulher viúva. E muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o sírio” Lc 4.25-27.

Este texto nos mostra algo surpreendente: os dois profetas – Elias e Eliseu – fizeram um grande milagre na vida de duas pessoas que eram “estrangeiras”, ou seja, de fora de Israel. A pergunta é: porque? A resposta é clara: os israelitas não consideravam estes profetas como homens incomuns – diferenciados em sua geração – e por isso não buscavam neles o alívio para suas dores. No caso das viúvas que haviam em Israel nenhuma delas consulta o profeta buscando socorro num momento de angústia, por isso Elias é enviado a uma viúva estrangeira para ali fazer um grande milagre e consequentemente levar para longe a fama do D-us de Israel. Que implicações tem isso? As implicações são muitas e vou citar uma principal: os sidônios tiveram a oportunidade de ter em seu meio um profeta judeu que levou a uma mulher entre eles a solução de um grave problema que a salvou da morte. Segundo as palavras daquela mulher ela estava colhendo madeira para fazer o fogo e assar nele a única farinha com azeite que tinha para si e para seu filho e então esperaria a morte. Quando Elias chega há um milagre de multiplicação que “Porque assim diz o IHVH El de Israel: A farinha da panela não se acabará, e o azeite da botija não faltará, até ao dia em que o IHVH dê chuva sobre a terra. E foi ela, e fez conforme à palavra de Elias: e assim comeu ela, e ele, e a sua casa muitos dias. Da panela a farinha se não acabou, e da botija o azeite não faltou: Conforme à palavra do IHVH, que falara pelo ministério de Elias” I Rs 14.14-16.

Novamente faço a pergunta: Não haviam viúvas necessitadas em Israel? Sim com certeza haviam. E por que não buscaram o profeta para ajuda-las? A presença do profeta naquele lugar o fazia tão “comum” que não mais buscavam nele a solução de seus problemas, o que significaria uma ação do Eterno na vida daquela pessoa.

O mesmo aconteceu com o profeta Eliseu, só que em seu caso eram os leprosos que estavam envolvidos; eles necessitavam de cura da alma que também se manifestaria fisicamente. Mas nenhum deles procurou Eliseu e por isso não se beneficiaram da cura que estava a seu alcance.

Lugares incomuns

Um outro aspecto interessante é que existem lugares incomuns que com o tempo acabam tornando-se comuns. Vamos falar sobre o Beit Hamikdash – Templo. Ia´aqov em sua viagem à casa de seus parentes busca um lugar de descanso e acomoda-se num local onde tem um sonho. A sua conclusão sobre aquele lugar é: “Acordado pois Ia´aqov do seu sono, disse: Na verdade o IHVH está neste lugar; e eu não o sabia. E temeu, e disse: Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a casa de Elohim; e esta é a porta dos céus” Gn 28.16-17. Segundo a tradição judaica ele dormiu no lugar onde mais tarde seria o Templo e pode então concluir que aquele lugar era muito especial, chegando a dizer que ali era a “porta dos céus”. O termo usado aqui para “lugar” é “maqom” que segundo os rabinos está ligado ao Eterno que é chamado de “ha maqom” – O Lugar.

Isso nos mostra que o Lugar onde a presença do Eterno está – em nossos dias através do Espírito o Santo – não deve ser considerado como “comum”, pois ali está a Presença do Criador dos céus e da terra o que faz do Lugar algo muito especial. Mas com o passar do tempo tanto o Templo em Jerusalém quanto outros lugares onde a Presença do Eterno está acabaram se tornando comuns.

Isso de certa forma não invalida o que é feito ali, mas faz com que as pessoas que consideram o local como “comum” não desfrutem daquilo que está presente naquele Lugar.

No Templo havia o altar de sacrifícios e algo muito interessante é dito sobre o ele: “E aquele que jurar pelo altar, isso nada é; mas aquele que jurar pela oferta que está sobre o altar, esse é devedor. Insensatos e cegos: qual é maior: a oferta ou o altar, que santifica a oferta?” Mt 23.18-19. Está dito aqui que o altar santifica a oferta, então ele é também especial dentro de um lugar especial. É justamente por isso que as ofertas eram postas sobre o altar; ali aquilo que era “comum” tornava-se santificado e elevado de um plano “material”, “físico”, para um plano espiritual, sendo assim aceito pelo Eterno como um ato de obediência.

Novamente precisamos tomar cuidado quando estamos em nossas congregações, sinagogas ou igrejas. É muito comum vermos pessoas que ali estão mas sua mente está muito distante daquele lugar. A prova disso é o uso de equipamentos eletrônicos em meio ao serviço – culto – além das conversas desnecessárias e também das idas ao toalete entre outras coisas. Desprezar o local incomum – que poderemos chamar de “sagrado” – equivale a dizer que a pessoa está ignorando a presença do Espírito o Santo naquele lugar e consequentemente pouco importando-se com o que é dito pelos instrumentos do Eterno ali.

Ieshua, o incomum

Será que Ieshua era considerado um homem comum? Depende do lugar onde Ele estava. Vejamos o que nos dizem as Escrituras:

E, partindo dali, chegou à sua pátria, e os seus discípulos o seguiram. E, chegando o sábado, começou a ensinar na sinagoga; e muitos, ouvindo-o, se admiravam, dizendo: Donde lhe vêm estas coisas? E que sabedoria é esta que lhe foi dada? E como se fazem tais maravilhas por suas mãos? Não é este o carpinteiro, filho de Mirian e irmão de Tiago, e de José, e de Judas, e de Simão? E não estão aqui conosco suas irmãs? E escandalizavam-se nele. E Ieshua lhes dizia: Não há profeta sem honra, senão na sua pátria, entre os seus parentes e na sua casa. E não podia fazer ali obras maravilhosas; somente sarou alguns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos. E estava maravilhado da incredulidade deles. E rodeava as aldeias vizinhas, ensinando” Mc 6.1-6.

O homem mais esperado da história da humanidade – o Ungido – quando chega na sua cidade natal para exercer seu ministério tem uma grande surpresa: seus “vizinhos” e conhecidos ao vê-lo ensinar na sinagoga local se espantam e ao mesmo tempo questionam a procedência de seu conhecimento e também a unção que estava sobre Ele.

Sabe o motivo disso? Eles conheciam Ieshua e sua família e por isso o desprezavam. Isso fica muito claro nos versos acima. Eles o consideraram como “o filho do carpinteiro” que também era carpinteiro e sua mãe e irmãos estavam ali, entre eles.

Para os habitantes daquela cidade Ieshua nada mais era do que o “filho de Mirian” e o irmão de “Ia´aqov, de Iosef e de Iehuda”… Ele não passava de mais um habitante da cidade que tinha sua família ali. Isso fazia d´Ele alguém comum para eles.

Sabe qual foi o maior erro destas pessoas? Foi considerarem comum aquilo que sempre foi incomum! O erro não estava no Eterno, nem nos profetas e muito menos em Ieshua. As pessoas é que fazem comum algo que é extraordinário. Sabe por que? Porque se acostumam com aquilo e já não dão mais o devido valor.

Isso acontece também com o Shabat. Nós sabemos da importância e da santidade do shabat, mas após algum tempo guardando este mandamento corremos o risco de considerar o shabat algo corriqueiro, um dia como os outros.

As escrituras classificam o shabat como um dia muito especial; senão vejamos:

Lembra-te do dia do sábado, para o santificar” Ex 20.8;

Porque em seis dias fez o IHVH os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou: portanto abençoou o IHVH o dia do sábado, e o santificou” Ex 20.11.

Portanto guardareis o sábado, porque santo é para vós: aquele que o profanar certamente morrerá; porque qualquer que nele fizer alguma obra, aquela alma será extirpada do meio do seu povo” Ex 31.14.

Existem muitas referências ao shabat como um dia especial; mas ainda assim existem pessoas que não creem nisso e nem mesmo o consideram como um dia especial.

Os nomes de Ieshua

Ieshua tem muitos títulos e entre eles gostaria de destacar alguns: Ungido, o salvador da humanidade; o Cordeiro de D-us, o Remidor; Ele é A Rocha, O Mediador; Ele é a porta; Ele é o Pastor; Ele é o nosso Sumo-Sacerdote, O Intercessor; Ele é o Rei de Israel, o Leão de Judá; Ele é a Árvore da Vida, a Luz do mundo; Ele é o Maravilhoso Conselheiro, Príncipe da paz; Ele é o Senhor dos Senhores, Ele é o Rei dos Reis; Ele é a Ressurreição, Ele é a Vida Eterna; Ele é a Testemunha fiel, Ele é o Amén; Ele é o início e o fim.

Ainda sobre Ele Sha´ul nos informa: “porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por meio d´Ele e para ele” Cl 1.16.

Enfim, este é Ieshua! Ele não é e nunca será comum!

Portanto precisamos tomar cuidado com aquilo que consideramos ser “comum”; não devemos tornar o incomum, comum.

Que o Eterno nos ajude a classificarmos cada coisa em seu devido lugar, nunca elevando o comum a um patamar mais alto e nem desprezando aquilo que é incomum e santo.

Baruch ha Shem!

Mário Moreno.