Um Destaque Entre os Demais
A porção desta semana começa com o Sefer Bamidbar, contando a história dos principais eventos que ocorreram durante a jornada de quarenta anos através do Midbar em direção à terra de Israel. Em termos seculares, o livro é chamado de Números, provavelmente por causa do primeiro mandamento deste terceiro livro do Pentateuco, “contar o povo judeu”, daí o nome Números.

As palavras hebraicas para contar são s’ooh, que também significa levantar, e p’kod, que também pode significar designar. Assim, quando a Torah ordena: “s’ooh es rosh kol adas Yisrael, contai as cabeças de toda a assembleia de Israel” (Nm 1:2), está dizendo a Moshe para elevá-los também.
Não se tratava apenas de uma questão numérica, explica o Rebe Rav Shmuel de Sochatchov: contar a nação não era apenas um meio de enumerá-los, mas também de atribuir uma dignidade especial a cada um dos contados. Cada indivíduo era importante, não havia estimativas comunitárias, e a nomeação, na verdade, os elevava.
Mas uma das tribos não foi contada com as demais. Em relação à tribo de Levi, que foi designada como líder espiritual do povo judeu, Moshe foi instruído: “Mas não contarás (p’kod) a tribo de Levi; e não levantarás as suas cabeças (v’es rosham lo sisah) entre os filhos de Israel” (Nm 1:49).
As perguntas são simples. Por que há uma expressão dupla proibindo a contagem: “não conteis e não levanteis as suas cabeças”? Além disso, por que a Torah acrescenta as palavras “entre os filhos de Israel”? É verdade que eles foram contados separadamente, e, portanto, a Torah deveria declarar: “E a tribo de Levi será contada separadamente”. Pode haver uma entonação mais profunda na expressão “Não levantem a cabeça entre os Filhos de Israel”?
O Rav Eliyahu Chaim Meisels, o Rav de Lodz, arrecadava dinheiro para as viúvas e órfãos pobres de sua cidade. Durante um inverno particularmente rigoroso, ele foi visitar um dos membros proeminentes de sua comunidade, Reb Isaac, um banqueiro que atuava como presidente do conselho comunitário.
Trajando um casaco e um cachecol, o Rabino se aproximou da mansão do banqueiro e bateu à porta.
O criado que atendeu a porta ficou chocado ao ver o grande Rabino Meisels parado do lado de fora, no frio intenso. Imediatamente, pediu-lhe que entrasse na casa, onde, segundo ele, haveria um chá quente à sua espera.
O Rabino Meisels recusou. “Não é necessário. Por favor, diga ao Rabino Isaac para me ver na porta.”
O banqueiro ouviu que o Rav estava esperando perto do portal e correu em seu paletó para cumprimentá-lo. Ao ver o Rabino parado naquele tempo frio, exclamou: “Rebe, por favor, entre. A lareira está acesa e meu mordomo preparará um chá quente para você! Não precisa esperar lá fora!”
“Tudo bem”, respondeu Reb Eliyahu Chaim. “Não vai demorar muito, e tudo o que preciso pode ser resolvido conversando aqui mesmo. Tenho certeza de que você não se importará. Enfim, por que eu deveria sujar sua casa com minhas botas cobertas de neve?”
A essa altura, Reb Isaac estava em um dilema. O ar gelado soprava em sua casa. Ele não queria fechar a porta e conversar lá fora no frio, e mesmo assim o Rabino não queria entrar!
“Por favor, Rabino, não sei quanto a você, mas eu estou congelando”, gritou o banqueiro. “Não me importo se suas botas estiverem molhadas! Entre!”
Mas o rabino não se mexeu. Começou a falar sobre a situação de alguns dos infelizes membros da comunidade, enquanto os banqueiros batiam os dentes em resposta.
“Por favor, Rebe, diga-me apenas o que precisa! Eu lhe darei o que quiser, basta entrar!”
Com isso, Reb Elya Chaim cedeu. Entrou na casa do homem e o seguiu até a sala, onde uma lareira acesa aquecia o ambiente. Então, começou: “Preciso de lenha para 50 famílias neste inverno.” O banqueiro sorriu. “Sem problemas, comprometo-me a fornecer a lenha. Só uma pergunta. O senhor sabe que eu dou tzedoka, então por que me fez ficar do lado de fora?”
“Reb Isaac”, sorriu Reb Eliyahu Chaim. “Eu sei que o senhor doa, mas queria ter certeza de que o senhor entendia o que essas pobres pessoas estão passando. Eu sabia que cinco minutos no frio congelante lhe dariam uma perspectiva diferente da minha primeira pergunta, enquanto me aquecia no calor da sua lareira.”
O Chasam Sofer explica que, como Levi era uma tribo especial de mestres e líderes, era possível que se mantivessem distantes. Assim, embora fossem contados separadamente, não podiam se destacar da multidão. Portanto, o mandamento da Torah foi declarado em termos claros: “Não levantarás a cabeça deles (v’es rosham lo sisah) entre os Filhos de Israel”. A liderança pode colocá-lo em uma classe à parte, mas lembre-se, diz a Torah, você não deve se sentir acima do povo. Você não pode se aquecer enquanto estiver alheio àqueles que sofrem com o frio. Sua cabeça não pode ser “erguida” entre os filhos de Israel.
Tradução: Mário Moreno.
