Tomando uma nova identidade
Tomando uma nova identidade
“…quem te tirou da terra do Egito” (Ex 20:2)
A parashá desta semana registra o Decálogo. O primeiro mandamento, que é a base de todos os preceitos, exige que acreditemos na existência de Hashem. Hashem se identifica como Aquele “que te tirou da terra do Egito”. O Ibn Ezra relata uma pergunta que lhe foi feita pelo Rabino Yehuda Halevi: Por que Hashem se define como o D’us que nos tirou do Egito? Parece que um título mais apropriado para Hashem seria “D’us, Criador do Universo”. Definir Hashem como “Criador” identifica-O como o responsável por toda a existência, enquanto “Aquele que nos tirou do Egito” indica que Ele é responsável por apenas um incidente histórico. Rashi, aparentemente sensível a esta dificuldade, comenta “kedai hi hahotsa’ah shetihiyu mishubadim li” – “Tirar você do Egito é razão suficiente para você ser subserviente a Mim.” A maioria dos comentários interpreta que Rashi está explicando que somos obrigados ser subserviente a Hashem porque Ele nos salvou da tirania do Faraó. Citando o Midrash, Rashi oferece uma segunda explicação; Hashem estava se identificando no Sinai como o mesmo poder que tirou os filhos de Israel do Egito. Ao punir os egípcios, Hashem apareceu como um “homem de guerra”, enquanto no Sinai Ele apareceu como um “homem idoso cheio de compaixão”. Hashem estava dissipando a noção de que havia duas divindades diferentes. Ele, portanto, declarou no Sinai: “Eu sou o D’us que te tirou do Egito.” Como obrigar os filhos de Israel a se subjugarem a Ele reflete a compaixão de um homem idoso? Os filhos de Israel deixaram o Egito para iniciar um relacionamento com Hashem. Rashi não está afirmando que a base do nosso relacionamento com Hashem é que devemos a Ele nossa lealdade porque Ele nos salvou. Em vez de, Rashi está explicando que a base para todo relacionamento saudável é a preocupação de cada parte com o bem-estar do outro. O fato de Hashem nos tirar do Egito reflete Sua compaixão e cuidado pelo povo judeu e é, portanto, a pedra angular do relacionamento. “Kedai hi hahotsa’a” significa que é apropriado que este ato seja a base para o servirmos, pois Ele demonstrou o Seu compromisso e preocupação com o nosso bem-estar. O relacionamento forjado no Sinai é descrito pelos nossos Sábios como um casamento; por definição, deve ser excludente. Afirmar que Hashem criou o mundo não indica uma preocupação única apenas com o povo judeu. Portanto, não poderia ser a pedra angular do casamento. O êxodo do Egito, realizado exclusivamente para nós, é a base adequada do nosso vínculo conjugal.
Tradução: Mário Moreno.