Mário Moreno/ abril 15, 2020/ Artigos

Perdido no Egito

Negociar a redenção não é um processo simples. Você deve lidar com dois lados diferentes e enviar duas mensagens diferentes para as partes opostas. Primeiro, você deve falar com os opressores. Você deve ser exigente e firme. Você não pode mostrar fraqueza ou vontade de comprometer. Então você tem que informar aos oprimidos. Isso deve ser fácil: de uma forma suave e reconfortante, você gentilmente avisa que eles estão prestes a ser libertados. Eles certamente irão se alegrar com o menor indício de que seu tempo finalmente chegou. É por isso que eu sou atingido por um versículo na porção desta semana que direciona Moshe a enviar exatamente a mesma mensagem para o Faraó e para o povo judeu, como se Faraó e os judeus fossem de uma só mente, trabalhando em conjunto. Êxodo 6:13 “Hashem falou a Moshe e a Ahron e ordenou-lhes que falassem aos filhos de Israel e a Faraó, o rei do Egito, para que deixassem os filhos de Israel sair do Egito“. Eu sempre estive perplexo com este verso. Como é possível abranger a mensagem aos judeus e ao Faraó de uma só vez? Como você pode comparar a forte demanda para o Faraó com a mensagem suave e persuasiva necessária para os judeus? Faraó, que não quer ouvir falar de libertação, tem que ser advertido, castigado e até atormentado. Os judeus devem pular a menção da redenção! Por que, então, os dois são combinados em um verso e com uma declaração? Há aqueles que respondem que os judeus neste verso realmente se referem aos missionários judeus que foram nomeados por Faraó como “kapos” para oprimir seus irmãos. Assim, a equação é claramente justificada. No entanto, gostaria de oferecer uma explicação mais homilética:

Há uma história maravilhosa de um agricultor pobre que viveu sob o domínio de um miserável poritz (proprietário de terras) na Europa medieval. O perverso proprietário de terra forneceu abrigo mínimo em troca de uma grande parte dos lucros do agricultor. O fazendeiro e sua esposa trabalharam nas condições mais severas para sustentar sua família com algumas galinhas que puseram ovos e uma vaca que deu leite. Em última análise, o tempo cobrava seu preço e as dificuldades se tornaram a norma. O fazendeiro e sua esposa tinham uma rotina amarga e nunca esperavam por melhor. Um dia, o agricultor voltou do mercado bastante chateado. “Qual é o problema?”, gritou a esposa, “parece que a pior calamidade aconteceu“. “Isso”, suspirou o agricultor ansioso. “Dizem no mercado que o Mashiach está chegando. Ele nos levará todos para a terra de Israel. O que será da nossa vaca e das nossas galinhas? Onde vamos morar? Quem irá fornecer abrigo para nós? Oi! O que vai ser?” Sua esposa, que estava mergulhada na fé no Todo-Poderoso, respondeu calmamente. “Não se preocupe meu querido marido. O bom D-us sempre protege o seu povo. Ele nos salvou do Faraó no Egito, Ele nos resgatou do malvado Hamã e nos protegeu de severos decretos durante todo o nosso exílio. Sem dúvida, ele nos protegerá deste Mashiach também!”

Hashem entendeu que o povo judeu estava atolado no exílio por 210 anos. Eles decidiram suportar a escravidão em vez de abandoná-la. Moshe tinha que ser tão vigoroso com aqueles que planejava redimir como era com aqueles que os haviam escravizado. Muitas vezes, na vida, seja por escolha ou por acaso, entramos em situações em que não deveríamos estar. À medida que o tempo avança, porém, nos acostumamos à situação, e nosso pior inimigo transforma-se em mudança. Devemos dizer ao Faraó dentro de cada um de nós: “deixe o meu povo ir!”. Não vamos continuar no caminho confortável, mas sim seguir no caminho correto. Essa mensagem deve ser contada à vítima em nós com a mesma força e intensidade que é contada ao complacente.

Será que estamos na posição de “aceitação total” da situação de opressão que vivemos sem nem mesmo questionar se esta é a diretriz do Eterno para seu povo? Toda e qualquer opressão tem uma origem maligna, pois agride as Escrituras em sua prática.

O que pode ser feito em relação a isso? Muita coisa! O exemplo de Moshe de ir até Faraó e anunciar o juízo de D-us é singular, pois ele DECLARA o que ocorreria caso o povo de Israel não fosse liberado para ir. A escravidão já estava durando muito tempo e isso havia afetado até o ânimo dos judeus e tirado deles a esperança em dias melhores… Mas as vozes celestiais continuavam ecoando nos corações de alguns judeus levando-lhes uma mensagem certeira de libertação, ainda que os “fatos” se apresentassem de outra forma. Sabemos que nem sempre aquilo que vemos e ouvimos é real; algo de sobrenatural está acontecendo nos bastidores e quando menos esperamos a solução chega! O libertador aparece e a liberdade tão ansiada acaba se tornando real…

Passamos por Pessach mas muitos ainda sentem-se “perdidos” nas garras das informações que ecoam do Egito. Faraó ainda “grita” mesmo que à distância buscando trazer de volta os judeus usando o recurso do “medo”. Faraó vai atrás dos judeus em busca de seus antigos “escravos”, só que desta vez muitos já experimentaram a realidade da libertação e não querem mais voltar a serem escravos…

A perseguição do Faraó termina em sua ruína definitiva e por outro lado, com a total libertação física dos judeus.

A história se repete e hoje vivemos debaixo de uma opressão espiritual contínua, até que nos rendemos a Ieshua e recebemos a total libertação. Certamente o Adversário virá atrás de seus velhos escravos buscando trazê-los de volta. Neste momento há uma escolha a ser feita: ou permanecemos em Ieshua que em Pessach nos liberou definitivamente do Egito ou então ouvimos as vozes que clamam nos chamando novamente para a escravidão.

A quem ouviremos? O que faremos?

Esta é uma decisão pessoal, mas que tem reflexos profundos não somente em nossas vidas com também em nossas famílias e na sociedade em que vivemos.

Cada um vive como quer; uns vivem como escravos – e ainda desejam induzir outros a viverem-na escravidão com eles – e isso para tais pessoas é o máximo que se pode ter na vida; porém outros vivem como pessoas livres, que caminham de cabeça erguida e não tem medo de nada nem de ninguém. São os filhos do Rei – príncipes e princesas – que sabem aquém servem e o que lhes espera! Estes são os que caminham rumo a Canaã e apesar das dificuldades tem seus olhos fitos no Rei, que os espera para uma grande Festa.

Em que posição você está? Perdido no Egito ou a caminho de Canaã?

Termino com as palavras de Kefa – Pedro- que dizem:

Sede sóbrios, e vigiai, porque o diabo, vosso adversário, anda ao redor bramando como leão, buscando a quem possa tragar; ao qual resisti firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre vossa irmandade no mundo. Ora o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesu vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoará, afirmerá, fortificará e fundará. A ele seja a glória e a fortaleza para todo o sempre. Amém” I Pe 5.8-11.

Baruch há Shem!

Tradução e adaptação: Mário Moreno.