Seus olhos foram abertos
Seus olhos foram abertos…
Em Bereshit – Genesis – temos toda a Escritura em forma embrionária e muitas são as referências feitas ao Ungido – Messias – que estão “ocultas” em frases ou palavras que apontam não somente para a Sua Pessoas como também para aquilo que Ele fez e o que representa.
Agora vamos analisar uma destas frases que traz consigo um processo de “reversão” no que diz respeito ao pecado de Adam e Chava.
Agora, vamos então falar sobre aquele ponto em Gênesis que terminou com a ordem perfeita de D-us. Todos vocês conhecem o capítulo trágico em que Adam e Eva (Chava) pecaram —em que desobedeceram a ordem que o Eterno havia lhes dado e comeram o fruto da árvore do conhecimento—. Quando Adam come do fruto – após Chava já haver feito isso – num instante tudo mudou e virou de cabeça para baixo e em Gênesis 3:7, nesse momento fatídico lemos: «E seus olhos foram abertos…». O texto completo nos informa assim: “Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais”.
O que isso significa, que os olhos de Adam e Eva foram abertos? Sim, Adam e Eva perceberam, pela primeira vez, que estavam nus, mas foi muito mais do que apenas isso. De acordo com as Escrituras, a queda não foi simplesmente um dos eventos na história da criação, foi um cataclismo global, uma mudança total no status do universo. O que a Bíblia descreve como «os olhos (de Adam e Eva) sendo abertos» é uma das manifestações e consequências mais significativas e fundamentais desta mudança global. Adam e Eva, que até então tinham visto D-us em sua realidade, e viam tudo somente em sua luz e a luz de sua realidade, começaram a ver o mundo com uma visão nublada e pecaminosa, que daquele momento em diante se tornou, e tem permanecido, a visão da realidade da humanidade.
Há um aspecto que precisa ser compreendido: eles passaram a perceber o mundo espiritual de uma forma diferente, pois seus olhos se abriram para si mesmos e se fecharam para a realidade espiritual. Isso significa que eles perderam sua capacidade de ver o reino espiritual como dantes e automaticamente sua capacidade de ver as coisas eternas ficou muito prejudicada. Esta situação estendeu-se aos seus descendentes em todos os lugares e eras e o mundo material é atingido de forma impactante, pois agora a natureza também é atingida e passa a sofrer os danos de algo que ela não fez; mas o homem que carrega a essência da terra e a quem foi dado o domínio da terra peca e isso afeta toda a estrutura da Criação.
O pecado – desobediência – age de forma devastadora não imediatamente, mas sua substância eterna é retirada – pelo menos momentaneamente – e agora haverá uma disputa entre o homem e a terra pela sua subsistência…
O homem seria oprimido pelo pecado e a terá – natureza – entraria num estágio de colapso, pois ela “geme” com dores esperando pela redenção do homem que automaticamente resultará na sua redenção.
De agora em diante, para «ver o invisível», o homem precisaria de «fé». É por isso que o Eterno ficou tão preocupado que eles não «estendessem a mão e tirassem também da árvore da vida, e comessem, e vivessem para sempre»; que eles não permaneceriam para sempre assim, incapazes de ver a realidade espiritual —capazes de ver apenas o material e o físico…—.
Agora vamos fazer a conexão entre Genesis e a Brit Hadasha. O que Adam fez precisaria ser revertido – “seus olhos se abriram para o pecado e fecharam-se para o mundo espiritual”. O processo inverso precisaria ser implementado por alguém e esta pessoa foi Ieshua. O que ocorreu? “Abriram-se-lhes, então, os olhos, e o conheceram, e ele desapareceu-lhes” Lc 24.31. A estrutura usada aqui no texto em hebraico é a mesma; ou seja, temos aqui um paralelo incrível de uma situação, porém de uma forma inversa. No primeiro caso o pecado de Adam custou-lhe a expulsão do Gan Eden; neste caso temos a identificação do Ungido – Salvador – que reabriu os olhos de seus discípulos para que pudessem então ver novamente não somente Aquele que reconecta o homem com a Árvore da Vida como também seus olhos recuperaram a capacidade de visão espiritual e consequentemente puderam ver a Salvação do Eterno de forma plena!
O texto diz que e seus olhos lhes foram abertos e o reconheceram! Agora o reconhecimento não está ligado ao pecado que alija o homem da presença do Eterno, o reconhecimento neste caso aproxima o homem de sua realidade primária espiritual e faz dele alguém que pode novamente vislumbrar a porta dos céus estando ainda na terra.
Qual é o significado desse paralelo? Em primeiro lugar, é importante mencionar que, de acordo com a opinião acadêmica, Lucas é o judeu e suas colocações sempre apontam para realidades dentro das Escrituras. Não pode haver dúvida de que Lucas conhecia bem a Tanach e foi influenciado por ela. Portanto, a análise comparativa das palavras hebraicas usadas por ele, com as da Tanach, pode ser muito esclarecedora.
Nesse caso, Lucas parece repetir propositalmente a frase do Gênesis, a fim de enfatizar a grande reversão que ocorre com a morte e ressurreição de Ieshua e deixar clara essa conexão entre aquele momento em que Adam e Eva pecaram, deixaram sua presença, e seus olhos foram abertos para este mundo no terceiro capítulo do Gênesis, e naquele momento crucial que vemos na história de Emaús quando «seus olhos foram abertos». Abertos novamente —mas agora eles estão abertos na direção oposta— abertos de volta para D-us e sua presença. Do ponto de vista de Lucas e da Brit Hadasha, todo o plano de D-us para a humanidade está entre esses dois pares de olhos abertos. Lucas quer que vejamos a conexão sobre a qual Sha´ul escreve em Romanos: «Pois, como pela desobediência de um homem muitos foram feitos pecadores, também pela obediência de um homem muitos serão feitos justos», e embora esteja certamente além do meu assunto aqui lidar com o entendimento teológico dentro do cristianismo sobre a morte e ressurreição de Ieshua o Ungido como restaurando o estado original do universo, é importante destacar que essa notável simetria entre a frase «seus olhos foram abertos» em Lucas 24, em contraste com «seus olhos foram abertos» em Gênesis 3 —a simetria que ajuda o leitor a compreender a profundidade e a enormidade do que aconteceu no caminho para Emaús.
Podemos então esperar que quando temos um contato direto com o Ieshua ressurreto corremos o risco de termos nossos olhos abertos e isso faz toda a diferença em nossas vidas. Devemos buscar então que isso possa acontecer… Como? Permitindo que Ieshua tenha acesso às nossas vidas e principalmente aos nossos olhos, que são usados tanto para o bem quanto para o mal. Cada um sabe para onde olha…
Que o Eterno nos abençoe e possamos direcionar nossos olhos para o lugar correto e vislumbrar a salvação do Eterno em Ieshua.
“Elevo os meus olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do IHVH, que fez os céus e a terra. Não deixará vacilar o teu pé: aquele que te guarda não tosquenejará. Eis que não tosquenejará nem dormirá o guarda de Israel” Sl 121.1-4.
Baruch ha Shem!
Mário Moreno.