Vayitzer

Mário Moreno/ outubro 12, 2020/ Artigos

Vayitzer

 E formou o IHVH Elohim o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente” Gn 2.7.

 Neste texto de Gênesis temos a palavra “Vayitzer” traduzida como “e formou” escrita de uma forma incomum. Ela tem dois “yods”. Mas por que a palavra “Vayitzer” vem escrita com dois “yods”? Qual é o segredo que está por trás dessa forma inusitada da palavra? Detalhe: esta é a única ocorrência em toda a Escritura! Isso significa algo para nós? Vejamos.

Dois Yods

Um comentarista judeu medieval, Rashi, explica essa grafia da seguinte maneira: ela indica duas criações, “uma criação para este mundo e uma criação para o (tempo da) ressurreição dos mortos”. No entanto, uma das visões mais predominantes no judaísmo hoje é que cada um desses yods representa a palavra “yetzer”, que significa “inclinação”.

Quando pensamos sobre isso nos lembramos de que a formação do homem se deu a partir de um “modelo” pré-existente. Vejamos o que a tradição judaica diz sobre isso:

“Há aqueles que dizem que D-us não criou apenas um Adão, mas dois. O primeiro Adam era um ser celestial que não era feito de barro, mas estava estampado com a mesma imagem e imagem de D-us, como é dito, à imagem de D-us que Ele criou (Gn 1:27). Este Adão ajudou D-us na criação do Adão terrestre. Há uma grande diferença entre este Adão celestial e o Adão terrestre.

Quanto ao homem celestial Sha´ul diz: “Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente: o último Adão, em espírito vivificante” I Co 15.45.

O Adão terrestre foi criado do pó da terra, como se diz. O senhor D-us

formou o homem do pó da terra (Gn 2:7). Ao mesmo tempo, Adam foi trazido à vida pelo sopro de D-us, como é dito. Ele soprou em suas narinas o fôlego da vida, e o homem se tornou um ser vivo (Gn 2:7). Assim, o homem terreno foi feito de um composto de respiração divina e um pedaço de barro.

Existe uma vasta diferença entre o homem celestial e as gerações descendentes do Adão terrestre – embora o Adão terrestre tenha voltado ao pó, o Adão celestial ainda existe. Pois o homem celestial, nascido à imagem de D-us, não tem participação em qualquer essência terrena, é imperecível e não é nem masculina nem feminina.

Outros, que discordam, dizem que esse homem celestial não era outro senão o próprio Adão, pois era a intenção original de D-us que Adão vivesse para sempre, como os anjos. Este é o significado do verso “Agora o homem se tornou como um de nós” (Gn 3:22). Pois D-us intentou

fazer de Adão como rei sobre todas as Suas criaturas. D-us disse: “Eu sou o Rei dos mundos acima, e Adão será o rei nos mundos abaixo”. Então D-us trouxe Adão ao Jardim do Eden e fez dele rei lá.

Outros ainda dizem que tanto o homem celestial como o homem terreno foram introduzidos no Paraíso juntos, o homem celestial no jardim celestial e o homem terreno no Jardim terrestre. No entanto, enquanto o homem celestial ainda faz sua casa no alto, o homem terrestre foi expulso do Jardim há muito tempo. Porque as intenções de D-us para Adão chegaram ao nada quando Adão comeu do fruto proibido, e nesse momento a mortalidade foi decretada a ele. Mas se Adão não tivesse pecado, ele teria vivido para sempre.

Outros concordam que dois Adãos foram criados, mas dizem que um é para este mundo, e um para o mundo vindouro. No entanto, a criação do segundo Adão não será concluída até o tempo da ressurreição dos mortos no final dos dias”.

A tradição judaica explica de forma genérica o que Sha´ul em I Coríntios nos fala de forma clara: o segundo Adão é Ieshua! Ele é o homem celestial que inclusive serviu de modelo para a criação do Adão terreno!

Os dois “yods” podem representar duas coroas – já que o yod é também o número 10 e este número está ligado a Keter – Coroa. As duas coroas são aqueles que o Ungido usou – a de espinhos como o Adão terreno e depois a celestial como o Adão celestial que retornou vitorioso para a eternidade. Isso está expresso no Salmo 24, onde está escrito: “Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória. Quem é este Rei da Glória? O IHVH forte e poderoso, o IHVH poderoso na guerra. Levantai, ó portas, as vossas cabeças, levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória. Quem é este Rei da Glória? O IHVH dos Exércitos; ele é o Rei da Glória. (Selá)” Sl 24.7-10.

O Adão terreno foi a coroa da criação do Eterno, mas perdeu sua condição de reinar no Gan Eden ao lado do Eterno; mas Ieshua veio para devolver ao homem este domínio e com sua morte e ressurreição retomou a condição de liderança e devolveu-a ao homem! Agora, como servos do Ungido podemos então reinar novamente com Ele!
 

Bem e mal

Yetzer HaTov (inclinação para o bem) é a consciência moral, a voz interior que nos lembra a Torah de Elohim, quando estamos prestes a violá-la. Yetzer HaRa (inclinação para o mal) é a natureza egoísta, o desejo de satisfazer às necessidades pessoais; não é algo ruim – mas, se deixado sem controle, talvez possa levar ao mal. A existência de dois Yods na palavra Vayitzer (“Ele criou”)  indica que, desde o início, D-us criou o homem com duas inclinações: para o bem e para o mal.
Esta condição dual no homem veio “embutida” no pacote da criação, também com a prerrogativa do livre arbítrio. E foi justamente isso que fez o homem poder decidir qual seria o melhor para si mesmo.

Com Ieshua isso não mudou, mas agora temos o Espírito o Santo que nos ajuda nesta tomada de decisão e também podemos desfrutar da transformação de nossa natureza para que possamos escolher com sabedoria!

Pecaremos ainda? Com certeza; mas não permaneceremos no pecado e isso faz toda a diferença! Não nos tornamos criaturas super dotadas – em qualquer sentido – mas sim temos acesso à uma orientação nunca antes imaginada: o Criador do Universo permitiu que seu Espírito habitasse em nós como um selo que garantira a inviolabilidade do conteúdo enquanto formos obedientes à Ele.

O Espírito o Santo é associado com a Shekiná – Presença. A tradição judaica nos ensina que: “Note que o relato do exílio da Shekhinah é um relato de duas partes. Na primeira etapa, a Noiva de D-us entra no exílio no momento da destruição do Templo, enquanto na segunda etapa, uma reunião de D-us e da Shekhinah acontece. Esta reunião é trazida através das atividades de Israel no cumprimento das exigências das mitsvot, o ritual dos requisitos da Lei, e através da aplicação consciente, ou kawanah, das orações.

Quando esta reunificação se tornar permanente, o exílio da Shekhinah chegará a um fim, e “a Shekhinah retornará ao marido e terá relações com ele”.

Todo seu desenvolvimento está ligado à vinda do Messias, em que uma das consequências da era messiânica é que o templo em Jerusalém, que era a casa de Shekhinah neste mundo será reconstruído. Desde que o Shekhinah foi para o exílio por causa de sua destruição, a reconstrução do templo representará o fim do seu exílio. Desta forma, os mitos de a Shekhinah e o Messias ficam ligados”.

O que fica transparente neste relato é que a “casa da Shekina” hoje somos nós. Então Ele – o Espírito o Santo – está “preservando” as nossas vidas para o Ungido e tem nos “moldado” com uma finalidade muito específica: tornar-nos a Noiva do Ungido e fazer de nós um só “Corpo” para nos reencontrarmos com a nossa origem: o Ungido.

Que este tempo venha rapidamente, pois ansiamos pela vinda do Ungido, Ieshua!

Baruch ha Shem!

Mário Moreno.

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